segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"A Jóia do Vice-Rei", Manuel Pinheiro Chagas // "The Jewel of the Viceroy", Manuel Pinheiro Chagas

De entre os títulos que irei ao longo do tempo discutindo aqui, A Jóia do Vice-Rei é dos que mais oferece uma visão detalhada do movimento político em Portugal e no seu Império durante os tão ficcionados e discutidos Descobrimentos. Publicado em 1890, este segundo livro aqui analisado é um romance histórico situado nos dias do governo do primeiro Vice-Rei da Índia Portuguesa D. Francisco de Almeida (entre 1505 e 1509). É numa atmosfera de conspiraçõezinhas (ou não tão 'zinhas' quanto isso) políticas, segredos, rivalidades de facções e ganâncias que o autor (numa obra publicada 5 anos antes da sua morte) tece os seus enredos ficcionais românticos. Mas devemos falar um pouco do autor antes de falar mais sobre o enredo. Até porque, a maioria dos leitores ao lerem o título desta publicação nem reconhecerão sequer o nome do autor, o que é mais surpreendente quando vemos que foi um dos mais populares romancistas do seu tempo. Para ver mais sobre as razões para esse esquecimento, leiam o texto aqui.
Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (conhecido principalmente como Pinheiro Chagas até ao surgir do político republicano moderado João Pinheiro Chagas ou João Chagas) foi um escritor com uma produção enorme, que nasceu em Lisboa a 13 de Novembro de 1842 ao major do exército, secretário particular do Rei D. Pedro V e veterano das Lutas Liberais portuguesas e sua esposa Gertrudes Justiniana Gomes Ramos. Destinado pelos pais a uma carreira militar, foi aluno do Colégio Militar, da Escola do Exército e da Escola Politécnica de Lisboa (tendo sido em todas estas um aluno brilhante com um interesse pela escrita desde então), chegando no exército ao posto de Capitão, interrompendo a carreira militar em 1866, altura em que já tinha publicados dois poemas.
Pinheiro Chagas
Foi depois disso que ele se dedicou a tempo inteiro não só ao jornalismo (escrevendo para muitos jornais e dirigindo muitos outros, tornando-se notório por um estilo que privilegiava a crítica social e dos governos, mistura de jornalismo noticioso e intervenção política) como à escrita, e envolveu-se na polémica entre as correntes de escrita do Romantismo e do Realismo, a "Questão Coimbrã" ou "do Bom Senso e Bom Gosto", sendo ele aliás o motivo da discórdia: a "Questão" começou com uma carta que um dos "pais fundadores" do Romantismo português, António Feliciano de Castilho, escreveu como prefácio ao Poema da Mocidade (1865) do próprio Pinheiro Chagas uma carta que criticava abertamente alguns jovens escritores não-Românticos da época. De um lado das 'hostilidades', tínhamos Pinheiro Chagas, o filho de A. F. Castilho, o jornalista e escritor Júlio de Castilho, o dramaturgo e estudioso de literatura Brito Aranha, Camilo Castelo Branco (ironicamente um dos precursores do Realismo em Portugal, apesar de escrever Realismo dentro dos limites do melodrama Romântico) e Ramalho Ortigão (que pouco depois 'virou', e associou-se aos membros dos Realistas de forma pessoal), do outro o escritor e antropólogo Teófilo Braga, o poeta Antero de Quental, e o autor da obra 'coberta' na primeira publicação deste blogue, Eça de Queirós. Foi essa polémica (principalmente a de Pinheiro Chagas com Eça) uma das razões posteriores para a queda de popularidade deste autor no coração dos leitores a partir da morte do autor (de ferimentos provocados pelas bengaladas de um professor anarco-comunista por umas declarações infelizes de P. Chagas sobre 'curar' mulheres comunistas com açoites no posterior, ferimentos dos quais o escritor nunca recuperou) em 1895. Isto não impediu que algumas obras do autor fossem editadas com algum sucesso depois, por exemplo a peça A Morgadinha de Valflor de 1869 foi um sucesso relativo e várias vezes encenada por grupos de teatro amador ao longo do século XX, as suas traduções de Júlio Verne e Daniel Defoe (autor de Robinson Crusoé) continuaram a ser publicadas e lidas por muitos anos, o seu romance A Mantilha de Beatriz ainda tinha edições infanto-juvenis nos anos de 1990 (e dera origem a um filme luso-espanhol dos anos de 1940), e a sua História Alegre de Portugal é ainda algo célebre graças à adaptação a BD do cineasta de animação e desenhador de BD Artur Correia.
Agora, passemos para o enredo. Depois de uma primeira cena muito enérgica e que passa com alguma leveza, em que na 'borbulhante' Lisboa dos inícios de quinhentos um homem chamado Leonardo conversa com um amigo antes miserável, Brás Picoito, que agora é guarda para D. Francisco de Almeida, um velho e enérgico nobre que havia sido tripulante da primeira e da segunda viagens de Vasco da Gama que fora recém nomeado Vice-rei por D. Manuel I, e de Leonardo (que trabalha nos «almazéns», como então se dizia, da casa da Índia, onde se guardam as riquezas da exploração da Índia) Brás ouve que o Vice-rei passara aqueles dias antes da partida sempre consultando o Gama sobre todos os pormenores sobre a Índia (para muito gozo do próprio Gama, que aprecia a atenção e ser útil), e de uma zaragata entre crianças cristãs-velhas e cristãs-novas (que 'dá corda' a comentário anti-judaicos dos transeuntes), o livro passa logo para a acção principal, da partida do Vice-Rei numa frota de naus após uma missa monumental na Sé de Lisboa dada pelo Bispo de Ceuta e em que o Rei entrega uma bandeira com a cruz de Cristo a D. Francisco e o incumbe ante todos na missa da sua missão governativa, descrita de forma forte e pormenorizada por Pinheiro Chagas, e após uma procissão imponente pela cidade da Sé até à barra do Tejo. Com aceitação do Rei, D. Francisco leva consigo para a viagem a "jóia" do título, que ele chama de «luz dos meu olhos, e a alma da minha alma, o meu Benjamim e a minha jóia, o meu filho D. Lourenço»; note-se por estes diálogos, que Pinheiro Chagas usa da linguagem actual, pelo menos pelos padrões do seu tempo, não tentando sequer uma recriação histórica da linguagem do século retratado. Já no final da introdução do romance, ele afirma que «Não tentamos nem por sombras ressuscitar a linguagem do século XVI. Essas ressureições dão ao falar dos personagens um carácter rígido e afectado, mil vezes mais falso do que a tradução da expressão dos seus pensamentos na língua do nosso tempo» (página 8 da 1.ª edição).
Capa de uma cópia da 1.ª edição da Unviersidade de Toronto (Canadá)
Quando o Vice-Rei parte, Lourenço partilha uma conversa e abraço íntimos com a sua prima Beatriz, insinuando-se a relação amorosa importante (e ficcional, da criação de Pinheiro Chagas) entre ambos. Aqui começa-se a ver que este é o tipo de romance histórico em que eventos históricos predominam mas existem elementos ficcionais claros, apesar de Pinheiro Chagas chamar este romance de «estudo histórico-romântico» e de dizer que simplesmente põe a história em acção as cenas que achou no cronista Português Gaspar Correia (escrito Corrêa ao tempo da 1.ª edição), sem inventar nada. Nisto, neste romance, o autor está mais próximo de Alexandre Dumas, embora a maioria dos romance históricos pinheiro-chagasianos fosse do tipo em que a maioria dos eventos é factual e não do tipo de predominância do romanesco dumasiano. Depois segue-se uma viagem em que afloram tensões entre a tripulação devido à ganância de alguns oficiais e nobres que querem, ainda no barco antes de chegarem à Índia, usufruir dos seus cargos, tensões que os Almeidas terminam ao inventar uma missão especial a Quiloa (hoje Kilwa na Tanzânia) para pedir tributo, com o xeique de Mombaça, que recusava desde sempre tributo ao Reino de Portugal.
Lourenço liderou então um confronto com as tropas do xeique. Embora esta iniciativa fosse uma loucura (tão longe de Portugal não havia esperança de substituição de tropas perdidas), não podiam recuar sob perigo de prejudicar a imagem de Portugal. A batalha, muito graças à fúria de Lourenço e à chegada de reforços de D. Francisco no momento certo, quanto começavam a avançar sobre a cidade. Após o saque desta, eles entraram no palácio do xeique, onde só os esperavam as mulheres, que olhavam os conquistadores ainda sujos do combate com terror, e velhos, que em silencio fatalista nada diziam. D. Lourenço é salvo de beber da água da cisterna do palácio (que foi envenenada) por uma jovem (na verdade a filha do xeique local), não impedindo porém ele que um soldado ainda a prova-se e por isso falecesse. Com a fúria dos soldados ameaçando a jovem, Lourenço interpôs-se entre ela e os soldados (com o navegador e mercenário Galego João da Nova à sua cabeça) para impedi-los de aplicarem a sua raiva sobre ela. Isto seria o aprofundar da rivalidade entre o filho do Vice-Rei e o navegador e soldado Espanhol. Também todo este episódio é ficcionado e romantizado pelo autor, como a outra mulher de enredo, a prima de Lourenço. O enredo que se segue, é toda a luta para a instalação de uma (então pequena) ocupação efectiva de alguns fortes nas costas da Índia, contra os interesses dos soberanos de Calicut e dos Turcos 'Rumes', o começo efectivo de um "Estado Português da Índia", e como D. Francisco consegue pelo menos este objectivo básico, embora o seu filho não consiga cumprir o sonho de voltar a Portugal para a "sua" Beatriz...
Neste texto vemos muito do retrato da nobreza e do Rei de Portugal a servir para uma crítica do Estado do país. O Rei D. Manuel I, na sua pequena 'participação especial' neste livro, surge como uma pessoa 'infectada' por beatice da época, e os fidalgos são mostrados como impacientes por cargos, riquezas e dados a quererem viver 'às custas' do erário público e que não pretender 'dar em retorno' qualquer serviço à pátria (ao ponto do Vice-Rei se queixar para com o seu filho de como haviam eles «com estes homens, de governar a Índia?»). O explorador Galego ao serviço da coroa portuguesa, João da Nova (o histórico descobridor da ilha com o seu nome hoje sob a jurisdição francesa da Reunião) é talvez o caso mais acabado disto (quem quiser pode ler nisto uma leitura anti-espanhola, mas isto parece coincidir com o carácter histórico do Juan de Nova ou Joan de Novoa histórico). Apesar da reputação de Pinheiro Chagas como um escritor nacionalista no qual não se nota qualquer defeito ou decadência de Portugal e com um retrato sem mácula dos reis de Portugal (isto faz pensar até que ponto os historiadores da literatura portuguesa de facto leram a maioria dos autores sobre os quais escrevem...), vemos aqui o quão de facto crítico ele pode ser mesmo de épocas consideradas "idades de ouro", como ele consegue ver os Descobrimentos como simultaneamente o momento mais expansionista de Portugal mas também (seguindo a opinião de Alexandre Herculano como historiador) o momento em que o poder local municipal se enfraqueceu e o Estado central se fortaleceu à custa dos municípios e das pessoas, num absolutismo monárquico (o retrato algo caricatural de D. Manuel vem simultaneamente disso, e da influência excessiva da Igreja de Roma na sua pessoa). Aliás, em todos os romances de Pinheiro Chagas, os reis que surgem nos enredos (que são todos entre D. Manuel I e D. João VI) surgem sempre representados como pessoas essencialmente faltosas por uma razão ou outra e que dão demasiado poder ao Estado central e à Igreja (principalmente a Ordem Jesuíta), e por vezes até são brutalmente caricaturados (principalmente a IV Dinastia, com D. João V à cabeça no seu romance A Corte de D. João V).
D. Francisco é um igual e companheiro forte do seu filho, de facto a «jóia» dele, mostrando-se enérgico, inteligente e activo líder a desafiar junto com D. Lourenço conspirações dos nativos do Oriente ou de políticos gananciosos do Império Português do Oriente, a frustrar as ganâncias dos Portugueses que só querem saquear e destruir a Índia e o resto da Ásia, e a confrontar todos os acontecimentos problemáticos de uma história épica como a dos primeiros anos da conquista portuguesa da Índia.
Conforme o enredo evolui, D. Francisco passa mais e mais o protagonismo do lado aventureiro do romance para o seu filho, embora o Vice-Rei esteja presente em todos os eventos em que historicamente ele foi participante, como representante de el-rei a governar aqueles territórios que estavam ao acesso das carreiras das naus portuguesas a partir da primeira viagem de Vasco da Gama em 1498. Este romance de 177 páginas (que, tristemente, na edição original não tinha qualquer ilustração nem na capa, embora suponha eu que outras ao longo do século XX tenham tido ilustrações), ilustra perfeitamente o clima da fase da história de Portugal representada, quando muitos Portugueses deixavam Portugal continental para colonizar os actuais arquipélagos Portugueses ou para servir ou colonizar em África e no Oriente, mas em que Portugal mais usava da colonização para arrancar riquezas que criavam elites corruptas, que para ocupar territórios e desenvolve-los devidamente (o que Pinheiro Chagas enquanto político criticava, tendo, com sucesso parcial, revertido alguns destes problemas como Ministro do Ultramar), e em que Portugal perdia muitos recursos em esforços tremendos de combater quer povos locais quer potências imperiais da área (como os Turcos Otomanos, neste livro chamados de Rums, e outros impérios que não são para este livro chamados mas que os Portugueses históricos confrontaram como os Persas, o Império Mogol da Índia e a China). À cerca desta questão de 'filosofia' de colonização, deve-se acrescentar que, apesar de o autor discordar com D. Francisco de Almeida sobre isto (Pinheiro Chagas, como insinua no capítulo 9 «Os portugueses na Índia», o único que é mais saído de ensaio sobre história de Portugal que de romance, concordava com o governador da Índia Portuguesa Afonso de Albuquerque, outro defensor de uma colonização de ocupação efectiva de território e com a construção de um império, enquanto D. Francisco defendia o simples controlo do comércio sem ocupação de maior de territórios), mas apesar disso Pinheiro Chagas representa de forma positiva o Vice-Rei por ter uma grandeza de carácter e não ser um simples 'manga de alpaca', cuja grandeza se distingue de outros defensores do imperialismo comercial, e mesmo de algumas personagens que partilham das ideias sobre colonialismo do autor mas que não têm metade da honra ou da inteligência de D. Francisco.
É isto que Pinheiro Chagas usa como material para construir o seu enredo, com personagens de personalidade misteriosa (não por causa da escrita mas da personalidade da personagem) como o Samorim ou Rajá de Calicut, de vilania bem escrita e não-cartunesca como o secretário da Índia Gaspar Pereira e o Galego João da Nova, combativas como o almirante Agá Hussein servidor do Sultão do Cairo, gentis (por vezes demais ou de formas estranhas, porém) como vários navegadores e militares Portugueses (como Diogo Correia e Pêro Cão), a filha do xeique de Quiloa (junto com Beatriz e as mulheres anónimas que acompanham a filha do xeique, as 'fêmeas' isoladas deste enredo) e o herdeiro do trono de Cochim (que é também o sobrinho do Samorim, e de quem Pinheiro Chagas, com termos que fazem o leitor menos 'ingénuo' de hoje rir com as insinuações feitas com texto ingénuo, «que tinha por D. Lourenço uma predilecção especialíssima» por influência de «aquela vida indolente dos rajás, por aquele clima ardentíssimo, admirava com uma ingenuidade encantadora a robustez das formas de D. Lourenço que se ligava com uma elegância surpreendente, e com uma gentileza que tanto mais deslumbrava os orientais quanto mais a desconheciam»). Mas nenhuma delas se compara em complexidade da personalidade e vivacidade do retrato com a «jóia do Vice-Rei» em pessoa, D. Lourenço. Lourenço é não só preserverante, honrado e discreto, mas por todas as suas qualidades e a sua força guerreira sem rival ele tem um autêntico perfil de semideus, e não descansa no seu sonho de voltar para casa e para os braços de Beatriz, não sem primeiro querer fazer o máximo possível pela glória do seu país, embora a vida lho impedirá...
No melhor estilo de capa-e-espada, apesar da base essencialmente factual dos enredos do romance, vemos uma narrativa cheia de vivas peripécias, duelos e combates que 'lavam' violentamente as honras de indivíduos e nações, do que o autor se serviu para nos mostrar com mestria a realidade política e militar dos tempos fervilhantes dos Descobrimentos, mostrando-nos muitas práticas sociais que não se dataram com a passagem de 600 anos. Assim, pesado tudo isto, no fundo hoje, mais que passadas as polémicas literárias e pessoais da época, podemos ver como os romances históricos de Pinheiro Chagas estão mais próximos dos romances 'de actualidade' de Eça de Queirós do que antes se pensava.
Este livro não é dos mais fáceis de encontrar em todas as bibliotecas municipais ou escolares (ao contrário de outras do autor), mas encontra-se em linha no sítio Internet Archive a digitalização de uma cópia da Universidade de Toronto, que pode ser lida aqui, e ainda se deverão encontrar à venda ou de alguma outra forma em circulação cópias de edições da editora Fronteira do Caos para a sua colecção Letras com História (a primeira edição da Fronteira do Caos é de 2006), em que o livro é paginado com 152 e não as 177 da edição original (184 contando capa, páginas em branco e publicidades a outras colecções da Parceria António Maria Pereira Livraria Editora da altura).
A nível de curiosidade, na revista de BD Cavaleiro Andante, nº 288, de 6 de Julho de 1957, surgia uma adaptação para BD deste romance feita por um notório desenhador de BD portuguesa da época, Fernando Bento, da qual se pode ver uma tira abaixo. Como se vê, ao longo do século XX, o pouco que ainda se lembrava de Pinheiro Chagas era devido a 'osmose' por influência de adaptações.
Para uma introdução ao autor:


From among the many titles that I shall throughout time go discussing here, The Jewel of the Vice-Roy is of the ones that the most offers a detailed vision of the political movement in Portugal and in its Empire during the so fictionalized and argued Discoveries. Published in 1890, this second book here analysed is a historical novel situated in the days of the government of the first Vice-Roy off the Portuguese India Don Francisco de Almeida (between 1505 and 1509). It's in an atmosphere of political petty-conspiracies (nor not so 'petty' as that), secrets, rivalties of factions and greeds that the author (in a work published 5 years before his death) spins his romantic fictional plottings. But we should speak a little of the author before of talking more on the plot. Even because, the majority of the readers (even in Portugal) at reading the title of this post won't recognize even the name of the author, what is more surprising when we see that he was one of the most popular novelists of his day. To see more on the reasons of the that forgetfulness, read the text here.
Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (known mainly as Pinheiro Chagas till the coming-up of the moderate republican politican Joao Pinheiro Chagas or Joao Chagas) was a writer with an enormous production, that was born in Lisbon at 13th November, 1842 to the army major, privy secretary of the King Don Pedro V and veteran of the Portuguese Liberalwars and his wife Gertrudes Justiniana Gomes Ramos. Destined by his parents to a military career, he was a pupil of the Portuguese Military College, of the Portuguese Army School and of the Lisbon Polythechnical School (having been in all of these a brilliant student with an interest in writing since then), arriving in the army to the post of Captain, interrupting the military career in 1866, time in which he already had published two poems.
Pinheiro Chagas
It was after that that he dedicated himself full time not just to journalism (writing for many newspapers and directing others, becoming notorious for a style that privileged the critique social and of the governments, mixture of news journalism and political intervention) as to writing, and involved himself in the polemic between the writing currents of Romanticism and of Realism, the "Coimbra Question" or "of the Good Sense and Good Taste", being he even more so the motive of the disagreement: the issue started with a letters that one of the "founding fathers" of the Portuguese Romanticism, Antonio Feliciano de Castilho, wrote as foreword to the Poema da Mocidade ("Poem of Youth", 1865) by Pinheiro Chagas himself a letter that criticized openly some young non-Romantic writers of the time. On one side of the ensuing hostilities, we had Pinheiro Chagas, the son of A. F. Castilho, the journalist and writer Julio de Castilho, the playwrite and literature scholar Brito Aranha, Camilo Castelo Branco (ironically one of the forefathers to Realism in Portugal, despite writing Realism within the limits of the Romantic melodrama) and Ramalho Ortigao (who little by little 'turned', and associated himself to the members of the Realists in more personal way), from the other one the writer and anthropologist Teofilo Braga, the poet Antero de Quental, and the author of the work 'covered' in the first post of this blog, Essa de Queiroz. It was that polemic (mainly the one of Pinheiro Chagas with Essa) one of the posterior reasons for the fall of popularity of this author in the heart of readers starting from the authors death (of injuries provoked by the cane-blows from an anarcho-communist teacher for some unfortunate declarations of P. Chagas on 'curing' communist women with smackings in the posterior, injuries from the which the writer never recovered) in 1895. This did not prevent that some works of the author were edited with some success afterwards, for example the play A Morgadinha de Valflor ("The Little-Majorate-holder of Valflor) from 1869 was a relative success and several times rehearsed by amature theater groups throughout the 20th century, and his translations of Jules Verne and Daniel Defoe (author of Robinson Crusoe) kept being published and read for many years, his novel A Mantilha de Beatriz ("Beatrix's Mantilla") still had children's/young people's editions in the 1990s (and had given origin to a Portuguese-Spanish film from the 1940s), and his História Alegre de Portugal ("Joyful History of Portugal") is still somewhat celebrated thanks to the adaptation to comic book of the animation filmmaker and drawer of comics Artur Correia.
Now, let's pass to the plot. After a first scene very energic and that passes-by with some lightness, in which in the 'bubbling' Lisbon of the early fifteen-hundreds a man called Leonardo talks with a friend before miserable, Bras Picoito, that now is a guard to Don Francisco de Almeida, an old and energic nobleman that had been crewman of the first and of the second voyages of Vasco da Gama that had been recently nominated Vice-Roy by Don Manuel I, and from Leonardo (who works in the «garnerages», as then was said, of the house of India, where it were kept the richess of the exploring of India) Bras hears that the Vice-roy had spent those days before of the departure always consulting Gama over all the details on India (for much enjoyment of the Gama himself, who appreciates the attention and being useful), and of a brawl between old-Christian and new-Christian children (that 'gives rein' to anti-judaic comments of the passer-byers), the book passes rightaway to the main action, of the departure of the Vice-Roy in a fleet of vessels after a monumental mass in the See-church of Lisbon given by the Bishop of Ceuta and in which the King delievers a flag with the Christ's Cross to Don Francisco and to him bestows before all of his governing mission, described of strong way and detailed way by Pinheiro Chagas, and after an imponent parade through the city from the See-church till the Tagus shoreline. With the aceptance of the King, Don Francisco takes with himself for the voyage the "jewel" of the title, that he calls of «light of my eyes, and the soul of my soul, my youngest and my jewel, my son Don Lourensso»; let it be noticed by these dialoues that Pinheiro Chagas uses from the current language, at least by the standards of his time, not trying even a historical recreation of the language of the century portrayed. Already in the intro of the novel, he states that «We don't try not even in shades to ressurect the language of the 16th century. Those ressurections give to the speak of the characters a rigid and afected character, a thousand times falses than the translation of the expression of their thoughts in the language of our time» (page 8 of the 1st edition).

Cover of a copy of the 1st edition from the University of Toronto (Canada)
When the Vice-Roy leaves, Lourensso shares an intimate talk and hug with his cousin Beatriz, insunating itself the important (and fictional, of Pinheiro Chagas' creation) love relation between both. Here it starts to see itself that this is the king of historical novel in which historical events predominate but it exist clear fictional elements, despite Pinheiro Chagas calling this novel of «historical-romantic study» and of saying that he simply puts history in action from the scenes that he found in the Portuguese chronicler Gaspar Correia (written Corrêa in the Portuguese from the time of the first edition), without making-up anything. At this, in this novel, the author is closer to Alexandre Dumas, although the majority of the pinheiro-chagasian historical novels were of the type in which most of the events is factual and of the dumasian type of the predominance of the romanesque. Afterwards it follows itself a voyage in which it come-up tensions between the crew due to the greed of some officers and nobles that want, still in the boat before arriving to India, benefit of their offices, tensions which the Almeidas end at making-up a special mission to Quiloa (today Kilwa in Tanzania), for asking for tribute, with the sheik of Mombassa, who refused since always tribute to the Kingdom of Portugal.
Lourensso lead then a confrontation with the troops of the sheik. Although this initiative were a madness (so far from Portugal there was no hope of replacement of lost troop), they couldn't go back under danger of harming the image of Portugal. The battle, much thanks to the fury of Lourensso and to the arrival of reinforcements of Don Francisco in the right moment, when they started to advance over the city. After the plunder of the later, they enter in the palace of the sheik, where it only awaited them the women, that gazed the conquerors still dirty from the combat with terror, and old-men, that in fatalist silence nothing did say. Don Lourensso is saved from drinking of the water of the palace watertank (which was poisoned) by a young-woman (indeed the daughter of the local sheik), not preventing yet he that a soldier still tasted it and passed away. With the fury of the soldiers threatening the young-woman, Lourensso put himself in between her and the soldiers (with Galician sailor/mercenary Joao da Nova at their head) for preventing them of applying their rage over her. This would be the deepening of the rivalry between the son of the Vice-Roy and the Spanish navigator and soldier. Likewise this whole episode is fictionized and romanticized by the author, like the other woman of the plot, Lourensso's cousin. The plot that follows itself is the whole struggle for the instalation of a (then small) effective occupation of some forts in the shores of India, against the interests of the sovereigns of Calcuta and of the 'Rum' Turks, the effective start of a "Portuguese State of India", and how Don Francisco can get at least this basic objective, although his son is not able to fulfil the dream of going back to Portugal to his Beatriz...
In this text we see much of the portrait of the nobility and of the King of Portugal serving for a critique of the state of the country. The King Don Manuel I, in his small 'cameo' in this book, comes-up as a person 'infected' by the prudeness of the time, and the hidalgos are shown as impatient for offices, wealthes and prone to wanting to live 'at the expense' of the public exchequer and of not intending to 'give in return' any service to the fatherland (to the point of the Vice-Roy complaining, towards his son of how would they «with these men, to indeed rule India?»). The Galician explorer at the service of the Portuguese crown, Joao da Nova (the historical discoverer of the island now with his name today under French jurisdiction from Reunion) is maybe the most finished case of this (who wishes may see in this an anti-Spanish reading, but this seems to coincide with the historical character of the historical Juan de Nova or Joan de Novoa). Despite the reputation of Pinheiro Chagas as a nationalist writer in the which it isn't noticed any flaw or decadence of Portugal and with a portrait without taint of the kings of Portugal (this makes one thing to what point the historians of Portuguese literature indeed read any of the authors over which they write...), we see here how much in fact critical he can be of periods considered "golden ages", how he can see the Age of Discoveries simultaneously as the most expansionist moment of Portugal but also (according to opinion of Alexandre Herculano as historian) the moment in which the municipal local power itself weakened and the central state itself strengthened at the expense of the municipalities and of the people, in a monarchist absolutism (the somewhat caricatural portrayal of Don Manuel comes simultaneously from this, and from the excessive influence of the Church of Rome on his person). Even more, in all the novels of Pinheiro Chagas, the kings that come-up in the plots (which are all of them between Don Manuel I and Don John VI) come-up always portrayed as essentially flawed people for one reason or another and that give too much power to the central state and to the church (mainly the Jesuit Order), and sometimes are brutally caricatured (mainly the IV Dynasty, with Don John V at the head in his novel A Corte de D. João V, "The Court of Don John V).
Don Francisco is an equal and strong companion of his son, indeed his «jewel», showing himself energic, intelligent and active leader at challenging together with Don Lourensso conspiracies of the natives of the East or of greedy politicians of the Portuguese Empire of the East, at frustrating the greeds of the Portuguese that only want to plunder and destroy India and the rest of Asia, and at facing all the problematic events of an epic history like the one of the first years of the Portuguese conquest of India.
Accordingly as the plot evolves, Don Francisco passes more and more the protagonism of the adventurous side of the novel for his son, although the Vice-Roy is present in all the events in which historically he was participant, as representative of ye-king at ruling those territories that were to the access of the routes of the Portuguese vessels starting from the first trip of Vasco da Gama in 1498. This 177 pages novel (that, saddly, in the original edition had not illustration not even on the cover, although  I do suppose that others throughout the 20th century had had illustration), illustrates perfectly the climate of the phase of the history of Portugal represented, when many Portuguese left cotinental Portugal for colonizing the current Portuguese archipelagos or for colonizing in Africa or in the Orient, but in which Portugal more used from the colonization for ripping-out riches that created corrupt elites, than for occupying territories and develop them duely (what Pinheiro Chagas as politician criticized, having, with partial success, reversed some of these problems as Overseas Minister), and in which Portugal lost many resources in tremendous efforts of fighting-off both local people and imperial powers of the area (like the Ottoman Turks, in this book called Rums, and other empires that are not for this book called-for but that the historical Portuguese faced like the Persians, the Mogol Empire and China). About this issue of colonization 'philosophy', it must be added that although the author disagrees with Don Francisco de Almeida on this (Pinheiro Chagas, as he insinuates in the chaptter 9 «The Portuguese in India», the only one that is more taken-out from essay on the history of Portugal than of novel, agreed with the governor of Portuguese India Afonso de Albuquerque, another defender of an effective colonization occupation of territory and with the construction of an empire, while Don Francisco defended the simple control of the comerce without occupation of greater rate of territories), but despite of that Pinheiro Chagas portrays in positive way the Vice-Roy for having a greatness of character and not being a simple 'paper-pushing-pansy', whose greatness distinguishes itself from other defenders of comercial imperialism, and even of some characters that share of the ideas on colonialism of the author but do not have half of the honor or of the intelligence of Don Francisco.
It is this that Pinheiro Chagas uses as material for building his plot, with characters of mysterious personality (not because of the writing but of the personality of the character) like the Samorin or Rajah of Calcuta, of vilany well written and non-cartoonish like the secretary of India Gaspar Pereira and the Galician Joao da Nova, combative like the admiral Aga Hussein servant to the Sultan of Cairo, gentle (sometimes too much or in strange ways, though) like several navigators and Portuguese military-men (like Diogo Correia and Pero Cao), the daughter of the sheik of Quiloa (together with Beatriz and the anonymous women that accompany the sheiks daughter, the isolated 'females of the species' of this plot) and the heir of the throne of Cochin (that is also the nephew of the Samorin, and of whom Pinheiro Chagas, with terms that make the less 'naive' reader of today laugh with the insinuations made with naive text, «who had for Don Lourensso a most special favouring» on influence of «that indolent life of the rahas, because of that most ardent climate, admired with a charming naivite the robustness of the shapes of Don Lourensso that it connected itself with a surprising elegance, and with a gentility that so much more enthraled the orientals as much more to it they knew not of it»). But none of them compares itself in complexity of personality and livelyhood of the portrayal to the «jewel of the Vice-Roy» in person, Don Lourensso. Lourensso is not just persevering, honored and discret, but for all of his qualities and of his rival-less warrior strength he has an autentic profile of demigod, and shall not rest of his dream of coming back home and for the arms of Beatriz, not without first wanting to do the most possible for the glory of his country, although life shall prevent it to him...
In the best swashbuckler style, despite of the factual basis of the plots of the novel, we see a narrative full of lively mishaps, duels and combats that 'wash' violently the honors of individuals and nations, of which the author helped himself for to us show with master-skill the politicial and military reality of the burstling times of the Age of Discoveries, showing us many social practices that did not date with the passage of 600 years. So, weighed all that, all in all today, more than passed-away the literary and personal polemics of the period, we can see how the historical novels of Pinheiro Chagas are closer of ther 'current times' novels of Essa de Queiroz than what was before thought.
This book is npot one of the easiest to find in all the municipal and school libraries (unlike others of the author), but it finds itself online in the Internet Archive site the digitalization of a copy of the Toronto University, that can be read here, and still must be found for sale or in some other way in circulation copies of editions of the Fronteira do Caos publisher for the Letras com História collection (the first edition of the Fronteira do Caos is from 2006), in which the book is paged with 152 and not the 177 of the original edition (184 counting cover, blank pages and advertisements to other collection of the Parceria António Maria Pereira Livraria Editora of the time).
At the level of trivia, in the comics magazine Cavaleiro Andante ("Wandering Knight"), # 288, of 6th July, 1957, came-up a comics adaptation of this novel made by a notorious Portuguese comics drawer of the period, Fernando Bento, from the which it can be seen a strip below. As it is seen, throughout the 20th century, the few that still was recalled of Pinheiro Chagas was due to 'osmosis' by influence of adaptations.
For an introduction to the author:

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