De entre os títulos que irei ao longo do
tempo discutindo aqui, A Jóia do Vice-Rei
é dos que mais oferece uma visão detalhada do movimento político em Portugal e
no seu Império durante os tão ficcionados e discutidos Descobrimentos.
Publicado em 1890, este segundo livro aqui analisado é um romance histórico
situado nos dias do governo do primeiro Vice-Rei da Índia Portuguesa D.
Francisco de Almeida (entre 1505 e 1509). É numa atmosfera de conspiraçõezinhas
(ou não tão 'zinhas' quanto isso) políticas, segredos, rivalidades de facções e
ganâncias que o autor (numa obra publicada 5 anos antes da sua morte) tece os
seus enredos ficcionais românticos. Mas devemos falar um pouco do autor antes
de falar mais sobre o enredo. Até porque, a maioria dos leitores ao lerem o
título desta publicação nem reconhecerão sequer o nome do autor, o que é mais
surpreendente quando vemos que foi um dos mais populares romancistas do seu
tempo. Para ver mais sobre as razões para esse esquecimento, leiam o texto aqui.
Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (conhecido
principalmente como Pinheiro Chagas até ao surgir do político republicano
moderado João Pinheiro Chagas ou João Chagas) foi um escritor com uma produção
enorme, que nasceu em Lisboa a 13 de Novembro de 1842 ao major do exército,
secretário particular do Rei D. Pedro V e veterano das Lutas Liberais
portuguesas e sua esposa Gertrudes
Justiniana Gomes Ramos. Destinado pelos pais a uma carreira militar, foi aluno
do Colégio Militar, da Escola do Exército e da Escola Politécnica de Lisboa
(tendo sido em todas estas um aluno brilhante com um interesse pela escrita
desde então), chegando no exército ao posto de Capitão, interrompendo a
carreira militar em 1866, altura em que já tinha publicados dois poemas.
Pinheiro Chagas
Foi depois disso que ele se dedicou a
tempo inteiro não só ao jornalismo (escrevendo para muitos jornais e dirigindo
muitos outros, tornando-se notório por um estilo que privilegiava a crítica
social e dos governos, mistura de jornalismo noticioso e intervenção política)
como à escrita, e envolveu-se na polémica entre as correntes de escrita do
Romantismo e do Realismo, a "Questão Coimbrã" ou "do Bom Senso e
Bom Gosto", sendo ele aliás o motivo da discórdia: a "Questão"
começou com uma carta que um dos "pais fundadores" do Romantismo
português, António Feliciano de Castilho, escreveu como prefácio ao Poema da Mocidade (1865) do próprio
Pinheiro Chagas uma carta que criticava abertamente alguns jovens escritores
não-Românticos da época. De um lado das 'hostilidades', tínhamos Pinheiro
Chagas, o filho de A. F. Castilho, o jornalista e escritor Júlio de Castilho, o
dramaturgo e estudioso de literatura Brito Aranha, Camilo Castelo Branco
(ironicamente um dos precursores do Realismo em Portugal, apesar de escrever
Realismo dentro dos limites do melodrama Romântico) e Ramalho Ortigão (que
pouco depois 'virou', e associou-se aos membros dos Realistas de forma
pessoal), do outro o escritor e antropólogo Teófilo Braga, o poeta Antero de
Quental, e o autor da obra 'coberta' na primeira publicação deste blogue, Eça
de Queirós. Foi essa polémica (principalmente a de Pinheiro Chagas com Eça) uma
das razões posteriores para a queda de popularidade deste autor no coração dos leitores a partir da morte do
autor (de ferimentos provocados pelas bengaladas de um professor
anarco-comunista por umas declarações infelizes de P. Chagas sobre 'curar'
mulheres comunistas com açoites no posterior, ferimentos dos quais o escritor
nunca recuperou) em 1895. Isto não impediu que algumas obras do autor fossem
editadas com algum sucesso depois, por exemplo a peça A Morgadinha de Valflor de 1869 foi um sucesso relativo e várias
vezes encenada por grupos de teatro amador ao longo do século XX, as suas
traduções de Júlio Verne e Daniel Defoe (autor de Robinson Crusoé) continuaram a ser publicadas e lidas por muitos
anos, o seu romance A Mantilha de Beatriz
ainda tinha edições infanto-juvenis nos anos de 1990 (e dera origem a um filme
luso-espanhol dos anos de 1940), e a sua História
Alegre de Portugal é ainda algo célebre graças à adaptação a BD do cineasta
de animação e desenhador de BD Artur Correia.
Agora, passemos para o enredo. Depois de
uma primeira cena muito enérgica e que passa com alguma leveza, em que na
'borbulhante' Lisboa dos inícios de quinhentos um homem chamado Leonardo
conversa com um amigo antes miserável, Brás Picoito, que agora é guarda para D.
Francisco de Almeida, um velho e enérgico nobre que havia sido tripulante da
primeira e da segunda viagens de Vasco da Gama que fora recém nomeado Vice-rei
por D. Manuel I, e de Leonardo (que trabalha nos «almazéns», como então se
dizia, da casa da Índia, onde se guardam as riquezas da exploração da Índia)
Brás ouve que o Vice-rei passara aqueles dias antes da partida sempre
consultando o Gama sobre todos os pormenores sobre a Índia (para muito gozo do
próprio Gama, que aprecia a atenção e ser útil), e de uma zaragata entre
crianças cristãs-velhas e cristãs-novas (que 'dá corda' a comentário
anti-judaicos dos transeuntes), o livro passa logo para a acção principal, da
partida do Vice-Rei numa frota de naus após uma missa monumental na Sé de
Lisboa dada pelo Bispo de Ceuta e em que o Rei entrega uma bandeira com a cruz
de Cristo a D. Francisco e o incumbe ante todos na missa da sua missão
governativa, descrita de forma forte e pormenorizada por Pinheiro Chagas, e
após uma procissão imponente pela cidade da Sé até à barra do Tejo. Com
aceitação do Rei, D. Francisco leva consigo para a viagem a "jóia" do
título, que ele chama de «luz dos meu olhos, e a alma da minha alma, o meu
Benjamim e a minha jóia, o meu filho D. Lourenço»; note-se por estes diálogos,
que Pinheiro Chagas usa da linguagem actual, pelo menos pelos padrões do seu
tempo, não tentando sequer uma recriação histórica da linguagem do século
retratado. Já no final da introdução do romance, ele afirma que «Não tentamos
nem por sombras ressuscitar a linguagem do século XVI. Essas ressureições dão
ao falar dos personagens um carácter rígido e afectado, mil vezes mais falso do
que a tradução da expressão dos seus pensamentos na língua do nosso tempo»
(página 8 da 1.ª edição).
Capa de uma cópia da 1.ª edição da
Unviersidade de Toronto (Canadá)
Quando o Vice-Rei parte, Lourenço
partilha uma conversa e abraço íntimos com a sua prima Beatriz, insinuando-se a
relação amorosa importante (e ficcional, da criação de Pinheiro Chagas) entre
ambos. Aqui começa-se a ver que este é o tipo de romance histórico em que
eventos históricos predominam mas existem elementos ficcionais claros, apesar
de Pinheiro Chagas chamar este romance de «estudo histórico-romântico» e de
dizer que simplesmente põe a história em acção as cenas que achou no cronista
Português Gaspar Correia (escrito Corrêa ao tempo da 1.ª edição), sem inventar
nada. Nisto, neste romance, o autor está mais próximo de Alexandre Dumas,
embora a maioria dos romance históricos pinheiro-chagasianos fosse do tipo em
que a maioria dos eventos é factual e não do tipo de predominância do romanesco
dumasiano. Depois segue-se uma viagem em que afloram tensões entre a tripulação
devido à ganância de alguns oficiais e nobres que querem, ainda no barco antes
de chegarem à Índia, usufruir dos seus cargos, tensões que os Almeidas terminam
ao inventar uma missão especial a Quiloa (hoje Kilwa na Tanzânia) para pedir
tributo, com o xeique de Mombaça, que recusava desde sempre tributo ao Reino de
Portugal.
Lourenço liderou então um confronto com
as tropas do xeique. Embora esta iniciativa fosse uma loucura (tão longe de
Portugal não havia esperança de substituição de tropas perdidas), não podiam
recuar sob perigo de prejudicar a imagem de Portugal. A batalha, muito graças à
fúria de Lourenço e à chegada de reforços de D. Francisco no momento certo,
quanto começavam a avançar sobre a cidade. Após o saque desta, eles entraram no
palácio do xeique, onde só os esperavam as mulheres, que olhavam os
conquistadores ainda sujos do combate com terror, e velhos, que em silencio
fatalista nada diziam. D. Lourenço é salvo de beber da água da cisterna do
palácio (que foi envenenada) por uma jovem (na verdade a filha do xeique
local), não impedindo porém ele que um soldado ainda a prova-se e por isso
falecesse. Com a fúria dos soldados ameaçando a jovem, Lourenço interpôs-se
entre ela e os soldados (com o navegador e mercenário Galego João da Nova à sua
cabeça) para impedi-los de aplicarem a sua raiva sobre ela. Isto seria o
aprofundar da rivalidade entre o filho do Vice-Rei e o navegador e soldado
Espanhol. Também todo este episódio é ficcionado e romantizado pelo autor, como
a outra mulher de enredo, a prima de Lourenço. O enredo que se segue, é toda a luta
para a instalação de uma (então pequena) ocupação efectiva de alguns fortes nas
costas da Índia, contra os interesses dos soberanos de Calicut e dos Turcos
'Rumes', o começo efectivo de um "Estado Português da Índia", e como
D. Francisco consegue pelo menos este objectivo básico, embora o seu filho não
consiga cumprir o sonho de voltar a Portugal para a "sua" Beatriz...
Neste texto vemos muito do retrato da
nobreza e do Rei de Portugal a servir para uma crítica do Estado do país. O Rei
D. Manuel I, na sua pequena 'participação especial' neste livro, surge como uma
pessoa 'infectada' por beatice da época, e os fidalgos são mostrados como
impacientes por cargos, riquezas e dados a quererem viver 'às custas' do erário
público e que não pretender 'dar em retorno' qualquer serviço à pátria (ao
ponto do Vice-Rei se queixar para com o seu filho de como haviam eles «com
estes homens, de governar a Índia?»). O explorador Galego ao serviço da coroa
portuguesa, João da Nova (o histórico descobridor da ilha com o seu nome hoje
sob a jurisdição francesa da Reunião) é talvez o caso mais acabado disto (quem
quiser pode ler nisto uma leitura anti-espanhola, mas isto parece coincidir com
o carácter histórico do Juan de Nova ou Joan de Novoa histórico). Apesar da
reputação de Pinheiro Chagas como um escritor nacionalista no qual não se nota
qualquer defeito ou decadência de Portugal e com um retrato sem mácula dos reis
de Portugal (isto faz pensar até que ponto os historiadores da literatura
portuguesa de facto leram a maioria dos autores sobre os quais escrevem...),
vemos aqui o quão de facto crítico ele pode ser mesmo de épocas consideradas
"idades de ouro", como ele consegue ver os Descobrimentos como
simultaneamente o momento mais expansionista de Portugal mas também (seguindo a
opinião de Alexandre Herculano como historiador) o momento em que o poder local
municipal se enfraqueceu e o Estado central se fortaleceu à custa dos
municípios e das pessoas, num absolutismo monárquico (o retrato algo
caricatural de D. Manuel vem simultaneamente disso, e da influência excessiva
da Igreja de Roma na sua pessoa). Aliás, em todos os romances de Pinheiro
Chagas, os reis que surgem nos enredos (que são todos entre D. Manuel I e D.
João VI) surgem sempre representados como pessoas essencialmente faltosas por
uma razão ou outra e que dão demasiado poder ao Estado central e à Igreja
(principalmente a Ordem Jesuíta), e por vezes até são brutalmente caricaturados
(principalmente a IV Dinastia, com D. João V à cabeça no seu romance A Corte de D. João V).
D. Francisco é um igual e companheiro
forte do seu filho, de facto a «jóia» dele, mostrando-se enérgico, inteligente
e activo líder a desafiar junto com D. Lourenço conspirações dos nativos do
Oriente ou de políticos gananciosos do Império Português do Oriente, a frustrar
as ganâncias dos Portugueses que só querem saquear e destruir a Índia e o resto
da Ásia, e a confrontar todos os acontecimentos problemáticos de uma história
épica como a dos primeiros anos da conquista portuguesa da Índia.
Conforme o enredo evolui, D. Francisco
passa mais e mais o protagonismo do lado aventureiro do romance para o seu
filho, embora o Vice-Rei esteja presente em todos os eventos em que
historicamente ele foi participante, como representante de el-rei a governar aqueles
territórios que estavam ao acesso das carreiras das naus portuguesas a partir
da primeira viagem de Vasco da Gama em 1498. Este romance de 177 páginas (que,
tristemente, na edição original não tinha qualquer ilustração nem na capa,
embora suponha eu que outras ao longo do século XX tenham tido ilustrações),
ilustra perfeitamente o clima da fase da história de Portugal representada,
quando muitos Portugueses deixavam Portugal continental para colonizar os
actuais arquipélagos Portugueses ou para servir ou colonizar em África e no
Oriente, mas em que Portugal mais usava da colonização para arrancar riquezas
que criavam elites corruptas, que para ocupar territórios e desenvolve-los
devidamente (o que Pinheiro Chagas enquanto político criticava, tendo, com
sucesso parcial, revertido alguns destes problemas como Ministro do Ultramar),
e em que Portugal perdia muitos recursos em esforços tremendos de combater quer
povos locais quer potências imperiais da área (como os Turcos Otomanos, neste
livro chamados de Rums, e outros impérios que não são para este livro chamados
mas que os Portugueses históricos confrontaram como os Persas, o Império Mogol
da Índia e a China). À cerca desta questão de 'filosofia' de colonização,
deve-se acrescentar que, apesar de o autor discordar com D. Francisco de
Almeida sobre isto (Pinheiro Chagas, como insinua no capítulo 9 «Os portugueses
na Índia», o único que é mais saído de ensaio sobre história de Portugal que de
romance, concordava com o governador da Índia Portuguesa Afonso de Albuquerque,
outro defensor de uma colonização de ocupação efectiva de território e com a
construção de um império, enquanto D. Francisco defendia o simples controlo do
comércio sem ocupação de maior de territórios), mas apesar disso Pinheiro
Chagas representa de forma positiva o Vice-Rei por ter uma grandeza de carácter
e não ser um simples 'manga de alpaca', cuja grandeza se distingue de outros
defensores do imperialismo comercial, e mesmo de algumas personagens que
partilham das ideias sobre colonialismo do autor mas que não têm metade da
honra ou da inteligência de D. Francisco.
É isto que Pinheiro Chagas usa como
material para construir o seu enredo, com personagens de personalidade
misteriosa (não por causa da escrita mas da personalidade da personagem) como o
Samorim ou Rajá de Calicut, de vilania bem escrita e não-cartunesca como o
secretário da Índia Gaspar Pereira e o Galego João da Nova, combativas como o
almirante Agá Hussein servidor do Sultão do Cairo, gentis (por vezes demais ou
de formas estranhas, porém) como vários navegadores e militares Portugueses
(como Diogo Correia e Pêro Cão), a filha do xeique de Quiloa (junto com Beatriz
e as mulheres anónimas que acompanham a filha do xeique, as 'fêmeas' isoladas
deste enredo) e o herdeiro do trono de Cochim (que é também o sobrinho do
Samorim, e de quem Pinheiro Chagas, com termos que fazem o leitor menos
'ingénuo' de hoje rir com as insinuações feitas com texto ingénuo, «que tinha
por D. Lourenço uma predilecção especialíssima» por influência de «aquela vida
indolente dos rajás, por aquele clima ardentíssimo, admirava com uma
ingenuidade encantadora a robustez das formas de D. Lourenço que se ligava com
uma elegância surpreendente, e com uma gentileza que tanto mais deslumbrava os
orientais quanto mais a desconheciam»). Mas nenhuma delas se compara em
complexidade da personalidade e vivacidade do retrato com a «jóia do Vice-Rei»
em pessoa, D. Lourenço. Lourenço é não só preserverante, honrado e discreto,
mas por todas as suas qualidades e a sua força guerreira sem rival ele tem um
autêntico perfil de semideus, e não descansa no seu sonho de voltar para casa e
para os braços de Beatriz, não sem primeiro querer fazer o máximo possível pela
glória do seu país, embora a vida lho impedirá...
No melhor estilo de capa-e-espada, apesar
da base essencialmente factual dos enredos do romance, vemos uma narrativa
cheia de vivas peripécias, duelos e combates que 'lavam' violentamente as
honras de indivíduos e nações, do que o autor se serviu para nos mostrar com mestria
a realidade política e militar dos tempos fervilhantes dos Descobrimentos,
mostrando-nos muitas práticas sociais que não se dataram com a passagem de 600
anos. Assim, pesado tudo isto, no fundo hoje, mais que passadas as polémicas
literárias e pessoais da época, podemos ver como os romances históricos de
Pinheiro Chagas estão mais próximos dos romances 'de actualidade' de Eça de
Queirós do que antes se pensava.
Este livro não é dos mais fáceis de
encontrar em todas as bibliotecas municipais ou escolares (ao contrário de
outras do autor), mas encontra-se em linha no sítio Internet Archive a digitalização de uma cópia da Universidade de
Toronto, que pode ser lida aqui, e ainda se deverão encontrar à venda ou
de alguma outra forma em circulação cópias de edições da editora Fronteira do Caos para a sua colecção Letras com História (a primeira edição
da Fronteira do Caos é de 2006), em
que o livro é paginado com 152 e não as 177 da edição original (184 contando
capa, páginas em branco e publicidades a outras colecções da Parceria António Maria Pereira Livraria
Editora da altura).
A nível de curiosidade, na revista de BD Cavaleiro Andante, nº 288, de 6 de Julho
de 1957, surgia uma adaptação para BD deste romance feita por um notório
desenhador de BD portuguesa da época, Fernando Bento, da qual se pode ver uma
tira abaixo. Como se vê, ao longo do século XX, o pouco que ainda se lembrava
de Pinheiro Chagas era devido a 'osmose' por influência de adaptações.
Para uma introdução ao autor:
From among the many titles that I shall
throughout time go discussing here, The
Jewel of the Vice-Roy is of the ones that the most offers a detailed vision
of the political movement in Portugal and in its Empire during the so
fictionalized and argued Discoveries. Published in 1890, this second book here
analysed is a historical novel situated in the days of the government of the
first Vice-Roy off the Portuguese India Don Francisco de Almeida (between 1505
and 1509). It's in an atmosphere of political petty-conspiracies (nor not so
'petty' as that), secrets, rivalties of factions and greeds that the author (in
a work published 5 years before his death) spins his romantic fictional
plottings. But we should speak a little of the author before of talking more on
the plot. Even because, the majority of the readers (even in Portugal) at
reading the title of this post won't recognize even the name of the author,
what is more surprising when we see that he was one of the most popular
novelists of his day. To see more on the reasons of the that forgetfulness,
read the text here.
Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (known
mainly as Pinheiro Chagas till the coming-up of the moderate republican
politican Joao Pinheiro Chagas or Joao Chagas) was a writer with an enormous
production, that was born in Lisbon at 13th November, 1842 to the army major,
privy secretary of the King Don Pedro V and veteran of the Portuguese Liberalwars and his wife Gertrudes Justiniana
Gomes Ramos. Destined by his parents to a military career, he was a pupil of
the Portuguese Military College, of the Portuguese Army School and of the
Lisbon Polythechnical School (having been in all of these a brilliant student
with an interest in writing since then), arriving in the army to the post of
Captain, interrupting the military career in 1866, time in which he already had
published two poems.
Pinheiro Chagas
It was after that that he dedicated
himself full time not just to journalism (writing for many newspapers and
directing others, becoming notorious for a style that privileged the critique
social and of the governments, mixture of news journalism and political
intervention) as to writing, and involved himself in the polemic between the writing currents of Romanticism and of Realism, the "Coimbra Question" or "of the Good Sense and Good Taste", being he even
more so the motive of the disagreement: the issue started with a letters that one
of the "founding fathers" of the Portuguese Romanticism, Antonio Feliciano de Castilho, wrote as foreword to the Poema da Mocidade ("Poem of Youth", 1865) by Pinheiro
Chagas himself a letter that criticized openly some young non-Romantic writers
of the time. On one side of the ensuing hostilities, we had Pinheiro Chagas,
the son of A. F. Castilho, the journalist and writer Julio de Castilho, the
playwrite and literature scholar Brito Aranha, Camilo Castelo Branco
(ironically one of the forefathers to Realism in Portugal, despite writing
Realism within the limits of the Romantic melodrama) and Ramalho Ortigao (who
little by little 'turned', and associated himself to the members of the
Realists in more personal way), from the other one the writer and
anthropologist Teofilo Braga, the poet Antero de Quental, and the author of the
work 'covered' in the first post of this blog, Essa de Queiroz. It was that
polemic (mainly the one of Pinheiro Chagas with Essa) one of the posterior
reasons for the fall of popularity of this author in the heart of readers
starting from the authors death (of injuries provoked by the cane-blows from an
anarcho-communist teacher for some unfortunate declarations of P. Chagas on 'curing' communist women with smackings in
the posterior, injuries from the which the writer never recovered) in 1895.
This did not prevent that some works of the author were edited with some success
afterwards, for example the play A
Morgadinha de Valflor ("The Little-Majorate-holder of Valflor) from
1869 was a relative success and several times rehearsed by amature theater
groups throughout the 20th century, and his translations of Jules
Verne and Daniel Defoe (author of Robinson
Crusoe) kept being published and read for many years, his novel A Mantilha de Beatriz ("Beatrix's Mantilla") still had children's/young people's editions in the
1990s (and had given origin to a Portuguese-Spanish film from the 1940s), and his História Alegre de Portugal
("Joyful History of Portugal") is still somewhat celebrated thanks to
the adaptation to comic book of the animation filmmaker and drawer of comics
Artur Correia.
Now, let's pass to the plot. After a
first scene very energic and that passes-by with some lightness, in which in
the 'bubbling' Lisbon of the early fifteen-hundreds a man called Leonardo talks
with a friend before miserable, Bras Picoito, that now is a guard to Don
Francisco de Almeida, an old and energic nobleman that had been crewman of the
first and of the second voyages of Vasco da Gama that had been recently nominated
Vice-Roy by Don Manuel I, and from Leonardo (who works in the «garnerages», as then was
said, of the house of India, where it were kept the richess of the exploring of
India) Bras hears that the Vice-roy had spent those days before of the
departure always consulting Gama over all the details on India (for much
enjoyment of the Gama himself, who appreciates the attention and being useful),
and of a brawl between old-Christian and new-Christian children (that 'gives
rein' to anti-judaic comments of the passer-byers), the book passes rightaway
to the main action, of the departure of the Vice-Roy in a fleet of vessels
after a monumental mass in the See-church of Lisbon given by the Bishop of
Ceuta and in which the King delievers a flag with the Christ's Cross to Don
Francisco and to him bestows before all of his governing mission, described of
strong way and detailed way by Pinheiro Chagas, and after an imponent parade
through the city from the See-church till the Tagus shoreline. With the
aceptance of the King, Don Francisco takes with himself for the voyage the
"jewel" of the title, that he calls of «light of my eyes, and the
soul of my soul, my youngest and my jewel, my son Don Lourensso»; let it be
noticed by these dialoues that Pinheiro Chagas uses from the current language,
at least by the standards of his time, not trying even a historical recreation
of the language of the century portrayed. Already in the intro of the novel, he
states that «We don't try not even in shades to ressurect the language of the
16th century. Those ressurections give to the speak of the
characters a rigid and afected character, a thousand times falses than the
translation of the expression of their thoughts in the language of our time»
(page 8 of the 1st edition).
Cover of a copy of the 1st
edition from the University of Toronto (Canada)
When the Vice-Roy leaves, Lourensso
shares an intimate talk and hug with his cousin Beatriz, insunating itself the
important (and fictional, of Pinheiro Chagas' creation) love relation between
both. Here it starts to see itself that this is the king of historical novel in
which historical events predominate but it exist clear fictional elements,
despite Pinheiro Chagas calling this novel of «historical-romantic study» and
of saying that he simply puts history in action from the scenes that he found
in the Portuguese chronicler Gaspar Correia (written Corrêa in the Portuguese from the time of the
first edition), without making-up anything. At this, in this novel, the author
is closer to Alexandre Dumas, although the majority of the pinheiro-chagasian
historical novels were of the type in which most of the events is factual and
of the dumasian type of the predominance of the romanesque. Afterwards it
follows itself a voyage in which it come-up tensions between the crew due to
the greed of some officers and nobles that want, still in the boat before
arriving to India, benefit of their offices, tensions which the Almeidas end at
making-up a special mission to Quiloa (today Kilwa in Tanzania), for asking for
tribute, with the sheik of Mombassa, who refused since always tribute to the
Kingdom of Portugal.
Lourensso lead then a confrontation with
the troops of the sheik. Although this initiative were a madness (so far from
Portugal there was no hope of replacement of lost troop), they couldn't go back
under danger of harming the image of Portugal. The battle, much thanks to the
fury of Lourensso and to the arrival of reinforcements of Don Francisco in the
right moment, when they started to advance over the city. After the plunder of
the later, they enter in the palace of the sheik, where it only awaited them
the women, that gazed the conquerors still dirty from the combat with terror,
and old-men, that in fatalist silence nothing did say. Don Lourensso is saved
from drinking of the water of the palace watertank (which was poisoned) by a
young-woman (indeed the daughter of the local sheik), not preventing yet he
that a soldier still tasted it and passed away. With the fury of the soldiers
threatening the young-woman, Lourensso put himself in between her and the
soldiers (with Galician sailor/mercenary Joao da Nova at their head) for
preventing them of applying their rage over her. This would be the deepening of
the rivalry between the son of the Vice-Roy and the Spanish navigator and
soldier. Likewise this whole episode is fictionized and romanticized by the
author, like the other woman of the plot, Lourensso's cousin. The plot that
follows itself is the whole struggle for the instalation of a (then small)
effective occupation of some forts in the shores of India, against the
interests of the sovereigns of Calcuta and of the 'Rum' Turks, the effective
start of a "Portuguese State of India", and how Don Francisco can get
at least this basic objective, although his son is not able to fulfil the dream
of going back to Portugal to his Beatriz...
In this text we see much of the portrait
of the nobility and of the King of Portugal serving for a critique of the state
of the country. The King Don Manuel I, in his small 'cameo' in this book,
comes-up as a person 'infected' by the prudeness of the time, and the hidalgos
are shown as impatient for offices, wealthes and prone to wanting to live 'at
the expense' of the public exchequer and of not intending to 'give in return'
any service to the fatherland (to the point of the Vice-Roy complaining, towards
his son of how would they «with these men, to indeed rule India?»). The
Galician explorer at the service of the Portuguese crown, Joao da Nova (the
historical discoverer of the island now with his name today under French
jurisdiction from Reunion) is maybe the most finished case of this (who wishes
may see in this an anti-Spanish reading, but this seems to coincide with the
historical character of the historical Juan de Nova or Joan de Novoa). Despite
the reputation of Pinheiro Chagas as a nationalist writer in the which it isn't
noticed any flaw or decadence of Portugal and with a portrait without taint of
the kings of Portugal (this makes one thing to what point the historians of
Portuguese literature indeed read any of the authors over which they write...),
we see here how much in fact critical he can be of periods considered
"golden ages", how he can see the Age of Discoveries simultaneously
as the most expansionist moment of Portugal but also (according to opinion of
Alexandre Herculano as historian) the moment in which the municipal local power
itself weakened and the central state itself strengthened at the expense of the
municipalities and of the people, in a monarchist absolutism (the somewhat
caricatural portrayal of Don Manuel comes simultaneously from this, and from
the excessive influence of the Church of Rome on his person). Even more, in all
the novels of Pinheiro Chagas, the kings that come-up in the plots (which are
all of them between Don Manuel I and Don John VI) come-up always portrayed as
essentially flawed people for one reason or another and that give too much
power to the central state and to the church (mainly the Jesuit Order), and
sometimes are brutally caricatured (mainly the IV Dynasty, with Don John V at the head in his novel A Corte de D. João
V, "The Court of Don John V).
Don Francisco is an equal and strong
companion of his son, indeed his «jewel», showing himself energic, intelligent
and active leader at challenging together with Don Lourensso conspiracies of
the natives of the East or of greedy politicians of the Portuguese Empire of
the East, at frustrating the greeds of the Portuguese that only want to plunder
and destroy India and the rest of Asia, and at facing all the problematic
events of an epic history like the one of the first years of the Portuguese
conquest of India.
Accordingly as the plot evolves, Don
Francisco passes more and more the protagonism of the adventurous side of the
novel for his son, although the Vice-Roy is present in all the events in which
historically he was participant, as representative of ye-king at ruling those
territories that were to the access of the routes of the Portuguese vessels
starting from the first trip of Vasco da Gama in 1498. This 177 pages novel
(that, saddly, in the original edition had not illustration not even on the
cover, although I do suppose that others throughout the 20th century
had had illustration), illustrates perfectly the climate of the phase of the
history of Portugal represented, when many Portuguese left cotinental Portugal
for colonizing the current Portuguese archipelagos or for colonizing in Africa
or in the Orient, but in which Portugal more used from the colonization for
ripping-out riches that created corrupt elites, than for occupying territories
and develop them duely (what Pinheiro Chagas as politician criticized, having,
with partial success, reversed some of these problems as Overseas Minister),
and in which Portugal lost many resources in tremendous efforts of fighting-off
both local people and imperial powers of the area (like the Ottoman Turks, in
this book called Rums, and other empires that are not for this book called-for
but that the historical Portuguese faced like the Persians, the Mogol Empire
and China). About this issue of colonization 'philosophy', it must be added
that although the author disagrees with Don Francisco de Almeida on this
(Pinheiro Chagas, as he insinuates in the chaptter 9 «The Portuguese in India»,
the only one that is more taken-out from essay on the history of Portugal than
of novel, agreed with the governor of Portuguese India Afonso de Albuquerque,
another defender of an effective colonization occupation of territory and with
the construction of an empire, while Don Francisco defended the simple control
of the comerce without occupation of greater rate of territories), but despite
of that Pinheiro Chagas portrays in positive way the Vice-Roy for having a
greatness of character and not being a simple 'paper-pushing-pansy', whose
greatness distinguishes itself from other defenders of comercial imperialism,
and even of some characters that share of the ideas on colonialism of the
author but do not have half of the honor or of the intelligence of Don
Francisco.
It is this that Pinheiro Chagas uses as
material for building his plot, with characters of mysterious personality (not
because of the writing but of the personality of the character) like the
Samorin or Rajah of Calcuta, of vilany well written and non-cartoonish like the
secretary of India Gaspar Pereira and the Galician Joao da Nova, combative like
the admiral Aga Hussein servant to the Sultan of Cairo, gentle (sometimes too
much or in strange ways, though) like several navigators and Portuguese
military-men (like Diogo Correia and Pero Cao), the daughter of the sheik of Quiloa
(together with Beatriz and the anonymous women that accompany the sheiks
daughter, the isolated 'females of the species' of this plot) and the heir of
the throne of Cochin (that is also the nephew of the Samorin, and of whom
Pinheiro Chagas, with terms that make the less 'naive' reader of today laugh
with the insinuations made with naive text, «who had for Don Lourensso a most
special favouring» on influence of «that indolent life of the rahas, because of
that most ardent climate, admired with a charming naivite the robustness of the
shapes of Don Lourensso that it connected itself with a surprising elegance,
and with a gentility that so much more enthraled the orientals as much more to
it they knew not of it»). But none of them compares itself in complexity of
personality and livelyhood of the portrayal to the «jewel of the Vice-Roy» in
person, Don Lourensso. Lourensso is not just persevering, honored and discret,
but for all of his qualities and of his rival-less warrior strength he has an
autentic profile of demigod, and shall not rest of his dream of coming back
home and for the arms of Beatriz, not without first wanting to do the most
possible for the glory of his country, although life shall prevent it to him...
In the best swashbuckler style, despite
of the factual basis of the plots of the novel, we see a narrative full of
lively mishaps, duels and combats that 'wash' violently the honors of
individuals and nations, of which the author helped himself for to us show with
master-skill the politicial and military reality of the burstling times of the
Age of Discoveries, showing us many social practices that did not date with the
passage of 600 years. So, weighed all that, all in all today, more than
passed-away the literary and personal polemics of the period, we can see how
the historical novels of Pinheiro Chagas are closer of ther 'current times'
novels of Essa de Queiroz than what was before thought.
This book is npot one of the easiest to
find in all the municipal and school libraries (unlike others of the author),
but it finds itself online in the Internet
Archive site the digitalization of a copy of the Toronto University, that
can be read here, and still must be found for sale or in
some other way in circulation copies of editions of the Fronteira do Caos publisher for the Letras com História collection (the first edition of the Fronteira do Caos is from 2006), in
which the book is paged with 152 and not the 177 of the original edition (184
counting cover, blank pages and advertisements to other collection of the Parceria António Maria Pereira Livraria
Editora of the time).
At the level of trivia, in the comics
magazine Cavaleiro Andante
("Wandering Knight"), # 288, of 6th July, 1957, came-up a comics
adaptation of this novel made by a notorious Portuguese comics drawer of the
period, Fernando Bento, from the which it can be seen a strip below. As it is
seen, throughout the 20th century, the few that still was recalled
of Pinheiro Chagas was due to 'osmosis' by influence of adaptations.
For an introduction to the author:
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