segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

"Romance da Raposa", Aquilino Ribeiro // "Romance of the She-fox", Aquilino Ribeiro

Aquilino Gomes Ribeiro foi um homem à frente do seu tempo em muitas coisas, e que datou terrivelmente noutras (a principal razão para das poucas obras suas hoje frequentemente lidas por leitores actuais serem, praticamente, só as obras suas dirigidas a leitores mais jovens, mas aí iremos em maior detalhe), que no seu tempo esteve em contacto com todo o tipo de gente (os primeiros residentes negros e mulatos em Portugal continental, editores, jornalistas, homens de negócios, cientistas, activistas políticos, principalmente republicanos ou esquerdistas). Nascido em 1885 e falecido em 1963, ele viajou pela Europa fora, registando essas viagens em relatos de escrita apurada e humor pitoresco entre os seus textos ensaísticos e de memórias. Essas viagens também foram responsáveis pelo amadurecer das opiniões de Aquilino, primeiro de um vago anarquismo (com "restos" talvez do comunismo inicial de 1893) republicano (o próprio gabava-se de ter estado envolvido no Regicídio de 1908) para um Republicanismo revolucionário e patriótico após a sua primeira viagem pela Europa (1910-1914) para um revolucionismo nacionalista crítico mais próximos do conservadorismo (dedicando a respeitosa carta que inaugura o romance de 1926 Andam Faunos pelos Bosques ao político, jornalista e escritor conservador Brito Camacho, então em «ostracismo voluntário político» e em 1919 já havia colaborado na revista Homens Livres que unia opositores à decadência da I República, da direita do Integralismo Lusitano e da "esquerda republicana" do círculo da revista Presença) e com inspirações de teorias raciais nordicistas (ainda se pode notar em obras dele deste período, nas caricaturas de Portugueses de físico não nórdico, de mulatos, o episódico retrato da tensão luso-cigana no primeiro capítulo do romance As Terras do Demo, ou o personagem do emigrante radicado em Lisboa «senhor Chinoca» em Lápides Partidas; alguns críticos do autor ironizam que este até tentou "virar" 'Nórdico por associação' através dos namoros e um casamento que teve com mulheres Norte-Centro Europeias, no que foi pioneiro em Portugal pouco antes do poeta José Gomes Ferreira e muito antes do Figo) após a sua segunda e terceira viagens (1927-1928 e 1928-1932), e depois para uma inclinação mais democrática e cosmopolita em que deixou de lado essa breve aproximação do nazismo, depois da sua última viagem à Europa (cerca de 1935, que deu origem a um livro extremamente crítico do regime nazi mas "enamorado" da velha Alemanha que conhecia) e aprofundado pela viagem ao Brasil em 1952 (para uma homenagem da Academia Brasileira de Letras), enquanto ao longo de todas estas flutuações ideológicas ele mantinha coerentes uma 'alergia' a moralismos religiosos hipócritas, sistemas de opressão e afectação dos 'pequenos' pelas leis 'dos grandes'.
Foi fruto do seu primeiro processo de 'amadurecimento' ideológico (provocado pela sua primeira estada no estrangeiro), e de uma vida curta mas já intensa em que fora revolucionário, maçom, professor de escola cooperativas, aluno da Sorbonne, professor do então Liceu Camões, trabalhador da Biblioteca Nacional de Portugal (durante o seu período na BNP publicando o conto Valeroso Milagre na Revista Atlântida, nº 32 de 1919, publicado no livro de contos e novelas Estrada de Santiago, e sendo consultado quanto a estudos de uma Acta do Regicídio) e membro da direcção fundadora da revista cultural Seara Nova (em 1921), que nasceu este livro, Romance da Raposa, publicado originalmente em 1924.
Retrato de Aquilino Ribeiro pelo pintor Abel Manta quatro anos antes da publicação do Romance da Raposa
Antes de começar quanto a este terceiro livro a ser analisado neste blogue, preciso de explicar o porquê de acima ter dito que Aquilino (que é ainda considerado um dos grandes romancistas Portugueses e as suas obras ainda consideradas grandes romances portugueses) de certa forma ter datado. A explicação é que Aquilino era um autor de muito foco regionalista, com interesses em calões locais, em jargões técnicos e históricos e que escrevia com um propósito quase de antropólogo: de recriar o meio que retratava, com uma linguagem muito forte, viva e típica do autor, mesmo a custo de alguma compreensão do eventual leitor, o que o tornava mesmo assim interessante para o leitor interessado em conhecer essas realidades locais mas para o qual o leitor de hoje menos paciente pode ter menos vontade de experienciar (o que também deve ter desincentivado a tradução do autor fora da língua vagamente similar do Espanhol, em que Aquilino até escreveu o texto original do romance O Homem que Matou o Diabo ainda em forma de novela, e influenciado o facto de ter havido só as poucas traduções do Romance da raposa que referiremos mais abaixo). A linguagem regionalizante/arcaizante de Aquilino talvez seja expressão da sua visão de estrangeirado decadentista da língua Portuguesa como tendo falta de expressões suficientes para um prosa de mestria plena, tendo assim o seu lado regionalista e patriótico 'pescado' do linguajar popular para suprir as limitações por ele percepcionadas (o que o compara com o escritor Milanês Carlo Emilio Gadda, que fez o mesmo enriquecer do Italiano formal por uso de regionalismo, calão, língua erudita datada e jogos-de-palavras, ou o escritor e antropólogo mestiço Peruano José María Arguedas que adicionou muito da língua Quechua dos chamados Incas ao Espanhol peruano e descreveu um ambiente serrano, aqui andino, muito similar ao de Aquilino na sua ficção e poesia). Seja como for, de tal maneira esta questão 'datava' Aquilino, que já algures pelo meado do século XX havia um glossário de termos usados por Aquilino Ribeiro, que pode ser lido aqui (que deve ajudar um pouco mesmo para este livro infanto-juvenil). É experiência comum nas últimas décadas de Aquilino levar um ou dois capítulos a ser compreendido e gostado pelos leitores, mas depois dessa paciência o autor ser bem apreciado. É provavelmente por isso que Aquilino pouco tem sido adaptado audio-visualmente fora a série animada do Romance da Raposa de 1988, um tele-filme checoslovaco de 1976 de Quando os Lobos Uivam, a série de 1979 de O Homem que Matou o Diabo e a série de 2006 da RTP1 de Quando os Lobos Uivam.
A narrativa desta ficção, a primeira obra infanto-juvenil do autor (só mais duas, uma delas póstuma, viriam depois; numa entrevista já depois da publicação da segunda, Arca de Noé, III classe, ele dizia «Agora só manipulo drogas complexas para as pessoas grandes», porque só escreveu obras infanto-juvenis quando tinha filhos pequenos, escrevendo-os como presentes visto que os achava prendas menos incaracterísticas de sentido para eles do que os «brinquedos de todas as «Quermesses de Paris»», tendo achado que passara o 'seu' tempo para obras assim por causa de já terem crescido todos) e das suas primeiras obras, é apresentada por um narrador omnisciente e muito íntimo, com muito gosto por linguagem coloquial e peculiar (tal como as suas personagens). Este narrador está preocupado em simultaneamente narrar o enredo e os pensamentos das personagens (principalmente a nossa heroína, a raposa Salta-Pocinhas, que junto com o corvo Vicente, personagem e co-narrador de parte do livro, são quem mais partilham daquele perfil de alter-egos do autor, junto com outras personagens infantis do mesmo autor como a Abóbora gigante, o Mestre Grilo, o Ralo com manhas de guerreiro e todos os bichos do seu Arca de Noé, III classe), e apontar a um leitor presumido infantil (este livro nasceu de estórias que Aquilino contava ao filho Aníbal, adaptando o ciclo de narrativas em torno do raposo Renard de origem flamenga) o que resulta e o que implica (em termos da vida das personagens e das implicações filosófico-morais das acções) tudo o que acontece no enredo, entre a raposa, a sua família, o lobo «vizo-rei das Selvas da Beira» rival dela D. Brutamontes, e toda a comunidade animal das serras beiras onde vive a Salta-Pocinhas, para assim «recrear a criança, educando-a moral e socialmente, sem lhe meter na mão os horríveis compêndios de tais disciplinas» segundo o autor disse num Inquérito à sua pessoa sobre literatura infantil). O enredo que ele nos apresenta para esse fim, é o da vida da Salta-Pocinhas, uma raposa que fora criada com muito mimo e conforto pelos pais, após ser expulsa de casa pelos mesmos como incentivo para fazer pela vida, e como após várias semanas de fome é incentivado pelo irmão Pé-Leve (um 'fura-vidas') a pedir comida do texugo (ou na grafia arcaizante de Aquilino «teixugo») D. Salamurdo, uma paródia clara da velha fidalguia. O pedido ao «teixugo» resultará, de forma surpreendente para um livro infanto-juvenil, num crime.
Com muita fluidez, o narrador que tudo sabe vai narrando isto tudo tendo em mente que está a escrever para crianças (não só pelo livro ter a intenção declarada de ser um livro para crianças e jovens mas por envolver uma personagem que começa como uma menor, e crescerá ao longo do enredo), o que é digno de nota visto que estamos a falar que um autor que pouco conhecia da restante literatura infanto-juvenil do seu tempo e sempre se considerou um 'visitante' nesse espaço, e como o próprio Aquilino admitia, ele escrevia para crianças tendo-as em conta em termos das ideias do texto (trazendo para o livro a mentalidade das crianças, as suas superstições, a sua falta de responsabilidade, uma sensação de que apesar de tudo não há perigo real, a alegria e mesmo alguma tendência fiteira e berrante), mas escrevendo não só com vocabulário conhecidos dos 'infantes' (que daria segundo ele uma obra medíocre), 'testando' e ensinando os jovens leitores de forma não demasiado complexa, ao longo de cerca de 180 páginas que se lêem como um conto simples e curto. Como assinala uma publicidade para a tradução francesa de 2000 desta obra, «il est difficile de dire qui des enfants ou des adultes se délectent le plus de ce texte» («é difícil de dizer quem de entre as crianças ou de entre os adultos se deleitam o mais deste texto»).
Aquilino consegue isso misturando diálogos, descrições vívidas de lugares e coisas e relatos das peripécias das personagens que resultam numa mistura fina de humor, imaginário infantil, crítica ao moralismo e à opressão que à forma de fábula o autor aplica aos animais e que via na sua opinião no Portugal do tempo da escrita do livro e mesmo da sua juventude. E acrescentando à complexidade do romance infanto-juvenil aquiliniano, esta espécie de conto de fadas ou fábula para o tempo «tão realista» que era o do autor (segundo as palavras do próprio) pode ser crítico socialmente mas não cai no truque comum de um livro que escolhe esse caminho: o de fazer o/a protagonista uma personagem positiva, o que a Salta-Pocinhas não é, embora seja uma personagem que se consiga apreciar, não sendo assim uma simples fora-da-lei do tipo "pícaro adorável" mas uma que não sendo diabólica é porém algo anti-social (apesar de a personagem servir para apontar os erros da 'sociedade' do seu mato). A «raposinha raposeta» tem esse perfil complexo não obstante o próprio autor ter dito que contou a história da raposa «empregando tons cor-de-rosa». Para provar que Aquilino subestimava um pouco a sua obra ao fazer-lhe esse retrato, podemos 'socorrer-nos' de um trecho do livro para assinalar esta faceta crítica desta aparente 'mera' historieta 'fofinha':
«O urso sábio, depois de os gatos bravos, fuinhas, ginetas, toirões, miarem, regougarem, desabafarem contra a Salta-Pocinhas, que cometera o feio insulto ao lobo tão bom, tão sabedor, pai de todos, ergueu a voz:
— Fazeis-me pena, ó bichos destas falperras! Fazeis-me pena, e por isso quero falar-vos a verdade verdadeira. Se o lobo é lobo, eu sou urso e neste mundo apenas tenho medo do húngaro e de mais ninguém. A Salta-Pocinhas foi trapaceira? Foi, que enganou o lobo. A Salta-Pocinhas foi lambisqueira? Foi, que bifou a fressura ao lobo. A Salta-Pocinhas assassinou? Alto aí. Quem assassinou o teixugo foi o lobo, que tem mais de bruto que de astuto, e é por igual grotesco e barbaresco, pirata e patarata, caprichoso e maldoso. Arrancai a língua à raposa, o coração e os miolos ao lobo, frigi tudo e deitai-o aos cães se quereis viver em paz.»
Capítulo III, página 47 na edição de 1996.

Este diálogo do urso ou ursa Mariana (ele/ela é chamado de ambas as coisas ao longo do livro, é chamado de tio, e tem nome próprio feminino, numa espécie de caso primordial de transgénero) ocorre depois do crime da Salta-Pocinhas que já referi acima (da natureza do crime já o leitor provavelmente terá uma ideia graças ao diálogo acima). Imediatamente antes deste diálogo, vem uma declaração do vizo-rei da área, o lobo D. Brutamontes, lida pelo lince; nela o lobo se descreve como vizo-rei a mando do rei dos bichos, D. Leão, cujos títulos paralelam os antigos títulos imperiais coloniais dos reis Portugueses. Esta declaração havia atiçado a raiva dos lobos, dos «teixugos» e das raposas (que chamam a Salta-Pocinhas de vergonha da sua raça) entre a multidão de bichos que ouvia a leitura do lince. Aquilino deixa transparecer aqui deste modo, como em muito do texto, as suas inclinações republicanas, aproveitando a oportunidade para parodiar autoridades reais e (na percepção de Aquilino) os julgamentos públicos que incentivavam. Aquilino comentava numa entrevista que era um escritor realista «mas nos contos para os pequeninos» aprovava e cultivava o simbolismo; como tal, como temos visto, neste livro ele fez uma espécie de romance picaresco, satírico, realista, através da forma alegórica (mas não demasiado, tentando que os seus animais falantes ainda pareçam 'boas cópias' dos reais, conforme a sua comparação com os realísticos «brinquedos de Nuremberga», simbolista de uma historieta de animais (apesar de ser do tipo de historieta de animais falantes, esta narrativa é mais de maravilhoso alegórico que de fantástico sobrenatural, que Aquilino condenava aplicado a literatura para crianças por elas ainda não terem segundo ele a percepção da separação natural/sobrenatural; o próprio Aquilino considerava esta ficção simples ficcionar pela aplicação da racionalidade humana à «história natural» dos animais).
Não vou entrar aqui numa discussão do mérito de Aquilino Ribeiro na história da literatura portuguesa, até porque o valor de Aquilino está mais que bem defendida por gente cujo valor e julgamento literário ultrapassam em muito os meus como Domingos Monteiro e Ferreira de Castro, para os quais (pelo que dizem estes autores nos seus textos ensaísticos sobre literatura) Aquilino era um mestre, precursor deles (mesmo se por poucos anos), a ser reconhecido e reverenciado como um autor que honrava o seu país, a sua região e a sua estética.
Para terminar só quero apontar também que em 1988 este livro foi adaptado para uma série de animação com texto adaptado pela escritora Maria Alberta Menéres (autora da adaptação da Odisseia de Homero intitulada Ulisses, ainda comum para estudo em escolas e encontrada em várias bibliotecas de todo o tipo), com música do pianista Jorge Machado, design das personagens de Ricardo Neto e animação de Neto e Artur Correia (que adaptara a História Alegre de Portugal de M. Pinheiro Chagas, o autor da obra da última publicação deste blogue), e entre outros com as vozes de António Semedo (mais famoso como a voz do Topo Gigio em Portugal, do Doutor Cobaia da série homónima e várias vozes do Dragon Ball e do Dragon Z incluíndo o narrador, o Yamcha e outros) como D. Salamurdo e do cantor e actor Joel Branco como o corvo Mestre Vicente. Foi um sucesso no Portugal ainda só com dois canais, e continuou a ser exibido durante uns anos, daí que ainda fizesse parte da minha infância de jovem nascido em 1989 (tinha bonecos em plástico PVC da Salta-Pocinhas, de Mariana, do mocho e do corvo Vicente, hoje infelizmente só me restando o primeiro boneco referido), sendo também um sucesso emitido nalguns outros países fora de Portugal, tendo sido parte da infância de muitos Croatas hoje na casa dos 30 ou dos 20. Aqui, no canal no Youtube do próprio Artur Correia, podem encontrar-se vídeos da adaptação em animação, e aqui podemos ver a dobragem croata. Artur Correia fez ainda uma adaptação a BD deste romance com grafismo inspirado na série animada que ajudou a criar, que foi publicada sob apoio da iniciativa Ler+.
Este livro pode ser encontrado na maioria das bibliotecas municipais e várias escolares, principalmente edições originais ou feitas tomando como base estas (principalmente da Editora Bertrand), ilustradas por Benjamim Rabier (um dos principais ilustradores de revistas francesas da altura e que custou ao editor de Aquilino, Júlio Monteiro Aillaud, uma fortuna segundo o próprio Aquilino, que as considerava superiores ao texto), e por vezes surgem também por aí das edições de 1988 e 1989 ilustradas em referência à versão animada. O livro também já foi traduzido para Italiano como Le Avventure di Saltafossi (literalmente "As Aventuras de Salta-fossos" ou "As Aventuras de Salta-Pocinhas") em 1950 ou 1951 pela lusitanista (estudiosa de Portugal e sua cultura) Luciana Stegagno Picchio, com ilustrações inspiradas pelas de Rabier, e para Francês como Le Roman de la Renarde ("O Romance da Raposa") em 2000 por Diogo Quintela e Bernard Tissier, mantendo as mesmas ilustrações de Rabier (a cores, como em algumas edições portugueses, porém hoje mais raras). Quem estiver interessada em 'escavar' mais a fundo debaixo da 'superfície' do livro para além da introdução por mim feita aqui, pode ler Introdução à leitura do Romance da raposa: ciência do texto e sua aplicação (1981) do notório romanista (i.e. estudioso de línguas românicas ou neo-latinas) Austríaco Michael Metzeltin.


Aquilino Gomes Ribeiro was a man ahead of his time in many things, and that dated terribly in others (the main reason for from the few of his works today frequently read by current readers being, practically, just the works of his headed at younger readers, but there we shall go to in greater detail), that in his time was in contact with all kind of folk (the first black and mulatto residents in continental Portugal, publishers, journalists, businessmen, scientists, political activists, mostly republicans or leftists). Born in 1885 and passed-away in 1963, he traveled throughout Europe, recording those travels in reports of ascertained writing and picturesque humor among his essay and memory texts. Those travels also were responsible for the maturing of the opinions of Aquilino, first from a vague republican (he himself bragged of having been involved in the Portuguese Regicide of 1908) anarchism (with "leftovers" maybe from his early communism of 1893) to a revolutionary and patriotic anarchism after his first travel through Europe (1910-1914) to a critical nationalist revolutionism closer to conservatism (dedicating the respectful letter that inaugurates the 1926 novel Andam Faunos nos Bosques, "There Go Fauns through the Woods" to the conservative Portuguese politician, journalist and writer Brito Camacho, then in a «voluntary political ostracism» and in 1919 he already had colaborated in the magazine Homens Livres, "Free Men", that united opponants to the decadence of the 1st Portuguese Republic, from the rightwing of the Lusitanian Integralism and from the "republican left" of the circle of the magazine Presença) and with inspirations from nordicist racial theories (it still can be noticed in works of his from this period, in the caricatures of Portuguese-people of not Nordic physique, of mulattos, the episodic portrayal of the Portuguese-Gypsy tension in the first chapter of the novel Terras do Demo, "The Lands of the Demon", or the character of the emigrant established in Lisbon «mister Chink» in Lápides Partidas, "Broken Tombstones"; some critics of the author ironize that this one even tried to "turn" Nordic by association through dating and a marriage that he had with North-Central European women, in which he was pioner in Portugal little before the poet Jose Gomes Ferreira and much before soccer-player Figo) after his second and third travels (1927-1928 and 1928-1932), and afterwards to a more emocratic and cosmopolitan leaning in which he left aside that brief nearing to nazism, afterwards of his last travel to Europe (about 1935, that gave origin to a book extremely critical of the nazi regime but "inamoured" from the old Germany that he knew) and deepened by the travel to Brazil in 1952 (for an hommage by the Brazilian Academy of Letters), while throughout of all those ideological fluctuations he kept coherent an 'alergy' to hypocritical religious moralisms, systems of opression and affecting of the 'lesser' by the laws 'of the grander ones'.
It was fruit of his first process of ideological 'maturing' (provoked by his first stay abroad), and from a short but already intense life in which he had been revolutionary, Freemason, cooperative school teacher, Sorbonne student, teacher of the then Camoens Highschool, worker of the Portugal National Library (during his period in the PNL or in Portuguese BNP it was published his short-story Valeroso Milagre in the Revista Atlântida, "Atlantis Magazine", # 32 of 1919, published in the book of short-stories and novellas Estrada de Santiago, "Road of Santiago", and being consulted about studies of an Acta do Regicídio, "Meeting-minute of the Regicide") and member of the founding board of the cultural magazine Seara Nova ("New Harvest-field", in 1921), that it was born this book, Romance of the She-Fox, published originally in 1924.
Portrait of Aquilino Ribeiro by the painter Abel Manta four years before of the publication of Romance of the She-Fox
Before of starting about this third book to be analized in this blog, I need to explain the why of above having said that Aquilino (that is still considered one of the great Portuguese novelists and his works still considered great Portuguese novels) in certain way having dated. The explanation is that Aquilino was an author of much regionalist focus, with interest in local slangs, in technical and historical jargons and that wrote with a purpose almost of anthropologist: of recreating the environment that he portrayed, with a very strong, alive and typical language from the author's, even at the expense of some comprehension of the eventual reader, the which turned him even so interesting to the reader interested in knowing those local realities but for the which the least pacient reader of today can have less urge of experiencing (what also could have desincentivated the translation of the author outside of the vaguely similar language of Spanish in which Aquilino even wrote the original text of the novel O Homem que Matou o Diabo, "The Man Who Killed the Devil", still in form of novella, and have influenced the fact of having been only the few translations of the Romance of the She-Fox there were, that we shall refer lower). The regionalizing/archaic-izing of Aquilino maybe it is expression of his view of decadentist foreignized of the Portuguese language as having lack of suficient expressions for a prose of full mastership, having so his regionalist and patriotic side 'fished' from the popular speek for supressing the limitations by him perceptioned (what he compared with the Milanese writer Carlo Emilio Gadda, who did the same inriching the formal Italian by use of regionalism, slang, dated scholarly language and wordplays, or the Peruvian mestizo writer and anthropologist José María Arguedas that added much of the Quechua language of the so-called Incas and described a ridge environment, here andine, very similar to the one of Aquilino in his fiction and poetry). Be it as it may, in such way this issue 'dated' Aquilino, that somewhere by the mid of the 20th century there was glossary of terms used by Aquilino Robeiro, that can be read (in Portuguese) here (that must help a little even for this children's-young-people's book). It is common experience in the last few decades of Aquilino taking one or two chapters to be understood and liked by the readers, but afterwards of that pacience the author being well appreciated. It's likely for that that Aquilino has been little adapted audiovisually aside the animated series of the Romance of the She-fox from 1988, a 1976 Czech Television movie of Quando os Lobos Uivam ("When the Wolves Howl"), the 1979 series of O Homem que Matou o Diabo/"The Man Who Killed the Devil" and the Portuguese RTP1 2006 series of Quando os Lobos Uivam/"When the Wolves Howl".
The narrative of this fiction, the first children's-young-people's work from the author (only two more, one of them posthumous, would come afterwards; in an interview already after the publication of the second, Arca de Noé, III Classe, "Noah's Arch, III Class", he said «Now I only manipulate complex drugs for the big people», because he only two children's-young-people's works when he had little children, writing them as presents seen that he found them to be gifts less uncharacteristic of sense for them than the «toys from all the «Kirmesses of Paris»», having found that it had passed 'his' time for works like-so because of already having grown-up all of them) and among his first works, is presented by an omniscient and very intimate narrator, with much like for coloquial and peculiar language (just like his character). This narrator is concerned in simultaneously narrating the plot and the characters (mainly our heroin, the fox Salta-Pocinhas, literally "Puddle-Jumper" which is to mean "Pranksome-Prankster", that together with the crow Vincent, character and co-narrator of part of the book, are who the most share of that profile of alter-egos of the author, together with other children's characters from the same author like the giant Pumpkin, the Master Cricket, the Ralo with all the ruses of warrior and all the critter of his Noah's Arch, III Class), and to point to a presumed child reader (the book was born out of stories that Aquilino told to his son Aníbal, adapting the Flemish origin cicle of narratives around the fox Renard) what works and what implies (in terms of the life of the characters and of the philosophical-moral implications of their actions) all that happens in the plot, among the she-fox, her family, the wolf «lord-lieutenant from the Jungles of the Beira province» her rival Don Hulk and all the animal community of the Beira-marches ridges where it lies Pranksome-Prankster, for so «recreating the child, educating her morally and socially, without to one putting in the hand the horrible compendiums of such subjects» according what the author said in an Enquiry to his person over children's literature). The plot to he to us presents to that end, is the one of the life of Pranksome-Prankster, a fox that had been raised with much spoiling and comfort by her parents, afterwards of being expelled by the same as incenttive for doing for her life, and how afterwards several weeks of hunger she's incentivated by the brother Light-Foot (a 'hustler') to ask for food from the badger (or to reproduce in English the archaic-izing spelling of Aquilino «brock-badger») Don Salamurtte, a clear parody of the old gentry. The request to the «brock-badger» shall work-out, in form surprising for a children's-young-people's book, in a crime.
With much fluidity, the narrator that everytthing knows goes narrating this all having in mind that he's writing for children (not just for the book having the declared intention of being a book for children but for involving a character that starts as a minor, and shall grow-up throughout the plot), what is worthy of note seen that we are talking of an author that little knew of the remaining children's-young-people's literature from his time and always to himself considered a 'visitor' in that space, and like Aquilino himself admited, he wrote for children having them in account in terms of the ideas of the text (bringing for the book the mentality of the children, their superstitions, their lack of responsability, a sensation that despite of all there's no real danger, the joy and even some showcasing and yowler tendency), but writing not only with vocabulary known from the 'infants' (that would give according to him a mediocre work), 'testing' and teaching the young readers from a way not too complex, throughout the about 180 pages that themselves do read like a simple and short tale. As it signaled for the 2000 French translation of this work, «il est difficile de dire qui des enfants ou des adultes se délectent le plus de ce texte» («it's hard to say whom from among the children or from among the adults themselves do delight the most at this text»).
Aquilino gets that mixing dialogues, vivid descriptions of places and things and reports of the mishaps of the characters that work in a fine mixture of humor, childish imaginarium, criticism to moralism and the oppresion that to the form of fable the author applies to the animals what that he saw in his opinion in the Portugal from the time of the writing of the book and even from his youth's. And adding to the complexity of the aquilinian childrens-young-people's novel, this kind of fairy tale or fable for a time «so realist» that was the one of the author's (according to the words of he himself) can be socially critical but does not fall in the common trick of a book that choses that way: the one of making the male/female protagonist a positive character, what Pranksome-Prankster is not, although she be a character that itself can be apreciated, not being so a simple outlaw of he "lovale rogue" type but one that not being diabolical is though somewhat anti-social (despite of the character serving for pointing the errors of the 'society' of her backwood). The «milady fox foxetool» has that complex profile not regardless the author himself having said that he told the story of the fox «employing pink tones». For proving that Aquilino underestimated a little his work at making it that portrait, we can 'aid ourselves' from a passage of the book for signaling this critical facet of this aparent 'mere' "fluffy' storiette:
«The wise bear, afterwards of the wild cats, weasels, genets, big-stoats, meow, fox-talking, letting-out against the Pranksome-Prankster, that commited the ugly insult to the wolf so good, so knower, father of all, lifted up its voice:
— Thou give me pity,, critters from these thievery-hoods! Thou give me pity, and for that I want to speak thee the true truth. If the wolf is wolf, I am bear and in this world just am afraid from the Hungarian and no one else. The Pranksome-Prankster was devious? Yes, that she fooled the wolf. The Pranksome-Prankster was drool-nibbler? She was, that the beefed the pluck to the wolf. The Pranksome-Prankster murdered? Wow there. Who murdered the brock- badger was the wolf, who has more of brute than of cunning, and is for equal-part grotesque and barbaresque, pirate and minet, capricious and mischivious. Tear out the tongue to the she-fox, the heart and brains to the wolf, frizzle everything and throw it to the dogs if thou wanteth to live in peace.»
Chapter III, page 47 in the 1996 edition.

This dialogue from the bear or she-bear Marianne (he/she is called both things throughout the book, it's called uncle, and has female first name, in a kind of early case of transgender) occurs after the crime of the Pranksome-Prankster that already I refered above (of the nature of the crime already the post reader probably will have an idea thanks for the dialogue above). Immediately before this dialogue, comes a declaration of the lord-lieutenant under rule of the king of the critters, Don Lion, whose titles paralel the former colonial imperial titles of the Portuguese kings. This declaration had stirred-up the rage of the wolves, of the «brock-badgers» and of the foxes (that call the Pranksome-Prankster of shame of their breed) among the crowd of critters that heard the reading of the lynx. Aquilino lets transpire he from this fashion, like in much of the text, his republican leaning, taking-advantage of the occasion for spoofing royal authorities and (in the perception of Aquilino) the public trials that they incentivate. Aquilino commented in an interview that he was a realist writer «but in the tales forr the small-ones» he aproved and cultivated symbolism; as such, as we have seen, in this book he made a kind of picaresque, satirical, realist novel, through the allegorical (but not too much, trying that the talking animals still seem 'good copies' of the real ones, according to his comparison with the realistic «toys from Nuremberg»), symbolist form of a storiettte of animals (despie o being from the kind of storiette of talking animals, this narrative is more of allegorical wondrous, that Aquilino condemned applied to literature for children for them still not having according to him the perception of the natural/supernatural separation; Aquilino himself considered this fiction simple fictionalizing by the application of human rationality to the «natural history» of the animals).
I'm not going to enter here in a discussion of the worth of Aquilino Ribeiro in the history of Portuguese literature, even because the worth of Aquilino is more than well defended by folk whose literary value and judgement overcome in much my ones like Domingos Monteiro and Ferreira de Castro, for the which (by what say these authors in their essay texts on literature) Aquilino was a master, forerunner of them (even if for few years), to be recognized and reverence as an author that honored his country, his region and his aesthetic.
For ending I only want to point also that in 1988 this book was adapted into an animation series with text adapted by the Portuguese writer Maria Alberta Menehres (author of the adaptation of Homer's Odyssey titled Ulisses, still common for study in schools and found in several libraries of all kind), with music by the pianist Jorge Machado, character design from Ricardo Neto and animation from Neto and Artur Correia (who adapted the História Alegre de Portugal, "Joyous History of Portugal" by M. Pinheiro Chagas, the author of the last publication of this blog), and among others with the voices of Antonio Semedo (more famous as the voice of Topo Gigio in Portugal, of the character Doutor Cobaia, "Doctor Guinea-pig" star of the Portuguese puppet series named after himself and his assistant Luvinha/"Glovey" and several voices from Dragon Ball and Dragon Ball Z Portugal dubs, including the narrator, Yamcha and others) as Don Salamurte and from the singer and actor Joel Branco as the crow Master Vincent. It was a sucess in the Portugal still just with two public channels, and continued to be shown during some years, hence that it still made part of the my childhood of young-man born in 1989 (I had PVC plastic dolls of the Pranksome-Prankster, of Marianne, of the owl and of the crow Vincent, today unfortunetly only remaining me the first refered doll), being also a sucess broadcasted in some other countries out of Portugal, having been part of the childhood of many Croatians today in their 30s or their 20s. Here, in the Youtube channel of Artur Correia himself, do find themselves videos of the adaptation unto animation, and here we can see the Croatian dubbing. Artur Correia made yet a Comic-Book adaptation of this novel with graphic artwork inspired on the animated series that he helped to create, that was published under support of the Portuguese pro-children's/young-people's reading initiative Ler+ ("Read+").
This book can be found in most of the Portuguese municipal liberaries and several school-ones, mostly original editions or made taking as basis these (mostly from Editora Bertrand publisher), illustrated by Benjamim Rabier (one of the main illustraters of French magazines of the time and that cost to Aquilino's publisher, Julio Monteiro Aillaud, a fortune according to Aquilino himself, who considered them superior to the text), and sometimes comes-up also around from the editions of 1988 and 1989 illustrated in reference to the animated version. The book was also already translated to Italian as Le Avventure di Saltafossi (literally "The Adventures of Pit-jumper" or "The Adventures of Puddle-Jumper/Pranksome-Prankster") in 1950 or 1951 by the Lusitanist (bookwoman of Portugal and its culture) Luciana Stegagno Picchio, with illustrations inspired by the ones of Rabier, and for French as Le Roman de la Renarde ("The Romance of the She-fox") in 2000 by Diogo Quintela and Bernard Tissier, keeping the same illustrations by Rabier, in colors, like in some Portuguese edition, yet today rarer). Who would be interested in 'digging-up' more deeply underneath the 'surface' of the book to beyond the introduction by me done here, may read Introdução à leitura do Romance da raposa: ciência do texto e sua aplicação ("Introduction to the reading of the Romance of the she-fox: science of the text and its application", 1981) from the notorious Austrian romanist (i.e. scholar of Romanic or Neo-Latin languages) Michael Metzeltin.

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