quarta-feira, 27 de maio de 2015

"Os Fidalgos da Casa Mourisca", Júlio Dinis // "The Landed-gents of the Moorish House", Julio Dinis

Depois de uma obra estereotipadamente "para rapazes" na publicação anterior, um romance estereotipadamente "feminino", para equilibrar os gostos possíveis de quem aqui leia. Acusado muitas vezes de escrever sempre o mesmo livro, Júlio Dinis escreve aqui outro romance literariamente do mesmo género e em termos de enredo com dinâmica trans-classe social e envolvendo dois irmãos vindos de uma família mais endinheirada mas próximos das classes ditas mais "populares", filhos de um proprietário hoje viúvo e único representante da família para além dos filhos. Neste caso é a família dos Negrões da ficcional Vilar dos Corvos, da qual só restam o «velho sexagenário, grave, severo e taciturno" D. Luís Negrão e os filhos mais novos sobreviventes deste, Jorge e Maurício, que pretendem recuperar a família e a sua casa "mourisca" (assim chamada por hábito popular de chamar coisas de aspecto mais peculiar e de que ninguém sabia a época de origem "mourisca") de um ciclo de tragédias e dívidas após a morte da Dona Negrão e da filha mais nova. O interesse amoroso aqui é Berta da Póvoa, filha do antigo caseiro dos Negrões, Tomé, que graças ao trabalho conquistara algum estatuto social e fazer da sua filha afilhada do velho D. Luís.
Neste lugar idílico (fictício) minhoto, a princípio Jorge e Berta apaixonam-se mas a separação social (ou antes, visto que a diferença tinha sido diluída pelo regime liberal, os preconceitos do "tempo velho" do velho pai dos fidalgos) afasta-os e impede-os de se casarem. Entre juras de amor eterno em segredo acordam seguir caminhos diferentes. Enquanto Jorge segue o caminho de reforma das propriedades e recuperando-as, Berta serve de amparo ao pai debilitado do fidalgo, que vai reconhecendo uma personalidade muito nobre nela. Por seu lado, Maurício, em Lisboa, inicia-se na vida diplomática e começa a dar-se com a prima da Quinta dos Bacelos, a Baronesa Gabriela, com quem começa a acalentar a ideia de casamento. É no meio deste ambiente romântico didático com algo de peça teatral de comédia ligeira ou de tragicomédia (por isso o romance se ajustou de forma confortável à adaptação a teatro filmado para a RTP em 1963 com Nicolau Breyner como Maurício e a telenovela de ar muito cénico para a TV Record em 1970, nos primórdios da TV portuguesa nos primórdios das telenovelas brasileiras) que se sucedem os negócios e trabalhos de Jorge e Tomé para recuperar as fazendas dos Negrões e cria-se uma espécie de novo triângulo amoroso à As Pupilas do Senhor Reitor desta vez com só uma "filha do povo", novamente os dois irmãos sendo tentados pelo interesse comum nela, um conflito algo menos dramático do que o d'As Pupilas entre os dois e por fim um "engrossar do enredo" com o triângulo amoroso a virar quadrado com (ante a oposição de D. Luís pelos seus velhos preconceitos a um casamento de Berta dentro da sua família) um casamento de Berta com o agricultor Clemente, filho da agricultora local (e ex-ama dos jovens fidalgos) Ana do Vedor, a tornar-se mais provável. Tal como na outra obra de Dinis referida (e já analisada) neste blogue, o amor dos dois irmãos pelo interesse amoroso comum é diverso de um para outro: enquanto Jorge ama realmente Berta, Maurício só tem uma afeição inconstante por ela (há porém uma inversão em relação à outra obra: enquanto Daniel era o falso apaixonado e era mais urbano e menos "físico", aqui é o menos "exterior" e mais introvertido, embora menos "floreado" que Daniel, Jorge que é genuinamente "amador", pelo que o autor não escreve sempre o "mesmo livro"). Este entrecruzar de enredos e reviravoltas (nada bruscas e algo suaves, mas reviravoltas, como comum no autor) estão alimentadas por um "elenco" de personagens bem desenhadas e individualizadas, por perfis individuais e de classe e pelo entrecruzar das profissões e personalidades que se moldam uma à outra para um dado perfil de pessoa. O narrador, com a mestria do Romântico-Realista oitocentista, consegue "fazer malabarismo" de tudo isto sem as confundir nem diminuir cada elemento individual em si mesmo.
Se o enredo é relativamente "genérico" de romances "cor de rosa" e mesmo de romances da curta obra deste autor, mas não só o estilo como a maior sobriedade do enredo em torno da recuperação da família arruinada e do passado e presente do velho D. Luís, e a forma como ele se vai "abrindo" a Berta apesar da sua classe e depois de saber do afecto entre ela e o seu filho Jorge ele acaba por se abrir à realização de um casamento (que por sua vez "liberta" Maurício de manter o seu frouxo namoro a ela e lhe permite casar com a prima Gabriela) ajudam a "salvar" o livro de alguma "overdose" de doçura e brandura ou suavidade de enredo. Para além de o livro ser enriquecido pelos elementos novos de desenvolvimento do enredo e personagens e de retrato social que faltavam nos romances de estreia de Dinis com o exemplo d'As Pupilas que já aqui vimos.
Neste livro originalmente de 1871, vemos ao contrário da obra anteriormente vista deste autor, uma verdadeira diferença social, não entre órfãs e camponeses endinheirados pelo trabalho mas camponeses e verdadeiros aristocratas de velha cepa e com velha fortuna (apesar de esgotada pelo tempo até imediatamente antes do começo do enredo), e isto permite, ainda mais que a obra anterior de Dinis, expôr a sua visão liberal pessoal, e a sua visão das melhorias e progresso que o liberalismo monárquico haviam trazido a Portugal. E como clássico de todas as obras do autor, o interessante ponto essencial da sua filosofia e do conflito de enredo subjacente às suas obras é o do positivo progresso que esse regime político traz, mas simultaneamente a erosão da sociedade rural idealizada que este autor aprecia e louva.
Júlio Dinis
No universo peculiar da ficção de Júlio Dinis, romântico, bucólico e sentimental não implica escrita frouxa, prosa "púrpura" ou irrealismo pleno. E o mundo que surge neste universo é de casamento entre velho e novo, de progresso não só da nova sociedade mas da velha tradição, e se a moral não é rígida e imutável, é porém disciplinada e eticamente moralizada, no estilo da moralidade e da ideologia do burguesismo democrático liberal e filantrópico defensor da sociedade "polida". Logo nas primeiras páginas se vê bem tudo isso quanto à natureza deste mundo bem definido, sem surpresa alguma dada a visão do mundo bem sólida do autor. É uma visão do mundo defensora da economia de mercado e do progresso sem dúvidas, mas simultaneamente patriótica, com espaço para a tradição (desde que não "fossilizada" e capaz de evoluir), e em que há uma crença de que as classes devem ter alguma cooperação e união entre si, o que infelizmente não evita que por vezes alguns sejam vítimas das suas fraquezas pessoais (principalmente quando os mais poderosos não têm esse auxílio a estes, como no caso da filha do tendeiro em As Pupilas).
O casamento é novamente a forma de "resolver as coisas" socialmente, mas só para aqueles que não só se amam mutuamente mas são "dignos" uns dos outros e têm uma certa equivalência "complementar", como os camponeses endinheirados dos da Póvoa e os nobres arruinados do Negrões unidos por Jorge e Berta ou os nobres aparentados no caso de Maurício e da sua prima). Os caprichos da juventude ou da vida amorosa (como os de Maurício com Berta) são assim empecilhos e coisas insignificantes a ignorar, sendo só pondo-os de lado que os próprios podem evoluir (e a família e a sociedade em seu torno com eles, como diz no fim do último capítulo, «Não havia ali coração que não encerrasse um fermento de felicidade»).
Assim toda a trama acaba com tudo no lugar e em ordem moral e socialmente, acabando só mais posto de parte o quarto lado do quadrado amoroso de Clemente, com os restantes tendo cada um o seu par. Somente alguns passos mais dramáticos podem pesar sobre a aparente leveza da obra (como no caso de As Pupilas, e todos descobrem os seus caminhos para uma vida melhor, embora não idílica nem utópica e pelas "pistas" dadas pelo final do texto que parece que ficará sempre algo na mesma quanto a algumas idiossincrasias da vida rural portuguesa). Acaba por ser assim mais romântico mas não menos "empresarial" a resolução amorosa do enredo que a questão do "reerguer" das finanças da família Negrão, que volta a ser respeitada e nobre, como aponta a última frase, na Conclusão do livro: «Enquanto os senhores do Cruzeiro, continuam a ser cada vez mais viciosos, e a achar-se mais embaraçados em dívidas e desprezados do povo.
Os fidalgos da Casa Mourisca são, pelo contrário, hoje respeitados, graças à energia e à honestidade do carácter de Jorge.
O nome desta família é dos que fica honrado na tradição popular.» Por exagerado que parece o tom algo grandiloquente e à conto de fadas ou fábula desta conclusão, ele resulta para o seu fim e é um fecho que completa a ideia geral do texto e da visão da sociedade e da vida que Júlio Dinis sempre queria transmitir. E para uma obra que consegue de forma tão bem-sucedida retratar a vida do seu tempo (por idealizado que o faça), e que dá uma experiência de leitura tão agradável e dá um exemplo tão acabado e bem-sucedido da "leitura formativa", e pela fatia da "experiência portuguesa", e da experiência das vidas das personagens que não só representam gente das classes em causa como representam todos os que se envolvem em experiências pessoais de reconstrução de vidas antes arruinadas e de busca pelo par com quem constituir família. E enquanto a vida social for assim, provavelmente Júlio Dinis vai sempre ter leitores mesmo sem Regeneração e sem monarquia constitucional. E felizmente para isso, o livro pode encontrar-se em todas as bibliotecas e em várias edições ainda à venda, para além de algumas adaptações cinematográficas e televisivas e até BD de Carlos Alberto Santos e uma caderneta de cromos do mesmo ilustrador.
Prancha de Carlos Alberto Santos e a capa da caderneta


After a stereotypicall "boy's own" work in the previous post, a stereotypically "feminine" novel, to balance the possible tastes of who here may read. Accused many times of writing always the same book, Julio Dinis writes here another novel literarily from the same genre and in terms of plot with the social trans-class dynamic and involving two brothers coming from a more moneyed family but close to the so-called "popular" classes, sons of a propriety owner today widowed and only representative of the family besides his sons. In this case it is the family of the Negroins (Negrões) from the fictional Vilar of the Crows, of which only remain the «old, sexagenarian, stern, severe and taciturn" Don Luis Negrao and the surviving younger sons of the former, Jorge and Mauricio, who intend to recover the family and its "moorish" house (so-called by Portuguese popular habit of calling things of more peculiar aspect and of which nobody knew the period origin "moorish") from a cycle of tragedies and debts afterwards to the death of the Lady Negrao and the youngest daughter. The love interest here is Berta da Povoa, daughter of the old caretaker of the Negroins, Tomeh, who thanks to his work had conquered some social status and to make his daughter goddaughter to the old Don Luis.
In this Minho region (fictional) idilic place, at first Jorge and Berta fall in love but the social split (or instead, seen that the difference had been diluted by the liberal regime, the prejudices from the "old time" of the old father to the landed-gents) draws them apart and prevents them of getting married. Between oaths of eternal love in secret they agree to follow different paths. While Jorge follows the path of reform of the properties and recovering them, Berta serves as support to the landed-gent's debilitated fathr, who goes recognising a very noble personality in her. On his hand, Mauricio, in Lisbon, initiates himself into the diplomatic life and starts to get along with the cousin from the Farm of Rootstocks, Baroness Gabriela, with whom he starts entertain the idea of marriage. It is in the middle of this didactic romantic environment with something of light comedy or tragicomedy theatre play (for that the novel adjusted in comfortable way to the adaptation to teleplay for the RTP TV in 1963 with Nicolau Breyner and the soap opera of very scenic air for TV Record in 1970, in the earliest times of Portuguese television and the Brazilian soap operas) that do transpire the businesses and works of Jorge and Tomeh to recover the hacienda homesteads of the Negroins and it creates itself a kind of new love triangle à la As Pupilas do Senhor Reitor/"The girl Pupils of Mr. Parson, the Dean", this time with only one "daughter of the people", again the two brothers being tempted by the common interest in her, a conflict somewhat less dramatic than the The girl Pupils one between the two and at last a "plot thickening" with the love triangle turning square with (facing the opposition of Don Luis due to his old prejudices towards a marriage of Berta within his family) a marriage of Beta with the farmer Clemente, son of the local farmer (and ex-nanny of the young landed-gents) Ana of the Looker-out, turning itself more likely. Like on hthe other Dinis work mentioned (and already analysed) on this blog, the love of the two brothers foor the common love interest is diverse from one to the other: while Jorge truly loves Berta, Mauricio only has an inconstant affection for her (there is though an inversion here in relation to the other work: while Daniel was the false lover and was the more urban and less physical, here it is the less "exterior" and more introvert, although less "flowery" and more rural than Daniel, Jorge is genuinely "lover", so that the author does not always write the "same book"). This intercross of plots and twists (not at all blunt and somewhat soft, but twists, as common in the author) are fed by a "cast" of characters well draw and individualised, by individual and class profiles and the intercrossing of professions and personalities that mold each other for a given profile of person. The narrator, with the mastery of eighteen-hundredth Romantic-Realist, can "juggle" all of this without confusing them nor diminishing each individual element in itself.
If the plot is relatively "generic" to "rose tinged" novels and even of novels from this author's short work, but not only the style as the greater sobriety of the plot around the recovery of the ruined family and of the past and present of the old Don Luis, and the way as he goes "opening up" to Berta despite her classe and after knowing of the affection between her and his son Jorge he ends up openng up to the carrying-out of the wedding (tha on its hand "frees" Mauricio of keeping his feeble dating of her and to him does permit to marry with cousin Gabriela) help to save the book to some "overdose" of sweetness and meekness or softness of plot. Besides the book bing enriched by the new elements of development of the plot and characters and of social portrait that lacked in the debut novels of Dinis with the example o' The girl Pupils that we already here did see.
In this book originally from 1871, we see unlike the previously seen work of this author's, a true social difference, not between orphans and peasants moneyed by their work but peasants and true old stock aristocrats and with old fortune (despite wore out by time until immediately before the start of the plot), and this permits, even more than Dinis' previous work, to expose his personal liebral vision, and his vision of the improvements and progress that the monarchist liberalism had brought to Portugal. And as classic of all the author's work, the essential interesting point of his philosophy and of the plot conflict underpinning his works is the one of positive progress that such political regime brings, but simultaneously the erosion of the idealised rural society that this author appreciates and praises.
Julio Dinis
In the perculiar universe of Julio Dinis' fiction, romantic, bucolic and sentimental does not imply feeble, writing, "purple" prose or full unrealism. And the world that comes-up in this universe is of marriage between old and new, of progress not only of the new society but of the old tradition, and if the moral is not rigid and unchangeable, it is though disciplined and ethically moralised, in the style of the morality and of the ideology of the liberal and philanthropic democratic bourgeoisism defender of the "polished" sociey. Right-away in the first pages it is seen fine all that about the nature of this world well defined, without any surprise given the world view quite solid of the author's. It is a world view defender of the market economy and of the progress, without doubt, but simultaneously patriotic, with room for tradition (as long as not "fossilised" and capable of evolving), and in which there is a belief that the classes must have some cooperation and union amongst themselves, what unfortunately does not avoid that sometimes some be victims of their personal weaknesses (mainly when the mightiest do not have that aid to these, like in the case of the tendeiro/tented-shop-keeper in The girl Pupils).
The marriage is again the way of "solving things" socially, but only for those that not only love each other mutually but are "worthy" of each other and got some "complementary" equivalence, like the moneyed peasants of the da Póvoa and the ruined nobles of the Negroins united by Jorge and Berta or the related nobles in the case of Mauricio and his cousin). The whims of youth or the love life (like the ones of Mauricio with Berta) are so hindrances and insignificant things to ignore, being only setting them aside that those people themselves can evolve (and the family and the society around them with them, asit says at the end of the last chapter «There was not there heart that did not close-down a leaven of happiness»).
So all the weave ends with all in place and in order moral and socially, ending just more set aside the forth side of the love square Clemente, with the remaining having each onetheir pair. Only some more dramatic steps can weigh on the apparent lightness of the work (as in the case of The girl Pupils, and all discover that their ways for a better life, although not iyllic not utopian and by the leads given by the text's ending that it seems that it shall stay always something the same about some idiosyncrasies of the Portuguese rural living). It ends so being more romantic but no less "business-like" the love resolution of the plot than the issue of "re.rrising" of the finances of the Negrao family, which goes back to be respected and noble, as points out the last sentence, in the book's Conclusion: «While the lords of the Stone-cross continued each tme more vicious, and to find themselves more entangled in debts and despised by the people.
The landed-gents of the Moorish house are, on the contrary, today respected, thanks to the energy and the honesty of Jorge's character.
The name of this family is one of the ones that stays honored on the popular tradition.» No matter how exagerated it seems the somewhat grandiloquent and fairy tale or fable-style tone of this conclusion, itworks for its ending nd it is a closing that completes the generl idea of the text and the view of society and of life that Julio Dinis always wanted to transmite. It is a work that can in so successful a way to portray the living of its time (no matter how idealised it does it), and which gives a so agreeable reading experience and gives a so prime and successful an example of the "bildungsroman reading", and for the slice of the "Portuguese experience", and of the experience of the lives of the characters that not only represent people from the classes at stake as represent all that involve themselves into personal experiences of reconstruction of lives before ruined and of search for the pair with whom to start a family. And while the social life is thus, Julio Dinis is always going to have readers even without Portuguese Regeneration and without constitutional monarchy. And fortunately for that, the book can find itself in all Portuguese libraries and in several editions still for sale, beyond some cinematic and television adaptattions and eve Comics by Carlos Alberto Santos and a trading-cards sticker album by the same illustrator.
Comic page by Carlos Alberto Santos and the sticker album's cover

terça-feira, 19 de maio de 2015

"As Aventuras de Zé Caracol", Noël de Arriaga // "The Adventures of Cheo Curl", Noël de Arriaga

Poderão alguns dizer que este é um livro dos infanto-juvenis ditos "para rapazes". Não será um julgamento muito errado, podendo-se até acrescentar que este livro tem mais o perfil de leitura para o tipo específico de jovens rapazes que procuram as aventuras de um tipo que na sua vida já cheia de actividades (embora não de aventuras do tipo que desejam propriamente), só a leitura deste tipo de livros lhes poderá dar. Aqui, a aventura é a vida de um latagão Transmontano, a personagem-título, que desde a infância tivera uns braços roliços e musculados que surpreendiam, de forma que aos 14 anos o seu pai lhe sugeriu que teria corpo para boxeur, sendo que, após alguns feitos de força (como derrubar uma árvore com 3 machadadas apenas), acaba por seguir para Lisboa para se propor ao empresário de boxe Vicente Lampreia. É em exibição para este empresário que Zé derruba o mais temido boxeur de Lisboa, o «Urso Polar» (um competidor para o título mundial e considerado «a maior esperança do boxe europeu») em 5 minutos, e depois toma o seu lugar (sem ter sequer treinador) no combate que o «Urso Polar» devia ter pelo título mundial, contra «o Negro de Casablanca» (que depois de derrubar o Zé no 2.º assalto, é derrubado com um murro de surpresa após o Português se erguer, chegada a contagem do árbitro a 5). Graças ao seu novo empresário Vicente Lampreia, Zé torna-se boxeur profissional e é levado aos Estado Unidos para competir com os boxeurs locais.
É após chegar a Nova Iorque que o enredo realmente começa: Zé recebe uma carta em Português de John Dreiser, um misterioso Brasileiro que se quer encontrar com o boxeur Português num bar para falarem, o que vem a acontecer pouco depois. Mr. John faz algumas propostas a Zé que implicam conviver mais com o ele e a sua filha Wanda (que se apresenta como nascida em Portugal e só se tendo mudado para Nova Iorque com 17 anos para explicar a falta de sotaque brasileiro), na casa apalaçada dos Dreiser nos arredores da cidade de Nova Iorque. Esta amizade preocupa muito (veremos que com razão) Vicente. Pouco depois de Zé conhecer os Dreiser, Rodolfo Braun, o oponente que ele devia confrontar, envia-lhe uma carta informando que não poderá participar no combate porque partiu a perna e portanto o combate só poderia ocorrer dentro de 15 dias. Pensando em passar os 15 dias com Mr. John e Wanda, quando se aloja na casa apalaçada destes para isso, vê-lhe proposta pelo rico Brasileiro perder de propósito em troco de uma avultada soma, o que o Português recusa, mas infelizmente o jardim da casa está bem guardada e da janela do seu quarto é impossível saltar (percebendo que estava encurralado). É Wanda que o ajuda a fugir, revelando-lhe que no fundo do jardim há um hangar com um helicóptero que pelo modelo mesmo um condutor não experiente poderia pilotar com umas instruções simples (que a jovem lhe dá), permitindo-lhe a fuga de helicóptero. Alguns metros para longe do terreno da casa de Mr. John, Zé salta de para-quedas e deixa o aparelho despenhar-se, vendo-se agora numa ilha habitada por Índios que ainda vivem de forma tradicional, e que se atribuem a descendência de Portugueses e Espanhóis (de facto eles falam igualmente Português, e com muito pouco estereótipo da fala dos Índios ficcionais) que outrora tinham desembarcado naquela ilha (e desde então nunca tinha sido visitados por estrangeiros, o que aliás lhes agrada).
Dois Índios (Dick e Telmo) encontram-no no meio do mato e levam-no ante o seu chefe, Chefe Dragão Azul (que mantinha o poder só por tirania e medo), que quer tratar o forasteiro como inimigo segundo a lei tradicional do seu povo, mas Zé usa do isqueiro e do rádio para impressionar os Índios como sendo um tipo de feiticeiro e é por isso colocado em liberdade condicional sob vigilância cuidadosa de Dick e Telmo. Incentivado pela sua feiticeira Nair (se se lembram da 1.ª publicação, isto pode lembrar-vos do truque do Almirante Good, do usurpador Tuala e da feiticeira Gagul em As Minas de Salomão, provável modelo de Arriaga), Dragão Azul decide prender o herói a uma árvore, e é quando um helicóptero chega, lhe estende uma escada, e isso lhe capacita de fugir: é Wanda, que ouviu a mensagem que ele emitira com o rádio quando tentava impressionar o chefe Índio, e viera socorre-lo. Juntos rumam a Nova Iorque, e enquanto Braun se treinava para o combate na nova data, Zé volta a reunir-se com o empresário e Wanda passa a residir com eles, e ao longo dos dias que sobram até ao combate ela descreve a sua verdadeira origem e mostra-lhe as vistas principais daquela parte dos EUA. Depois de Zé derrotar Braun, o trio volta a Portugal e Wanda fica em Lisboa onde se encontra ocasionalmente com Vicente, enquanto Zé volta à aldeia natal. A segunda parte do enredo começa com Vicente a visitar Zé na aldeia deste, e propôr-lhe que se junte a ele numa viagem na rota de um mapa de um tesouro em África que Zé Quanza (o falecido criado negro do empresário de boxeurs) lhe deixara em testamento. Nessa busca, o trio de novo reunido é opostos por «o Máscara de Ferro», um fora-da-lei de cara muito "esculpida" que pelo que parece procura o mapa desde os tempos em que Zé Quanza ainda estava vivo. O desafio dos 3 heróis é de sobreviver às armadilhas d'«o Máscara de Ferro» e da femme fatale que trabalha forçada por conta dele, sobreviver aos perigos da selva de África e encontrar o tesouro sem serem ultrapassados ou roubados pelo grupo rival d'«o Máscara de Ferro».
Noël de Arriaga constrói o enredo a partir do nascimento do herói, primeiro calmamente, mas não demasiado arrastadamente, e depois vai acelerando e ganhando um ritmo mais "cinematográfico", embora o leitor talvez leve algum tempo a habituar-se ao uso de algum linguajar popular (para o cenário transmontano principalmente) ou próprio dos meados do século XX (para além do curioso linguajar do guia Africano Chico, mais similar ao estereótipo do falar indígenas extra-europeu, mas com um uso de éles em vez de eres que lembra mais o estereótipo da fala chinesa, e aplicado a um negro faz lembrar vagamente o Presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo da Guiné Equatorial hispanófona a tentar falar Português no seio da nova lusofonia oficial do seu país, embora este refira-se menos a si próprio na 3.ª pessoa), mas também pelo facto de de Arriaga (ao estilo da autora primeva de literatura infanto-juvenil portuguesa Virgínia de Castro e Almeida) pôr enredos escritos de forma teatral ou de argumento de cinema (e por vezes até didascálias teatrais) no meio de um texto de novela em prosa (algo a que o leitor logo se habitua). O prato forte do livro, para além das aventuras, é o espírito de combate e união fraternal de amigos unidos por um objectivo comum e a situação limite com que se confrontam. Liga-se um pouco com isto o facto de termos poucas informações (excepto o que sabemos do fundo de Wanda, sabermos que Vicente tinha um criado chamado Zé Quanza e teve ainda no passado problemas com «o Máscara de Ferro» e a narração inicial da infância e adolescência de Zé) sobre a vida dos heróis antes de se juntarem, como se só se concretizassem realmente depois de se juntarem para viver as suas grandes aventuras (o que talvez queira significar a busca do tesouro como realização pessoal e socioeconómica). Sem dúvida que as personagens que mais se desenvolvem e crescem ao longo do enredo, e que mais revelam (ou até criam) novas capacidades são o herói-título e o seu par feminino Wanda, o primeiro indo sempre desenvolvendo a sua força (não só física mas mental e emocional) e esta última descobrindo capacidades dedutivas de «Sherlock Holmes de saias» (nas palavras elogiosas de Zé) entre outras, ambos contribuindo muito para a sobrevivência e sucesso do trio e de Chico.
Noël de Arriaga (esta é a primeira vez que uma fotografia do autor surge online; retirada de um volume de adendas da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira de 1958)
Este «livrinho» (assim o chama a contra-capa do livro) publicado pela primeira vez em 1954 é assim um certo "repescar" do estilo da ficção de aventuras vitoriana e o seu espírito nacionalista e de desbravamento do mundo, e do equivalente português da viragem do século XIX para o XX (como lembram os muitos elementos derivados de As Minas de Salomão de Rider Haggard/Eça, essencialmente em toda a II Parte do «livrinho»), para entretenimento de rapazes juvenis (era parte da Colecção Juvenil da Clássica Editora, originalmente gerida pela já referida Virgínia de Castro e Almeida da década de 1900 às de 1940), não somente como entretenimento inspirado em elementos literários "passadistas", mas como entretenimento que se mantinha actual na altura da primeira publicação do livro, sendo que Portugal ainda era uma potência continental "ultramarina" e marítima (portanto um texto "à vitoriana" ou à viragem do século ainda tinha o seu valor para um país que ainda tinha uma estrutura política geral similar à do tempo da criação original dessas literaturas), para além de elementos como os da emigração profissional de Zé e Wanda e dos negócios e contactos profissionais internacionais de Vicente Lampreia serem também reais e concretos para os leitores jovens dos anos de 1950 e também da década seguinte. Noël de Arriaga, um poeta que ainda hoje é algo louvado e apreciado apesar de não ter um conhecimento da sua obra ante o Grande Público e que foi um autor produtivo e muito apreciado de novelas e contos fantásticos e realistas para crianças e jovens (maioritariamente editados pela Clássica Editora) ao longo dos anos de 1940 e de 1950 claramente queria pegar no modelo vitoriano-belle-époqueano intencionalmente para construir uma "leitura formativa" comparável para uma nova geração de jovens leitores, para os preparar para os desafios de uma vida mais moderna, globalizada e industrial, uma "leitura formativa" que fosse comparável com aquela que ele próprio provavelmente teria lido na infância nos anos de 1920 (nascera em 1918).
É curioso notar como este livro vive num pouco usual equilíbrio (nem sempre equilibrado) entre juvenil e infantil, tendo um enredo de aventura "para rapazes" e mesmo alguns temas que não destoariam muito nalguma ficção de aventuras mais adulta, com muitos diálogos e elementos do livro mais infantis, o que surge logo no título, com o ar caricato dado ao título pelo nome do seu herói, anunciando ao leitor um texto algo mais infantil do que o texto afinal é; mas o nome extravagante coincide com a natureza do seu herói, simples e com uma pureza algo infantil, apesar da sua força e têmpera. É pena que o livro (apesar das suas qualidades e da 2.ª edição de 1993) tenha caído no esquecimento, devido à forma como se colou com a realidade do seu tempo, e portanto foi outra das "vítimas" sacrificadas com o fim do Império Português e do seu colonialismo, deixando o livro de ser lido com os mesmos olhos num Portugal sem África e pós-colonial, em que haja menos inclinação para deixar o coração entusiasmar-se com promessas desportivas ficcionais que possam ser a glória da Europa contra competidores Norte-Americanos, o conceito sendo 'vítima fácil' para acusações de 'patrioteirismo bacoco' (embora em pleno século XXI talvez seja interessante reler o texto à luz da nova 'aventura africana' da empresa portuguesa e à luz de outros atletas Lusos a "darem cartas" lá fora, embora mais no futebol que no boxe). Quem quiser pode ler pelos próprios olhos em muitas bibliotecas onde há edições deste livro, principalmente nas da edição de 1993.


It may say some that this a book from the children's/young-people's ones said "for boys". It would not be a very wrong call, even one being able to add that this book has more the profile of read for a specific type of boys that look for adventures of a type that in their life already full of activities (although not of adventures of the type they desire proper), only the reading of this kind of books can give them. Here, the adventure is the life of a Trahs-os-Montes bulk, the title character that since childhood had some roly-poly and muscled arms that surprised, in fashion that at 14-years-old his father suggested him that he would have bodytype for boxeur, being that after some achievements of strength (like throwing-down a tree with 3 ax-blows alone), ends by following to Lisbon to offer up himself to the boxing impresario Vicente Eel. It is in exhibition for this impresario that Cheo throws down the most feared boxer of Lisbon, the «Polar Bear» (a competitor for the world title and considered «european boxing's greatest hope») in 5 minutes, and afterwardstakes his place (without having even a trainer) in the combat that the «Polar Bear» should have for the world title, against «the Black-man from Casablanca» (who after knocking-down Cheo on the 2nd round, is knocked-down with an aback punch afterwards to the Portuguese arising himself, arrived the referee's count to 5). Thanks to his new impresario Vicente Eel, Cheo turns himself professional boxeur and is taken to the United States to compete with the local boxers.
And afterwards to arriving to New York that the plot really starts: Cheo receives a letter in Portuguese from John Dreiser, a mysterious Brazilian that wants to meet-up with the Portuguese boxer on a bar to speak, what comes to happen little afterwards. Mr. John made some proposals to Cheo that imply that he hang out more with him and his daughter Wanda (who introduces herself as born in Portugal and only having moved to New York at 17 years-old to explain the lack of Brazilian accent), on the palace-like house of the Dreisers in the outskirts of New York City. This friendship concerns much (we shall see that with reasons to) Vicente. Little after Cheo meeting the Dreisers, Rodolfo Braun, the opponent that he should face, sends him a letter informing that he will not be able to participate in the combat because he broke his leg and hence the combat could only occur within 15 days. Think of spending the 15 days with Mr. John and Wanda, when he lodges himself in the palace-like house of theirs for that, he sees to him proposed by the rich Brazilian to loose on purpose in exchange for an extensive sum, what the Portuguese refuses, but unfortunetely the house's garden is well guarded and from his room's window it is impossible to jump-out (understanding that he was trapped). It is Wanda who to him helps to runaway, revealing him that at the bottom of the garden there is a hangar with a helicopter that by its model even an inexperienced driver could pilote with some simple instructions (which he young-lady gives him, permitting him the helicopter escape. Some feet faraway from the terrain of Mr. John's house, he jumps by parachute and leaves the device crash itself down, seeing himself now on an island inhabited by American Indians that live still on traditional way, and who attribute themselves the descent of Portuguese and Spaniards (in fact they speak equally Portuguese, and with very little fictional American Indian speak stereotype) that yore had debarked on that island (and since then had never been visited by foreigners, what as a matter of fact pleased them).
Two Indians (Dick andTelmo) find him in the middle of the backwood and take him before their chief, Chief Blue Dragon (who kept power only by tyranny and fear), who wants to treat the outsider as enemy according to his people's traditional law, but Cheo uses of his lighter and his radio to impress the Indians as being a kind of wizard and is for that put out in parole under careful vigilance of Dick and Telmo. Spurred by his sourceress Nair (if you remember the first post, this might remind you Admiral Good's trick, the usurper Tuala and the sourceress Gagul in As Minas de Salomão/"Solomon's Mines, likely model to Arriaga), Blue Dragon decides to bind the hero to a tree, and it is when a helicopter arrives, reaches him a rope ladder and that enables him to runaway: it is Wanda, who heard the message that he broadcasted with the radio when he tried to impress the Indian chief, and had come to aid him. Together they roam to New York, and while Braun trained himself for the combat on the new date, Cheo goes pack to reunite with the impresario and Wanda passes to reside with them, and throughout the remaining days till the combat she descrives her true background and shows him the main sights of that part of the USA. Afterwards to Cheo defeating Braun, the trio goes back to Portugal and Wanda stays in Lisbon where he meets up occasionally with Vicente, while Cheo goes back to his birth village. The plot's second part starts with Vicente visiting Cheoin the latter's village, and proposing him that he joins in with him on a voyage on the route of a map of a treasure in Africa that Cheo Quanza (the deceased black servant of the boxers impresario) to him had left in his will. In that search, the trio again gathered is opposed by «the Iron Mask», an outlaaw of very sculpted face that so it seems is looking for the map since the times in which Cheo Quanza was still alive. The challenge of the 3 heroes is to survive to the traps o' «The Iron Mask» and of the femme fatale who works forcefully on his bidding, surviving to the dangers of Africa's jungle and finding the treasure without being overcome or stollen by «the Iron Mask»'s rival group.
Noël de Arriaga constructs the plot starting-out from the hero's birth, first calmly, but not too draggingly, and afterwards goes accelerating and gaining a more "cinematic" rhythm, although the reader takes some time to get used to some folksy parlance (for the Trahs-os-Montes scenario mainly) or proper to the mid-20th century (besides the curious parlance of the African guide Chico, more similar to the 
stereotype of the extra-european indigenous speak, but with a use of ls instead of rs that recalls more the Chinese speak stereotype, and applied to a black-man does recall vaguely the President Teodoro Obiang Nguema Mbasogo from the Spanish-speaking Ecuatorial Guinea at trying to speak Portuguese in the midst of his country's new official Portuguese-speaking, although the latter refers to himless in the 3rd person), but also for the fact that de Arriaga (on the style of the Portuguese early children's/young-people's literature author Virginia de Castro e Almeida) put plots written in theatrical or film script form (and sometimes even theatrical stage-directions) in the middle of a text of novella in prose (something to which the reader right-away gets used to). The book's main dishe, beyond the adventures, is the fighting and common goal and faced breaking-point situation united friends' fraternal union spirit. It connects itself with the fact we got very few information (except what we know about Wanda's background, we know that Vicente had a servant called Cheo Quanza and had in the past problems «the Iron Mask» and the early narration of Cheo's childhood and adolescence) on the life of the heroes before that they do join-up, as if they only fulfiled themselves for real after joining themselves to live their great adventures (what maybe might mean the search for the treasure as personal and social-economic fulfilment). Without question that the characters that more do develop and grow along the plot, and more reveal (or even create) new capabilities are the title hero and his female pairing Wanda, the first one going on developing his strength (not just physical but mental and emotional) and the latter discovering deductive capabilitis of a «lady Sherlock Holmes» (in Cheo's complimentary words) among others, both contributing much for the survival and success of the trio's and Chico's.
Noël de Arriaga (this is the first time that a photograph of the author comes-up online; taken out from a volume of addenda of the Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira/"Great Portuguese and Brazilian Encyclopedia" from 1958)
This «little-book» (so calls it the book's backcover) published for the first time in 1954 is thus a certain "re-fishing" of the victorian adventure fiction's style and of its nationalist spirit and of pioneering open the world, and of the turn from 19th to 20th century Portuguese equivalent (as recall it the many elements derived from Rider Haggard/Essa's As Minas de Salomão/"Solomon's Mine", essentially the whole II part of the «little-book»), for the entertainment of juvenile boys (it was part of the Clássica Editora's Colecção Juvenil/"Young-people's Collection", originally managed by the already mentioned Virginia de Castro e Almeida from the 1900s to the 1940s decade), not merely as entertainment inspired in "past-worshippping" literary elements, but as entertainment that kept itself current in the time-point of the book's first publication, being that Portugal still was a continental "overseas" and maritime power (hence a text "à la victorian" or à la turn of the century still had its value for a country that still had a general political structure similar to the one of the time of the original creation of those literatures), besides the elements like the ones of the professional migration of Cheo and Wanda and international business contacts of Vicente Eel's being also real and concrete for the young readers from the 1950s and also the following decade. Noël de Arriaga, a poet still today and somewhat praised and appreciated despite not having knowledge within the general public of his work, and who was a productive and very appreciated author of fantasy and realistic novellas and short-stories for children and young people (mostly published by the Clássica Editora) throughout the 1940s and 1950s clearly wanted to pick-up the victorian-belle-époquean model intentionally to build a comparable "bildungsroman reading" for a new generation of young readers, to prepare them for the challenges of more modern, globalised and industrial life, a "buildungsroman reading" that were comparable to that one that he himself probably would have read in his childhood in the 1920s (he had been born in 1918).
It is curious to note how this book lives on a little usual balance (not always balanced) between young-people's and childish, having a "boy's own" adventure plot and even some themes that would not look much out of place in some more grown-up adventure fiction, with many dialogues and elements from the book more childish, what comes up right-away on the title, with the cartoonish air given by the name of the hero, announcing to the reader a somewhat more childish text than what the text at the end of it is; but the extravagant name coincides with the nature of its hero, simple and with a somewhat childish purity, despite his strength and tempering. It is a shame that the book (despite his qualities and the 1993 2nd edition) had fallen into oblivion, due to the way how it glue itself with the reality of its time, and hence was another of the sacrificed "victims" of the end of the Portuguese Empire and its colonialism, ceasing the book to b read with the same yes in a Portugal without Africa and postcolonial, in which there is less inclination to let the heart excite itself with fictional sports great hopes that might be Europe's glory against North American competitors, the concept being 'easy prey' for accusations of 'knobbish chauvinism' (although well into the 21st century maybe it is interesting reread the text in light of the new 'african adventure' of the Portuguese company and in light of other Luso athletes "calling the shots" abroad, although more in International Association football than in boxing. Whoever wants may read with their own eyes in many Portuguese libraries where there are editions of this book, mainly in the ones of the 1993 edition.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

"A tatuagem misteriosa", Ellery Parker (pseudónimo de Mário Domingues?) // "The Mysterious Tatoo", Ellery Parker (pseudonym of Mario Domingues?)

Ainda se lembram da ante-penúltima publicação, sobre As Aventuras de Jim West de Raul Correia? Se não gostaram dela provavelmente não vão gostar desta 21.ª publicação deste blogue mas enfim, aguentem-se quiserem continuar a ler, porque agora voltamos a um western português de meados do século XX, agora mais concretamente a um livro de um misterioso autor de westerns e "livros para raparigas" chamado Ellery Parker. Ora isto ficaria fora do foco do nosso blogue não fosse o não haver sinal nenhum de nenhum Ellery Parker fora das edições portuguesas (o que indicia a velha prática da chamada "pseudo-tradução") e a pessoa apresentada como tradutor e adaptador do texto, o Luso-Santomeense Mário Domingues (1899 - 1977) ser um frequente pseudo-tradutor, autor em nome próprio e um aficionado do género policial (em que existe outro pseudónimo, Ellery Queen, partilhado pelos primos Americanos Frederick Dannay e Manfred Bennington Lee, por sua vez pseudónimos dos verdadeiros e mais obviamente judaicos nome destes, Daniel Nathan e Emanuel Benjamin Lepofsky, sendo que este Ellery poderia bem ser a inspiração para o falso autor estrangeiro de Domingues). Agora, neste western entre infantil e romântico-bucólico (narrado nas palavras de um narrador cujo trisavô foi participante dos casos narrados, conforme foi contado ao narrador pelo seu avô), o nosso herói é Artur Everton, mais de um século antes do tempo do narrador o proprietário do rancho Pequeno Eden na Califórnia (fundado pelo pai Tomás, já velho à altura do começo da narração) perto de uma povoação chamada Fuenton, onde vive com a esposa Helena e a filha Alice, num tempo em que ainda faltavam caminhos-de-ferro, estradas condignas e carros (Everton gastaria na altura duas semanas para ir do rancho à capital estadual de S. Francisco e voltar), e a maioria das tribos indígenas haviam já sido forçadamente pacificadas e a relação entre indígenas e colonos era geralmente pacífica apesar de haverem alguns bandos renegados.
Mário Domingues pelo fim dos anos de 1950 ou durante os anos de 1960.
A narrativa tem o seu verdadeiro começo (depois de uma descrição detalhada da existência e rotina levada pelos residentes do rancho dos Everton) depois de uma das frequentes viagens de negócios de Artur a S. Francisco (Fuenton é descrito como bom centro comercial, mas tinha preços dos produtos demasiado elevados devido à distância em relação ao centros que os forneciam), durante a qual o fiel empregado Mac Gregor vai a Fuenton-City beber uma cerveja, e acaba por derrubar com um murro um rufia que tenta sentar-se na mesa dele sem autorização e que afinal era Big Dick (um belo trocadilho para um Anglo-Saxónico), o chefe duma das quadrilhas mais temidas da altura e que graças àquele derrube é finalmente detido pelo xerife de Fuenton (com isto Mac Gregor ganha 2000 dólares «por um soco» segundo Parker/Domingues). No parágrafo seguinte, já dez anos depois, o empregado de Pequeno Eden ainda recebe louvores sempre que visita Fuenton por causa do feito; na mesma altura, Artur parte novamente em viagem e depois de um atraso inesperado que preocupa a família (apesar do forte gangue de Big Dick já há muito ter sido destruído), chega um cowboy mensageiro algum tempo depois, que relata que em meia-hora Artur chegará com uma grande surpresa. É um menino que não terá mais de 7, 8 meses, com cabelo castanho quase loiro e olhos castanhos escuros quase pretos que fora aparentemente abandonado, o qual Helena logo agarra e ao qual se afeiçoa (aliás, compensando com o recém-chegado uma velha lamentação do casal Everton de faltar um herdeiro masculino).
E através deste narrador não exactamente omnisciente mas que sabe bem a narrativa que lhe é externa e conhece pela narrativa do seu avô (que por sua vez o seu avô, trisavô do narrador, lhe narrou) que o enredo de A tatuagem misteriosa vai avançando, com Alice a afeiçoar-se ao que assume como "irmão" enquanto Artur teme se não deverão evitar adoptar já a criança talvez não tão abandonada assim, até que descobrem ao lavar a criança (que pela dor que a lavagem da cabeça lhe dá é claramente algo a que não está habituado) vestida de camisa suja que esta tem uma tatuagem de uma âncora mal-feita a tinta preta. Depois disso (e isto é episódio interessante dada a etnia mestiça de Domingues), o casal de criados negros primeiro comprados como escravos e alforriados por Tom Everton chamados Maria e Sam tratam da criança a mando de Helena, sendo a propósito deles que o narrador descreve como em tempos (antes de Sam e Maria começarem a ser apreciados por todos os de Fuenton e arredores) uma vez Sam se envolvera numa luta primeiro com um homem e depois de vários cowboys que não aceita que servissem «pretos» nesse lugar (apesar de Sam e Maria serem sempre lá servidos, por serem criados dos respeitados Everton), e como Tom tomara então a coisa como ofensa pessoal e fora pessoalmente espancar o agressor de Sam, partindo-lhe os 3 dentes da frente (e dando-lhe a nova alcunha de Desdentado), e finalmente ficamos a saber as circunstâncias do achado da criança por Artur Everton, num lugar onde só restavam os restos queimados de uma eventual cabana.
Depois de serem visitados uma noite no rancho pelo xerife Jaime Craigh, começa uma busca deste e seus 2 assistentes pelos eventuais pais da criança (ajudados por Artur e Mac Gregor), mas ante o risco de a criança poder estar sozinha, o menino é efectivamente adoptado sob o nome Eduardo (tal como o pai de Mac Gregor, embora mais tarde surja a incoerência de Mac Gregor mais tarde no livro dizer que se chama Heitor... como o seu pai), para muito gosto de Helena e Alice. Durante a cavalgada de investigação do grupo do xerife, assistentes, Artur e Mac Gregor, este último fala aos outros do seu berço na Escócia (numa aldeia perto do Loch Ness), de como passara (depois de abalar de lá para a América à revelia dos pais com dinheiro ganho na lavoura posto de parte às escondidas por ele) mais de metade da vida na América (havia partido com 17 anos) e amava a Califórnia só abaixo da Escócia, e acima de tudo o rancho Pequeno Eden onde Tomás Everton o acolhera e lhe permitira viver nos EUA numa altura em que o Escocês quase se preparava para regressar (mais pobre) à terra natal. Depois de Mac Gregor findar a sua história é que Craigh começa as suas investigações e inquéritos ao longo da caminhada pelos arredores de S. Francisco e Fuenton-City, e numa serra onde uma pequena (que fora enorme antes do confronto com os brancos) tribo índia liderada pelo envelhecido chefe Águia Negra vive com alguma prosperidade em solo relativamente fértil. É Águia Negra que dá as primeiras informações concretas ao grupo de busca, como alguns «rostos pálidos» que se diziam homens do xerife Craigh trabalhavam na cabana em cujos restos Artur tinha achado o menino.
De certa forma há certas semelhanças estilísticas e de enredo para com a anterior As Aventuras de Jim West de Raul Correia, com igual foco familiar, aventuras e mistérios que afastam a família, histórias de recomeços familiares (embora claramente aqui não haja uma narrativa de migração e colonização mas já umas gerações após o enraizamento civilizacional), uma narrativa de aumento do núcleo familiar (neste caso não por aumento natural da mesma mas por adopção) e confronto com inimigos foras-da-lei (aqui mais brancos que Índios, talvez pelo fundo ele próprio mestiço de um tipo de "indígenas", no caso angolano, de Domingues comparado com Correia, por isso sendo mais positivo o autor desta obra no retrato dos Índios e só aplicando a linguagem estereotipada do Índio até certo ponto) e novamente uma demanda de regresso à família cujos desafios têm de ser ultrapassados (o passado juvenil de Domingues como pioneiro do movimento anticolonialista e migrante minoritário em Portugal, e indigenista quanto a África vale a pena notar na ambíguidade do sentimento amigável do indígena mas não anti-colonos-brancos e foco em colonos brancos desta obra
). Podemos  ainda perguntar-nos se o facto de ser nascido numa colónia africana desabitada antes da colonização e exploração de engenhos de açúcar e plantações escravas e como filho de dois colonos da sua terra insular africana (uma africana continental e outro europeu) numa terra em que até os negros eram deslocados não-indígenas, o fazia ter mais simpatia pelos negros americanos que pelos indígenas americanos e até ser relativamente positivo para com os colonos americanos brancos (o que um escritor africano em terra com população indígena negra provavelmente não seria).
Os diálogos tendem tanto para falas melodramáticas e expansivas como para falas simples e concisas, ambas porém dando pistas quanto à natureza bem individualizada de cada personagem e dando lições quanto uma certa visão da sociedade tanto da América pós-colonização do Oeste como do Portugal do século XX (unidas muito pelo ideal do homem feito a si próprio, condizendo aqui com o perfil do próprio Domingues, um jovem de São Tomé criado pela família Portuguesa que viria a tornar-se jornalista visível, escritor, divulgador de história numa espécie de José Hermano Saraiva do mundo livreiro antes de JHS começar a sua "segunda vida" televisiva, e editor de edições baratas de literatura "pop"). Talvez o maior exemplo disso seja o diálogo de Heitor Mac Gregor (nome que lembra dois heróis "de fronteira", o Heitor Troiano da Guerra de Tróia e o Robert Roy MacGregor, mais conhecido como «Rob Roy», o ganadeiro virado fora-da-lei e guerrilheiro das Terras Altas Escocesas, de onde o ficcional Mac Gregor também é nativo), apoiado por Artur Everton e Jaime Craigh, que definem Tom Everton como exemplo do espírito ideal do empresário "capitalista criativo":
«Diz uma grande verdade anuiu Mac Gregor.  Raramente os nomes condizem com as coisas. Mas no que se refere ao seu rancho, notamos uma excepção: É um Pequeno Paraíso. Felicito-o por isso.
As felicitações vão todas para meu pai  acudiu Artur com entusiasmo.  Ele não se limitou a desbravar a terra e a torná-la produtiva; desbravou a alma de muita gente rude, nela plantando a bondade, a tolerância, o dever de nos ajudar-mos uns aos outros. O senhor sabe, como ninguém, que no nosso rancho até os animais são tratados humanamente.
 Sim, sei-o, toda a gente o sabe por estas redondezas  disse Jaime Craigh. Desejariam muitas pessoas deste mundo serem tratadas pelo seu semelhante como os animais são tratados no Pequeno Eden.»
O interesse de uns diálogos assim é ver que não temos uma apologia de latifundiários e colonizadores em si mesmos da parte de um autor que escreveu e viveu a maioria da sua vida sob a Ditadura Militar (ou Nacional) e o Estado Novo, mas um louvor de latifundiários e os colonizadores quando estão ao nível do que o estatuto de elite "lhes exige", quando são pautados por um certo humanismo e conduta criativa e produtiva para as suas próprias sociedades em seu torno. Como Heitor, Heitor Mac Gregor é um crente na sociedade em seu torno, sacrificando-se pela sobrevivência dela e o seu sucesso, crente na sua hierarquia, e um "soldado" esforçado dela, apesar de ser um de "cepa" bastante acima do outro popular "obrigado" a esse tipo de obediência (Heitor sendo um príncipe, enquanto Mac Gregor assume ao falar da sua vida pré-emigração que a sua família escocesa não era pobre mas remediada e tinha pequena propriedade que dava para sustento familiar e acumular receitas extra), e como Rob Roy MacGregor vem de um lar tradicionalista (Rob Roy era antigo apoiante dos Jacobitas, que numa espécie de guerra civil nas ilhas britânicas na passagem do século XVII para XVIII tomavam um papel similar aos Miguelistas da nossa guerra civil confrontados pela família liberal do pai de Domingues) e respeita a estrutura geral da sociedade apesar de se revoltar contra o pior dela de forma reformista, mantendo uma certa crença de que a sociedade poderá auto-regular os seus defeitos e melhorar-se, sendo que a existência de cavalheiros como Tom Everton ajuda a aumentar as probabilidades desse melhorar. O retrato de proprietários torna-se particularmente interessante quando sabemos que Domingues foi na juventude um colaborador do jornal anarquista sindicalista revolucionário A Batalha. A obra de um autor é sempre representativa da crença do próprio, especialmente quando está a escrever ficção mainstream que é lucrativa numa sociedade a que eles se opõem (ou opunham)?
Como em As Aventuras de Jim West, novamente temos o uso da narrativa histórica norte-americana como forma de subtilmente fazer afirmações como contextos similares no Portugal imperial (e mesmo pós-imperial), quanto a formação e louvor de carácter nacional e comentário sobre justiça social, tema que a sociedade portuguesa voltaria a usar, depois da textos como as novelas de Correia e esta de Parker/Domingues terem tido as suas publicações originais (as de Correia n'O Mosquito nos anos de 1930 e 1940 e A tatuagem misteriosa de Domingues que obviamente foi escrita antes da morte do autor em 1977 mas da qual não há até ao momento indicação de edição anterior à de 1979), com a "repescagem" destes textos para servirem de "anti-depressivos culturais" durante e após as duas primeiras intervenções do FMI em Portugal sob governos de coligação de Mário Soares com CDS e depois PSD (1978-79 e 1983-85). E esse, é assim o principal valor deste tipo de livros, que servem de incentivos morais para ideais e heroísmos utilitários como incentivadores, que atraem enquanto aventuras e permitem ao leitor identificar-se com os aventureiros desafiados pelos desafios e mistérios que surgem ante eles no enredo, como em quase todos os livros que temos vindo a resenhar, e continuaremos a resenhar. Este livro pode achar-se na maioria das bibliotecas municipais e algumas de outro tipo, sob a forma de cópias da Colecção Azul para raparigas primeiro editada pela editora Romano Torres e depois pela Casa do Livro Editora e por fim a Editorial Pública e o Círculo de Leitores, por vezes surgindo na mesma biblioteca (como na Municipal de Barcelos) sob a forma de cópias quer da edição de 1979 da Casa do Livro Editora quer da de 1990 da Editorial Pública (mais e melhor ilustrada, e 4 páginas mais longa devido a ter os capítulos separados por uma página em branco e uma página com cada título de capítulo).
Capa da edição de 1990 (de fsla.pt)


You still remember the second-to-last post, on As Aventuras de Jim West/"The Adventures of Jim West" by Raul Correia? If you did not like it you probably will not like this blog's 21st post but alas, endure yourself along if you want to keep reading, becaus we go back to a mid-20th century Portuguese western, now more concretely to a book of a mysterious author of westerns and "books for girls" called Ellery Parker. Well that would stay outside the focus of our blog if it were not for there not being any sign of any Ellery Parker outside the Portuguese editions (what points to the practice of the so-called "pseudo-translation") and the person presented as translator and adapter of the text, the Portuguese-Santomean autor Mário Domingues (1899 - 1977) being a frequent pseudo-translator, author under his own name and an aficionado of the crime-mystery genre (in which there exists another pen-name, Ellery Queen, shared by the American cousins Frederick Dannay and Manfred Bennington Lee, in turn pen-names to the true and more obviously Jewish names of theirs, Daniel Nathan and Emanuel Benjamin Lepofsky, being that this Ellery could well be inspiration for Domingues' false author). Now, in this western between childish and romantic-bucolic (narrated in the words of a narrator whose great-great-grandfather was participant to the narrated affairs, according to what was narrated to the narrator by his grandfather), our hero is Artur [sic] Everton, more than a century before the time of the narrator the owner of the Little Eden ranch in California(founded by his father Tom, already old at the time of the narration's start) near to a settlement called Fuenton, where he lives with the wife Helena and the daughter Alice, on a time in which it still were lacking railways, fitting roads and cars (Everton would spend at that time-point two weeks to go by ranch to the state capital of San Francisco and return), and the majority of the indigenous tribes had already been forcefully pacified and the relation between indigenous and settlers were generally peaceful despite there being some bands of renegades).
Mario Domingues by the late-1950sor during the 1960s.
The narrative has its true start (after a detailed description of the existence and routine taken by the residents from the Everton ranch) afterwards to one of the frequent business trips of Artur to S. Francisco (Fuenton is described as good trading centre, but had prices to the goods too risen-up due to the distance in relation to the centres that supplied it), during which the faithful employee Mac Gregor goes to Fuenton-City to drink a beer, and ends up throwing down with one punch a bully who tried to sit-down at his table without authorisation and who afterall was Big Dick (a good pun for an English-speaking audience), the chief of one of the most feared hoodlum gangsof that time-point and that thanks to that throwing-down is finally detained by the sheriff of Fuenton(with this Mac Gregor earns 2000 dollars «for one jab» according to Parker/Domingues). In the following paragraph, already ten years afterwards, the employee of Little Eden still receives praises anytime he visits Fuenton because of the deed; at the same time, Artur leaves once again on trip and afteran unexpected delay that worries the family (despite the strong gang of Big Dick already well back having been destroyed), it arrives a messenger cowboy some time after, who reports that in half an hour Artur shall arrive with a big surprise. It is a little boy that would not have more than 7, 8 months-old, with brown almost blond hair and dark brown almost black eyes that had been abandoned, whom Helena right-away grabs-up and to whom she grows affectionate with (more so, compensating with the newly-arrived an old lamenting of the Everton couple of lacking a male heir).
And through this narrator not exactly omniscient but that knows well the narrative that is external to it and knows it through his grandfather's narrative (which on his turn his grandfather, the narrator's great-great-grandfather,narrated to him) that the plot of A tatuagem misteriosa/"The Mysterious Tatoo" goes moving on, with Alice growing affectionate to the one she takes over as "brother" while Artur fears if they should not avoid to adopt already the child maybe not that abandoned, till they find out in washing up the child (that by the ache that the headwashing gives him it is clearly something he is not used to) dessed in a dirty shirt that she has an anchor tatoo baddly done on black ink. Atfer that (and this is interesting episode given Domingues' mixed ethnicity), the couple of black servants bought as slaves first and then enfranchisement by Tom Everton called Maria and Sam take care of the child on Helena's ordering, being on their purpose that the narrator describes how in times (before Sam and Maria start to be appreciated by everyone within Fuenton and surroundings) once Sam involved himself into a fight first with one man and afterwards with several cowboys that who do not accept that «negroes» be served in that place (despite Sam and Maria being allways there served, due to being servants to the respected Evertons), and how Tom had taken then thing then as personal offense and went personally to beat Sam's aggressor, breaking him the 3 front teeth (and giving him the new nickname of Toothless), and finally wegot to know the circumstances of the finding of the child by Artur Everton, in a place where it only were left the burnt remains of a likely hut.
Afterwards to being visited one night on the ranch by the sheriff Jaime Craigh, it starts a sarch by the latter and his 2 deputies for the eventual parents to the child (aided by Artur and Mac Gregor), but facing the risk of the child being alone, the little-boy is effectively adopted under the name Eduardo [sic] (just like Mac Gregor, although later it appears the incosistency of Mac Gregor later in the book saying that he is called Heitor... like his father), for much enjoyment of Helena and Alice. During the investigation ride possee of the sheriff, deputies, Artur and Mac Gregor, the latter talks to the others of his craddle in Scotland (in a village near the Loch Ness), of how he passed (afterwards to going off there into America behind the back of the parents with money earned on the tillage put aside hid from sight by him) more than half his life in America (he had departed with 17 years-old) and loved California only second to Scotland, and above all the Little Eden ranch where Tomás Everton had took him in and permited him to live on the USA at a time-point in which the Scotsman almost prepared himself to return (poorer) to the homeland. After Mac Gregor ending his story is it that Craigh starts his investigations and enquiries throughout the trekking by the surroundings of S. Francisco and Fuenton-City, and on a sierra ridge where a small (that had been enormous before the clash wih the whites) American Indian tribe lead by the aged chief Black Eagle lives with some prosperity on relatively fertile soil. It is Black Eagle who gives the first concrete informations to the search party, as some «palefaces» that said themselves sheriff Craigh men worked on a hut in whose remains Artur had found th little-boy.
In a certain way there are stylistic and plot similarities towards the previous As Aventuras de Jim West/"The Adventures of Jim West" by Raul Correia, with equal familial, adventures and mysteries that draw apart the family, stories of family start-overs (although clearly ehere there is not a narrative of migration and colonisation but already some generations after the civilisational rooting-in), a narrative of numeric-increase of a nuclear family (in this case not by natural increase of the same by adoption) and confrontation with outlaw enemies (here more whites than American Indians, maybe by the background itself half-breed from a type of "indigenous-folks", in the case Angolan ones, of Domingues' compared with Correia, due to that being more positive the author of this work in the portrayal of the American Indians and only applying the stereotypical American Indian language to a certain extent) and again a return to the family quest whose challenges have to be overcome (the youthful past of Domingues as pioneer of the anticolonialist and minoritarian migrant in Portugal and indigenist movements in Africa is worth noting in the ambiguity of this work's indigenous friendly but not anti-white-settler feeling and focus on white settlers). We can yet ask ourselves if the fact of being born in an african colony uninhabited before the colonisation and exploration of sugar mills and slave plantations and as son of two settlers to his African insular land (one continental african and the other european) in a land where even the blacks were non-indigenous displacees, made him have more sympathy for the american blacks than for the american natives and even be relatively positive towards the white American settlers (which an African writer on a land with black indigenous population probably would no be).
The dialogues lean as much unto the melodramtic and expansive lines as to the simple and concise lines, both though giving clues about the well individualised nature of each character and giving out lessons about a certain vision of society as much of the post-settling of the West America as of the Portugal of the 20th century (united much by the ideal of the selfmade man, fitting with the profile of Domingues himself, a youngman from SaoTome raised by the Portuguese family who would become a visible journalist, writter, propulariser of history in a kind of Félix Rodríguez de la Fuente or José Hermano Saraiva of the book world before Rodríguez de la Fuente or JHS became visible on television, and publisher of cheap "pop" literature editions). Maybe the biggest example of that would be the dialogue of Heitor Mac Gregor (name that recalls two "borderland" heroes, the Trojan Hector/Heitor of the Trojan War and the Robert Roy MacGregor, more known as «Rob Roy», the cattle-herder turned outlaw and guerrilla from the Scottish Highlands, from where the fictional Mac Gregor is also native to), supported by Artur Everton and Jaime Craigh, that support together Tom Everton as example of the ideal "creative capitalist" businessman spirit:
«Thou say a great trut conceded Mac Gregor.  Rarely the names match with the things. But in what concerns to your ranch, we notice one exception: It is a Little Paradise. I congratulate you for it.
The congratulations go all towards my father  came to aid Artur with enthusiasm.  He did not limit himself to pioneer open the land and to turn it productive; it pioneered open the soul of many a rude folk, in it planting the goodness, the tolerance, the duty of us helping each other. You mister know, as no one else does, that in our ranch even the animals are treated humanely.
 Yes, I know it so, everybbody knows it throughout these surrounds  said Jaime Craigh. —It would desire many people of this world to be treated by their fellow-man like the animals are treated on the Little Eden.»
The interest of some dialogues like this is to see that we do not have an apologia of landowners and colonisers in themselves on the part of and author that wrote and lived most of his life under the Portuguese Military (or National) Dictatorship and the New State, but a praising of landowners and colonisers when they are to the level that the status of elite "demands them", when they are lined-up along humanism and creative and productive conduct for their own societies around themselves. Like Hector, Heitor Mac Gregor is a believer in the society around about himself, sacrificing himself for the survival of it and its success, believer in its hierarchy, and a industrious "soldier" of it, despite being one of "stock" quite above the other commoner "forced" to that kind of obedience of another (Hector being a prince, while Mac Gregor assumes in talking of his own preemigration life that his Scottish family was not poor but comfotably-off and had small estate that worked for family support and to accumulate extra revenues), and like Rob Roy MacGregor comes from a traditionalist home (Rob Roy was a former supporter of the Jacobites, that in a kind of civil war in the British isles on the passage from the 17th to the 18th century took a role similar to the Miguelists of the Portuguese civil war, opposed by the liberal family of Domingues' father) and respects the general structure of the society despite having to rebel himself against the worst of it in reformist fashion, keeping a certain believe that the society can self-regulate its flaws and improve itself, being that the existence of gentlemen like Tom Everton helps to increase the probabilities of that improving. The portrayal of property-owners in this book becomes particularly interesting when we know that Domingues was in his youth a collaborator of the revolutionary syndicalist anarchist newspaper A Batalha ("The Battle"). Is an author's work always representative of one's believes, especially when he is writing mainstream fiction that is profitable in the society they oppose (or opposed)?
As in As Aventuras de Jim West/"The Adventures of Jim West", again we got the use of the North-American historical narrative as way of subtlelymake statements as similar contexts on the imperial (and even post-imperial) Portugal, about the formation and appraisal of the national character and commentary on social justice, theme that the Portuguese society would go back to use, afterwards to texts like the novellas by Correia and this one by Parker/Domingues having had their original publications (the ones by Correia on O Mosquito in the 1930s and 1940s and A tatuagem misteriosa/"The Mysterious Tatoo" by Domingues that obviously was written before the author's death in 1977 but of which there is as of now indication of edition previous to the 1979 one), but the "fishing back up" of these texts to serve as cultural antidepressants" during and afterwards to the first two IMF interventions in Portugal under the coalition governments of the Socialist Mario Soares with Democratic and Social Centre and afterwards Social Democratic Party (1978-79 and 1983-85). And that, is thus the main value of these types of books, that serve as moral incentives for ideals and heroism as utilitarian as spurring, that attracted while adventures and permit to the reader to identify one's self with the adventurers challenged by the challenges and mysteries that come up before them in the plot, like in all the books that we have come to write-up on, and shall keep writting-up on. This book can find itself in most Portuguese municipal libraries and some of other type, in the shape of copies of the Colecção Azul ("Blue Collection") for girls first published by the Romano Torres publisher and afterwards by the Casa do Livro Editora publisher and at last by the Editorial Pública publisher and the Círculo de Leitores book sales club, sometimes appearing in the same library (like the Barcelos Municipal one) in the shape of copies both of the 1979 edition from the Casa do Livro Editora publisher and of the 1990 one from the Editorial Pública publisher (more and better illustrated, and 4 pages longer due to having the chapters separated by a blank page and a page with each chapter title).
Cover of the 1990 edition (from fsla.pt)

terça-feira, 5 de maio de 2015

"As Três Mulheres de Sansão" e "Aventura Maravilhosa de D. Sebastião", Aquilino Ribeiro // "The Three Women of Samson" and "Wonderful Adventure of Don Sebastian", Aquilino Ribeiro

Começando esta outra publicação dedicada a mais de uma obra (novamente de Aquilino e juntando texto mais curto e um romance e novamente com uma certa união de tema e tom), devo primeiro (falando relativamente à primeira das duas obras aqui em causa) declarar que conhecia (como muita gente) a estória do juiz e herói bíblico Sansão e da sua perdição por Dalila perfeitamente, mas não sabia que a sua narrativa havia sido tratada literariamente por um autor Português, e logo o nosso 'velho amigo' Aquilino Ribeiro (estamos, ao contrário do caso do Romance da Raposa ou d'O Malhadinhas, perante obras hoje menos conhecidas deste autor). O herói bíblico (tal como o herói histórico no segundo texto que será visto nesta publicação) pode ter algumas semelhanças de tipo com outras personagens aquilinianas (embora a prosa regionalista aquiliniana consiga dar a Sansão um certo "jeito" Beirão), mas é um herói sobrehumano bíblico e isso faz toda a diferença em relação aos heróis típicos do autor, apesar de este texto ser tão dado a subtextos sociais e políticos como temos visto em outras obras de A. Ribeiro.
Ora, embora o estilo característico do autor esteja aqui como usual nas suas características obras, quem não goste muito do seu estilo e do tipo de enredos que costuma ficcionar, não se deve preocupar demasiado porque o enredo no primeiro texto não é dele (como no segundo em parte vem da história e lenda pátrias, com mesmo um pouco da ópera oitocentista Dom Sébastien de Gaetano Donizetti, embora com o elemento romântico em torno de Sebastião e uma Moura convertida removido e o regresso do Rei passando do tempo do segundo primo, ou tio na ópera, e rival de Filipe II de Espanha ao trono de Portugal, o Prior do Crato D. António, para o tempo do tio D. Filipe II de Espanha ele próprio).
Na novela As Três Mulheres de Sansão (que abria o volume do autor que incluía também Aninhas, que já passou por este blogue), encontramos (com 18 anos) Sansão, filho de um casal comum da tribo de Dan de Israel na antiga Canaã (o autor usa o Palestina usual no seu tempo e "crismado" pelos Europeus no seguimento do exemplo romano) que após um longo período sem filhos finalmente têm um filho que devido ao voto feito antes do nascimento, o dão para ser educado dentro do exemplo dos Nazirenos, uma espécie de ordem monástica dos antigos Israelitas. Apesar dessa educação e profissão nazirena, Sansão dá-se a apetites pelo sexo oposto pouco em concordância com essa vida supostamente celibatária, e dentro em breve ele dar-se-à mais a heroísmos que a vida de meditação. Mas são esses que dão a ele notoriedade, os seus primeiros contactos com o género oposto, e um nível maior de estatuto entre o seu povo, e faz dele um juiz dos Hebreus.
A ironia da luxuria de Sansão (quando este é supostamente um celibatário eremita) é o grande tema do livro (ou não falasse o título de Três Mulheres), e o texto narrado na terceira pessoa usa a passagem de Sansão de amante em amante para constituir o essencial do seu enredo, como a estória do "grande homem" que (embora não devesse) tem umas "grandes mulheres" por trás. E com isto, Aquilino aproveita para falar de Deus e dos pactos que os homens fazem com essa entidade em que acreditam, e para falar de liderança, vida amorosa e moralidade entre outros temas. O texto passa pelas relações de Sansão com o seu amor dos 18 anos com quem acaba por casar, depois pelo seu casamento com uma Filisteia (membro de um povo rival dos Israelitas, os Filisteus) da cidade de Timná (casamento que está ligado com dois dos episódios mais célebre do mito de Sansão: a sua luta com o leão e o enigma de Sansão aos convivas Filisteus do seu casamento), e finalmente a lendária Dalila, outra Filisteia, que seduz Sansão a mando dos seus reis para tentar descobrir o segredo da força de Sansão para o 'quebrar'.
Outros Dalila e Sansão de "jeito" lusófono: Mel Lisboa e Fernando Pavão na minisérie Sansão e Dalila da Rede Record de 2011.
O texto podia ser por si só considerado interessante (e mais que uma mera noveleta fabulesca juvenil) pelo factor humano dado pelo interesse dos episódios amorosos do juiz Sansão (e as implicações religiosas e morais de alguém com o voto de Sansão se envolver amorosamente sequer). Mas para além disso há toda a temática que vem com a questão de Sansão, apesar de não ser um portento de moralidade e inteligência, ter uma certa "pureza" dos simplórios, mas mesmo alguém com essa "pureza" ser corruptível (pela riqueza, pelo conforto, pela luxúria, pela tentação, pelo facilitismo). O autor insinua como mesmo aquele de fundo humilde e sem educação passada ou riqueza, tendo as "portas" dessa sociedade abertas a ele, deixa-se envolver pela vida cortesã e aristocrata que encontra, e que lhe põe a consciência pessoal dormente, e esquecendo-se de todo o seu passado, da pobreza de que vinha, e do velho espírito de combate aos poderosos e aos inimigos étnicos dos Hebreus que ele tinha, passando a envolver-se agora com esses mesmos poderosos e etnias seu opositores, e deixa a sua família, os seus e mesmo Deus para trás, e prefere em seu lugar a nova glória e conforto com novas mulheres Filisteias. Só o desastre em que cai graças à traição de Dalila o recorda de tudo isso e lhe cria o arrependimento que o leva a pôr-se nas mãos de Deus uma última vez e rezar pela força para um último esforço heróico salvador do seu povo e redentor dele próprio.
A narrativa termina bem, apesar do fim trágico para Sansão mas redentor e agridoce (sempre melhor que azedo puro), levando os seus opressores Filisteus com ele. Sintetizando, esta obra de Aquilino é outro exemplo de uma tendência presente num certo meio artístico e intelectual português dos inícios-meados do século XX, em que um semi-agnosticismo aberto à existência de Deus e que pensa sob a problemática da Sua existência se misturam com existencialismo e um certo espírito revolucionário e humanista (que vemos também no José Rodrigues-Miguéis de O Milagre Segundo Salomé, em Miguel Torga e em José Régio), e é talvez isso o que dê verdadeiro interesse, a um texto que conta uma estória que não é original e cujas personagens já nos são familiares, para os leitores Portugueses desde o tempo em que o volume As Três Mulheres de Sansão/Aninhas ganhou o primeiro Prémio Ricardo Malheiros em 1933 até hoje.
Já o romance Aventura Maravilhosa de D. Sebastião, Rei de Portugal, Depois da Batalha com o Miramolim de 1936 (nalgumas edições já deste século somente editado como Aventura Maravilhosa), abre com o final mal sucedido da Batalha de Alcácer Quibir em que (segundo relativamente fielmente os registos históricos sobre o caso) vários nobres e soldados-rasos caem ante o avanço dos Marroquinos liderados pelo sempre algo comicamente traduzido Muley Maluco, e o próprio Rei D. Sebastião, neto por via materna do Imperador Carlos V do Sacro Império e Rei de Espanha (cujo elmo leva em batalha), cai por terra no meio da poeira que lhe enfraquece a visão e (aqui Aquilino segue a via que pode não ser do facto histórico) sobrevive e começa a sua caminhada para longe do campo de batalha, acompanhado a princípio de um popular anónimo como todos (que no final da batalha o Rei não ousara matar ao ver os seus olhos «de rafeiro») e o Frei Salvador da Torre (monge ambiguamente descrito como «negro» ou em tom de pele, em ascendência ou em hábito de ordem, que reconhece o Rei quando este passa por ele).
O enredo verdadeiramente começa (depois deste ponto essencial do enredo, da lendária e nunca provada sobrevivência do Rei) no II capítulo, em que um frade e o nobre D. Manuel Antunes falam sobre o suposto retorno do corpo de D. Sebastião quando já reinava D. Filipe II de Espanha como Filipe I de Portugal, e o texto narrado por um narrador omnisciente procede para mostrar D. Manuel a ter revelado a ele pelo freire a face de um prisioneiro recente nos cárceres, cuja aparência é obviamente reconhecida como a do defunto Rei (a cena está escrita com umas semelhanças textuais interessantes com a cena em que o Romeiro do Frei Luís de Sousa do nosso 'velho amigo' Garrett revela a sua identidade). É a partir disto que Aquilino constitui não só a "matéria romanesca" do romance mas também a "desculpa" para Aquilino mostrar as convenções e luxos da corte filipina e assim fazer a sua crítica da monarquia cortesã de acordo com a sua inclinação republicana e populista (continuando um sub-texto que começara nas cenas da Batalha, em que a organização pomposa, convenções cavalheirescas e etiquetas renascentistas europeias para o campo de batalha ditam a derrota e massacre dos Portugueses, seus mercenários e seus aliados Marroquinos).
O valor que o texto ganha já de si com os episódios em si e o subentendido criticismo da pompa cortesã, enriquece-se com um 'valor acrescentado' da evolução do próprio D. Sebastião, de príncipe mimado considerado por todos a grande esperança para um futuro glorioso de Portugal e lisonjeado de forma interesseira por todos os cortesãos (embora o livro comece já depois de Alcácer Quibir, ao longo do texto o passado cortesão do antigo soberano é mencionado retroactivamente de tempos e tempos), a figura mais madura e marcada pelo caminho que percorreu e pelas experiências que passou até acabar (como o reencontramos no II capítulo) no calabouço, e que passou depois de aí chegar. Mas ainda mais interessantemente, é que apesar desse amadurecimento, D. Sebastião não parece mais capaz do sucesso do que fora com o 'estrago' de antes, e novamente inimigos mais fortes e sabedores (desta vez o seu tio e rival pela coroa Filipe II, que como Maluco em Alcácer-Quibir a princípio "sua as estopinhas" e perde sono, aqui literalmente, com sucessos iniciais de D. Sebastião, para no fim triunfar sobre Sebastião) e as várias jogadas cortesãs que continuam a iludir a sua pessoa ainda ingénua e de certa forma 'pura' (embora paradoxalmente muito devida à 'corrupção' pela sua criação resguardada).
O romance acaba, de acordo com a história, com D. Filipe II no trono de Portugal e D. Sebastião morto como ex-Rei, e o médico Castelhano de D. Filipe a ficar com remorsos quanto ao fim a dar ao antigo Rei Português querido pelo Rei Luso-Espanhol, enquanto porém o nobre Português D. Cristóvão de Moura se aproxima do novo Rei de Portugal (e se afasta da "nacionalidade"). Mais que enquanto obra de temática histórico-aventureira acessível a sensibilidades mais jovens (como às adultas) e de boa legibilidade, Aventura Maravilhosa de D. Sebastião tem o peso que lhe é dado pelo que a obra nos insinua sobre corrupção dos poderosos e sobre o pior das relações luso-espanholas em momentos de tentativas de assimilação desigual. E talvez por isso é que ainda hoje, em tempos em que o romance histórico surge mais "gasto até à exaustão" (visto que quase tudo o que é escritor iniciante parece tentar começar por obras com enredos ou personagens de alguma base histórica eventualmente para não ter de inventar demasiado) e em que este estilo de aventuras históricas "já não há como antigamente", este texto ainda tenha algum interesse se pegado pelo leitor actual, e porque talvez seja um boa obra para (como outras pelo mundo fora) "emigrar" para leitores de idades mais jovens em iniciação à leitura e à literatura.
D. Sebastião, quadro Carlos Barahona Possolo (1992)
Estes dois livros encontram-se ainda à venda em várias edições (e de várias editoras, mas principalmente da Bertrand Editora, tradicional editora da obra deste autor) e em alfarrabistas, para além de existirem exemplares de ambos ou de pelo menos um dos dois em quase todas as bibliotecas municipais e várias outras.


Starting this other post dedicated to one more work (again by Aquilino and joining shorter text and novel with a certain union of theme and tone), I must first (talking relatively to the first of the two works here at stake) declare that I knew (as many a folk) the story of the biblical judge and hero Samson and of his damnation over Delilah perfectly so, but did not know that his narrative had been literarily given a treatment by a Portuguese author, and just exactly our 'old friend' Aquilino Ribeiro (we are, unlike the case of Romance da Raposa/"Romance of the She-Fox" or o' O Malhadinhas/"The Little Tabbie", before less known works of this author). The biblical hero (just like the historical hero in the following text that shall be seen in this post) may have some similarities with other aquilinian characters (although the regionalist aquilinian prose can give to Samson a certain Beiras "knack"), but this a biblical superhuman hero and that does all the difference in relation to the author's typical heroes, despite this text being as given to social and political subtexts as we have seen in other works by A. Ribeiro.
Well, although the author's characteristic style be here as usual in his characteristic works, who does not like much his style and the type of plots that he usually fictionalises, must not concern himself too much because the plot in the first text isn't his (as the second in part comes from the Portuguese homelander history and legend, with even a little of the eighteen-hundredth opera Dom Sébastien by Gaetano Donizetti, although with the romantic element around Sebastian and a converted Mooress removed and the return of the King passing from the time of the second cousin, or uncle in the opera, and rival of Philip II of Spain to Portugal's throne, the Prior of the Crato religious-military order Don António, unto the time of his uncle Don Philip II of Spain himself).
In the novella As Três Mulheres de Sansão ("The Three Women of Samson", which opened that author's volume that included also to Aninhas/"Little-Ana", that already passed by this blog), we find (at 18 years-old) Samson, son to a common couple from Israel's tribe of Dan on ancient Canaan (the author uses the Palestine usual in his time and "christened by the Europeans after the Roman example) that afterwards to a long childless period finally get a son that due to the vow made before the birth, give him away to be educated within the example of th Nazirites, a kind of monarchist order of the ancient Israelites. Despite that education and nazirite profession, Samson gives himself to appetites for the opposite sex little in agreement with that supposedly celibate life, and soon he starts to give himself more to heroics than to the life of meditation. But it are those that give him notoriety, his first contacts with the opposite gender, and a greater level of status amongst his people, and makes out of him a judge of the Hebrews.
The irony of Samson's lust (when he is supposedly a hermit celibate) is the book's big theme (after all it did mention the title the Three Women), and the text narrated in the third person uses the passage of Samson from lover to lover to constitute the thick of the plot, as the story of the "great man" that (although he shouldn't) behind himself has some "great women". And with this, Aquilino takes opportunity to talk of God and of the pacts that men make with that entity they believe in, and to talk of leadership, love life and morality among other themes. The text passes through the relationships of Samson with his 18 year-old love with whom he ends up marrying, afterwards by the marriage with a Philistine (member of a rival people to the Israelites) from the city of Timnah (marriage with is connected with two of the most celebrated episodes of the Samson myth: his fight with the lion and the riddle of Samson to the Philistine callers on his wedding), and finally the legendary Delilah, another Philistine, who seduces Samson on behest of her kings to try to discover the secret of Samson's strength so as to 'break' him.
Others Delilah and Samson of Portuguese-speaking "knack": Mel Lisboa and Fernando Pavao in the 2011 Rede Record TV miniseries Sansão e Dalila/"Samson and Delilah".
The text could in itself be considered interesting (and more than a mere juvenile fabuled novelette) for the human factor given by the interest of the amorous episodes of the judge Samson (and the religious and moral implication of someone with Samson's vow to get amorous involved at all). But beyond that there is the whole thematic that comes with the question of Samson, despite not being a might of moraliy and intelligence, having a certain "purity" of the simpletons, but even someone with that "purity" being corruptible (by wealth, by comfort, by temptation, by laxity). The author insinuates how even that with humble background and without past education or riches, having the "doors" of that society open to him, lets himself get enveloped by the courtly and aristocratic life that he finds, and to him puts the personal conscience dormant, and forgetting himself of all his past, of the poverty that came, and of the old spirit of combat to the mighy and the ethnic enemies to the Hebrews that he had, passing to involve himself with those same mighty and ethnicities opponents of his, and leaves his family, his own and even God behind, and preferes in their place the new glory and comfort with news Philistine women. Only the disaster into which he falls thanks to Delilah remembers him of all that and begets on him the regret that takes him to put himself unto the hands of God one last time and to pray for the strength for one last heroic effort saving to his people and redeemer to himself.
The narrative ends well, despite the tragic end for Samson but redeemer and bittersweet (always better than pure bitter), taking his Philistine oppressors with him. Sinthesising, this work by Aquilino is another example of a growing red presen on a certain early-mid-20th century Portuguese artistic and intellectual milieu, in which a semi-agnosticism open to the existence of God and that thinks under the problematics of His existence mix themselves with existentialism and a certain revolutionary and humanist spirit (that we see also on the José Rodrigues-Miguéis from O Milagre Segundo Salomé/The Miracle According to Salome, on Miguel Torga and on José Régio), and it is maybe that what gives it real interest, to a text that tells a story that isn't original and whose characters already are familiar to us, to the Portuguese readers since the time in which the volume The Three Women of Samson/Little-Ana won the first Ricardo Malheiros Award in 1933 till today.
Now 1936's novel Aventura Maravilhosa de D. Sebastião, Rei de Portugal, Depois da Batalha com o Miramolim ("Wonderful/Wondrous Adventure of Don Sebastian, King of Portugal, afterwards to the Battle with the Miramolinus", in some editions already from this century just published as Aventura Maravilhosa/"Wonderful Adventure), opens up with the Alcazar El-Kebir in which (following the relatively faihful historical records on the affair) several nobles and foot-soldier fall before the advance of the Moroccans lead by the always somewhat comically in Portuguese translated Muley Maluco ("Muley Crazy") and at least alliteratively amusingly in English Muley Melec, and the King Don Sebastian himself, grandson by maternal conveyance-line to Emperor Charles V of the Holy Roman Empire and King of Spain (whose helmet he takes in battle), who falls on the ground in the middle of the dust that weakens him the sight (here Aquilino follows the pathway of what may not be historical fact), survives and starts his trekking faraway from the battle field, accompanied at first by a commoner anonymous as are all (who at the battle's ending the King had not dared to kill at seeing his «mutt» eyes) and the Friar Salvador da Torre (monk ambiguously described as «black» in either kin tone, ancestry or order cloak who recognises the King when he passes by him).
The plot truly begins (afterwards to this essential point in the plot, of the legendary and never proven survival of the King) in the II chapter, in which a friar and the nobleman Don Manuel Antunes talk on the supposed return of Don Sebastian's body when it already reigned Don Philip II of Spain as Philip I of Portugal, and the text narrated by an omniscient narrator procedes to show Don Manuel having revealed to himself by the friar the visage of a recent prisoner in the gaols, whose appearance is obviously recognised as the deceased King's (the scene is written with some interesting textual similarities with the scene in which the Pilgrim from Frei Luís de Sousa/Brother Luiz de Sousa by our 'old friend' Garrett reveals his pre-Alcazar El-Kebir identity).It is out of this that Aquilino puts up not ony the "novelesque mater" of the novel but also the "excuse" for Aquilinoto show the conventions and luxuries of the don-philipean court and so to do his criticism of the courtly monarchy in agreement with his republican and populist leaning (continuinga subtext that had started in the scenesof the Battle, in which the pompous organisation, chivalresque conventions and european renaissance etiquettes for the battlefrield dictate the defeat and massacre of the Portuguese, their mercenaries and their Moroccan allies).
The value that the text gains in itself with the episodes in themselves and the innuendo criticism to the courtly pomp, enrichens itself with the 'added value' of the evolution of Don Sebastian himself, from spoiled prince considers by all the great hope for a glorious future for Portugal and flattered in self-interested way by all the courtesans (although the book starts already after Alcazar El-Kebir, throughout the text the courtly past of the former sovereign is mentioned retroactively from time to time), the figure maturer and marked by the path that he went through and by the experiences that he passed through till ending (as we shall meet him again on the II chapter) on the prison-black-hole, and that he passed through after arriving there. But even more interestingly, it is that despite that maturing, Don Sebastian does not seem more capable of success than he had been with the 'spoiling' from before, and once-again stronger and more knowledgeable enemies (this time his uncle and rival for the crown Philip II, who as Melec in Alcazar El-Kebir at first he "sweats it out" and loses sleep, here literaly, with the early successes of Don Sebastian, for at the end of it to triumph over Sebastian) and the several courtly powerplays that keep deceiving his still naive and in a certain way 'pure' (although paradoxically much due to the 'corrupting' by his sheltered upbringing).
The novel ends, accordingly to history, with Don Philip II on Portugal's throne and Don Sebastian killed as ex-King, and the Castilian doctor of Don Philip getting regrets about the end to give to the former Portuguese King wanted by the Luso-Spanish King, while though the Portuguese nobleman Don Cristovao de Moura does himself near to the new King of Portugal (and draws himself away from the "nationhood"). More than as work of historical-adventurous thematic accessible to younger (as to adult) sensibilities and of good readability, Wonderful Adventure of Don Sebastian has the weight that is given to it for what the work insinuates on the corruption of the mighty and on the worst of the Portuguese-Spanish relations in moments of attempt of unequal assimilation. And maybe because of that it is that yet today, in times in which the historical novel comes-off more "wore out till exhaustion" (seen that almost all that is beginner writer seems to try to start with works with plots or characters of some historical basis eventually for not having to make-up too much) eand in which this style of historical adventures "they don't make them like this any more", this text still got some interest if picked up by the current reader, and because maybe it be a good work for (like others across the world) "emigrate" to readers of younger ages while in intiation to reading and to literature.
D. Sebastião ("Don Sebastian"), picture by Carlos Barahona Possolo (1992)
These two books find themselves still for sale in Portugal on several editions (and by several publishers, but mainly by Bertrand Editora, traditional publisher of this author's work) and in old-book-sellers, beyond there existing copies of both in almost all Portuguese municipal libraries and several other.