segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"A Jóia do Vice-Rei", Manuel Pinheiro Chagas // "The Jewel of the Viceroy", Manuel Pinheiro Chagas

De entre os títulos que irei ao longo do tempo discutindo aqui, A Jóia do Vice-Rei é dos que mais oferece uma visão detalhada do movimento político em Portugal e no seu Império durante os tão ficcionados e discutidos Descobrimentos. Publicado em 1890, este segundo livro aqui analisado é um romance histórico situado nos dias do governo do primeiro Vice-Rei da Índia Portuguesa D. Francisco de Almeida (entre 1505 e 1509). É numa atmosfera de conspiraçõezinhas (ou não tão 'zinhas' quanto isso) políticas, segredos, rivalidades de facções e ganâncias que o autor (numa obra publicada 5 anos antes da sua morte) tece os seus enredos ficcionais românticos. Mas devemos falar um pouco do autor antes de falar mais sobre o enredo. Até porque, a maioria dos leitores ao lerem o título desta publicação nem reconhecerão sequer o nome do autor, o que é mais surpreendente quando vemos que foi um dos mais populares romancistas do seu tempo. Para ver mais sobre as razões para esse esquecimento, leiam o texto aqui.
Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (conhecido principalmente como Pinheiro Chagas até ao surgir do político republicano moderado João Pinheiro Chagas ou João Chagas) foi um escritor com uma produção enorme, que nasceu em Lisboa a 13 de Novembro de 1842 ao major do exército, secretário particular do Rei D. Pedro V e veterano das Lutas Liberais portuguesas e sua esposa Gertrudes Justiniana Gomes Ramos. Destinado pelos pais a uma carreira militar, foi aluno do Colégio Militar, da Escola do Exército e da Escola Politécnica de Lisboa (tendo sido em todas estas um aluno brilhante com um interesse pela escrita desde então), chegando no exército ao posto de Capitão, interrompendo a carreira militar em 1866, altura em que já tinha publicados dois poemas.
Pinheiro Chagas
Foi depois disso que ele se dedicou a tempo inteiro não só ao jornalismo (escrevendo para muitos jornais e dirigindo muitos outros, tornando-se notório por um estilo que privilegiava a crítica social e dos governos, mistura de jornalismo noticioso e intervenção política) como à escrita, e envolveu-se na polémica entre as correntes de escrita do Romantismo e do Realismo, a "Questão Coimbrã" ou "do Bom Senso e Bom Gosto", sendo ele aliás o motivo da discórdia: a "Questão" começou com uma carta que um dos "pais fundadores" do Romantismo português, António Feliciano de Castilho, escreveu como prefácio ao Poema da Mocidade (1865) do próprio Pinheiro Chagas uma carta que criticava abertamente alguns jovens escritores não-Românticos da época. De um lado das 'hostilidades', tínhamos Pinheiro Chagas, o filho de A. F. Castilho, o jornalista e escritor Júlio de Castilho, o dramaturgo e estudioso de literatura Brito Aranha, Camilo Castelo Branco (ironicamente um dos precursores do Realismo em Portugal, apesar de escrever Realismo dentro dos limites do melodrama Romântico) e Ramalho Ortigão (que pouco depois 'virou', e associou-se aos membros dos Realistas de forma pessoal), do outro o escritor e antropólogo Teófilo Braga, o poeta Antero de Quental, e o autor da obra 'coberta' na primeira publicação deste blogue, Eça de Queirós. Foi essa polémica (principalmente a de Pinheiro Chagas com Eça) uma das razões posteriores para a queda de popularidade deste autor no coração dos leitores a partir da morte do autor (de ferimentos provocados pelas bengaladas de um professor anarco-comunista por umas declarações infelizes de P. Chagas sobre 'curar' mulheres comunistas com açoites no posterior, ferimentos dos quais o escritor nunca recuperou) em 1895. Isto não impediu que algumas obras do autor fossem editadas com algum sucesso depois, por exemplo a peça A Morgadinha de Valflor de 1869 foi um sucesso relativo e várias vezes encenada por grupos de teatro amador ao longo do século XX, as suas traduções de Júlio Verne e Daniel Defoe (autor de Robinson Crusoé) continuaram a ser publicadas e lidas por muitos anos, o seu romance A Mantilha de Beatriz ainda tinha edições infanto-juvenis nos anos de 1990 (e dera origem a um filme luso-espanhol dos anos de 1940), e a sua História Alegre de Portugal é ainda algo célebre graças à adaptação a BD do cineasta de animação e desenhador de BD Artur Correia.
Agora, passemos para o enredo. Depois de uma primeira cena muito enérgica e que passa com alguma leveza, em que na 'borbulhante' Lisboa dos inícios de quinhentos um homem chamado Leonardo conversa com um amigo antes miserável, Brás Picoito, que agora é guarda para D. Francisco de Almeida, um velho e enérgico nobre que havia sido tripulante da primeira e da segunda viagens de Vasco da Gama que fora recém nomeado Vice-rei por D. Manuel I, e de Leonardo (que trabalha nos «almazéns», como então se dizia, da casa da Índia, onde se guardam as riquezas da exploração da Índia) Brás ouve que o Vice-rei passara aqueles dias antes da partida sempre consultando o Gama sobre todos os pormenores sobre a Índia (para muito gozo do próprio Gama, que aprecia a atenção e ser útil), e de uma zaragata entre crianças cristãs-velhas e cristãs-novas (que 'dá corda' a comentário anti-judaicos dos transeuntes), o livro passa logo para a acção principal, da partida do Vice-Rei numa frota de naus após uma missa monumental na Sé de Lisboa dada pelo Bispo de Ceuta e em que o Rei entrega uma bandeira com a cruz de Cristo a D. Francisco e o incumbe ante todos na missa da sua missão governativa, descrita de forma forte e pormenorizada por Pinheiro Chagas, e após uma procissão imponente pela cidade da Sé até à barra do Tejo. Com aceitação do Rei, D. Francisco leva consigo para a viagem a "jóia" do título, que ele chama de «luz dos meu olhos, e a alma da minha alma, o meu Benjamim e a minha jóia, o meu filho D. Lourenço»; note-se por estes diálogos, que Pinheiro Chagas usa da linguagem actual, pelo menos pelos padrões do seu tempo, não tentando sequer uma recriação histórica da linguagem do século retratado. Já no final da introdução do romance, ele afirma que «Não tentamos nem por sombras ressuscitar a linguagem do século XVI. Essas ressureições dão ao falar dos personagens um carácter rígido e afectado, mil vezes mais falso do que a tradução da expressão dos seus pensamentos na língua do nosso tempo» (página 8 da 1.ª edição).
Capa de uma cópia da 1.ª edição da Unviersidade de Toronto (Canadá)
Quando o Vice-Rei parte, Lourenço partilha uma conversa e abraço íntimos com a sua prima Beatriz, insinuando-se a relação amorosa importante (e ficcional, da criação de Pinheiro Chagas) entre ambos. Aqui começa-se a ver que este é o tipo de romance histórico em que eventos históricos predominam mas existem elementos ficcionais claros, apesar de Pinheiro Chagas chamar este romance de «estudo histórico-romântico» e de dizer que simplesmente põe a história em acção as cenas que achou no cronista Português Gaspar Correia (escrito Corrêa ao tempo da 1.ª edição), sem inventar nada. Nisto, neste romance, o autor está mais próximo de Alexandre Dumas, embora a maioria dos romance históricos pinheiro-chagasianos fosse do tipo em que a maioria dos eventos é factual e não do tipo de predominância do romanesco dumasiano. Depois segue-se uma viagem em que afloram tensões entre a tripulação devido à ganância de alguns oficiais e nobres que querem, ainda no barco antes de chegarem à Índia, usufruir dos seus cargos, tensões que os Almeidas terminam ao inventar uma missão especial a Quiloa (hoje Kilwa na Tanzânia) para pedir tributo, com o xeique de Mombaça, que recusava desde sempre tributo ao Reino de Portugal.
Lourenço liderou então um confronto com as tropas do xeique. Embora esta iniciativa fosse uma loucura (tão longe de Portugal não havia esperança de substituição de tropas perdidas), não podiam recuar sob perigo de prejudicar a imagem de Portugal. A batalha, muito graças à fúria de Lourenço e à chegada de reforços de D. Francisco no momento certo, quanto começavam a avançar sobre a cidade. Após o saque desta, eles entraram no palácio do xeique, onde só os esperavam as mulheres, que olhavam os conquistadores ainda sujos do combate com terror, e velhos, que em silencio fatalista nada diziam. D. Lourenço é salvo de beber da água da cisterna do palácio (que foi envenenada) por uma jovem (na verdade a filha do xeique local), não impedindo porém ele que um soldado ainda a prova-se e por isso falecesse. Com a fúria dos soldados ameaçando a jovem, Lourenço interpôs-se entre ela e os soldados (com o navegador e mercenário Galego João da Nova à sua cabeça) para impedi-los de aplicarem a sua raiva sobre ela. Isto seria o aprofundar da rivalidade entre o filho do Vice-Rei e o navegador e soldado Espanhol. Também todo este episódio é ficcionado e romantizado pelo autor, como a outra mulher de enredo, a prima de Lourenço. O enredo que se segue, é toda a luta para a instalação de uma (então pequena) ocupação efectiva de alguns fortes nas costas da Índia, contra os interesses dos soberanos de Calicut e dos Turcos 'Rumes', o começo efectivo de um "Estado Português da Índia", e como D. Francisco consegue pelo menos este objectivo básico, embora o seu filho não consiga cumprir o sonho de voltar a Portugal para a "sua" Beatriz...
Neste texto vemos muito do retrato da nobreza e do Rei de Portugal a servir para uma crítica do Estado do país. O Rei D. Manuel I, na sua pequena 'participação especial' neste livro, surge como uma pessoa 'infectada' por beatice da época, e os fidalgos são mostrados como impacientes por cargos, riquezas e dados a quererem viver 'às custas' do erário público e que não pretender 'dar em retorno' qualquer serviço à pátria (ao ponto do Vice-Rei se queixar para com o seu filho de como haviam eles «com estes homens, de governar a Índia?»). O explorador Galego ao serviço da coroa portuguesa, João da Nova (o histórico descobridor da ilha com o seu nome hoje sob a jurisdição francesa da Reunião) é talvez o caso mais acabado disto (quem quiser pode ler nisto uma leitura anti-espanhola, mas isto parece coincidir com o carácter histórico do Juan de Nova ou Joan de Novoa histórico). Apesar da reputação de Pinheiro Chagas como um escritor nacionalista no qual não se nota qualquer defeito ou decadência de Portugal e com um retrato sem mácula dos reis de Portugal (isto faz pensar até que ponto os historiadores da literatura portuguesa de facto leram a maioria dos autores sobre os quais escrevem...), vemos aqui o quão de facto crítico ele pode ser mesmo de épocas consideradas "idades de ouro", como ele consegue ver os Descobrimentos como simultaneamente o momento mais expansionista de Portugal mas também (seguindo a opinião de Alexandre Herculano como historiador) o momento em que o poder local municipal se enfraqueceu e o Estado central se fortaleceu à custa dos municípios e das pessoas, num absolutismo monárquico (o retrato algo caricatural de D. Manuel vem simultaneamente disso, e da influência excessiva da Igreja de Roma na sua pessoa). Aliás, em todos os romances de Pinheiro Chagas, os reis que surgem nos enredos (que são todos entre D. Manuel I e D. João VI) surgem sempre representados como pessoas essencialmente faltosas por uma razão ou outra e que dão demasiado poder ao Estado central e à Igreja (principalmente a Ordem Jesuíta), e por vezes até são brutalmente caricaturados (principalmente a IV Dinastia, com D. João V à cabeça no seu romance A Corte de D. João V).
D. Francisco é um igual e companheiro forte do seu filho, de facto a «jóia» dele, mostrando-se enérgico, inteligente e activo líder a desafiar junto com D. Lourenço conspirações dos nativos do Oriente ou de políticos gananciosos do Império Português do Oriente, a frustrar as ganâncias dos Portugueses que só querem saquear e destruir a Índia e o resto da Ásia, e a confrontar todos os acontecimentos problemáticos de uma história épica como a dos primeiros anos da conquista portuguesa da Índia.
Conforme o enredo evolui, D. Francisco passa mais e mais o protagonismo do lado aventureiro do romance para o seu filho, embora o Vice-Rei esteja presente em todos os eventos em que historicamente ele foi participante, como representante de el-rei a governar aqueles territórios que estavam ao acesso das carreiras das naus portuguesas a partir da primeira viagem de Vasco da Gama em 1498. Este romance de 177 páginas (que, tristemente, na edição original não tinha qualquer ilustração nem na capa, embora suponha eu que outras ao longo do século XX tenham tido ilustrações), ilustra perfeitamente o clima da fase da história de Portugal representada, quando muitos Portugueses deixavam Portugal continental para colonizar os actuais arquipélagos Portugueses ou para servir ou colonizar em África e no Oriente, mas em que Portugal mais usava da colonização para arrancar riquezas que criavam elites corruptas, que para ocupar territórios e desenvolve-los devidamente (o que Pinheiro Chagas enquanto político criticava, tendo, com sucesso parcial, revertido alguns destes problemas como Ministro do Ultramar), e em que Portugal perdia muitos recursos em esforços tremendos de combater quer povos locais quer potências imperiais da área (como os Turcos Otomanos, neste livro chamados de Rums, e outros impérios que não são para este livro chamados mas que os Portugueses históricos confrontaram como os Persas, o Império Mogol da Índia e a China). À cerca desta questão de 'filosofia' de colonização, deve-se acrescentar que, apesar de o autor discordar com D. Francisco de Almeida sobre isto (Pinheiro Chagas, como insinua no capítulo 9 «Os portugueses na Índia», o único que é mais saído de ensaio sobre história de Portugal que de romance, concordava com o governador da Índia Portuguesa Afonso de Albuquerque, outro defensor de uma colonização de ocupação efectiva de território e com a construção de um império, enquanto D. Francisco defendia o simples controlo do comércio sem ocupação de maior de territórios), mas apesar disso Pinheiro Chagas representa de forma positiva o Vice-Rei por ter uma grandeza de carácter e não ser um simples 'manga de alpaca', cuja grandeza se distingue de outros defensores do imperialismo comercial, e mesmo de algumas personagens que partilham das ideias sobre colonialismo do autor mas que não têm metade da honra ou da inteligência de D. Francisco.
É isto que Pinheiro Chagas usa como material para construir o seu enredo, com personagens de personalidade misteriosa (não por causa da escrita mas da personalidade da personagem) como o Samorim ou Rajá de Calicut, de vilania bem escrita e não-cartunesca como o secretário da Índia Gaspar Pereira e o Galego João da Nova, combativas como o almirante Agá Hussein servidor do Sultão do Cairo, gentis (por vezes demais ou de formas estranhas, porém) como vários navegadores e militares Portugueses (como Diogo Correia e Pêro Cão), a filha do xeique de Quiloa (junto com Beatriz e as mulheres anónimas que acompanham a filha do xeique, as 'fêmeas' isoladas deste enredo) e o herdeiro do trono de Cochim (que é também o sobrinho do Samorim, e de quem Pinheiro Chagas, com termos que fazem o leitor menos 'ingénuo' de hoje rir com as insinuações feitas com texto ingénuo, «que tinha por D. Lourenço uma predilecção especialíssima» por influência de «aquela vida indolente dos rajás, por aquele clima ardentíssimo, admirava com uma ingenuidade encantadora a robustez das formas de D. Lourenço que se ligava com uma elegância surpreendente, e com uma gentileza que tanto mais deslumbrava os orientais quanto mais a desconheciam»). Mas nenhuma delas se compara em complexidade da personalidade e vivacidade do retrato com a «jóia do Vice-Rei» em pessoa, D. Lourenço. Lourenço é não só preserverante, honrado e discreto, mas por todas as suas qualidades e a sua força guerreira sem rival ele tem um autêntico perfil de semideus, e não descansa no seu sonho de voltar para casa e para os braços de Beatriz, não sem primeiro querer fazer o máximo possível pela glória do seu país, embora a vida lho impedirá...
No melhor estilo de capa-e-espada, apesar da base essencialmente factual dos enredos do romance, vemos uma narrativa cheia de vivas peripécias, duelos e combates que 'lavam' violentamente as honras de indivíduos e nações, do que o autor se serviu para nos mostrar com mestria a realidade política e militar dos tempos fervilhantes dos Descobrimentos, mostrando-nos muitas práticas sociais que não se dataram com a passagem de 600 anos. Assim, pesado tudo isto, no fundo hoje, mais que passadas as polémicas literárias e pessoais da época, podemos ver como os romances históricos de Pinheiro Chagas estão mais próximos dos romances 'de actualidade' de Eça de Queirós do que antes se pensava.
Este livro não é dos mais fáceis de encontrar em todas as bibliotecas municipais ou escolares (ao contrário de outras do autor), mas encontra-se em linha no sítio Internet Archive a digitalização de uma cópia da Universidade de Toronto, que pode ser lida aqui, e ainda se deverão encontrar à venda ou de alguma outra forma em circulação cópias de edições da editora Fronteira do Caos para a sua colecção Letras com História (a primeira edição da Fronteira do Caos é de 2006), em que o livro é paginado com 152 e não as 177 da edição original (184 contando capa, páginas em branco e publicidades a outras colecções da Parceria António Maria Pereira Livraria Editora da altura).
A nível de curiosidade, na revista de BD Cavaleiro Andante, nº 288, de 6 de Julho de 1957, surgia uma adaptação para BD deste romance feita por um notório desenhador de BD portuguesa da época, Fernando Bento, da qual se pode ver uma tira abaixo. Como se vê, ao longo do século XX, o pouco que ainda se lembrava de Pinheiro Chagas era devido a 'osmose' por influência de adaptações.
Para uma introdução ao autor:


From among the many titles that I shall throughout time go discussing here, The Jewel of the Vice-Roy is of the ones that the most offers a detailed vision of the political movement in Portugal and in its Empire during the so fictionalized and argued Discoveries. Published in 1890, this second book here analysed is a historical novel situated in the days of the government of the first Vice-Roy off the Portuguese India Don Francisco de Almeida (between 1505 and 1509). It's in an atmosphere of political petty-conspiracies (nor not so 'petty' as that), secrets, rivalties of factions and greeds that the author (in a work published 5 years before his death) spins his romantic fictional plottings. But we should speak a little of the author before of talking more on the plot. Even because, the majority of the readers (even in Portugal) at reading the title of this post won't recognize even the name of the author, what is more surprising when we see that he was one of the most popular novelists of his day. To see more on the reasons of the that forgetfulness, read the text here.
Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (known mainly as Pinheiro Chagas till the coming-up of the moderate republican politican Joao Pinheiro Chagas or Joao Chagas) was a writer with an enormous production, that was born in Lisbon at 13th November, 1842 to the army major, privy secretary of the King Don Pedro V and veteran of the Portuguese Liberalwars and his wife Gertrudes Justiniana Gomes Ramos. Destined by his parents to a military career, he was a pupil of the Portuguese Military College, of the Portuguese Army School and of the Lisbon Polythechnical School (having been in all of these a brilliant student with an interest in writing since then), arriving in the army to the post of Captain, interrupting the military career in 1866, time in which he already had published two poems.
Pinheiro Chagas
It was after that that he dedicated himself full time not just to journalism (writing for many newspapers and directing others, becoming notorious for a style that privileged the critique social and of the governments, mixture of news journalism and political intervention) as to writing, and involved himself in the polemic between the writing currents of Romanticism and of Realism, the "Coimbra Question" or "of the Good Sense and Good Taste", being he even more so the motive of the disagreement: the issue started with a letters that one of the "founding fathers" of the Portuguese Romanticism, Antonio Feliciano de Castilho, wrote as foreword to the Poema da Mocidade ("Poem of Youth", 1865) by Pinheiro Chagas himself a letter that criticized openly some young non-Romantic writers of the time. On one side of the ensuing hostilities, we had Pinheiro Chagas, the son of A. F. Castilho, the journalist and writer Julio de Castilho, the playwrite and literature scholar Brito Aranha, Camilo Castelo Branco (ironically one of the forefathers to Realism in Portugal, despite writing Realism within the limits of the Romantic melodrama) and Ramalho Ortigao (who little by little 'turned', and associated himself to the members of the Realists in more personal way), from the other one the writer and anthropologist Teofilo Braga, the poet Antero de Quental, and the author of the work 'covered' in the first post of this blog, Essa de Queiroz. It was that polemic (mainly the one of Pinheiro Chagas with Essa) one of the posterior reasons for the fall of popularity of this author in the heart of readers starting from the authors death (of injuries provoked by the cane-blows from an anarcho-communist teacher for some unfortunate declarations of P. Chagas on 'curing' communist women with smackings in the posterior, injuries from the which the writer never recovered) in 1895. This did not prevent that some works of the author were edited with some success afterwards, for example the play A Morgadinha de Valflor ("The Little-Majorate-holder of Valflor) from 1869 was a relative success and several times rehearsed by amature theater groups throughout the 20th century, and his translations of Jules Verne and Daniel Defoe (author of Robinson Crusoe) kept being published and read for many years, his novel A Mantilha de Beatriz ("Beatrix's Mantilla") still had children's/young people's editions in the 1990s (and had given origin to a Portuguese-Spanish film from the 1940s), and his História Alegre de Portugal ("Joyful History of Portugal") is still somewhat celebrated thanks to the adaptation to comic book of the animation filmmaker and drawer of comics Artur Correia.
Now, let's pass to the plot. After a first scene very energic and that passes-by with some lightness, in which in the 'bubbling' Lisbon of the early fifteen-hundreds a man called Leonardo talks with a friend before miserable, Bras Picoito, that now is a guard to Don Francisco de Almeida, an old and energic nobleman that had been crewman of the first and of the second voyages of Vasco da Gama that had been recently nominated Vice-Roy by Don Manuel I, and from Leonardo (who works in the «garnerages», as then was said, of the house of India, where it were kept the richess of the exploring of India) Bras hears that the Vice-roy had spent those days before of the departure always consulting Gama over all the details on India (for much enjoyment of the Gama himself, who appreciates the attention and being useful), and of a brawl between old-Christian and new-Christian children (that 'gives rein' to anti-judaic comments of the passer-byers), the book passes rightaway to the main action, of the departure of the Vice-Roy in a fleet of vessels after a monumental mass in the See-church of Lisbon given by the Bishop of Ceuta and in which the King delievers a flag with the Christ's Cross to Don Francisco and to him bestows before all of his governing mission, described of strong way and detailed way by Pinheiro Chagas, and after an imponent parade through the city from the See-church till the Tagus shoreline. With the aceptance of the King, Don Francisco takes with himself for the voyage the "jewel" of the title, that he calls of «light of my eyes, and the soul of my soul, my youngest and my jewel, my son Don Lourensso»; let it be noticed by these dialoues that Pinheiro Chagas uses from the current language, at least by the standards of his time, not trying even a historical recreation of the language of the century portrayed. Already in the intro of the novel, he states that «We don't try not even in shades to ressurect the language of the 16th century. Those ressurections give to the speak of the characters a rigid and afected character, a thousand times falses than the translation of the expression of their thoughts in the language of our time» (page 8 of the 1st edition).

Cover of a copy of the 1st edition from the University of Toronto (Canada)
When the Vice-Roy leaves, Lourensso shares an intimate talk and hug with his cousin Beatriz, insunating itself the important (and fictional, of Pinheiro Chagas' creation) love relation between both. Here it starts to see itself that this is the king of historical novel in which historical events predominate but it exist clear fictional elements, despite Pinheiro Chagas calling this novel of «historical-romantic study» and of saying that he simply puts history in action from the scenes that he found in the Portuguese chronicler Gaspar Correia (written Corrêa in the Portuguese from the time of the first edition), without making-up anything. At this, in this novel, the author is closer to Alexandre Dumas, although the majority of the pinheiro-chagasian historical novels were of the type in which most of the events is factual and of the dumasian type of the predominance of the romanesque. Afterwards it follows itself a voyage in which it come-up tensions between the crew due to the greed of some officers and nobles that want, still in the boat before arriving to India, benefit of their offices, tensions which the Almeidas end at making-up a special mission to Quiloa (today Kilwa in Tanzania), for asking for tribute, with the sheik of Mombassa, who refused since always tribute to the Kingdom of Portugal.
Lourensso lead then a confrontation with the troops of the sheik. Although this initiative were a madness (so far from Portugal there was no hope of replacement of lost troop), they couldn't go back under danger of harming the image of Portugal. The battle, much thanks to the fury of Lourensso and to the arrival of reinforcements of Don Francisco in the right moment, when they started to advance over the city. After the plunder of the later, they enter in the palace of the sheik, where it only awaited them the women, that gazed the conquerors still dirty from the combat with terror, and old-men, that in fatalist silence nothing did say. Don Lourensso is saved from drinking of the water of the palace watertank (which was poisoned) by a young-woman (indeed the daughter of the local sheik), not preventing yet he that a soldier still tasted it and passed away. With the fury of the soldiers threatening the young-woman, Lourensso put himself in between her and the soldiers (with Galician sailor/mercenary Joao da Nova at their head) for preventing them of applying their rage over her. This would be the deepening of the rivalry between the son of the Vice-Roy and the Spanish navigator and soldier. Likewise this whole episode is fictionized and romanticized by the author, like the other woman of the plot, Lourensso's cousin. The plot that follows itself is the whole struggle for the instalation of a (then small) effective occupation of some forts in the shores of India, against the interests of the sovereigns of Calcuta and of the 'Rum' Turks, the effective start of a "Portuguese State of India", and how Don Francisco can get at least this basic objective, although his son is not able to fulfil the dream of going back to Portugal to his Beatriz...
In this text we see much of the portrait of the nobility and of the King of Portugal serving for a critique of the state of the country. The King Don Manuel I, in his small 'cameo' in this book, comes-up as a person 'infected' by the prudeness of the time, and the hidalgos are shown as impatient for offices, wealthes and prone to wanting to live 'at the expense' of the public exchequer and of not intending to 'give in return' any service to the fatherland (to the point of the Vice-Roy complaining, towards his son of how would they «with these men, to indeed rule India?»). The Galician explorer at the service of the Portuguese crown, Joao da Nova (the historical discoverer of the island now with his name today under French jurisdiction from Reunion) is maybe the most finished case of this (who wishes may see in this an anti-Spanish reading, but this seems to coincide with the historical character of the historical Juan de Nova or Joan de Novoa). Despite the reputation of Pinheiro Chagas as a nationalist writer in the which it isn't noticed any flaw or decadence of Portugal and with a portrait without taint of the kings of Portugal (this makes one thing to what point the historians of Portuguese literature indeed read any of the authors over which they write...), we see here how much in fact critical he can be of periods considered "golden ages", how he can see the Age of Discoveries simultaneously as the most expansionist moment of Portugal but also (according to opinion of Alexandre Herculano as historian) the moment in which the municipal local power itself weakened and the central state itself strengthened at the expense of the municipalities and of the people, in a monarchist absolutism (the somewhat caricatural portrayal of Don Manuel comes simultaneously from this, and from the excessive influence of the Church of Rome on his person). Even more, in all the novels of Pinheiro Chagas, the kings that come-up in the plots (which are all of them between Don Manuel I and Don John VI) come-up always portrayed as essentially flawed people for one reason or another and that give too much power to the central state and to the church (mainly the Jesuit Order), and sometimes are brutally caricatured (mainly the IV Dynasty, with Don John V at the head in his novel A Corte de D. João V, "The Court of Don John V).
Don Francisco is an equal and strong companion of his son, indeed his «jewel», showing himself energic, intelligent and active leader at challenging together with Don Lourensso conspiracies of the natives of the East or of greedy politicians of the Portuguese Empire of the East, at frustrating the greeds of the Portuguese that only want to plunder and destroy India and the rest of Asia, and at facing all the problematic events of an epic history like the one of the first years of the Portuguese conquest of India.
Accordingly as the plot evolves, Don Francisco passes more and more the protagonism of the adventurous side of the novel for his son, although the Vice-Roy is present in all the events in which historically he was participant, as representative of ye-king at ruling those territories that were to the access of the routes of the Portuguese vessels starting from the first trip of Vasco da Gama in 1498. This 177 pages novel (that, saddly, in the original edition had not illustration not even on the cover, although  I do suppose that others throughout the 20th century had had illustration), illustrates perfectly the climate of the phase of the history of Portugal represented, when many Portuguese left cotinental Portugal for colonizing the current Portuguese archipelagos or for colonizing in Africa or in the Orient, but in which Portugal more used from the colonization for ripping-out riches that created corrupt elites, than for occupying territories and develop them duely (what Pinheiro Chagas as politician criticized, having, with partial success, reversed some of these problems as Overseas Minister), and in which Portugal lost many resources in tremendous efforts of fighting-off both local people and imperial powers of the area (like the Ottoman Turks, in this book called Rums, and other empires that are not for this book called-for but that the historical Portuguese faced like the Persians, the Mogol Empire and China). About this issue of colonization 'philosophy', it must be added that although the author disagrees with Don Francisco de Almeida on this (Pinheiro Chagas, as he insinuates in the chaptter 9 «The Portuguese in India», the only one that is more taken-out from essay on the history of Portugal than of novel, agreed with the governor of Portuguese India Afonso de Albuquerque, another defender of an effective colonization occupation of territory and with the construction of an empire, while Don Francisco defended the simple control of the comerce without occupation of greater rate of territories), but despite of that Pinheiro Chagas portrays in positive way the Vice-Roy for having a greatness of character and not being a simple 'paper-pushing-pansy', whose greatness distinguishes itself from other defenders of comercial imperialism, and even of some characters that share of the ideas on colonialism of the author but do not have half of the honor or of the intelligence of Don Francisco.
It is this that Pinheiro Chagas uses as material for building his plot, with characters of mysterious personality (not because of the writing but of the personality of the character) like the Samorin or Rajah of Calcuta, of vilany well written and non-cartoonish like the secretary of India Gaspar Pereira and the Galician Joao da Nova, combative like the admiral Aga Hussein servant to the Sultan of Cairo, gentle (sometimes too much or in strange ways, though) like several navigators and Portuguese military-men (like Diogo Correia and Pero Cao), the daughter of the sheik of Quiloa (together with Beatriz and the anonymous women that accompany the sheiks daughter, the isolated 'females of the species' of this plot) and the heir of the throne of Cochin (that is also the nephew of the Samorin, and of whom Pinheiro Chagas, with terms that make the less 'naive' reader of today laugh with the insinuations made with naive text, «who had for Don Lourensso a most special favouring» on influence of «that indolent life of the rahas, because of that most ardent climate, admired with a charming naivite the robustness of the shapes of Don Lourensso that it connected itself with a surprising elegance, and with a gentility that so much more enthraled the orientals as much more to it they knew not of it»). But none of them compares itself in complexity of personality and livelyhood of the portrayal to the «jewel of the Vice-Roy» in person, Don Lourensso. Lourensso is not just persevering, honored and discret, but for all of his qualities and of his rival-less warrior strength he has an autentic profile of demigod, and shall not rest of his dream of coming back home and for the arms of Beatriz, not without first wanting to do the most possible for the glory of his country, although life shall prevent it to him...
In the best swashbuckler style, despite of the factual basis of the plots of the novel, we see a narrative full of lively mishaps, duels and combats that 'wash' violently the honors of individuals and nations, of which the author helped himself for to us show with master-skill the politicial and military reality of the burstling times of the Age of Discoveries, showing us many social practices that did not date with the passage of 600 years. So, weighed all that, all in all today, more than passed-away the literary and personal polemics of the period, we can see how the historical novels of Pinheiro Chagas are closer of ther 'current times' novels of Essa de Queiroz than what was before thought.
This book is npot one of the easiest to find in all the municipal and school libraries (unlike others of the author), but it finds itself online in the Internet Archive site the digitalization of a copy of the Toronto University, that can be read here, and still must be found for sale or in some other way in circulation copies of editions of the Fronteira do Caos publisher for the Letras com História collection (the first edition of the Fronteira do Caos is from 2006), in which the book is paged with 152 and not the 177 of the original edition (184 counting cover, blank pages and advertisements to other collection of the Parceria António Maria Pereira Livraria Editora of the time).
At the level of trivia, in the comics magazine Cavaleiro Andante ("Wandering Knight"), # 288, of 6th July, 1957, came-up a comics adaptation of this novel made by a notorious Portuguese comics drawer of the period, Fernando Bento, from the which it can be seen a strip below. As it is seen, throughout the 20th century, the few that still was recalled of Pinheiro Chagas was due to 'osmosis' by influence of adaptations.
For an introduction to the author:

sábado, 27 de dezembro de 2014

"As Minas de Salomão", Eça de Queirós // "Solomon's Mines", Essa de Queiroz

Alguns podem estranhar começar com este livro, pela inclusão sequer do mesmo. "Mas este livro não é somente a tradução de um clássico britânico ou especificamente inglês, King Solomon's Mines do administrador colonial, explorador e escritor (e de culto) Inglês de ascendência Dinamarquesa Henry Rider Haggard?", perguntarão vocês. Bem, isto traz-nos a um debate sobre a tradução, que para não arrastar este post poderão consultar aqui.
Rider Haggard e Eça de Queirós
Aqui notaremos somente que Eça traduziu o livro em folhetins para uma revista (por ele dirigida), a Revista de Portugal, editados a partir de Outubro de 1889 (tinha o romance de Haggard então já 4 anos e sucesso em Inglaterra e parte do mundo), sendo publicado o texto em livro dois anos depois. Essa revista (que se popularizava a princípio com discussões políticas, económicas e culturais) tentava expandir o público, querendo atrair público mais popular, feminino e jovem com uso de mais ficção, folhetins, artigos ligeiros, dando uma oferta de "romances de arlequim", textos de aventuras, estórias para crianças, paródias e afins. A partir dos anos de 1880, Eça vivia frequentemente no "fio da navalha" em termos económicos (e mesmo noutros termos), devido às relações por vezes conflituosas com os seus editores (em torno principalmente dos direitos de autor) e apertos de finanças com as responsabilidades familiares (depois de casar e tendo em conta que residia na cara cidade de Paris a partir de 1888), sendo assim tudo isto que o levou a colaborar na imprensa frequentemente e organizar almanaques para aumentar o seu orçamento, vindo daí a criação da dita revista (que também lhe permitiam intervir de forma frequente com o público leitor português). E para escolha de tema para folhetim para fidelizar novos públicos, este era natural porque, basicamente, África estava 'na moda', por isso era um óptimo tema para fidelizar leitores.
Essa era a principal razão de Eça pegar no texto: África e Britânicos. Os Portugueses andavam desde os anos de 1880 'loucos' por África, com a hipótese de um Portugal renovado por uns novos Descobrimentos, agora pelo interior de África, e a perspectiva de uma grande África Portuguesa que fosse uma nova Índia e um novo Brasil, e 1889 vinha no seguimento das explorações de Capelo e Ivens e de Serpa Pinto (e de outros exploradores Portugueses) através dos chamados sertões de África, e imediatamente antes do Ultimato Britânico (que ainda 'assombrava' o patriotismo português quando a tradução/adaptação queirosiana foi editada em livro em 1891), e portanto Portugal estava ainda mais 'sequioso' de África visto que esta lhe era 'impedida' pelos Britânicos, e como tal a ideia de ler sobre Britânicos a explorar África (mesmo que em ficção) ganhava "aura" de ficar a conhecer melhor o inimigo e como pensava e agia no solo Africano, e comparar as abordagens e poderios de cada lado. Vejamos o nome que Eça dá a Allan Quatermain: Alão Quartelmar. É curiosa esta alteração aportuguesada quando todos os outros nomes ficam idênticos (fora alguma simplificação de escrita para leitores lusófonos, p. ex: a curandeira Gagool tornar-se Gagul porque a leitura do duplo O faria o leitor lusófono ler "Ga-gó-ol" e não "Ga-gul"), de forma que podemos quase dizer que Eça quis tornar o herói (o explorador mais africanizado e mais eficiente de entre os protagonistas Britânicos do livro) Português; o facto de «Quartelmar» até saber de antemão da lenda da Ophir do Rei Salomão reforça esta impressão, eu até extrapolo sobre ser um Português conhecedor graças à outra Ofir, portuguesa no Concelho de Esposende, também ligada à lenda das minas de Salomão. Além de que, como o jornal Público comentava numa nota acompanhando a edição da tradução de Eça para a colecção Geração Público, Quartelmar é um «narrador "queirosiano"». No fim de contas, Quartelmar torna-se uma personagem "à Eça", quase o modelo do futuro «fidalgo da Torre» Gonçalo Mendes Ramires do romance A Ilustre Casa de Ramires, que Eça começou a escrever quase ao mesmo tempo que a publicação desta tradução em livro (mas só publicado em 1900, ano da morte do autor), e que no fim do romance parte para África, considerando a colonização a esperança para regenerar Portugal, podendo nós imaginar Gonçalo, depois do fim do romance, transformado num figurino à Quartelmar, com a sua cepa do melhor do "Velho Portugal" que construiu a nacionalidade portuguesa e fez o Império Português e os Descobrimentos.
As cerca de 250 páginas (à volta de 100 menos que no original de Haggard, o que só fortalece o 'caso' pela originalidade da 'tradução' de Eça) d'As Minas são narradas na primeira pessoa por Alão Quartelmar/Allan Quatermain (como já o era no original de Haggard), com narração fluída e ágil (cortesia da mestria de Haggard 'canalizada' pela mestria de Eça), de forma que 'enreda' o leitor. O livro simular ser um relato real de uma viagem a uma nação tribal real de África, com o Quartelmar/Quatermain 'autor' a fazer-nos um prefácio (mais de Eça que de Haggard) abordando o leitor; ao longo do prefácio surgem pérolas de ironia como a afirmação de que no livro que se segue ao prefácio não surge uma única mulher (afirmação que tem piada por si só, mas que se torna mais hilariante quando vemos que não é verdade, embora não haja a protagonista feminina que a maioria das adaptações têm, culminando com uma Sharon Stone pré-cruzar-descruzar-de-pernas na de 1985; although there isn't the female lead that most adaptations have, peaking with a pre-leg-crossing-uncrossing Sharon Stone in the 1985 one; o comentário é uma autêntica publicidade enganosa de Eça). Quando chegamos à estória propriamente dita, encontramos Quartelmar/Quatermain, nas suas próprias palavras, como guia de caçadas, caçador de elefantes profissional e guia em geral, vivendo em Durban, na África do Sul (então colónia Britânica) desde que enviuvara, ganhando a vida esforçadamente para tentar sustentar o seu filho que estuda em Inglaterra. Quando um dia o Barão Inglês Sir Henry Curtis e o seu amigo Capitão John Good vêm para contratar Quartelmar/Quatermain para os guiar numa busca pelo o irmão de Sir Henry, que se perdera depois de ser visto pela última vez a dirigir-se para norte, em busca das minas do bíblico Rei Salomão de Israel, construídas por contratados Fenícios deste soberano, que daí retiraram ouro e diamantes para construir o templo do rei em Jerusalém e enriquecer o antigo Reino de Israel. Ora, a localização de tais minas (se existiram) é muito discutida, mas desde o tempo dos Descobrimentos portugueses localizavam-nas na África Áustral, e o século XIX foi a "idade de ouro" dessas teorias.
Após lhe proporem esse contrato, Quartelmar/Quatermain narra a Sir Henry e o Capitão Good como ele havia obtido um mapa do século XVI do nobre Português José Silveira/Silvestre/Silvestra, descendente do explorador Português quinhentista (fictício) José da Silveira/da Silvestre/da Silvestra, que teria encontrado as minas e feito um mapa indicando um suposto caminho para estas. Quartelmar/Quatermain porém, típico caçador racional, cuidadoso e céptico, não levara a sério o mapa. Porém ele concorda em liderar uma expedição para encontrar o irmão de Henry, em troca de parte do tesouro ou (se for morto pelo caminho) uma pensão para sustentar o filho dele; Quartelmar/Quatermain admite abertamente ao leitor que tinha na altura pouca confiança em voltar vivo. Eles começam a organizar a viagem e buscam indígenas Africanos para serem contratados para servirem de carregadores (a partir daqui o texto pode ser discutido quanto ao seu eventual racismo do texto, mas esta questão é mais complexa do que à partida pode parecer, e ao aprofundarmos a análise das personagens daqui a pouco discutiremos isso mais a fundo várias vezes). Entre os candidatos a carregadores surge um sujeito misterioso chamado Umbopa, que se apresenta como um Zulu, fala de forma mais sofisticada que os outros candidatos a carregadores, tem um porte mais majestoso e belo, e se mostra ansioso por se juntar à viagem do grupo. Conforme o enredo vai evoluíndo, os brancos do grupo apercebem-se que Umbopa não é um Zulu comum e é mais do que aparenta.
A viagem, a pé, caminhando lado a lado com carros de bois e com carregadores Africanos levando a parte da carga que não cabia nos ditos carros, é descrita de forma viva, repleta de reviravoltas regulares e excitantes, como a caminhada quase até à morte da expedição, de Durban até os limites de um deserto, e através do deserto até um oásis a 96 quilómetros daí, e depois pela longa marcha de outros 96 quilómetros até ao país onde estão localizadas as minas, o país do povo Cacuana (ou Kukuana no original de Haggard), que falam um dialecto arcaico da língua Zulu. Este país fictício é retratado como um "mundo perdido", no qual Quatermain e os seus companheiros eram os primeiros forasteiros desde os Silveiras/Silvestres/Silvestras, onde se encontram artefactos e arquitectura que datam do tempo de Salomão e do Antigo Egipto. O país dos Cacuanas é assim um Estado que está aparentemente 'congelado' num primitivismo de proto-história de estrutura tribal (e governado pela superstição que foi imposta pela curandeira Gagul, no original haggardiano Gagool, durante o reinado de Tuala, Twala no original), mas que é um primitivismo 'com dignidade', tendo toda a civilização (embora datada) já referida. Quando a expedição lá chega, o país dos Cacuanas é governado pelo acima referido Tuala/Twala, um rei cruel que chegou ao poder ao usurpar o seu irmão e que governa baseado numa deturpação da superstição local inventado pela sua curandeira, uma velha muito anciã de aspecto impressionante, a referida Gagul/Gagool. Em breve, um conflito desencadear-se-à entre os brancos e Umbopa de um lado e Tuala/Twala e Gagul/Gagool do outro, que terminará com o grupo a finalmente entrar nas Minas que provocaram toda a estória... e mais não posso dizer sem apresentar demasiados spoilers da segunda metade do livro.
Bom, tendo dito tudo o que interessa quanto ao enredo, podemos passar para a questão das personagens. Em As Minas de Salomão (como n'As Minas do Rei Salomão de Haggard) todas elas têm o seu grau de vivacidade. Para começar, vejamos o nosso narrador, o explorador de cabelo preto (pormenor que a maioria das adaptações cinematográficas do livro de Haggard não 'acertam', com grande excepção na adaptação de 1937 mais fiel ao livro e a não tão fiel de 1950 com Stewart Granger como Quatermain; mas também, a versão de 1985 até transformava o Inglês num Americano graças à interpretação de Richard Chamberlain) Alão Quartelmar/Allan Quatermain.
Quartelmar/Quatermain (especialmente da maneira que é 'tratado' pela pena de Eça) é uma personagem interessante, forte: um homem com uma simplicidade (no melhor dessa característica), ele mostra ao mesmo tempo os preconceitos do seu tempo (irrita-lhe o tom familiar com que Umbopa fala com Sir Henry, e ele acha que Cafres e Zulus são inferiores aos brancos) e tem uma visão essencialmente positiva do colonialismo, mas critica as consequências do sistema para muitas das sociedades tribais e vê os negros assimilados à cultura branca como vendidos que perderam o melhor das suas culturas, reconhecendo a dignidade e porte másculo de Umbopa mesmo se considerando-o «impertinente». Esta é uma complexidade já presente no Quatermain original, e que no Quartelmar de Eça se aprofunda. Lembremos que Eça criou um dos primeiros argumentos anti-ocidentalização cultural com o diálogo com a discussão da assimilação cultural no sertão africano em Os Maias, e que criou uma das poucas personagens negras da literatura lusa do princípio de novecentos, o digno escudeiro negro do protagonista Jacinto em A Cidade e as Serras, e que n'Os Maias descreveu muitos escudeiros e criados negros sem caricatura particular dos mesmos (mas como paródia do fausto e exibição dos seus patrões brancos oitocentistas).
Quatermain por duas vezes verbaliza oposição a casamentos de brancos com não-brancas, mas numa vez parece poder ser mera desculpa do viúvo-tornado-solteirão-inveterado, para não ter de casar com uma donzela Cacuana a pedido do Rei Tuala, e na outra a sua oposição à intimidade crescente entre a Cacuana Foulata e o Capitão Good parece mais preocupação com o dano que Good possa fazer à jovem emocionalmente que oposição a união inter-racial (desconhecemos as posições de Eça sobre o assunto, mas Haggard noutras obras suas mostra uma abertura a casamentos inter-culturais e inter-raciais maior do que seria de pensar para a época). Ainda mais interessante neste livro quanto ao perfil de Quartelmar/Quatermain, é o facto de por vezes ele parecer um narrador não fidedigno, como o facto de só insistir que são totalmente verdade os seus contos de caça (deixando o resto na dúvida), exagerando os seus defeitos (auto-descrevendo-se cobarde, o que não parece ser assim de todo e até provoca um sorriso logo suprimido de Umbopa) e ao longo do texto expressando opiniões que não acompanha com acções nas situações que passa, mesmo o seu imperialismo e preconceito por vezes parecendo uma máscara de 'bom Europeu', 'como deve ser'.
Umbopa não é uma personagem desinteressante e é um retrato não caricaturado e positivo de um não-branco, mas enquanto tal, ele é uma personagem algo 'básica': é o não-branco amigável bom, bem-parecido, digno, com porte que faz logo suspeitar que é mais (socialmente falando) do que aparenta, e que fala sempre com uma eloquência nata (curiosamente, o livro, quer em Eça quer em Haggard, é escrito num estilo relativamente coloquial, mas este torna-se mais erudito quando os Cacuanas falam, numa retórica mais floreada e polida), sem grande complexidades nem lados negativos. A única coisa mais complexa no retrato de Umbopa (que faz com que ele não parece ser representado positivamente só por ser 'brando' com os brancos) é quando perto do final do livro, apesar da dívida de gratidão para com os brancos, para bem dos Cacuanas ele decide seguir um caminho que implica expulsar os brancos do país dos Cacuanas antes que mais viajantes venham e o arruínem, embora admita as boas qualidades das potências europeias, mas não quer as armas de fogo, álcool e avareza que viriam com as influências delas, e isto não é representado (nem em Haggard nem em Eça) como fazendo Umbopa menos 'bom' como personagem, somente nos diz mais sobre a sua filosofia 'política' (e é apresentado pelo texto como uma decisão algo racional).
É curioso notar (e isto diz-nos bastante sobre a filosofia de Haggard, e mesmo de Eça) que embora Quartelmar/Quatermain papagueie, sem fim, ideais colonialistas, Sir Henry Curtis não partilha das suas ideias (como a maioria dos outros protagonistas brancos). Assim, de certa forma, embora Quartelmar/Quatermain seja o verdadeiro herói da estória, e um mestre na sua área (e portanto o guia nato de entre o grupo, junto com o nativo da área que é Umbopa), porém Sir Henry Curtis é que tem o perfil do protagonista 'ideal' e 'clássico' de romances pré-modernistas deste tipo, que é um herói, um figurino atraente e uma boa pessoa: ele é nobre, tolerante, aberto às lições que a demanda do enredo lhe dará, virtuoso e aberto a sacrificar-se pelos outros. O próprio Quartelmar/Quatermain refere-se ao cavalheiro como o homem mais forte e mais nobre, que já havia visto (comparando, de forma positiva o seu ar, com o seu cabelo e barba loiros, ao ar de um antigo guerreiro Nórdico; falando nisso, não deixa de ser curioso como, em Haggard, reproduzido na "versão" de Eça, o "herói clássico" seja de tipo físico Nórdico e o herói "atípico" mas algo de facto seja um Britânico de cabelos morenos), e a sua perícia com armas não tem igual, tal como a sua perícia como combatente corpo-a-corpo, que procura combates honráveis e por justa causa. Henry é porém um pouco simples demais enquanto personagem, demasiado bom: até o tesouro não lhe interessa (ele só quer achar o seu irmão); quando os outros brancos ainda tratam Umbopa como só mais um 'preto', Henry é o único que o trata como um igual, respeitosamente; e quando estão todos presos é o único que não perde a calma, acalmando Quartelmar/Quatermain e Good.
O Capitão Good é interessante pela forma como o retrato que dele é feito pelo romance faz dele uma espécie de 'imagem-espelho' de Quartelmar/Quatermain: a princípio, o próprio Quartelmar/Quatermain descreve Good de forma algo desfavorável, o que se compreende pelas diferenças em pensamento e em apresentação de ambos, visto que Good cuida trabalhosamente da sua aparência enquanto Quartelmar/Quatermain tem um certo orgulho na rudeza simples do seu aspecto, e Good é gentil onde Quatermain/Quartelmar é (embora não uma má pessoa) tão rude de maneiras como de aspecto, mas também se distinguem por diferenças mais significativas de carácter. Assim enquanto Good é um atirador sem muito jeito mas que consegue ter grandes golpes de sorte e aceita o crédito (injustificado) pelos resultados desses golpes de sorte, Quartelmar/Quatermain é um excelente atirador que humildemente não vê necessidade de se gabar desses talentos (considerando mesmo que o próprio Deus se considera um melhor atirador do que Ele verdadeiramente é, enquanto ele, Quartelmar/Quatermain, é auto-depreciativo quanto à sua pontaria e perícia), e enquanto Good é dado a 'ataques' de romantismos (como com Foulata), Quartelmar/Quatermain tem-se em conta de realista por não querer laços desde que perdeu a sua esposa. Good é assim o melhor da civilização Britânica (embora não sem defeitos), enquanto Quartelmar/Quatermain vive entre a civilização e a selvajaria, e enquanto o Capitão sente-se em casa em Inglaterra ou em navios da Marinha Real, Quartelmar/Quatermain só está em casa no mato, entre os perigos do desconhecido. O facto de Eça aparentemente 'aportuguesar' Quatermain torna esta separação ainda mais curiosa na versão de Eça, visto que podemos quase ver uma diferença do tipo Luso e do Anglo, ou do tipo Latino e do Anglo-Germânico-Escandinavo: de um lado um sujeito entre civilizado e selvagem mas não inculto nem cruel, pragmático e no fundo de bom carácter, mais experimentado em África mas um pouco mais racista e imperialista 'da boca para fora', e fisicamente forte e em forma, o outro um sujeito civilizado e culto gentil, muito bom homem, pouco experimentado em África e teoricamente menos racista mas de facto mais imperialista na prática (até porque tem mais meios e "sorte" para impôr o seu imperialismo), e que está mais envelhecido (num episódico cómico, Good tira a sua dentadura e usa isso para provar que é um mago aos Cacuanas. Resulta!). Tal como Eça coloca "a coisa" surgida já em Haggard, Quartelmar e Good parecem tornar-se Portugal e a Inglaterra (ou mais genericamente a Grã-Bretanha) em geral vendo-se como "imagens-espelho" uma da outra, paralelando os defeitos de uma as qualidades da outra. A única outra nota que se poderia pôr ao analisar Good seria pensar como o seu patriotismo cívico e não-crítico (que não fora o vir de um militar poderia dizer-se mais "de cadeirão" que de homem que teve de o defender "no terreno") se pode comparar com o nacionalismo de "regeneração" da pátria e erudito de Lúcio Castanheiro, o «Castanheiro Patriotinheiro» d'A Ilustre Casa de Ramires queirosiana.
Caricatura do blogueiro Tacci do «Castanheiro Patriotinheiro» (fonte aqui)
Gagul/Gagool, a curandeira que se opõe ao Umbopa e os exploradores, curiosamente é a grande excepção a um retrato essencialmente positivo dado dos Cacuanas: como guerreiros bem-parecidos, fortes e bravos e donzelas belas e ternas. Na linha do original de Haggard, que escrevia sob a forma de fábula longa em forma de romance ou de mito 'fabricado' moderno, ele usa Gagul/Gagool como um símbolo: ela representa o lado malvado do feminino, o lado velho, feio e que possui conhecimentos secretos aos homens (enquanto Foulata e as restantes mulheres Cacuanas representam o lado positivo da feminilidade (compassivo e gentil, não manipulador de homens mas apoiante deles). Gagul/Gagool é apresentada simultaneamente como caricatura da curandeira Africana mas também como uma falsa curandeira: Gagul/Gagool é acima de tudo alguém que quer ter um papel político no reinado do Rei Tuala e quer usar a influência dada pelo papel socialmente respeitável de curandeira para ser o poder por detrás do trono. A anciã é também uma hipócrita, no facto de apesar de ela e as suas acólitas fazerem uma caça a gente que acusam de praticar magia negra, é insinuado que ela própria a pratica. O combate entre as duas formas de feminino é mostrada no facto de o falhanço de Gagul de destruir os heróis é provocado pela terna, bela e jovem Foulata, a imagem-espelho da anciã, que assim como que se mostra superior à velha curandeira.
Mas uma das mais interessantes personagens, junto com a do próprio Quartelmar/Quatermain, é a do Rei Tuala/Twala. Tuala/Twala é o mais complexo dos Cacuanas no seu retrato, mais que os outros Cacuanas essencialmente bons, e mais que Gagul/Gagool que é uniformemente má. Tuala/Twala pode ser o antagonista e ter usurpado o seu reino, mas para além de ser claramente bárbaro em muitas das suas acções, é também claramente forte, astuto, de forma que mesmo quando chegam os brancos e vê que o seu reinado pode ser ameaçado, mantém a sua fúria contida até sofrer de uma perda pessoal o tornar incapaz de se conter. Nos combates que se seguem, Tuala/Twala é incontestavelmente bravo e forte, atacando os acampamentos inimigos dois dias seguidos, juntando-se aos seus guerreiros no assalto, e quando vê que tem a sua vida por um fio, ele quer morrer em combate mano-a-mano com Sir Henry, lutando de forma admirável.
No total, As Minas é mais que uma simples estória de aventuras, mais que um simples relato do dia-a-dia de uma expedição africana no tempo do colonialismo europeu (quer em Haggard, quer em Eça), apresentando também um retrato ficcionado de parte da estória das potencias Europeias em África, mostrando a ascensão da Grã-Bretanha não só como poderio marítimo mas como poderio continental 'ultramarino' (como então se dizia), em que Eça, um filho da Europa cosmopolita e que vivenciara principalmente a Europa urbana quer em Portugal quer na França e no Reino Unido, recria com alguma escrita forte e viva e algum realismo uma fábula da África subsariana do período colonial, graças ao texto original de Haggard, que aqui usa de toda a sua experiência de alguém que havia participado da administração colonial pouco antes de se virar para a escrita ficcional, e que vivera na África do Sul e ficara polémico com o seu próprio governo por um ensaio criticando a 'má vizinhança' dos vizinhos brancos do Reino Zulu do seu último Rei Cetshwayo.
Comparado com várias obras saídas da pena de Eça (algumas mais próprias para o público alvo dos livros analisados neste blogue ainda veremos mais tarde por aqui), As Minas pode parecer um texto 'sofrível', 'menor' (reputação que é tão incorrecta e imerecida como a de escrita mediocridade e 'juvenil' no mau sentido de Haggard), mas era um texto em que Eça não 'descansou' o seu talento, e criou um texto certo para o público mainstream e jovem que procurava na altura a Revista de Portugal, e tanto resultou o texto, que ainda hoje falamos dele, e ainda hoje em Portugal se diz que As Minas de Salomão é uma obra prima de Eça de Queirós. É uma obra que abre aos seus leitores uma porta para primeira introdução à obra de Rider Haggard e de Eça de Queirós, para a literatura, e para a história, mesmo que seja história que preferíssemos esquecer ou que nunca tivesse existido como a do colonialismo, que lhe serviu de inspiração e que recria de forma marcante. E não deixa de ser curioso ver Eça a escrever uma obra algo similar ao 'romances históricos de bengalada' (para parafrasear o termo de Elena Losada Soler na edição crítica d'A Ilustre Casa de Ramires da Imprensa Nacional - Casa da Moeda de 1999) que ele criticava pessoalmente e na sua ficção (como no interessante livro-dentro-do-livro n'A Ilustre Casa). Quem estiver interessado em ler o livro, pode encontrá-lo em muitas bibliotecas municipais e escolares, normalmente pela edição da colecção Verbo/TVI Clássicos Juvenis (uma edição com bastantes ilustrações atractivas, da qual se pode ver a capa no topo desta publicação), por vezes também na edição da colecção Geração Público.
O mais próximo de umas adaptações audiovisuais lusófona e portuguesa d'As Minas de Salomão. Hah!


Some may startle themselves with starting with this book, for the inclusion alone of the same one. "But this book isn't just the translation of a British or specifically English classic, King Solomon's Mines by the Danish descent English colonial administrator, explorer and writer (and a cult one) Henry Rider Haggar?", You will ask. Well, this brings us to a debate over translating, which for not dragging on this post you may consult here (in Portuguese), here (in English), here (in English) and here (in English).
Rider Haggard e Essa de Queirós
Here we shall note just that Essa translated the book into serial installments for a magazine (by him directed), the Revista De Portugal (''Magazine of Portugal"), edited starting from October 1889 (had Haggard's novel then already 4 years of age and success in England and part of the world), being published the text in book two years afterwards. That magazine (that itself popularized at first with political, economical and cultural discussions) try to expand its audience wanting, to attract more popular, feminine and young audience with use of more fiction, serials, light articles, giving an offering of "romance novels", adventures texts, children's stories, parodies and the like. Starting from the 1880s, Essa lived frequently in the razor's blade in economical terms (and even in other terms), due to the relations sometimes quarrelsome with his publishers (around mostly the copyrights) and tightspots of finances with the family responsabilities (afterwards of getting married and having in mind that he resided in the expensive city of Paris starting from 1888), being so all this that to him took to colaborate in the press frequently and organize almanachs to increase his budget, coming from there the creation of the said magazine (that also to him permited to intervene in frequent way with the Portuguese reading audience). And for choice of theme for serial to fidelize new audiences, this one was natural because, basically, Africa was 'in fashion', so it was a great subject to fidelize readers.
That one was the main reason of Essa picking-up in the text: Africa and Britons. The Portuguese were since the 1880s 'crazy' for Africa, with the hypothesis of a Portugal renewed by some new Discoveries, now through the interior of Africa, and the perspective of a great Portuguese Africa that were a new India and a new Brazil, and 1889 came in the follow-up of the explorations of Capelo and Ivens and of Serpa Pinto (and of other Portuguese explorers) through the so-called outbacks of Africa, and immediately before of the British Ultimatum (that still 'haunted' the Portuguese patriotism when the queirosian translation/adaptation was published on book in 1891), and hence Portugal was even more 'thirsty' of Africa seen that this one to it was 'prevented' by the British, and as such the idea of reading on Britons exploring Africa (even if in fiction) gained "aura" of getting to know better the enemy and how he thought and acted in the African soil, and compare the approaches and mights of each side. Let us see the name that Essa gives to Allan Quatermain: Alão Quartelmar. It's curious this portugueseafying alteration when all the other name stays identical (aside some simplification of spelling for lusophone readers, f. ex: the healer Gagool becomes Gagul because the reading of the double O would do a lusophone reader read it "Ga-goh-ol" e não "Ga-gul"), in way that we can almost say that Essa wanted to make the hero (the explorer the most africanized and most efficient from among the British protagonists of the book) Portuguese; the fact that «Quartelmar» even knows beforehand the legend of the Ophir of the King Solomon reinforces that impression, being possible to extrapolate over being a Portuguese-man knowledged thanks to the other Ofir, Portuguese in the Municipality of Esposende, also connected to the legend of the mines of Solomon. Besides that, like the Público newspaper commented in a note acompanying the edition of the Essa translation for the Geração Público ("Público Generation"), Quartelmar is a «"queirosian" narrator». All in all, Quartelmar becomes an "Essa-style" character, almost the model of the future «gent of the Tower» Gonssalo Mendes Ramirez from the novel The Illustrious House of Ramirez, that Essa started to write almost at the same time that the publication of this translation on book (but only published in 1900, year of the author's death), and that at the end of the novel leaves for Africa, considering the colonization the hope for regenerating Portugal, being able us to imagine Gonssalo, after the end of the novel, transformed into a figurine a la Quartelmar, with his stock of the best of the "Old Portugal" that built the Portuguese nationality and made the Portuguese Empire and the Age of Discoveries.
The about 250 pages (about 100 less than in Haggard's original, what only strengthens the 'case' for the originality of the 'translation' of Essa's) of Mines are narrated in the first person by Alão Quartelmar/Allan Quatermain (as it was it already in the Haggard original), with fluid and agile narration (courtesy of the mastery of Haggard 'channeled' through Essa's mastery), in way that 'entangles' the reader. The book simulates the being a real report of a voyage to a real African tribe, with the 'author' Quartelmar/Quatermain to make us a foreword (more from Essa tan from Haggard) approaching the reader; throughout the foreword come-up pearls of irony like the statement that in the book that follows itself to the foreword it does not come-up a single woman (statement that is funny in itself, but that turns itself more hillarious when we see that it isn't true, although there isn't the female lead that most adaptations have, peaking with a pre-leg-crossing-uncrossing Sharon Stone in the 1985 one; the comment is true misguiding publicity of Essa's). When we arrive to the story proper, we find Quartelmar/Quatermain, in his own words, as hunting guide, professional elephant hunter and guide in general, living in Durban, in South Africa (then British colony) since that he had widowed, earning a living effortedly to try to support his son that studies in England. When one day the English baron Sir Henry Curtis and his friend Captain John Good comes to hire Quartelmar/Quatermain to guide them in a search for the brother of Sir Henry, who lost himself after being seen heading north, in search of the mines of the biblical King Solomon of Israel, built by Phoenician hired-hands of this sovereign, that from there took-out gold and diamonds for building the temple of the king in Jerusalem and enrich the ancient Kingdom of Israel. Well now, the localization of such mines (if they existed) is much argued-on, but since the time of the Portuguese Discoveries they localized them in Southern Africa, and the 19th century was the "golden age" of those theories.
Afterwards of to him proposing that contract, Quartelmar/Quatermain narrates to Sir Henry and to Captain Good how he had obtained a 16th century map from the Portuguese nobleman Jose Silveira/Silvestre/Silvestra, descendent of the (fictional) 16th century Portuguese explorer Jose da Silveira/da Silvestre/da Silvestra, who would have found the mines and made a map indicating the supposed way for them. Quartelmar/Quatermain though, typical rational, careful and skeptic hunter, had not taken seriously the map. Yet he agrees in leading an expedition for finding the brother of Henry, in exchange for part of the treasure or (if killed along the way) a pension for supporting his son; Quartelmar/Quatermain admits openly to the reader that he had at the time few confidence in coming back alive. They start to organize the travel and search African indigenes for being hired for serving for carriers (starting from here the text may be argued about the eventual racism of the text, but this issue is more complex than what at the departing point may seem, and at deepening the analysis of the characters in a while we shall discuss that more deeply several times). Among the candidates to carriers comes-up a mysterious fellow called Umbopa, who presented himself as a Zulu, speaks in a more sophisticated fashion than the other carrier candidates and has a bearing more majestic and fair, and that to himself shows anxious for joining himself to the voyage of the group. Accordingly as the plot goes evolving, the whites of the group realize that Umbopa is not a common Zulu and is more than he seems.
The journey on foot, walking side by side with ox carts and with African carriers taking the part of the load that did not fit in the said carts, is described in living way, filled of regular and exciting topsyturns, like the walk-on almost to death of the epidition, from Durban to the limits of a desert, and through the desert till an oasis at 96 kilometers from there, and afterwards by the long march of other 96 kilometers till the country where it are located the mines, the country of the Cacuana people (or Kukuana in Haggard's original), that speak an archaic dialec of the Zulu language. This fictious country is portrayed as a "lost world", in the which Quatermain and his companions were the first outsiders since the Silveiras/Silvestres/Silvestras, where it found themselves artifacts and arquitecture that date from the time of Solomon and from Ancient Egypt. The country of the Cacuanas is so a state that is apparently 'frozen' in a primitivism of proto-history of tribal structure (and ruled by the superstition that was imposed by the healer Gagul, in the Haggardian original Gagool, during the reign of Tuala, Twala in the original), but that is primitivism 'with dignity', having all the civilization (although dated one) already refered. When the expedition there arrives, the country of the Cacuanas is ruled by the above mentioned Tuala/Twala, a cruel king that got to power through usurping his brother and who rules based in the deturping of the local superstition invented by his healer, a very elderly old-woman of impressive aspect, the referenced Gagul/Gagool. Soon, a conflict would unleash itself between the whites and Umbopa on one hand and Tuala/Twala and Gagul/Gagool on the other, that shall end with the group finally entering in the mines that provoke all the story... and more I can't say without presenting too many spoilers of the second half of the book.
Well, having said all that matters about the plot, we can pass to the matter of the characters. In Solomon's Mines (like in Haggard's King Solomon's Mines) all of them have their degree of livelyhood. For starters, lets see our narrator, the explorer of black hair (detail that the majority of the cinematic adaptation of the book of Haggard do not 'get right', with the big exception in the 1937 adaptation more faithful to the book and the not so faithful one of 1950 with Stewart Granger as Quatermain; but then, the 1985 version that turned the Englishman into an American thanks to the peformaing of Richard Chamberlain's) Alão Quartelmar/Allan Quatermain.
Quartelmar/Quatermain (especially from the way that is 'treated' through the pen of Essa's) is an interesting, strong character: a man with a simplicity (in the best of that characteristic), he shows at the same time the prejudices of his time (it annoys him the familiar tone with which Umbopa speaks with Sir Henry, and he thinks that Kafirs and Zulus are inferiors to whites) and has an essentially positive view of colonialism, but he criticizes the consequences of the system for many of the tribal societies and sees the blacks assimilated to the white culture as sell-outs that lost the best of their cultures, recognizing the dignity and manly bearing of Umbopa even considering him «impertinent». This is a complexity already present in the original Quatermain, and that in Essa's Quartelmar deepens itself. Let's recall that Essa created one of the first anti-cultural westernization with the dialogue with the discussion of the cultural assimilation in the African outback in The Maias, and who created one of the few black characters of the Luso literature of the begining of nineteen-hundreds, the worthy squire of the character Jacinto in The City and the Mountains, and that in The Maias described many black squires and servants without particular caricature of the same (but as parody of the faust and showing-off of their white eighteen-hundreds employers).
Quatermain for two times verbalizes oposition to weddings of whitemen and non-white-women, but in one of them it seems to be mere excuse of the widowe turned helpless singleton, for not having to marry with a Cacuana maiden by request of the king Tuala, and in the other one his opposition to the growing intimacy between the Cacuana Foulata and the Captain Good seems more concern with the damage that Good may do to the young-woman emotionally than opposition to interracial union (we known not the positions of Essa on the matter, but Haggard in other works of his shows an openness to inter-cultural and inter-racial marriages greater than what would be to thought for the period). Even more interesting in this book about the profile of Quartelmar/Quatermain, is the fact that sometimes he seem a narrator not trustworthy, like the fact of just insisting that are totally true his tales of hunting (leaving all the rest in doubt, exagerating his flaws (self-describing himself as coward, what doesn't seem to be at all and even provokes a rightaway surpressed smile of Umbopa's) and throughout the text expressing opinions that he doesn't accompany with actions in the situations that he passes-by, even his imperialism and prejudice sometimes looks like a mask of 'good europe', 'as it is supposed to be'.
Umbopa is not an un-interesting character, and is a not caricatured and positive portrayal of a non-white, but as such, he is a character somewhat 'basic': he's the friendly non-white good, good-looking, dignified, with bearing that makes rightaway suspect that he's more (socially speaking) than he seems, and that speaks always with a born eloquence (curiously, the book, both in Essa and Haggard, is written in a relatively coloquial style, but this one becomes more scholarly when the Cacuanas speak, in a more flowery and polished rhetoric), without great complexities nor negative sides. The only thing more complex in the portrayal (that makes that he does not seem to be portrayed positively just because he's 'soft' with the whites) is when near the end of the book, despite of the debt of gratitude towards the whites, for the Cacuana's good he decides to follow a way that entails the expelling the whites from the country of the Cacuanas before that more travellers come and ruin it, although he admits the good qualities of the European powers, but he doesn't want the fire-weapons, alchohol or avarice that would come with their influence, and this is not represented (nor in Haggard nor in Essa) as doing Umbopa less 'good' as character, it just says to us more on his 'political' philosophy (and it is presented by the text as something rational).
It is curious to notice (and this says to us quite some on the philosophy of Haggard's, and even of Essa's) that although Quartelmar/Quatermain parots, endlessly, colonialist ideals, Sir Henry Curtis doesn't share of his ideas (like the majority of the other white protagonists). So, in a certain way, although Quartelmar/Quatermain may be the true hero of the story, and a master in his area (and hence the born guide from among the group, together with the native of the area that is Umbopa), yet Sir Henry Curtis is who got the profile of 'ideal' and 'classic' lead of pre-modernist novels of this kind, which is a hero, an attractive figurine and a good person: he is noble, tolerant, open to the lessons that the quest of the plot shall unto him be giving, virtuous and open to sacrificing himself for the others. Quartelmar/Quatermain himself refers to the gentleman as the strongest and most noble man that he had already seen (comparing, in positive way, his look, with the blond hair and beard, to the air of an ancient Nordic warrior; speaking of that, it doesn't cease being curious how, in Haggard, reproduced in the "version" of Essa, the "classical hero" is of the Nordic physical type and the "atypical" but somewhat de facto hero be a Briton of brunet hairs), and his skill with guns has no equal, just like his skill as mano-a-mano combatant, that searches for honorable combats and on just cause. Henry is though a little too simple as character, too good: even the treasure doesn't matter to him (he just wants to find his brother); when the other whites still treat Umbopa as just one more 'negro', Henry is the only one that treats him as an equal, respectfully; and when all are stuck he's the only one that doesn't loose his calm, calming-down Quartelmar/Quatermain and Good.
Captain Good is interesting for the way as his portrayal is made by the novel makes of him a kind of 'mirror-image' of Quartelmar/Quatermain: at first, Quartelmar/Quatermain himself describes Good in fashion somewhat unfavorable, what itself is understood for the differences in thought and in presentation of both, seen that Good cares laborously of his appearance while Quartelmar/Quatermain has a certain pride in the simple rudeness of his look, and Good is kind where Quatermain/Quartelmar is (although not a bad person) so rude of manners as of look, but also themselves distinguished by differences more meaningful of character. So while Good is a marksman without much handiness but that can have big strikes of fortune, Quartelmar/Quatermain is an excelent marksman that humbly does not see the need of bragging himself of those talents (considering even that God Himself considers Himself a better marksman than He truly his, while he, Quartelmar/Quatermain, is self-depreciating about his aim and skill), and while Good is prone to 'attacks' of romanticism (like with Foulata), Quartelmar/Quatermain has himself as a realist that does not want bonds since he lost his wife. Good is so the best of British civilization (although not without flaws), while Quartelmar/Quatermain lives between civilization and the wild, and while the Captain feels himself at home in England or in ships of the Royal Navy, Quartelmar/Quatermain only is at home when in the bush, among the dangers of the unknown. The fact that Essa apparently 'Portuguesefies' Quatermain turns this separation even more curious in the Essa version, seen that we can almost see a difference of the Luso and of the Anglo type, or of the Latin and of the Anglo-Germanic-Scandinavian one: on the one hand a fellow between civilized and savage but not uncultivated nor cruel, pragmatic and deep down of good character, but experienced in Africa but a little more racist and imperialist 'by lipservice', and physically strong and in shape, on the other a gentle fellow civilized and cultivated, very good man, little experienced in Africa and theorically less racist but indeed more imperialist in practice (even if only because he has more means and "luck" to impose his imperialism), and who is older (in a comedic episode, Good takes out his fake-teeth and uses that to prove that he is a witchdoctor to the Cacuanas. It works!). As Essa puts the "thing" appeared already in Haggard, Quartelmar and Good seem to become Portugal and England (or more generically Great Britain) in general seeing themselves as "mirror-images" one to the other, paraleleing the flaws of one the qualities of the other. The only note that itself could put at analysing Good would be to think how his civic and non-critical patriotism) that were it not the coming from a military-man could be said more "armchair one" than the one of man thay had to defend it "in the terrain") itself can compare with the nationalism of "regeneration" of the fatherland and scholarly of Lucio Castanheiro, the «Chauvinister-o Castanheiro» from Queiroz's novel The Illustrious House Ramirez.
Blogger Tacci's caricature of the «Chauvinister-o Castanheiro» (source here)
Gagul/Gagool, the healer that opposes herself to Umbopa and the explorers, curiously is the big exception of the essencially positive portrayal given to the Cacuanas: as good-looking warriors, strong and brave and maidens fair and tender. In the original line of Haggard, that wrote under the form of long fable in form of novel or of modern 'fabricated' myth, he uses Gagul/Gagool as symbol: she represents the evil side of the feminine, the old, ugly side that posesses knowledges secret to men (while Foulata and the remaining Cacuana women represent the positive side of femininity (compassionate and gentle, not manipulative of men but supportive of them). Gagul/Gagool is presented simultaneously as caricature of the African healer-women but also as a false healer: Gagul/Gagool is above all someone that wants to have a political role in the reign of the King Tuala and wants to use the influence given by the socially respectable role of healer to be the power behind the throne. The elder is also a hypocrit, in the fact of she and her lady-acolites doing a huntdown to folk that they accuse of practicing black magic, it's insinuated that she herself practices it. The combate between the two forms of feminine is shown in the fact of the failure of Gagul destroying the heroes is provoked by the tender, fair and young Foulata, the mirror-image of the elder, that so as it shows herself superior to the old healer.
But one of the most interesting characters, together with the one of Quartelmar/Quatermain himself, is the one of the King Tuala/Twala. Tuala/Twala is the most complex of the Cacuanas in his portrayal, more than the other Cacuanas essentially good, and more than Gagul that is uniformely bad. Tuala/Twala may be the antagonist and having usurped his kingdom, but besides barbarian in many of his actions, he's also clearly strong, cunning, in way that even when it arrive the whites and sees that his reign may be threatened, he keeps his fury contained until he suffers a personal loss to him turning uncapable of to himself containing. In the combats that themselves follow, Tuala/Twala is undeniably brave and strong, attacking the enemy camps two days in a row, joining himself to his warriors in the assault, and when he sees his life by a thread, he wants to die in mano-e-mano combate with Sirt Henry, fighting of admirable fashion.
As whole, Mines is more than a simple adventure story, more than a simple report of the day-to-day of an African expedition in the time of European colonialism (either in Haggard, and in Essa), presenting also a fictionalized portrayal of part of the story of the European powers in Africa, showing the rise of Great Britain not only as maritime power but as 'overseas' (as then was said) continental power, in which Essa, a son of the cosmopolitan Europe and who had lived mostly the urban Europe both in Portugal and in France and in the United Kingdom, recreates with some strong and living writing and some realism a fable of the subsaharan Africa of the colonial period, thanks to the original text of Haggard, that here uses of all of his experience of someone that had participated of the colonial administration little before of turning himself to fictional writing, and who had lived in South Africa and had stayed polemic with his own government for an essay criticizing the 'bad neighbor-ness' of the white neighbors of the Zulu Kingdom of its last King Cetshwayo.
Compared with several works come-out from the pen of Essa's (some more proper for the target audience of the books analysed in this blogue we still shall see later over here), Mines may seem a 'sufferable', 'minor' text (reputation that is so incorrect and undeserved as the one of mediocrity and 'juvenile' in the worst sense that Haggard has), but it was a text in which Essa didn't 'rest' his talent, and created a text right for the mainstream and young audience that looked-for at the time the Revista de Portugal, and so much worked the text, that still today the Portuguese speak of it, and still today in Portugal it is said that Solomon's Mines is a masterpiece of Essa de Queiroz. It's a work that open to its readers a door for a first introduction to the work of Rider Haggard and of Essa de Queiroz, for literature and for history, even if it be the history that we would prefer to forget or that it had never existed like the one of colonialism, that served to him of inspiration and that he recreates in marking fashion. And it does not cease of being curious to see Essa writing a work somewhat similar to the 'historical novel of cane-blows' (to paraphrase the term of Elena Losada Soler in the critical edition of The Illustrious House of Ramirez from the Portuguese National Press - Coin Mint from 1999) that he criticized personally and in his fiction (like in an interesting book-within-the-book in The Illustrious House). Who is interested to read the book, may find it in many Portuguese city-hall and school libraries, normally by the edition of the collection Verbo/TVI Clássicos Juvenis printed by Portuguese publisher Verbo and the Portuguese private TV channel TVI (an edition with quite some attractive illustration, from the which it can be seen the cover in the top of this post), sometimes also in the edition of the Geração Público collection.
The closest to a Portuguese-speaking and Portuguese visual media adaptation of Solomon's Mines. Hah! (For context on the first)