terça-feira, 30 de junho de 2015

"Cafuso", Reis Ventura // "Free-Moor", Reis Ventura

Reis Ventura, o escritor hoje pouco recordado (fora o facto de ser polemicamente recordado como o poeta medíocre que bateu Mensagem de Fernando Pessoa para o Prémio Antero de Quental de Poesia de 1934, um evento muito mitificado e que é exposto mais detalhada e correctamente no sítio da Fundação António Quadros), mas literáriamente interessante (principalmente como prosador; como introdução. Manuel Joaquim Reis Ventura er um natural de Calvão, localidade de perto de Chaves, onde dá nome a uma rua, que se mudou para Angola, à qual dedicou boa parte da obra, sendo dos autores do Portugal colonial, e mesmo pós-colonial, que mais dedicou obras a este local e aos diversos tipos da população da época colonial deste país, incluíndo a indígena negra, e retornou a Portugal só após a independência do território, como parte dos duvidosamente chamados, como algo falsamente monolítico, "retornados", tendo vivido entre 1910 e 1988, quando faleceu em Oeiras), surge aqui com este romance pela primeira vez numa publicação do blogue Classicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics.
Aqui ele dá-nos a estória algo autobiográfica de um colono Português de Angola, José da Silva (que é o próprio narrador da estória em que é protagonista, e é uma personagem com perfil bastante próximo do próprio autor, podendo dizer-se que só falta ele ter sido poeta e tirado um prémio de poesia a Pessoa); esta linha de inspiração autobiográfica começara na obra de Reis Ventura logo no seu poema de estreia premiado A Romaria (livro com probabilidade de achar em bibliotecas um pouco ao nível de Cafuso, isto é, não sendo "banal" achá-lo mas sendo algo comum), em que narra a viagem de um grupo de personagens, incluindo jovens de vocação religiosa como este José da Silva, que também viajam e encontram os seus caminhos enquanto se opõem a inimigos da "política do espírito" nacional da altura como uma personagem que representa um Bolchevique, e surgiria novamente nalgumas das suas obras ficcionais em prosa, obviamente inspirado pelos relatos na primeira pessoa que enquanto jornalista se habituara a escrever (devo notar que para não 'sobrecarregar' este blogue com obras de Reis Ventura, nenhuma destas outras obras autobiográficas será aqui analisada).
Reis Ventura (cerca dos anos de 1950?)
Os leitores (todos vocês os 5) já conhecedores de Reis Ventura abre o livro esperando intriga, alguma aventura e "cor" local e de uma época colonial já há muito terminada para sempre, e no essencial "recebe em troca" da atenção dada ao livro isso tudo. O livro começa com José da Silva Taveira a descrever como tem «alguns estudos» e cursou Filosofia no Colégio (franciscano) de Santo António em Tuy, perto da fronteira com Portugal, onde tem o sonho de se formar no seu caminho planeado do sacerdócio. Eventualmente, José da Silva relata-nos a sua evolução de aspirante a padre, a aluno dos Franciscanos, a desencantado com a vocação, até deixar Tuy, voltar a Portugal e daí partir para Moçambique, e três anos depois para Angola, onde se radica de forma prolongada (tudo coisas que o próprio Reis Ventura vivenciou, antes e depois do ano da sua transição para África, 1934).
Boa parte do início do livro é constituída pela experiência seminarista do jovem José, e esta é representada de forma fortemente irónica e que provavelmente manterá o interesse do leitor e lhe estimulará ao riso (pelo menos a mim assim foi). Veja-se assim esta cena para prova:
«Entrei, muito acanhado, na pobre saleta, famosa em toda a aldeia pela sua mesa de centro e alguns móveis desirmanados que meu pai trouxera do Brasil. O sr. Padre Inocêncio lá estava, alto e encorpado, com a testa rompendo até à coroa por entre duas farripas altas de cabelos, a fitar-me com os olhos bondosos, por baixo das sobrancelhas espessas. Naquela sua voz sonora de prègador de nomeada, perguntou-me logo, sem rodeios:
– O menino quer ir para o colégio?
Colhido de surpresa, derivei para minha mãe um olhar indeciso.
– Vá, responde! – encorajou ela.
Na minha consciência infantil, entendi que me destinavam para padre. Ràpidamente, corri os olhos cobiçosos pela grande fila de botões que o austero franciscano ostentava na batina. Lembrei-me dos puxões de orelhas que tinha apanhado pela mania de tirar à braguilha das calças o material para o jogo do botão. E, no meu íntimo, concluí:
– "É furo!"
O sr. Padre Inocêncio, bem longe dos meus silenciosos cálculos, ergueu-me o queixo com dois dedos amáveis e, olhando-me com bondade, proferiu:
– É um colégio muito grande, numa cidade muito bonita. Queres ir?
Mirei-lhe novamente os botões da batina. Caramba! Eram mais de vinte, alinhados, pretos, luzidios... E, resolutamente, respondi:
– Eu quero, sim senhor.»
Esta parte da vida de José, da decisão de entrar para o colégio franciscano até à saída do mesmo, é essencialmente toda narrada neste tom, por vezes mais abertamente comicamente mas de forma sempre algo similar. Se isso é bom na "lista" do leitor, isso já dependerá de cada um. Um episódio mais notável e mais sério é o da paixoneta juvenil frustrada de José por uma Flaviense chamada Isa.
Fotografia de Reis Ventura nos tempos de seminário com os professores clérigos e os outros colegas de curso
De certa maneira, a representação social passando ao longo de vários ambientes sociais e a presença da sociedade africana (no meio e final do livro) pode recordar um leitor de outro livro de Reis Ventura, Filha de Branco, que espero que também venha a passar por este blogue (embora no caso de Cafuso este seja menos episódico e feito de quadros e seja mais de enredo coeso), e ambos os livros têm protagonistas dos quais sabemos q.b. da sua vida antes do início da narração mas que conhecemos principalmente pelo que o próprio enredo e as suas acções nos dizem das suas personalidades (de certa forma ainda em formação ante a realidade que confrontam, principalmente no caso deste José da Silva Taveira, que começa o livro ainda adolescente e que vemos crescendo até à idade adulta ao longo do enredo), e quer da Silva Taveira quer os múltiplos habitantes do muceque em Filha de Branco se assimilam com a realidade da África colonial (para os negros a habituação a uma nova ordem e aumento de vagas de colonização branca que lhes dão novos vizinhos, e para os brancos a habituação a todo um novo continente com uma nova realidade à qual a sua cultura de criação é essencialmente estranho).
Depois de desembarcar em Luanda no IV capítulo, a maioria do livro passasse nessa cidade e é principalmente dedicado à busca de sucesso comercial do jovem protagonista primeiro na insolvente Travancas & C.ª e por fim (por intervenção do protector padre de José) na Santos & Sucessores), junto com o amigo Adriano (conhecido dos tempos de Chaves que também para Angola migrara). Esta parte do livro envolve uma passagem para a vila de Lucala (no curso do rio homónimo) e trabalho comercial e em barcos a vapor na província angolana, momentos privados de lágrimas ante a cara de Isa de despedida (e igual quantidade de lágrimas quando o herói tenta escrever-lhe respostas), narrativas sobre o Zé do Telhado em Angola (como exemplo das "maroscas" feitas em comércio no interior da Angola colonial; isto explica o título com com a narrativa de um «rapazote esgalgado» sobre um cafuso, isto é, mulato escuro, que junto com o Zé do Telhado descobrem que um comerciante anda a enganar os trabalhadores e comerciantes locais pagando-lhes por baixo, situação "posta na ordem" pelo ex-quadrilheiro), pausas do trabalho passadas a esperar cartas de Isa nos correios de Lucala ou em bares afogando as mágoas, envolvimento do herói com uma negra local chamada Aninhas (obviamente nem a de Aquilino nem a de Garrett), explosões de ciúmes ante uma carta de Isa confessando uma nova relação e contacto de um José ainda sobranceiro com as festas de batuque locais (para ele bonita de ver «de longe» que «De perto, deita um fartum de cio que enjoa» e têm «um fedor de catinga, santo Deus»).
Placa à entrada de Lucala em 1974
Ao longo desta narração toda percebemos que o protagonista não se dá a actividades moralmente mais duvidosas ou a uma existência colonialista por visão desumanizada dos indígenas; fora um ou dois «pretalhadas» o livro até usa relativamente pouco o à altura da escrita corrente pretos a favor do mais actualmente utilizado negros e a linguagem até é bastante contida quanto a raça, sem deixar de tornar claro os preconceitos do protagonista recém-chegado da "metrópole mas aparentemente vistos negativamente visto que contrastam com a visão dos colonos mais antigos (embora o velho colono Transmontano Crispim mostre uma visão infantilizada do negro mas também uma visão de que o colono deve ser justo para além de firme; enquanto chefe de formatura dos trabalhadores de etnia Dembo a partir do XVI capítulo, José age assim e em poucos segundos esbofeteia um trabalhador que não trabalha porque não lhe apetece e depois pergunta-lhe pelo filho doente e diz que lhe mandará quinino para casa) e o livro não mascara a visão de hierarquia racial do Portugal da altura como com o contraste dado no XIV capítulo entre José ser disputado por mulatas ricas ou por brancas ricas), mas porque deseja conseguir enriquecer para casar com Isa (o que, graças à intervenção de Crispim que retorna à "província" para "meter uma cunha" ante o pai dela quanto a José, vem a acontecer algum tempo após o desembarque desta em Angola) e substituiu o sentido de missão religiosa do seminário pelo serviço secular a Portugal. E os seus trabalhos algo aventureiros (junto com muitos outros trabalhadores locais de todas as raças) conseguem ajudar a um certo progresso na área de Lucala então fundamentalmente ruralizada e muito mais atrasada que a capital provincial de Luanda; na zona de Lucala, José encontra os traumas históricos das guerras do militar João de Almeida contra os Dembos ainda bem frescos, com os brancos ainda temendo re-levantamento de um povo que só por campanhas de "conquista e pacificação" deixou a resistência (por isso os costumes e vivências portugueses parecendo sempre paranoicamente em perigo aos olhos dos colonos) e os negros tendo passado a ter uma visão do branco como capaz de quase tudo e tendo sempre os «sordados» atrás dele para sua defesa quando revolta ameaçava acontecer.
O major João de Almeida (c. 1908)
Neste blogue, que já cobriu tanto temas de viagem, aventuras e heroísmo benévolo beneficiando uma sociedade em geral, na moldura de pensamento de muitas obras analisadas antes desta, acaba por ser para nós compreensível o uso do contexto colonizador para passagem de mensagens éticas e de enredos de literatura clássica, visto que primeiro se vê aqui o colonialismo como feito pelos pobres do país colonizador e não como feito pela elite que mais lucra com este nem pelo establishment governamental, e aqui apresenta-se com um certo realismo uma África colonial portuguesa que já não existe e que não é completamente idealizada (partes mais imorais da organização social deste período estão nada escamoteadas aqui, embora só hoje possam ser vistas com os olhos com que não seriam vistos na altura), e como é convencional e normal para a visão colonialista da altura da obra (tida também pelo autor), faz-se uma diferença entre uma espécie de "bom colonialismo" (noblesse oblige e produtivo, aberto ao intercâmbio cultural e com alguma flexibilidade de hierarquia étno-racial) e "mau colonialismo" (simplesmente explorador económico, fechado às populações locais e seus costumes e rígido em normas), sendo os "maus colonialistas" apresentados e criticados em algumas personagens colonas e trabalhadoras ao longo do enredo e mesmo na mundo-visão do José recém-chegado, sendo apresentado como fundamentalmente ideal uma sociedade lusófona em que se encontram no meio as duas populações maioritárias de brancos parcialmente africanizados e negros e mulatos que trabalham junto com os brancos (ao longo do romance surgem por igual quer situações em que os indígenas trabalham para quer com colonos) e parcialmente europeízados. Assim a apresentação hoje de um livro como este parece não ser mais que apresentar um escapismo que entretem, de um sonho de viajar aos trópicos e de feitura de uma nova vida pelo trabalho, e a esperança de que um trabalho de Portugueses em Angola e vida junto com as populações locais seja algo mais justo e ideal do que por vezes é na realidade (e hoje poderíamos dizer o mesmo quanto a Angolanos expatriados para trabalho em Portugal).
Amostra da população multirracial da área dos Dembos por volta do começo da "Guerra Colonial" ou "de Libertação de Angola" em 1961
Todas estas questões que Cafuso como outras obras de Reis Ventura levanta, são testamento à qualidade da escrita de um autor que deixou à literatura portuguesa um certo número de obras de não-ficção, ficção, poesia e mesmo de pintura, que ajudou a africanizar a literatura colonial portuguesa e que morreu antes de ver o surgimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a libertação de Timor-Leste dos Indonésios, a saída lusa de Macau (e posterior reaproximação Portugal-China através desse ponto do mundo) e esta espécie de nova fusão nacional de Portugal e Países Africanos de Língua Oficial Portugueses (PALOPs, ex-colónias) e mesmo Timor-Leste, em que dinheiros e imigrantes económicos de Portugal fluem para Moçambique e Angola e o mesmo no sentido oposto, que empresas portuguesas têm secções para PALOPs e empresas de PALOPs têm secções para Portugal, que um Indo-Português é um actor político relevante, em que a música de PALOPs usa Portugal como local de 'aclimatização' e 'transmissor' para fora de África, que novas mestiçagens e 'contrafações' de assimilações se fazem, que parece haver 'colonização de dois sentidos' e toda a lusofonia se guia pela regra "O que é meu, é meu, o que é teu, é nosso" apesar de a perspectiva europeia parecer muitas vezes ainda a do colonialista progressista benévolo de outros tempos e a africana muitas ainda a do colonizado independentista "à defesa", seria interessante pensar o Reis Ventura (assim involuntariamente tornado no 'profeta' deste novo 'império da língua Portuguesa' solto e involuntário; curiosamente Reis Ventura foi também autor de ficção científica aportuguesada no modelo de Nunes da Mata, no romance O Homem do Outro Mundo, uma incomum defesa do colonialismo português usando uma estória de ETs) e outros autores colonos/colonialistas "africanizantes" teriam a dizer sobre isto, e a re-leitura das suas obras é a forma possível de 'consultar a sua opinião'. Pode ser que assim se recupere as obras de Reis Ventura e o autor do seu quase total desconhecimento hoje, descobrindo uma escrita que ainda pode ensinar sobre coragem e honra entre homens e mulheres, entreter com muitas aventuras e dar que pensar. Este livro é hoje raro e presente em poucas bibliotecas das maiores (na Biblioteca Pública de Braga há duas cópias e na Biblioteca Nacional de Portugal está presente a obra completa deste autor).


Reis Ventura, the writer today little known (outside the fact of being controversially remembered as the mediocre poet that beat Fernando Pessoa's Mensagem/Message book for the 1934 Antero de Quental Poetry Award, an event very mythified and that is exposed more detailed and correctly in the website of the Fundação António Quadros foundation), but literarily interesting (mainly as prose-writer; as introduction, Manuel Joaquim Reis Ventura was a native of Calvao, locality near Chaves city, where he names a street, who moved to Angola, to which he dedicated good part of his oeuvre, being one of the authors from colonial Portugal, and even postcolonial, that the most did dedicate to this place and the diverse types of the colonial period population, including the black indigenous ones, and returned to Portugal only after the territory's independence as part of the doubtfully called, as something falsely monolythic, "returnees", having lived between 1910 and 1988, when he passed-away in Oeiras), he comesup here with this novel for the first time in a post of the Classicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics blog.
Here he gives us a somewhat autobiographical story of an Angola Portuguese settler, Jose da Silva (who is the narrator himself of the story in which he is lead, and is a character of profile quite close to the author himself, one might say that it only is missing him having been a poet and taken away an awardto Pessoa); this line of autobiographical inspiration started in Reis Ventura's work right-away in his awarded debut poem A Romaria ("The Palmer-pilgrimage" with probabilities of finding on Portuguese libraries a little on the level of Cafuso/"Free-Moor", that is not being "banal" to find it but being somewhat common), in which he narrates the trip of a group of characters, including younguns of religious calling like this Jose da Silva, that also journey and find their paths while they oppose to enemies of the "politics of the spirit" of that time-point like a character that represents a Bolshevik, and would appear again in some of his fictional works in prose, obviously inspired by the first person reports that while journalist he got used to writing (I must notice that to not 'overload' this blog with Reis Ventura's works, none of these other autobiographical works shall be here analysed.
Reis Ventura (about the 1950s?)
The readers (all 5 of you) already knowledge on Reis Ventura opens the book expecting intrigue, some adventure and local and colonial period already long ended"colour", and on the essential "receives in exchange" the attention given to the book above all. The book starts with Jose da Silva Taveira at describing how he has «some studies» and majoring Philosophy on the (franciscan) College of Santo Antonio in Tuy, close to the border with Portugal, where he has the dream of graduating on his planned path to priesthood. Eventually, Jose da Silva reports us his evolution from aspiring priest, to student of the Franciscans, to disenchanted with the calling, till leaving Tuy, going back to Portugal and from there leaving to Mozambique and three years afterwards to Angola, where here he establishes himself in prolongued way (all things that Reis Ventura lived through, before and after the yer of his transition unto Africa, 1934).
Good part of the book's commencement is constituted by the seminarist experience of the young Jose, and this is represented in strongly ironic way and that probably will keep the reader's interest and shall stimulate him to laughter (at least to me it was thus). Let it be seen then this scene as proof:
«I entered, very bashful, in the poor parlour, famous in all the village for its centre table and some unpaired furnitures that my father had brought from Brazil. Mr. Father Inocencio sir there he was, tall and stocky, with the forehead bursting till the crown between two tall splinters of hair, staring me with the kind eyes, underneath the thick eyebrows. In that sonorous voice of talk of the town preacher, asked me right-away, without roundabouts:
– The young master wants to go to the college?
Picked up by surprise, derived unto my mother an indecisive gaze.
– Go, answer! – she encouraged.
In my childish conscience, understood that they destined me for priest. Rapidly, ran the greedy eyes through the big row of bottons that the austere franciscan flaunted on the cassock. I recalled myself of the ear-pulls that I had got for the cacoethes of taking out to the pants' fly the material for the button football. And, in my intimated, I concluded:
– "It is a scoop!"
Mr. father Inocencio sir, very faraway from my silent calculations, rose me up the chin with two kind fingers and, looking at me with kindness, stated:
– It is a very big college, in a very pretty city.You want to go?
I watched him again the cassock's buttons. God darn it! It were more than twenty, lined-up, black, glowy... And resolutely, answered:
– I want, yes sir.»
This part of Jose's life, from the decision to enter into the franciscan college till the exit from the same, is essentially all narrated in this tone, sometimes more openly comedically but in way always similar. If that is good on the reader's"book", that will already depend on one's self. A more remarkable and more serious episode is the one of Jose's juvenile crush for a Chaves woman called Isa.
Photograph of Reis Venture in the seminar times with the clergymen teachers and the other course colleagues
In a certain way, the social portrayal passing alongside several social environments and the presence of the african society (in the book's middle and ending) may remember the reader of another Reis Ventura book, Filha de Branco/"Daughter of White-man", which I hope that also comes to pass by this blog (although in the case of Cafuso this be less episodic and be more of cohese plot), and both books have protagonists of which we know q.s. of their living before the start of the narration but that we know mainly for what the plot itself and their actions tell us about their personalities (in certain way still coming-of-age in face of the reality that they face, mainly in the case of this José da Silva Taveira, who starts the book still adolescent and that we see growing-up till adulthood along the plot), and both da Silva Taveira both the multiple muceque slum inhabitants in Filha de Branco do assimilate with the reality of colonial Africa (for the black a getting-used to a new order and increase of white colonisation waves that give them new neighbours, and for the whites the getting-used to a whole new continent with a new reality to which their cultural upbringing is essentially stranger to).
After disembarking on Luanda in the IV chapter, the majority of the book passes itself on that city and is mainly dedicated to the search of commercial success by the young protagonist first in the insolvent Travancas Inc. and at last (by intervention of Jose's priest protector) on the Santos & Successors, together with his friend Adriano (acquaintance from the Chaves days who also to Angola had migrated). This part of the book involves a passage to the town of Lucala (on the namesake river's course) and commercial and steamboating work on the Angolan provincial countryside, private moments of tears in face of Isa's farewell letter (and equal amount of tears when the hero tries to write her answer), narratives on Ze from the Rooftop in Angola (as examples of the "screw-overs" done in trade on colonial Angola's hinterland; this explains the title with a narrative from a «lanky boyo» on a cafuso ("free-Moor"), that is, dark mixed brown person, who together with the Ze from the Rooftop discover that a trader goes around deceiving the local workers and traders lowballing them, situation "set straight" by the ex-hoodlum), work breaks passed awaiting letters by Isa on the Lucala post-office or in bars drowing the sorrow, involvement of the hero with a local black-woman called Little-Ana (obviously nor Aquilino's nor Garrett's), jealous outbursts before a letter by Isa confessing to have a new relationship and contact by a still lofty Jose with the local drumbeat parties (for him pretty to see «from afar» because «From closeby, it throws a stink of mating season that makes one sick» and has «a reek of stench, holy God»).
Plaque at Lucala's entry in 1974
Along this narration we come to understand that the protagonist does not give himself into morally more doubtful activities or to a colonialist existence due to dehumanised vision of the indigenous; outside one or two «negrohoods» the book even uses relatively little the at the time of writing then in current use pretos ("negroes") and the language even is quite contained about race, wihout ceasing making clear the prejudices of the protagonist recently arrived from the "colonial metropolis" but apparentely seen negatively seeing they contrast with the vision of the oldest settlers (although the old Trahs-os-Montes settler Crispim shows an infantilised vision of the black person but also a vision on how the settler must be just besides firm; while formation boss to the Dembo ethnicity workers starting from the XVI chapter, Jose acts thus and in few seconds slaps a worker woh does not work because he does not feel like it and afterwards asks him on his sick son and tells him that he'll send him quinine to his house) and the book does not mask the racial hirarchy vision of the time as with the contrast given in the XIV chapter between Jose being fought over by rich brown women or rich white women), but because he desires to get rich to marry with Isa (what, thanks to the intervention of Crispim who returns to the "provincial countryside" to "put a good word" before her father about Jose, comes to happen some time afterwards to the debarking of the woman in Angola) and replaced the sense of religious mission of the seminar by the secular service to Portugal. And his somewhat adventurous labours (together with other local workers of all races) get to help to a certain progress in the Lucala area then fundamentally ruralised and much more backwards thanthe provincil capital of Luanda; in the Lucala zone, Jose finds the historical traumas of the wars of the military-man Joao de Almeida against the Dembos still quite fresh, with the whites still fearing re-uprising of a people that only by campaigns of "conquest and pacification" ceased resistance (due to that the Portuguese customs and livings seeming always paranoically in danger to the settlers' eyes) and the blacks having passed to have a view of the white person as capable of almost everything and having always the «souljahs» behind one for its defense when revolt threatens to happen.
The major Joao de Almeida (c. 1908)
On this blog, which already covered so much to themes of voyage, adventures and benevolent heroism benefiting a society in general, within a frame of thought of many works analysed before this one, it ends up bing for us understandable the use of the colonising context for passage of ethical messages and of plots of classical literature, seen that first of it is seen here the colonialism as done by the coloniser country's poor and not as done by the elite that profits the most with this nor by the governamental establishment, and here it presents itself with a certain realism a Portuguese colonial Africa that no longer exists and which is not completely idealised (more imoral parts of the social organisation of this period are not at all concealed here, although only today can be seen with the eyes that they would not be seen with at that time-point), and as is conventional and normal for the colonial vision of the work's time-point (held also by the author), it is made out a difference between a kind of "good colonialism" (noblesse oblige and productive, open to the cultural interchange and with some flexibility of ethno-racial hierarchy) ad "bad colonialism" simply economically exploitative, shut-down to the local populations and their customs and rigid in norms), being the "bad colonialists" presented and criticised in some setler and worker characters along the plot and even in the worldview of the recently arrived Jose, being presented as fundamentally ideal a Portuguese-speaking society where it do meet themselves in the middle the two majoritarian populations of partially africanised whites and blacks and mulattos that work together with the whites (throughout the novel it come-up the same both situation in which the indigenous people work for or with settlers) and partially europeanised. So the presentation today of a book like this seems not to be more than to present an escapism that entertains, of a dream of travelling to the tropics and of making f a new life by work, and the hope that a work of Portuguese-people in Angola and life together with the local populations be something fairer and more ideal than sometimes is in reality (and today we could say similar about Angolan work expatriates in Portugal).
Sample of the multirracial population of the Dembos area around the start of the "Colonial" of "Angola Liberation War" in 1961
All these questions that Cafuso/"Free-Moor" as other works by Reis Ventura rises, are a testament to the quality of the writing of an author that left to Portuguese literature a certain number of non-fiction, fiction, poetry and even painting works, that helped to africanise Portuguese colonial literature and that died before seeing the coming-up of the Community of Portuguese Language Countries, the liberation of East Timor from the Indonesians, the Portuguese departure from Macau (and following rapprochement Portugal-China through that point of the world) and this kind of new national fusion of Portugal and African Countries of Official Portuguese Language (Países Africanos de Língua Oficial Portugueses, PALOPs, ex-colonies) and even East Timor, in which money and economic immigrants from Portugal flow to Mozambique and Angola and the same in opposite direction, that Portuguese companies got sections for the PALOPs and companies from PALOPs got sections for Portugal, that an Indo-Portuguese is a relevant political actor, in which music from PALOPs uses Portugal as place of 'acclimatisation' and 'transmiter' for outside of Africa, that new halfbreedings and 'counterfeitings' of assimilations are done, that there seems to be 'two way colonisation' and all the lusosphere guides itself by the rule "O que é meu, é meu, o que é teu, é nosso" ("What is mine, is mine, what is yours, is ours"), despite the european perspective seeming many times still the one of the benevolent progressive colonialist from other times and the african one many times still the one of the independentist colonised "on the defense", it would be interesting to think Reis Ventura (so involuntarly turned into 'prophet of this loose and involuntary 'empire of Portuguese speaking' ; curiously, Reis Ventura was also author of portuguesefied science fiction in the model of Nunes da Mata, in the novel O Homem do Outro Mundo/"The Man from Another World", an uncommon defense of Portuguese colonialism using an ET story) and other "africanising" colonists/colonialist authors would have to say about this, and the re-reading of their works is a possible way of 'checking their opinion on it'. It may be that thus one recovers the works of Reis Venura and the author from his almost total disregard today, discovering a writing thatstill can teach on courage and honour among men and women, to entertain with many adventures and give one what to think on. This book is today rare and present in few Portuguese libraries from among the largerones (on the Braga Public Library there are two copies and in the Portugal Nacional Library it is present the author's full oeuvre).

quarta-feira, 24 de junho de 2015

"Os Cavaleiros da Távola Redonda", Augusto da Costa Dias // "The Knights of the Round Table", Augusto da Costa Dias

Depois de uma introdução que localiza a acção deste livro no tempo e os fins do texto enquanto adaptação de um ciclo de lendas e ficção, este livro que trabalha as famosas estórias do chamado ciclo arturiano, que sob várias formas desde à séculos têm ocupado literatura e modos não-literários de ficção com as suas estórias do Rei Artur e da sua Távola Redonda, começa.
Esta 26.ª publicação do blogue Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics é dedicada a principal e mais clássica versão portuguesa deste ciclo de narrrativas, o volume originalmente de 1960 Os Cavaleiros da Távola Redonda de Augusto da Costa Dias, como apresentado em subtítulo do volume original, «adaptação e actualização da matéria da Bretanha» (o nome do mundo francófono para o ciclo arturiano). Não sendo obra plenamente original, este "colar" de quase todas as narrativas principais deste ciclo de lendas e novelas de cavalaria deve a sua estrutura unificada principalmente ao modelo do texto quatrocentista misturando poesia e prosa Le Morte d'Arthur de Sir Thomas Malory (uma das principais epopeias inglesas).
O livro segue o plano já clássico das obras que tentam recolher de forma coesa a matéria ficcional sobre o Rei Artur: começa com o contexto do tempo do seu pai Uther Pendragon e do Mago Merlim, as condições do seu nascimento e como foi criado por uma família adoptiva, como retirou a espada Excalibur da bigorna sobre uma pedra e chegou a Rei, como casou com Guinebra (ou Guinevere; este livro segue o antigo aportuguesamento dos nomes na linha das novelas de cavalaria medievais portuguesas), do que ocorreu no seu longo reinado até à mútua destruição do seu exército e do exército do seu sobrinho e filho incestuoso Mordred no campo de batalha. E entre esses marcos do reinado de Artur, temos várias narrativas sobre heróis específicos da Távola Redonda: Dom Lançarote do Lago (Lancelot du Lac), Tristão e o santo filho de Lançarote/Lancelot, Galaaz (o Galahad da literatura franco-britânica), entre vários outros cavaleiros menos celebrados de nome mas que em tempos foram todos protagonistas das suas lendas ou romances.
Ilustração da edição original de 1960
Particularmente grande é o episódio narrativo (com vários capítulos incluídos) em torno de Tristão, que nos descreve o seu nascimento, a sua vida heróica até chegar à corte de Camelot e a sua vida depois de a deixar e à confraria de 150 cavaleiros, uma estória de grande interesse literário e dramático mas que enquanto narrativa dentro da de Artur é lateral, só ligada pela breve passagem de Tristão pela irmandade da Távola Redonda como um dos principais cavaleiros desta (um elemento da matéria da Bretanha que de tão forçado tem sido sugerido como uma adição posterior à lenda de Tristão e Isolda, para unir a sua lenda com o principal ciclo de lendas literárias britânicas da altura).
Augusto da Costa Dias escreve este livro com o estilo grandiloquente e heróico que é de esperar, empregando linguagem levemente arcaica e formal, misturando elementos da Grã-Bretanha imediatamente pós-romana real em que um verdadeiro Artur poderia ter vivido, com os elementos da cultura medieval anglo-normanda mais tardia do tempo em que estas narrativas realmente começaram a ser escrita (depois da passagem de Artur por crónicas em prosa do século IX a XII). Assim temos neste livro o maravilhoso ainda vagamente celta, um espírito cristão, um princípio da narrativa explicado pela saída dos Romanos do que hoje é Inglaterra e pelas invasões dos Anglo-Saxões e em que a linhagem de Artur é explicada como parcialmente romana, em que as armaduras e os castelos são porém do meio da Idade Média ou até da Baixa Idade Média (com um pouco de Renascimento) e os comportamentos das personagens são por códigos de amor cortês da Alta Idade Média. Tudo isto contribui para um ambiente fantástico mas com o concreto de um certo realismo da sociedade medieval na sua brutalidade e códigos estritos, mostrando uma sociedade onde se vive ou morre pela lança ou espada.
Ilustração do episódio maravilhoso de Galvão e o Cavaleiro Verde na edição de 1960
Esta é uma narrativa romanceada que Augusto da Costa Dias, um ensaísta essencialmente de temas políticos, um intelectual activista do PCP e tradutor (para além de marido da escritora infanto-juvenil e tradutora/adaptadora Portuguesa do Cabo Verde colonial Maria Helena da Costa Dias), criou na única experiência mais própria de literatura ficcional original na sua bibliografia a partir das fontes dispersas da "matéria da Bretanha", acrescentando-lhe um talento da descrição, da escrita, do ritmo do enredo e da transição de estória para estória que ninguém esperaria dele dada a sua bibliografia completa (quiçá este talento fosse bebido da literatura de aventuras que traduziu ou da influência da esposa), dando à literatura portuguesa uma obra cuja força ultrapassa a questão da existência ou não de algum Artur histórico, de alguns dos lugares aqui referidos, da ligação de algum cálice de Jesus com a Grã-Bretanha (aliás das narrativas mais belas do ciclo arturiano, incluíndo como narrada aqui por da Costa Dias) ou de muitos outros eventos ou pessoas que aqui surgem. Não interessa. Como Eça disse encimando A Relíquia, «Sobre a nudez crua da realidade, o manto diáfano da fantasia.»
O ciclo arturiano sempre ganhou em popularidade apesar das dúvidas sobre historicidade de sequer 50% do que narra, tendo dado origem ao género do romance ou novela de cavalaria, ao ciclo rival carolíngio (em tempos igualmente popular, principalmente no espaço ibero-americano, apesar de sempre lhe ter faltado a aura de mistério e tragédia inevitável que fizeram o arturiano tão atraente) e a ciclos imitadores ibéricos como o dos Amadises (começando com o Amadis de Gaula para uns criação castelhana do século XVI e para outros portuguesa do XIII ou XIV) ou o dos Palmeirins (partilhado no século XV-XVI por romances castelhanos como El Palmeirín de Oliva ou portugueses O Palmeirim de Inglaterra). Na Idade Média, a influência do ciclo arturiano em Portugal foi imensa, dando origem a inúmeras pessoas com nomes como Lançarote, Guinebra, Perceval ou afins, tendo influenciado D. Nuno Álvares Pereira a almejar ao cavaleirismo quase monástico de Galaaz (o seu grande modelo) e D. João I comparar os seus cavaleiros da Crise de 1383-1385 aos de Artur e a si próprio com o rei Bretão. A partir do século XVIII, fora a influência dos rimances ou xácaras arturianas no Romanceiro de A. Garrett ou na recriação do possível texto do romance de cavalaria medieval perdido Tristão, o enamorado por Teófilo Braga em 1914, pouca influência esta matéria teve na nossa literatura, fora o conto Sir Galahad de Eça de Queirós (só publicado postumamente em 1966) e o romance Vitória de Parsifal do hoje pouco lembrado mas bastante talentoso João Grave (1922). Mas apesar desta pouca criação original, os Portugueses nunca deixaram de consumir material arturiano exterior, como os romances "revisionistas" da Norte-Americana Marion Zimmer Bradley, os romances históricos do Britânico Bernard Cornwell ou os mais vagamente tolkienianos romances do Francês Jean-Louis Fetjaine, para além de milhentos filmes e programas de televisão, incluíndo mais recentemente o historicista Rei Artur de 2004 e às séries respectivamente "revisionista" e auto-paródica já desta década Camelot e Merlin (não esquecendo a cómica Kaamelot francesa).
Obras como esta de da Costa Dias lembram-nos do sentido, enredo e valor original do mito como era originalmente narrado, quando era uma forma de promover uma Inglaterra e uma sociedade feudal que já não existem (aquela sociedade de privilégios senhoriais que no tempo d'O Piolho Viajante de António Policarpo da Silva já visto aqui, já estava em decadência). Mesmo depois de este ícone se tornar um ícone comercializado e vendável (e isto começava ainda na promoção desta literatura à sua fandom medieval), continuou sempre a ser um ícone e símbolo principalmente e acima de tudo de optimismo, de apelo aos melhores instintos das pessoas, de respeito, de moral e ética e de amizade fiel, como se poderá ver ao longo deste livro, e se pode ver que foi a falta ou violação de tudo isso que destruiu Camelot e o reinado de Artur. Edições originais de 1960 ainda se podem encontrar à venda online e ocasionalmente em bibliotecas, mas é mais fácil hoje encontrar cópias da edição de 2004 da colecção Geração Público do jornal Público, que ajudou a introduzir uma nova geração a este clássico antes pouco recordado (mas que infelizmente não reutilizou as belas ilustrações da edição original, mantendo a coerência de não ilustrar nenhum dos livros incluídos na colecção fora da capa.


After an introduction that locates this book's action in time and the aims of the text s adaptation of a cycle of legends and fiction, this book that works on the famous stories of the so-called arthurian cycle, which under several forms since centuries ago has occupied literature and non-literary modes of fiction with its stories of King Arthur and of his Round Table, starts.
This 26th post of the Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics blog is dedicated to the main and most classical Portuguese version of this cycle of adventures, the volume originally from 1960 Os Cavaleiros da Távola Redonda ("The Knights of the Round Tables") by Augusto da Costa Dias, as presented in subtitle to the original volume, «adaptation and updating of the matter of Britain» (the French-speaking world's name for the arthurian cycle). Not being fully original work, this "sticking-together" of almost all the main narratives of this cycle of legends and chivalry novellas ows its unified structure mainly to the fourteen-hundredth text mixing poetry and prose Le Morte d'Arthur by Sir Thomas Malory (one of the main English epics).
The book follows the already classical plan of the works that attempt to gather in cohese form the fictional matters on King Arthur: it starts with the context of the time of his father Uther Pendragon and the Mage Merlim, the conditions of his birth and how he was created by an adoptive family, how he removed the word Excalibur from the anvil on the stone and got to King, how he married with Guinebra (or Guinevere; this book follows the ancient Portuguesefying of the names on the line of Portuguese chivalry novellas), of what occurs throughout his long reign till the mutual destruction of his army and the army of his nephew and incestuous son Mordred no campo de batalha. And between those marks of the reign of Arthur, we got many narratives on specific heroes of the Round Table: Don Lanssarote of the Lake (Lancelot du Lac), Tristao (Tristan) and the sainted son of Lanssarote/Lancelot, Galaaz (the Galahad from the French-British literature), among several other knights less celebrated by name but that back in the day were all protagonists of their legends or novels.
Illustration from the original 1960 edition
Particularly big is the narrative episode (with several chapters included) around Tristao, that describes us his brith, his heroic life up till getting to the Camelot court and his life after leaving it and to the confraternity of 150 knights, a story of great literary and dramatic interest but that while narrative inside Arthur's is a sideshow, only connected by the bief passage of Tristao by the Round Table brotherhood s one of the main knights of the latter (an element of the matter of Britain that from so forced has been suggested as a latter addition to the Tristan and Isolde legend, to united their legend with the main British literary legend cycle of the time-point).
Augusto da Costa Dias writes with book with the grandiloquent and heroic style that is to expect, employing lightly archaic and formal language, mixing elements of the real immediate post-Roman Great Britain in which a true Arthur could have lived, with the elements of the later Anglo-Norman medieval culture from the time in which these narratives really started to be written (after the passage of Arthur by prose chronicles from the 9th to 12th century). So we got in this book the still vaguely Celtic wondrous, a Christian spirit, a beginning of the narrative explained by the exit of the Romans from what today is England and by the invasions of the Anglo-Saxons and in which the lineage of Arthur is explained as partially Roman, in which the armors and the castels are though from the middle of the Middle Ages or even from the Late Middle Ages (with a little of Renaissance) and the behaviours pf the characters are by courtly love codes from the High Middle Ages. All this contributes for a fantasy environment but with the concrete of a certain realism of the medieval society in its brutality and strict codes, showing a society where one lives or dies by the lance or sword.
Illustration of the wondrous Galvao and he Green Knight episode in the 1960 edition
This is a romanced narrative that Augusto da Costa Dias, an essay-writer mainly of political themes, an activist intellectual from the Portuguese Communist Party and translator (besides being husband to the children's/young-people's writer and translator from colonial Cape Verde Maria Helena da Costa Dias), created in the only experiment more proper of original fictional literature in his bibliography out of the dispersed sources of the "matter of Britain", adding it a talent on description, on writing, on plot rhythm and on the transition from story to story that nobody would expect from him gven his full bibliography (perhaps that talent were drunk out of the adventure literature he translated or of the influence of his wife), giving unto Portuguese literature a work whose strength overcomes the issue of the existence or not of some historical Arthur, of some of the places refered here, of the connection of some chalice of Jesus with Great Britain (besides from among the most beautiful narratives of the arthurian cycle, including as narrated here by Costa Dias) or of many other events or people that here do come-up. It does not matter. As Essa said topping The Relic, «Sobre a nudez crua da realidade, o manto diáfano da fantasia.» («Over the raw nudity of the truth, the diaphanous cloak of fantasy.»)
The arturian cycle always won in popularity despite the doubts on the historicity of even 50% of what it narrates, having given origin to the genre of the chivalry novel or novella, to the carolingian rival cycle (times back equally popular, especially in the Ibero-American space, despite always having lacked it the aura of mystery and innevitable tragedy that made the arthurian one so attractive) and the Iberian immitator cycles like the Amadises one (starting with the Amadis of Gaul for some Castilian creation from the 16th century and for other Portuguese from the 13th or 14th) or the Palmeirins one (shared in the 15th-16th century by Castilian novels like the El Palmeirín de Oliva or the Portuguese The Palmeirin of England). In the Middle Ages, the influence of the arthurian cycle in Portugal was imense, giving origin to numerous people with names like Lanssarote, Guinebra, Perceval or the like, having influenced Constable Don Nuno Alvares Pereira to crave for the almost monastichal chivalrism of Galaaz (his big rolemodel) and King Don John I comparing his knights from the 1383-1385 Portuguese Interregnum to the ones of Arthur's and to himself with the Briton king. Starting from the 18th century, aside the influence of the arthurian verse-romances or ballads in the Romanceiro ("Balladeer") by A. Garrett or in the recreation of the possible lost medieval chilvalry novel text Tristão, o enamorado ("Tristan, the enamoured") by Teofilo Braga in 1914, little influence this matter had in Portuguese literature, aside the short-story Sir Galahad by Essa de Queiroz (only published posthumously in 1966) and the novel Vitória de Parsifal ("Victory of Parsifal") by the today little recalled but quite talented Joao Grave (1922). But despite this little original creation, the Portuguese never ceased consuming foreignarthurian matterial, like the "revisionist" novels by the North American Marion Zimmer Bradley, the historical novels by the Briton Bernard Cornwell or the more vaguely tolkienean novels by the Frenchman Jean-Louis Fetjaine, besides a zillion films and television shows, including more recently the historicist King Artur from 2004 and the series respectively "revisionist" and self-parodical already from this decade Camelot and Merlin (not forgetting the French comedic Kaamelot).
Works like this one by da Costa Dias remind us of the sense, plot and original value of the myth as it was originally narrated, when it was a form of promoting a England and a feudal society that no longer exists (that society of lordly privileges that in the time o' Antonio Policarpo da Silva's O Piolho Viajante/"The Travelling Lice" already seen here, was already in decay). Even afterwards to this icon becoming a comercialised and sellable icon (his started still in the promotion of this literature and its medieval fandom), continued always to be an icon and symbol mainly and above all of optimism, of apeal to the best instincts of people, of respect, of moral and ethics and of faithful friendship, as it can be seen throughoutthis book, and it can be seen that it was the lack or violation of all that whch destroyed Camelot and the reign of Arthur. Original editions from 1960 stll can be found for sale online and occasionaly in Portuguese libraries, but it is easier today to find copies from the 2004 edition of the Público newspaper's Geração Público collections, that helped to introduce a new generation o this classic before barely remembered (but which unfortunately did not reutilise the fair original edition illustrations, keeping the coherence of not illustrating any of the books included in the collection outside the cover.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

"Livro de Linhagens do Conde D. Pedro", Conde D. Pedro de Barcelos // "Book of Lineages of the Count Don Pedro", Count Don Pedro of Barcelos

Dentre os livros medievais portugueses conhecidos, O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro conhecido como o quarto (e último) livro de linhagens português por data de escrita (acima a capa iluminada de uma edição do século XVII) era no Portugal medieval era provavelmente o livro mais consultado depois da Bíblia (e com o mesmo zelo). Redescoberto e publicado por Alexandre Herculano nos meados do século XIX (e que dele tirou o material para alguns dos seus melhores contos e novelas, como A Dama Pé-de-Cabra ou A Morte do Lidador), o conjunto de histórias de família radicadas em Portugal (de origem portuguesa ou estrangeira) baseou-se nas tradições das próprias famílias (e por vezes nas das rivais), portuguesas, galegas, castelhanas, biscainhas e algumas casas reais europeias. A partir publicação oitocentistas é que começou a ser chamado também de livro nobiliárquico (termo para o tipo de livro dado só a partir do século XIX).
Todas as diversas fontes são coligidas pelo filho ilegítimo de D. Dinis e 3.º Conde de Barcelos Pedro Afonso, que se encontra hoje enterrado no Mosteiro de S. João de Tarouca. Estes contos parecem falar de milhentas famílias nobres de Portugal, mas analisando o material disponível não só não há aqui nacionalismo excessivo (o que não admira: afinal o nacionalismo como hoje entendido nem existia) como dá a verdadeira ideia da nobreza "multinacional" com famílias com raízes estrangeiras e incluindo junto com as narrativas de famílias reais de toda a cristandade (até a narrativa original do Rei Lear e as estórias do Rei Artur são incluídas aqui). Muitas são as versões e origens deste texto, sabendo hoje que algumas versões do texto têm várias adições (as principais ainda na Idade Média foram do chamado "refundidor" que terá feito adições e alterações ao texto a partir de 1388), e entre as várias traduções para Castelhano nos séculos seguintes algumas terão também feito "refundições". No quadro destas tradições familiares de tipo quase de conto popular não faltam algumas narrativas fantásticas com magos e fadas, outras de reis e servos, outras de baixa-nobreza, de clérigos, nobres adulteras e afins. Seria interessante ver edições para introduzir o texto a leitores jovens, por questão de faixa etária, os contos de carácter erótico ou escatológico removidos ou expurgados.
O Conde D. Pedro de Barcelos numa árvore geneológica iluminada da Genealogia dos Reis de Portugal iluminado e coligido pelo iluminista de origem neerlandesa António de Holanda
O texto começa com uma introdução com os "salamaleques" de abordagem ao leitor e de louvar de Deus gerais, explicando os fins do texto e a importância de saber e estudar a histórias da famílias de "sangue azul". Depois seguem-se várias narrativas da família Sousa, seguindo-se várias outras, seguindo encadeamento de unidades temáticas de família, e passando por alguma ligação famíliar ou de rivalidade para outra unidade temática de outra família, e por aí fora. Com isto nasceu um texto de não-ficção que mesmo assim foi um dos primeiros a mostrar os elementos da ficção literária na literatura medieval portuguesa, um dos primeiros trabalhos com ficção curta, antepassado de muita contística seguinte. Este é claramente um dos primeiros clássicos literários da nossa literatura, e dos primeiro com extrema beleza formal (até que ponto isso vem da prosa do próprio Conde, e não de copistas contratados pelo próprio não há certeza).
Túmulo do autor em Tarouca
Neste livro, os leitores encontram todo o tipo de estórias, que poderiam em edições modernas ser compiladas de várias formas, por temas de estórias, por nacionalidades das famílias ou estórias (como fez José Mattoso na antologia Narrativas dos Livros de Linhagens) ou por núcleos temáticos. Entre as narrativas deste livro temos as da célebre família de-Entre-Douro-e-Minho dos Sousas (principalmente as das irmãs de D. Gonçalo de Sousa, Chamoa Mendes e Ouroana Mendes), a da viagem no Iraque do cavaleiro Português Rui Babilón (adição do refundidor de 1388), a da família castelhana de Lara (com os famosos Sete Infantes que muito deram que falar no cordel luso-brasileiro e castelhano). A linguagem pode ser relativamente acessível em muitas linhas apesar da diferença dada pelos séculos às variedades de Português (embora falte uma edição para Português moderno do texto inteiro tanto quanto saiba), e há algumas descrições mais completas das paisagens, ambientes e roupas (porém não prevalentes ao longo do texto) que pintam o quadro da sociedade feudal portuguesa e dos ambientes da Europa cristã e da Mourama pré-modernas, até terras tão distantes de Portugal como a Babilónia visitada por Rui Babilón.
Falta uma edição ilustrada condigna (pelo menos pós-medieval?), mas as palavras ilustram por si só um quadro fino e belo, como complexo, da Idade Média cavalaresca representada, e também das fições e lendas de fadas, demónios, reis, heróis, heroínas, vilãos e vilãs. Além disso, imperdível é a história do Rei Ramiro. Este soberano leonês que fez razias em terras do Douro e do Tejo em Portugal e em Espanha apaixonou-se pela irmã do Rei Mouro Almançor de Gaia (na altura a fronteira entre cristandade e mourama estava no Rio Douro e o Porto desde os anos de 800 era estavelmente cristão e asturo-leonês). Envolveram-se apesar do casamento do Rei cristão com uma boa cristã e do irmão da Moura se opôr a tal relação. Ambos afastados e distanciados por contexto não deixaram de se amar à distância e de forma proibida. Mas eis que, um dia, o Rei Mouro raptaria a mulher de Ramiro, levando este a partir numa missão de resgate até Gaia no outro lado do rio. A aventura que se segue é a de libertar a esposa legítima, de novas revelações sobre esta e de uma união final do rei Leonês com a princesa Moura. Esta é aliás uma lenda familiar que se tornou parte do folclore moderno dos povos de Gaia, do Porto, de Vila Praia de Âncora e da Maia (e da família Maia que se cria gerada da união do Leonês e da Moura).
Representação de linhagens de cruzamento cristo-mouro neste livro de linhagens (fonte aqui) 
Como já comentei, existem algumas narrativas mais picantes, alarves ou complexas que deveriam ser deixadas fora de eventuais edições modernas deste texto clássico para públicos mais jovens, mas os curiosos poderão encontrá-las na Wikisource que pôs online (ver a partir desta página aqui; note-se que o texto não está todo digitalizado) o texto da publicação no Portugal Monumenta Historia (secção Scriptores ou "Escritores") por Alexandre Herculano (do qual há um estudo dos livros de linhagens que se pode ler na Wikisource aqui), nalgumas bibliotecas e extractos inseridos em várias obras sobre o estudo de literatura medieval portuguesa, esta obra específica, nobiliários em geral ou vários outros temas ou pela internet fora em partes. Existem algumas traduções desta obra para Castelhano como já disse mas creio que não para outras línguas que não esta (se não estiver enganado). Uma das obras mais acessíveis em edição ou em bibliotecas é Narrativas dos Livros de Linhagem de José Mattoso, que recolhe algumas das narrativas de todos os 4 livros de linhagem (infelizmente no Português arcaico da altura) e os analisa na introdução a cada capítulo por temas (de origem de narrativas ou da família em causa). O essencial é não deixar cair no esquecimento este texto pioneiro da ficção e dos textos de curiosidades e de miscelânea simultaneamente, que são uma das raízes sobre a qual se construiu a identidade portuguesa e lusófona, servindo uma e outra vez este tipo de lendas, gabarolices de clãs, genealogias e narrativas de brutalidades medievais e de correcções de justiça brutais para construção de muitas narrativas mais surgidas posteriormente e que podem influenciar e alimentar a mundo-visão dos leitores de formas que nem os próprios por vezes conscientemente se aperceberão. E esse enriquecimento via-literatura é um caminho que vale sempre a pena percorrer.
A colectânea de Mattoso


From among the known Portuguese medieval books, O Livro de Linhagens ("Book of Lineages") of the Count Don Pedro Afonso known as the fourth (and last) Portuguese book of lineages by date of writing (above the illuminated cover of an edition of the 17th century) was in the medieval Portugal probably the most consulted book after the Bible (and with the same zeal). Rediscovered and published by Alexandre Herculano in the mid-19th century (and who from it took out the material for some his best short-stories and novellas, like A Dama-Pé-de-Cabra/"The Goat-Foot-Lady" or A Morte do Lidador/"The Death of the Toiler"), the ensemble of histories of families established in Portugal (of Portuguese or foreign origin) based itself in the traditions of the families themselves (and sometimes in those of rival ones), Portuguese, Galician, Castilian, Basque and some european royal houses. Starting from the eighteen-hundredth publication it is that it started being called of peerage record book too (term given to the tipe of book only starting on the 19th century).
All the diverse sources are collected by the illegitimate son of King Don Denis and 3rd Count of Barcelos Pedro Afonso, who finds himself today buried in the Monastery of Sao Joao de Tarouca. These tales seem to talk of a gazillion noble families from Portugal, but analysing the material available not only there is not here excessive nationalism (what does not startle one's self: after all nationalism as nowaday understood did not even exist) as it gives a real idea of the "multinational" nobility with families with foreign roots and including together with narratives of royal familiesfrom all Christendom (even the original King Lear narrative and the King Arthur stories are included here). Many are the versions and origins of this text, knowing today that some versions of the text have many additions (the main ones still in the Middle Ages were by the so-called "recaster" that would have made additions and alterations to the text startings from 1388), and among the various translations to Castilian in the following centuries some would also had made "recastings". Into the framework of these family traditions of type almos of folk tale do not lack many fantastical narratives with mages and fairies, others of kings and serfs, others of petty-nobility, of clergymen, adulterer noble-women and alike. It would be interesting to see editions to introduce the text to young readers, by matter of age group, the tales of erotic or scatological character cut out or bowdlerised.
The Count Don Pedro Of Barcelos in an illuminated family tree of the Genealogia dos Reis de Portugal ("Geneology of the Kings of Portugal") illuminated and collected by the Netherlandic origin illuminater Antonio de Holanda/Anthony from Holland
The text begins with an introduction with the general "salaam saying rite" of approaching the reader and of praising to God, explaining the text's aims and the importance of knowing and studying the histories of the "blue blood" families. Afterwards it follow themselves several Sousa family narratives, following themselves several others, following chaining of family thematic unions, and passing by some family or rivalry connection unto another family thematic unity, and so forth. With this was born a non-fiction text that even so was one of the first to show the elements of literary fiction on mmedieval Portuguese literature, one of the first works with short fiction, ancestor of many a following short-story-writing. This is clearly one of the first literary classics of our literature and among the first with extreme formal beauty (to what point that comes from the Count himself's prose, and not from copyists hired by himself there is no certainty).
Author's tomb in Tarouca
In this book, the readers find all sort of stories, that could in modern editions be compiled in several forms, by story themes, by family nationalities or stories (as did José Mattoso in the anthology Narrativas dos Livros de Linhagens/"Narratives of the Books of Lineages") or by thematic nuclei. Among the narratives of this book we got the ones of the celebrated family from-Between-Durius-and-Minho-rivers of the Sousas (mainly the ones of the sisters of Don Gonssalo de Sousa, Chamoa Mendes and Ouroana Mendes), the one of the travel in Iraq of the Portuguese knight Rui Babilon (addition of the 1388 recaster), the one of the Castilian family of Lara (with the famous Seven Infant-princes that so much would cause a stir on the Portuguese-Brazilian and Castilian chapbooks). The language can be relatively accessible in many lines despite the difference given by the centuries to the varieties of Portuguese (although there is missing an edition of the whole text into modern Portuguese as far as I know), and there are some more complete description of the landscapes, environments and clothes (yet not prevalent along the text) that paint the tableaux of the Portuguese feudal society and of the environments of the pre-modern Christian Europe and Moor-lands, even lands as distant from Portugal as the Babylon visited by Rui Babilon.
It is llacking a fitting illustrated edition (at least post-medieval one?), but the words illustrate in themselves a fine and fair, as complex, picture of the chivalresque Middle Ages represented, and also of th fictions and legends of fairies, demons, kings, heroes, heroines, villains and villainesses. Besides that, unmissable is the story of the King Ramiro. This Leonese sovereign who did raids in lands of the Durius and the Tagus rivers in Portugal and in Spain fell in love with the sister of the Moorish King Almanzor of Gaia (at the time the border between Christendom and Moor-lands was on the Durius River and Oporto since the 800s was stability Christian and Asturileonese). They got involved despite the Christian King's marriage to a good Christian woman and the Mooress' brother opposing to such relationship. Both cast apart and distanced by the context, did not cease loving each other from afar and in forbidden way. But here is when, one day, the Moorish King kidnaps Ramiro's wife, taking the latter to leave on a rescue mission till Gaia on the other side of the river. The adventure that follows is the one of liberating the legitimate spouse, of new revelations on her and of final union of the Leonese king with the Moorish princess. What is more this is a family legend that turned itself part of the modern folklore of the peoples of Gaia, of Oporto, of Vila Praia de Ancora and of Maia (and of the Maia family that believed itself generated from the union of the Leonese and the Mooress).
Representation of lineages of Christo-Moorish crossing in this book of lineages (source here) 
As I already commented, there exist some spicier, boorish or complex narratives that should have been left outside eventual modern editions of this classic text for younger audiences, but the more curious ones can find them on Wikisource which put online (see starting from this page here; let it be noted that the text is not all digitalised) the text of the publication on the Portugal Monumenta Historia (section Scriptores or "Writers") by Alexandre Herculano (of which there is a study of the books of lineage that can be read on Wikisource here), in some libraries and extracts inserted in several works on the study of Portuguese medieval literature, this specific work, peerage record books in general or severalo other themes or throughout the internet in parts. There exist some translations of this work into Castilian Spanish as I already said, but I believe so that there are not unto other languages not this one (if I am not mistaken). One of the more accessible works in print or in Portuguese libraries is Narrativas dos Livros de Linhagens ("Narratives of the Books of Lineages") by Jose Mattoso, that collects some of the narratives of all the 4 books of lineages (unfortunately in the archaic Portuguese of the time-point) and analyses them in the introducion to each chapter by theme (of origin of narratives or of the family at stake). The essential is not to let fall into oblivion this pioneer text of fiction and of the texts of curiosities and of miscellaneous simultaneously, which are one of the roots on which it built itself the Portuguese and Portuguese-speaking, serving one and again this type of legends, clan braggings, geneologies and narratives of medieval brutalities and rightings of brutals justices for the construction of many narratives come-up thereafter and that may influence and feed the worldview of the readers in ways that not even they themselves sometimes consciously will realise themselves. And that enrichment via-literature is a path that is always worth going through.
The Mattoso collection

quinta-feira, 11 de junho de 2015

"A Relíquia", Eça de Queirós // "The Relic", Essa de Queiroz

A literatura usada para ensino de história é uma ferramenta forte, que creio que, quando melhor escrita e leitura excitante é uma boa ferramenta para ensinar, de que provavelmente poucos alunos se queixaria. Este caso pode aplicar-se de certa forma a este romance notável do cosmopolita Poveiro Eça de Queirós, que trazemos aqui nesta 25.ª publicação do blogue Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics, um romance picaresco não-tocado pelo tempo desde a publicação original em 1887, A Relíquia.
Esta narrativa passa-se (como corrente nas obras de Eça, mesmo a tradução livre com que iniciamos este blogue) no tempo do autor (inspirado na viagem ao Egipto e Levante do autor quando enquanto jornalista foi em 1869-70 assistir à abertura do Canal do Suez, uma viagem ao longo do Mediterrâneo que inspirou algumas das obras mais romanescas e aventureiras do autor como O Mistério da Estrada de Sintra, do qual parte do enredo se passava na ilha de Malta ou as obras de Eça com Fradique Mendes, o poeta satanista visitante do Oriente e meio mundo; este livro foi escrito nesta altura apesar de só uns 17 anos depois a publicar), em torno do jovem órfão de nobres famílias nortenhas Teodorico Raposo, criado por uma "titi" beata e severa, sempre rodeada de eclesiásticos, que tenta fazer do jovem um bom cristão. Teodorico cresce porém amante do luxo e dos bilhares e bares e adulto parte para estudar em Coimbra, o que "solta" completamente a verdadeira natureza boémia do jovem (que os colegas igualmente boémios alcunham, referindo-se principalmente ao seu donjuanismo, "o Raposão").
O Cairo do tempo da visita real de Eça e da ficcional de Teodorico
Já adulto e formado, Teodorico volta à casa da "titi" e acaba por ser enviado por esta para um peregrinação dever de "bom católico", e trazer uma relíquia sagrada de volta; ele tenta de forma falhada convencer a "titi" a deixá-lo ir para Paris em peregrinação (Paris tem várias igrejas e relíquias de santos, para além de vários cabarés e luxos), mas a "titi" (que apesar de não fazer ideia do sobrinho que tem não é parva) não cai no truque e ordenha-lhe que vá em peregrinação à Terra Santa no Médio Oriente e que lhe traga a relíquia de lá. Assim parte Teodorico de Portugal, passa pelas costas de Espanha (para as espanholadas amorosas usuais em alguma prosa de Eça), atravessa o Mediterrâneo e chega ao Egipto e (depois de aportarem no porto de Jafa) à Terra Santa então dominada pelos Turcos (que também têm a gestão e guarda dos santuários cristãos na altura). Durante o caminho Teodorico faz-se companheiro de um extravagante arqueólogo e erudito Alemão, Dr. Topsius (que passa o enredo todo a debitar informações como um roteiro turístico vivo).
Teodorico em caricatura de António
O verdadeiro foco do enredo começa quando o Teodorico acompanhado de Topsius tenta pegar (aconselhado pelos conhecimentos de história de Topsius) em plantas locais para criar uma falsa coroa de espinhos para apresentar à "titi" como sendo a de Cristo ela mesma, e, de forma pouco clara e que verdadeiramente não interessa (visto que o que interessa é a viagem em si), o par de viajantes são transportados à Judeia romana e são testemunhas da paixão de Cristo (isto já havia sido tratado por Eça no seu conto A Morte de Cristo, incluído na antologia póstuma de textos da juventude do autor Prosas Bárbaras). A viagem no tempo tem elementos duplos de apresentação de confronto de tendências ideológicas, não só ao retratar as polémicas dos meados-final do século XIX quanto à historicidade de Jesus e aos factos quanto ao mundo do seu tempo (a obra do Francês Ernest Renan sobre o Jesus histórico tinha criado polémica pela primeira vez poucas décadas antes e continuava a criar, e em Portugal até surgia na obra do orientalista e escritor de aventuras Carlos Pinto de Almeida) e as polémicas políticas quanto à sociedade portuguesa do tempo de Eça usualmente criticada por ele e mesmo as questões entre os diferentes Estados da altura (o prussianismo do II Império Alemão representado em Topsius, a relação amor-ódio dos Portugueses com os Ingleses, ou as Inglesas, os pecadilhos da sociedade otomana ou espanhola, etc.) e a questão do imperialismo e o primeiro turismo, mas também a política do tempo de Jesus, de Zelotas ultra-nacionalistas, fariseus tradicionalistas religiosos mas colaboracionistas com Roma, o envolvimento Romano na Palestina, as questões teológicas entre os reformistas religiosos cristãos e os Judeus tradicionais, etc.
Não sendo um "calhamaço" (Eça só escreveu um verdadeiro "calhamaço", Os Maias), é mesmo assim um texto com algo de épico, no ambicioso do fresco da sociedade portuguesa, da religião católica (que Eça sempre criticou mas com a qual nunca rompeu, e que para o fim da vida até o marcou mais nos seus escritos publicados só postumamente), da sociedade europeia e oriental (vista ao longo das viagens de Teodorico, a solo e depois com Topsius) e depois a extrapolada embora bem estudada viagem ao passado do I milénio d. C., e o lado de romance picaresco que Eça dá ao livro só reforça uma certa natureza de livro de aventuras que o romance ao todo tem. Como usual na picaresca, Teodorico cresce ao longo do enredo, não exactamente da forma moral e saudável de um romance juvenil típico, mas como alguém numa sociedade com falhas de pessoas com falhas, e é ele próprio uma pessoa com falhas, e embora evolua e se adapte à situação, e aprenda com ela, ganhar juízo ou ter redenções morais está fora de questão (principalmente à luz do pessimismo típico de Eça ante a natureza humana e Portugal enquanto país), mas o "Raposão" definitivamente cresce, evolui e, se brandamente, reformasse, ante o fracasso dos seus esquemas (não tivessem falhado e ele não teria tentado reformar-se, não é?), e com a sua experiência em primeira mão cria uma nova fé em Jesus agora livre da mitologia criada em torno dele e da ortodoxia da Igreja Católica.
Como é de prever, Teodorico volta ao seu tempo depois da viagem (sonhada?, real?, não interessa de facto) no tempo e ele e Topsius farão ambos os seus relatos escritos da aventura (A Relíquia é narrado na primeira pessoa por Teodorico, e no princípio do livro Teodorico comenta sobre o livro fictício de Topsius, segundo ele cheio de imprecisões, algumas ofensivas para com ele), e depois de voltar a Portugal, tentando dar a "relíquia" à "titi", um engano com o conteúdo dos embrulhos provocaria um azar para Teodorico e o revelar da sua natureza boémia ante a tia beata...
"A camisinha de Mary", caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro
O livro pode ser assim muito vincadamente datado na forma como se encaixa com aquele anti-clericalismo e polémicas do Jesus histórico e mitológico do século XIX (para se ver o quanto o livro era parte e uma "moda", Eça até foi acusado por alguns estudiosos Portugueses de plágio devido à influência incontestável do Memorie di Giuda, "Memórias de Judas", do Italiano Ferdinando Petruccelli della Gattina), mas o livro é genuíno, autêntico, não foi escrito a seco para passar informações, mas por um autor idiosincrático (como autor e como pessoa) que punha por papel (apesar de imaginar e extrapolar fantasias e passados há muito perdidos) realidades que vivenciou, como o Mediterrâneo e o Médio-Oriente em que viajou, os estrangeiros que conheceu, a experiência de burguesia nortenha, a experiência do ensino e educação severa portuguesas (quem ler Os Maias ficará com a impressão de que o ensino da altura traumatizou e bastante este escritor, que ficou com horror a "latinzinhos" e ensinos religioso-morais), experiências que Eça levou consigo partido para Paris (onde faleceu) e Londres, e o Portugal que deixou e o estrangeiro que aprendeu a conhecer nunca o deixaram nem o deixaram de influenciar. E o narrar partes da história (do século XIX português e europeu, e do tempo de Jesus) com este sabor agradável e polido é algo que nenhuma historiografia marxista moderna portuguesa conseguiu alcançar, pois por mais verídicos, abrangentes e didáticos que tentem ser, não conseguem tornar viva a luta entre tradição e modernidade no Portugal liberal nem mostrar como no século I d. C. como no século XIX d. C. havia gente que só queria apreciar a vida e viver pelos seus princípios (mesmo quando eram poucos e pouco éticos, como no caso de Teodorico), mas que sempre acabavam apertados por todo o tipo de puritanos e fariseus retrógrados ou simplesmente acéfalos. E é talvez isso o que verdadeiramente faça este livro intemporal e clássico. E por isso que ainda está em publicação, em várias edições, e se encontra em basicamente todas as bibliotecas, e já esteve várias vezes em estudo em currículos de Português. Existe ainda o A Relíquia - Uma Antologia Ilustrada de Rui Campos Matos, adaptação a BD do desenhador Brasileiro Marcatti, a versão em teatro-filmado de Luís Sttau Monteiro com Júlio César no papel de Teodorico e a adaptação para crianças da Colecção de Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças das edições quasi e jornal Sol por Ana Luís Amaral ilustrada por Gabriela Sotto Mayor com traço infantil com pouco delineamento das figuras para uma narrativa relativamente madura, mas ainda algo juvenil no estilo de aventura. Existem ainda traduções (sempre com título literalmente traduzido) em Alemão, Espanhol/Castelhano, Francês, Inglês, Italiano e Holandês/Neerlandês.
 
Edição da Porto Editora e adaptação das edições quasi


Literature used for teaching history is a strong tool, that I believe so that, when better written and exciting reading is a good tool for teaching, of which probably few students would complain. This case can apply itself in certain way to this remarkable novel of the cosmopolitan Póvoa-do-Varzim native Essa de Queiroz, which we bring here in this 25th post of the blog Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics, a picaresque novel untouched by time since the original publication date in 1887, A Relíquia/The Relic.
This narrative sets itself (as current in Essa's works, even the free translations with which we commenced this blog) in the time of the author (inspired on the author's trip to Egypt and the Levant when while journalist he went in 1869-70 to attend to the opening of the Suez Canal, a trip throughout the Mediterranean that inspired some of the more romanesque and adventurous works of the author as O Mistério da Estrada de Sintra/The Mystery of the Sintra Road, of which part of the plot is set in the island of Malta or the works of Essa as Fradique Mendes, the satanist poet visitor of the East and half world; this book was written on this time despite only some 17 years after he publishes it), around the young orphan of noble north-Portuguese families Teodorico Raposo, raised by a church-lady and strict "aunty", always surrounded by churchmen, who tries to make of the youngun a good Christin. Teodorico grows up though lover of luxury and of the poolrooms and bars and as adult he leaves to study in Coimbra, what "lets loose" completely the true bohemian nature of the youngun (who the equally bohemian colleages nicknme, referring mostly to his donjuanism, "o Raposão", "the Big-Fox").
The Cairo of the time of Essa's real visit and of Teodorico's fictional one
Already grown-up and graduated, Teodorico goes back to the house of "aunty" and ends up being sent by the latter fora pilgrimate duty of "good Catholic" and grind a sacred relic back; he tries in failed way to convince the "aunty" to let him go to Paris in pilgrimage (Paris has several churches and relics of saints, besides several cabares and luxuries), but the "aunty" (who despite making no idea of the nephew she has is not dumb) does not fall for the trick and orders him to go in pilgrimage to the Holy Land in the Middle Eas and that he bring her the relic from over there. So departs Teodorico from Portugal, passesby Spain's shores (for the usual Spanish affairs in some Essa prose), crosses the Mediterranean and arrives to Egypt and (after docking on Jaffa's port) to the Holy Land then dominated by the Turks (that also had the management and guard of the Christian sanctuaries at that time-point). During the way Teodorico makes himself companion to an extravagant German archeologist and scholar, Dr. Topsius (who passes the whole plot spouting informations like a living tour-guide roadmap).
Teodorico in caricature by cartoonist António
The true focus of the plot starts when Teodorico accompanied by Topsius tries to pick (advised by Topsius' history knowledges) local plants to create a fake crown of thorns to present to "aunty" as being Christ's itself, and, in little clear form and that truly does not matter (seen that what matters is the journey itself), the pair of travellers are transported to the Roman Judea and witnesses to Christ's passion (that already having been dealt with by Essa in his short-story A Morte de Cristo/The Death of Christ, included in the posthumous anthology of youth texts of the author's Prosas Bárbaras/"Barbarian Proses"). The time travel has double elements of presentation of confrontation of ideological tendencies, not only at portraying the polemics of the mid-late-19th century about the historicity of Jesus and to the facts about the world of his time (the work of the Frenchman Ernest Renan on the historical Jesus had created controversy for the first time few decades before and keeps creating, and in Portugal it even came-up in the work of the orientalist and adventure writer Carlos Pinto de Almeida) and the political polemics about the Portuguese society of Essa's time usually criticised by him and even the issues between the different states of the time-point (the prussianism of the II German Empire represented in Topsius, the love-hate relationship of the Portuguese with the Englishmen, or the English-women, the peccadilloes of the Ottoman or Spanish society, etc.) and the issue of imperialism and of the first modern secular tourism, but also the politics of the time of Jesus, of ultranationalist Zealots, religious traditionalist but Rome collaborationist pharisees, the Roman involvement in Palstine, the theological issues between the Christian religious reformists and traditional Jews, etc..
Not being a "large folio volume" (Essa only wrote a true "large folio volume", Os Maias/The Maias), it's even so a text with something of epic, in the ambicious of the fresco of the Portuguese society, of the Catholic religion (that Essa always criticised but with which he never broke up, and that to his life's end even marked him more in his writing published only posthumously), of the european and eastern society (seen throughout Teodorico's travels, first solo and afterwards with Topsius) and after the extrapolated although well researched travel to the past of the 1st millenium A.D., and the side of picaresque novel that Essa gives to the book just reinforces a certain nature of adventure book that the novel as a whole has. As usual in picaresque genre, Teodorico grows throughout the plot, not exactly in moral and healthy way of a typical young-people's novel, but as someone in a society with flaws of people with flaws, and it is himself a person with flaws, and although he evolves and adapts to the situation and learns with it, to gaine sense or having moral redemptions is out of the question (mainly in light of Essa's typical pessimism before human nature and Portugal as a country), but the "Big-Fox" definitely grows-up, evolves and, if meekly, reforms himself, before the filure of his schemes (had they not failed and he would not have tried reforming himself, isn't it?), and with his first hand experience props up a new faith in Jesus now free from the mythology created around him and of the orthodoxy of the Catholic Church.
As it is to be predicted, Teodorico comes back to his time after the time travel (dreamt?, real?, doesn't matter i fact) and he and Topsius shall make both of them written reports of the adventure (The Relic is narrated in the first person by Teodorico, and in the book's beginning he comments on Topsius' fictional book, according to him full of innacuracies, some offensive towards him), and after coming back to Portugal, trying to give the "relic" to the "aunty", a mistake with the content of the wrappings would provoke a hazard for Teodorico and the revealing of his bohemian nature before the church-lady aunt...
"Mary's bareback", caricature by Rafael Bordalo Pinheiro
The book can be seen very markedly dated in the way it fits with that anticlericalism and historical and mythological Jesus controversies of the 19th century (to be seen how much the book was part of a "fashion", Essa even was accused of plagiarism due to the undeniable influenceof the Memorie di Giuda, "Memoirs of Judas", by the Italian Ferdinando Petruccelli della Gattina), but the book is genuine, authentic, was not written drily to pass informations, but by an idiosyncratic author (as author and as person) that put to paper (despite imagining and extrapolating fantasies and pasts long ago lost) realities that he lived through, like the Mediterranean and the Middle East in which he travelled, the foreigners that he met, the northern bourgeois experience, the experience of the Portuguese teaching and strict education (who reads The Maias will get the impression that the teaching of the time traumatised and enough this writer, who got horror to "sweet little Latin tongues" and religious-moral teachings), experiences that Essa took with himself departed to Lisbon (where he passed away) and London, and the Portugal that he left and the abroad he learned to know never left him nor ceased influencing him. It is the narrating parts of history (of the Portuguese and european 20th century, and of the time of Jesus) with this agreeable and polished flavor is something that no Portuguese modern marxist historiography was able to achieve, as no matter how truthful, wide-ranging and didactical they try to be, they cannot make come alive the struggle between tradition and modernity in the liberal Portugal nor show how in the 1st century A.D. as in the 19th century A.D. there was folk who only wanted to appreciate life and live by their principles (even when they were few and barely ethical, as in Teodorico's case), but that always end up gripped by all kind of backwards or simply brainless puritans and pharisee. It is maybe that that truly does make this book timeless and classical. And for that it is still in print in Portuguese, in several edition , and finds itself in basically all the Portuguese libraries, and already was several times in study in Portuguese Language class curricula. There exists yet A Relíquia - Uma Antologia Ilustrada ("The Relic - An Illustrated Anthology") by Rui Campos Matos, Comic adaptation by Brazilian artist Marcatti, the version in teleplay by Luís Sttau Monteiro with actor Julio Cesar in the role of Teodorico and the adaptation for children by the Colecção de Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças ("Colection of Portuguese Literature Classics Told to Children") by the edições quasi publisher and the Sol ("Sun") newspaper by Ana Luis Amaral illustrated by Gabriela Sotto Mayor with childish stroke with little outlining of the figures for a relatively mature, but still somewhat childish in the adventure style, narrative. There exist moreover translations (always with the title literaly translated) into German, Spanish/Castilian, French, English, Italian and Dutch/Netherlandic.
 
Edition from Porto Editora publisher and adaptation from edições quasi publisher