Esta 37.ª obra, de 1838, resenhada no blogue Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese Children's/Young People's Literature Classics não é uma obra plenamente original mas, novamente, uma adaptação tão solta a ponto de não fazer toda a diferença a existência de material de fonte original (o romance pícaro de 1744 de sequela do Gil Blas de Alain-René Lesage La Vie de Don Alphonse Blas de Lirias, fils de Gil Blas de Santillane, a capa de uma edição francófona de 10 anos depois da original acima, atribuído duvidosamente ao autor do Gil Blas visto que no original vinha sem indicação de autor). O gramático e escritor Português José da Fonseca (1788-1866), radicado em França desde o início do século XIX (famoso mundialmente pela falsa atribuição que o editor e o autor deram a uma pérola do humor involuntário que foi o dicionário Português-Inglês feito pelo verdadeiro autor Pedro Carolino sem qualquer conhecimento de Inglês e traduzindo de Português para Francês e de Francês para Inglês, alcunhada pelo fã Mark Twain de English As She Is Spoke, traduzido como o hilariante "Inglês Como Ela É Falou"), para além desta tradução "solta", fez ainda uma adaptação para crianças do Gil Blas original em O Gil Braz da infancia, ou Aventuras de Gil Braz
compendiadas para uso dos meninos, 22 anos depois, espécie de "prequela" (como se chama a obras subsequentes a outra que se passam antes da anterior) desta.
O romance (tal como o original Gil Blas, narrado na primeira pessoa como se memórias fossem) conta a vida do filho mais novo (de 2) de um pícaro Cantábrico que subira na vida como favorito do Rei Filipe IV de Espanha e chegara a secretário do Primeiro-Ministro e através de trabalho duro e inteligência se pudera aposentar num castelo e apreciar uma fortuna ganha honestamente, com uma mulher de alta linhagem (isto apresenta o desafio usual do filho nascido em riqueza de um "homem auto-feito": terá a mesma têmpera do protegenitor que ascendeu a pulso? Que tem ele para fazer na vida, se ele próprio nasceu já "no topo"? Só esperar pela morte do progenitor e herdar?). Quando o Primeiro-Ministro Olivares cai em desgraça (por razões incluindo a Restauração da Independência portuguesa), o padrinho de D. Afonso (do mesmo nome), que é o Vice-Rei (ficcional) de Aragão, é substituído por outro mas devido ao seu bom serviço em muitos cargos é reformado nas suas terras com uma boa reforma, passando a maioria do tempo na biblioteca com a esposa amante das matemáticas, o padre local bem-lido, e um hóspede Alemão D. João de Steinbock, e falando a educar o afilhado (que trata com todas as carícias) só em Latim (a ponto de Afonso falar quase melhor Latim que Espanhol). Chegando a altura de ele se formar, ele regista Afonso na Universidade de Salamanca e envia-o com o Alemão e 2 domésticos. Aí ele passa muito tempo sem ver os pais e o padrinho (a quem pede dinheiro a pedido do Alemão quando acaba o que deu originalmente) e dedica-se com afinco ao estudo e aprende desenho e passeia com o jovem sobrinho-neto do Duque de Médina-Céli nas horas vagas. É por via deste jovem com quem acaba por conviver e convida ao castelo do seu padrinho, que conhece e ambos acabam por se ver sob a protecção (e rodeados da lisonja) de um tal de D. Cipião.
Assim a obra começa realmente, com Cipião (não uma personagem diabólica mas alguém que tenta claramente usar a associação a jovens de estatuto para seu favor) tentando "enrolar" o padrinho e pais de D. Afonso e conseguir tirar dividendos da guarda do jovem, enquanto este vai amadurecendo, fazendo pela vida fazendo uso dos dons para o desenho e o Latim, dos conhecimentos obtidos em Salamanca e aparentemente de um je ne sais quois que podemos imaginar herdado geneticamente do pai (aprendendo ainda várias outras coisas pelo caminho), num modelo que ajudou, pelo uso de modelos estrangeiros, a enriquecer a literatura portuguesa com um carácter de literatura de formação e de aventuras. Com grande força de vontade, fé, ética e uso do corpo quando necessário, depois da partida de Cipião para a América colonial espanhola, D. Afonso e o seu novo amigo Conde Pérez viajam para o México, onde se encontram com Cipião, que de Vera Cruz no centro-sul da costa mexicana se dirigira através do país, e assim vão passando o caminho em peripécias e conseguindo ludibriar Cipião e outros opositores quando necessário, para além de várias descrições vivas de pormenores etnográficos do México setecentista, incluindo curiosos festivais (um deles não sendo de facto visto pelas personagens, mas descrito por Afonso do que este aprende sobre ele de conversas com os locais).
Um episódio das aventuras de D. Cipião nas Américas
A estória evolui assim como uma espécie de versão ficcional e individualizada da criação de um novo mundo colonial para criação de riqueza de saídos da Península Ibérica (Espanhóis como Portugueses), em que D. Afonso de Brás deixa Espanha e fixa-se na América colonial e faz uma nova vida e produz nova riqueza para si, com um espírito desbravador, semi-assimilador à realidade tropical, e cristianíssima (e cristianizadora), numa variação latina do self-made man anglo-saxónico, o "homem auto-feito". Esta "tese" de redenção ou pelo menos de reformulação de um ser humano torna-se mais claro no Capítulo VII, que logo no título torna claro que é sobre «o Diabo feito Santo». Depois disso, Afonso e companhia, ao longo da sua "odisseia" ao longo do México que nos dá o retrato da América Latina colonial, confrontam um pedinte insolente bem agasalhado, e depois têm um "modesto" episódio de aventureirismo picaresco na povoação de Casa Blanca no Novo México (portanto não há aqui Marrocos nem Humphrey Bogart, embora uma personagem anti-heróica do tipo não ficasse muito fora de estilo num romance picaresco como este). Depois disso, alguém assassina o Senhor Cipião, o nosso herói descobrindo os responsáveis pelo complô, que são punidos pela justiça do Vice-Reino da Nova Espanha (o Império americano espanhol na América Central e do Norte e na Venezuela), sendo Afonso depois recompensado com a herança de um grande senhor de Guaxaca (bem no sul do México), e após mais alguns capítulos de episódios (incluindo o Capítulo XII que o título diz deixar à escolha do leitor se o lê ou passa e um Capítulo XIII que trata um pouco de vida tardia do pai do protagonista deste livro), D. Sancho e D. Afonso ajudam a salvar uma personagem secundária que conheciam de mais para o princípio do livro, o Conde de Leyva, de perigo de vida, sendo após isto que D. Afonso de Brás volta a Espanha, a Madrid, para terminar uma vida confortável depois de casar com uma viúva (casamento que, como costume para uniões nobres reais ou ficcionais, tem tanto de acto feliz como de acto socioeconómico): «Esta pobre infeliz, que não foi de algum lado das mais afligidas da morte de seu marido, não se tendo esperado que se coubesse um outro fim, ao trem de vida que conduzia, aceita com alegria a oferta de D. Afonso. Ela foi conduzida até Dom Pedro de Patilhos, que lhe fez caber uma pensão viageira, em reconhecimento que ela lhe havia rendido enquanto que ele estava em Roma.»
É tão divertido e "alimentador" da alma ler este livro, como a "prequela" do mesmo autor sobre o pai de D. Afonso de Brás, em que Gil Brás nasce na miséria a um rapaz-de-estrebaria e uma criada-de-câmara na Cantábria e é educado por um tio em Oviedo, que deixa com a idade de 17 anos, partindo para a Universidade de Salamanca, onde o seu futuro parece tornar-se risonho; uma evolução que é interrompida quando uns ladrões o forçam a ajudá-los em roubos de estrada, sendo depois capturado e enfrentando pena de cadeia que só evita tornando-se criado de um grande senhor, cargo que lhe permite passar o olhar ao longo de várias classes laicas, clericais e fora-da-leis da sociedade ao largo de vários anos, graças à sua adaptabilidade e espirituosidade rápida. Finalmente ele consegue chegar à corte e ter o final feliz e a subida na vida que já referi acima ao falar do princípio do romance sobre o seu filho. Estas duas obras ajudaram a dar o retrato do homem Ibérico pragmático, mostrando assim ser mais que somente missionário ou conquistador, que ajudaram a influenciar o modelo da ficção de aventuras e de "estudo de personagem" posterior, e também abrindo novos caminhos para a literatura europeia, latino-americana e mundial, ajudando ainda a formar muita literatura infanto-juvenil (junto com obras como o já aqui visto O Piolho Viajante, que como vimos na respectiva crítica, até referia por nome o Gil Blas ou Gil Braz original; mas em muito O Piolho Viajante também é uma "resposta" a um certo optimismo e moralismo da obra franco-hispânica que da Fonseca tornou franco-hispano-portuguesa, pelo contrário sendo mais mordaz e sarcástico). Historia de D. Afonso de Braz, filho de Gil Braz de Santilhana e O Gil Braz da infancia, ou Aventuras de Gil Braz compendiadas para uso dos meninos só se encontram na Biblioteca Nacional de Portugal e talvez algumas colecções de origem privada (embora o original francês possa ser lido no Google Livros na edição bem ilustrada de 1744 e na hemeroteca digital francesa gallica na edição de 1754 que não tem metade das ilustrações), mas a adaptação mais moderna do Gil Blas intitulada Gil Brás resolve correr mundo : aventuras de Gil Brás de Santilhana, adaptada por (Henrique) Nascimento Rodrigues para a colecção Juvenil da Portugália de 1966 surge em várias bibliotecas municipais, e nalgumas outras (mais raramente porém) surge a adaptação de Nascimento Rodrigues de outra parte deste ciclo de Lesage, O confidente : aventuras de Gil Brás de Santilhana (do mesmo ano).
This 37th work, from 1838, reviewed in the Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese Children's/Young People's Literature Classics blog is not a fully original work but again, an adaptation so loose to the point of not making that much difference the existance of original source material (the 1744 picaresque sequel novel to the Gil Blas by Alain-René Lesage La Vie de Don Alphonse Blas de Lirias, fils de Gil Blas de Santillane, the cover of a francophone edition of 10 years afterwards from the original shown above, attributed doubtfully to the author of the Gil Blas seen that in the original it came without indication of the author). The Portuguese gramatician and writer José da Fonseca, established in France since the early 19th century (famous worldwide for the false attribution that the editor and author gave to the pearl of unvoluntary humour which was the Portuguese-English dictionary made by the true author Pedro Carolino without any knowledge of English and translating from Portuguese to French and from French to English, nicknamed by fan Mark Twain with the hillarious English as She is Spoke), besides this "loose" translation, did still an adaption for children of the original Gil Blas in O Gil Braz da infancia, ou aventuras de Gil Braz compendiadas para uso dos meninos ("The Gil Blas of childhood, or Adventures of Gil Blas epitomized for use of the little-children") 22 years afterwards afterwards, kind of prequel (as one calls to works subsequent to another that sets itself before the previous one) to this one.
The novel (just like the original Gil Blas, narrated in the first person as if being memoirs) tells the life of the youngest son (of 2) of a Cantabrian pícaro/rogue that had risen in life as a favourite of the King Philip IV of Spain and got to secretary fo the Prime Minister and through hard work and intelligence himself had been able to pension-off into a castle and enjoy a honestly earned fortune, with a high lineage woman (this presents the usual challenge of the son born in wealth to a "selfmade man": has he the same quenching of the progenitor that rose by its own hand? What has he to do in life, if he himelf was born already "at the top"? Just to wait for the death of the progenitor and to inherit?). When the Prime Minister Olivares falls in disgrace (for reasons including the Portuguese Restoration of Independence), the godfather of Don Alfonso (of the same name), who is the (fictional) Viceroy of ragon, is replaced by another, but due to his good service in many offices is retired in this lands with a good retirement-pension, passing the most time in the library with the wife who is a lover of mathematics, the well-read priest, and a German guest Don John of Steinbock, and talking at educating the godson (whom he treats with all the cares) only in Latin (to the point of Alfonso speaking almost better Latin than Spanish). Arriving the time for him to graduate himself, he registers Alfonso in Salamanca University and sends him with the German and 2 domestics. There he passes much time without seeing the parents and the godfather (to whom he asks for moey on request of the German when it ends the one that he gave originally) and dedicates himself with keenness to the study and learns drawing and walks-about with the young grandnephew of the Duke of Medina-Celi in the vacan hours. It is by way of this young-man with whom he ends up by being on familiar terms and invites to his godfather's castle, that he gets to know and both end by to themselves seeing under the protection (and surrounded by the flatering) of one Don Scipio.
Like-so, the work starts truly, with Scipio (not a diabolical character but someone that tries clearly to use the association to youngmen of status to his favour) trying to "entangle with" the godfather and the parents of Don Alfonso and get to take-away dividends from the keeping of the youngman, while he goes maturing, making a living out of making use of the gifts for drawing and latin, out of the knowledges obtained in Salamanca and apparently out of a je ne sais quois that we can imagine inherited genetically from the father (learning yet several other things along the way), in a model that helped, by the use of foreign models, to enrichen the Portuguese literature with a character of bildungs-roman and adventure literature. With great strength of will, faith, ethics and use of the body when necessary, after the departure of Scipio for Spanish colonial America, Don Alfonso and his new friend Count Perez travel to Mexico, where themselves hey doo meet with Scipio, that from Vera Cruz in the centre-south Mexican coast to himself did head across the country; and so passing the way in mishaps and getting to deceive Scipion and other opponents when needed,besides several lively descriptions of ethnographic detals from seventeenth-century Mexico, including curious festivals (one of them not being in fact seen by the characters but described by Alfonso from what he former learns from conversations with locals).
An episode of the adventures of Don Scipio in the Americas
The story evolves so s a kind of fictional and individualized version of the creation of a colonial new world up for the creation of wealth of ones exited from the Iberian Peninsula (Spaniards and Portuguese), into which Don Alfonso de Blas leaves Spain and settles himself in the colonial Americas and makes a new life and produces wealth for himself with a trail-blazer, semi-assimilator to the tropical reality around, and most-Christian (and christianising) spirit, in a Latin variation of the Anglo-Saxonic self-made man, the "homem auto-feito"/"hombre auto-hecho". This "thesis" of redemption or at least of reformulation of a human being becomes clearer in the chapter VII, that rightaway on the title it becomes clear that it is on «The Devil made into Saint». After that, Alfonso and company, along their "odyssey" along Mexico that to us gives the portrait of the colonial Latin America, confronts an insolent well-coated beggar, and afterwards, have a "modest" episode of picaresque adventurism in the settlement of Casa Blanca in New Mexico (hence there is no Morocco nor Humphrey Bogart, although an anti-heroic character of the type wouldn't stand very out of style on a picaresque novel like this one). Afterwards of that, someone murders Mister Scipio, our hero discovering the ones responsible for the plot, that are punished by the justice of the Viceroyalty of New Spain (the Spanish American Empire in Central and Northern America and in Venezuela), being Alfonso afterwards rewarded with the inheritance of a great lord of Guaxaca (well in the south of Mexico), and afterwards some plus chapters of episodes (including the Chapter XII that in the titles says to leave to the choice of the reader if one reads it or passes it by and a Chapter XIII that takes care of a little of the later life of the father of this book's protagonist), Don Sancho and Don Alfonso help to save a secondary character that they knew from way to the beginning of the book, theCount of Leyva, from living danger, being afterwards of this that Don Alfonso de Blas goes back to Spain, at Madrid, for finishing a comfortable life afterwards the marrying of a widow (marriage that, as usual for real or fictional noble unions, has as much of happy act as of social-economical act): «This unfortunate poor-woman, that wasn't from any side of the most afflicted by death of her husband, not herself having expcted that herself did befit another end, at the convoy of life that she drove, accepts with joy the offer of Don Alfonso. She was driven till Don Pedro of Patillos, who to her made befit a voyage pension, in recognition that she to him had paid off while he was in Rome.»
It is as fun as feeding to the soul to read this book, as the "prequel" of the same author on the father of Don Alfonso de Blas, in which Gil Blas is born in misery to a stable-boy and a chamber-maid in Cantabria and is educated by an uncle in Oviedo, that he leaves with the age of 17 years old, departing for Salamanca University, where his future seems to smile upon himself: an evolution that is interrupted when some thieves unto him force helping on highway theft, being afterwards captured and facing jail time that he only avoids becoming servant of a great lord, position that to him allows to pass his gaze throughout several lay, clerical and outlaw classes of society throughout several years, thanks to his fast adaptability and wit. Finally he can get to the royal court and have the happy ending and the rise in life that I already referred above at talking of the beginning of the novel on his son. These two works helped to give the portrait of the pragmatic Iberian man, showing so to be more than merely missionary or conquistador, that helped to influence the model of the hinder adventure and "character study" fiction, and also opening new ways for the European, Latin-American and worldwide literature, helping to form much children's/young-people's literature (together with works like the already here seen The Travelling Lice, that, as we saw in the respective review, even referred by name the original Gil Blas or Gil Braz; but in much The Travelling Lice likewise is an "answer" to a certain optimism and moralism of the French-Hispanic work that da Fonseca turned French-Hispanic-Portuguese, on the contrary being more sharp and sarcastic). History of Don Slfonso de Blas, son of Gil Blas de Santillana and The Gil Blas of childhood, or Adventures of Gil Blas epitomized for the use by the little-children only do find themselves in the Portugal National Library and maybe some collections of private origin (although the French original may be read on Google Books in the 1744 well illustrated edition and in the French digital newspaper-library Gallica in the 1754 edition that does not have half of the illustrations), but the more modern adaptation of the Gil Blas entitled Gil Brás resolve correr mundo : aventuras de Gil Brás de Santillana ("Gil Blas sorts-out to race-out world : adventures of Gil Blas de Santillana"), adapted by (Henrique) Nascimento Rodrigues for the Portugália Juvenil ("Juvenile Portugália") collection of 1966 comes-up in several Portuguese municipal libraries, and in some other ones (more rarely though) comes-up Nascimento Rodrigues' adaptation of another part of this Lesage cicle, O confidente : aventuras de Gil Brás de Santilhana ("The confidant : adventures of Gil Blas de Santillana", of the same year).
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