quinta-feira, 29 de outubro de 2015

"O Homem que Perdeu O Cérebro", Repórter X (pseudónimo de Reinaldo Ferreira) // "The Man Who Lost His Brain", Reporter X (pseudonym of Reinaldo Ferreira)

Já falámos aqui de Mário Domingues, o autor Luso-Santomense que foi jornalista, divulgador da história, ficcionista de policial e western. Esta publicação diz respeito ao "mestre" literário e jornalístico de Domingues, o Lisboeta Reinaldo Ferreira. Ferreira foi um talento precoce no jornalismo, com 12 anos e um domínio que bastava do Espanhol enviava (segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, da qual o próprio foi colaborador, diz num artigo sobre ele publicado pouco antes da sua morte em 1935) artigos para serem publicados em publicações espanholas, e por volta dos 17 anos começou no jornal O Século a fazer cobertura de incêndios (Ferreira, que parecia levar a imaginação sempre para o pior, quando o editor lhe perguntou se "já fizera incêndios" assumiu que queria perguntar se já tinha ateado um e disse que não, iniciando a sua estreia nesta "especialização" jornalística à falta de um jornalista para cobrir um incêndio na área de Lisboa). Em 1917, o autor criou um alvoroço com folhetins sob o título de O Mistério da Rua Saraiva de Carvalho e o pseudónimo Gil Goes (apresentado como um "jornalista-detective") em que descreve uns crimes em Lisboa envolvendo supostos cadáveres, um vilão chamado "O Homem dos Olhos Tortos" e mesmo um "anel de espionagem" Alemão (isto era durante a I Guerra Mundial), que provocaram o pânico em Lisboa e foram um sucesso de leitores e só pouco antes do fim da publicação, para terminar o pânico, foi revelado que tudo era ficção e Goes era Ferreira, o que não apagou o sucesso do folhetim até ao fim.
Pouco depois, um filme seria rodado por Leitão de Barros e o raramente também referido Luís Reis Santos para a produtora por ele criada Lusitânia Films, mas a rodagem ficaria incompleta e o filme em negativo, devido ao cenário quase de comédia à portuguesa em torno da produtora (Leitão de Barros fora para Lisboa para estudar, usando o dinheiro das tias da província para criar a produtora, e quando o dinheiro acabou, não conseguindo ele mais devido às tias ficarem a saber do uso dado ao dinheiro anterior, a companhia acabou após uma curta vida, deixando um filme incompleto). O filme seria "restaurado" pela Cinemateca numa cópia com boa qualidade de imagem mas que mantém toda a filmagem em bruto (incluindo takes repetidos), tendo cartões-título introduzindo cada secção do filme segundo capítulos do texto original (ao invés de os dividir ao longo do tempo para tornar as imagens menos crípticas e o visionamento menos desinteressante) e não tendo qualquer banda-sonora (uma versão restaurada com banda-sonora e montagem devida pode ser encomendada por 5 Euros em DVD físico ou ficheiro WMV ou MPEG por email a omosquito_publishers@gmx.com, com cartões-título novos, e até legendas em Inglês, Francês e Espanhol).
Amostra do restauro da O Mosquito Publishers
Depois do sucesso literário e jornalístico d'O Mistério da Rua Saraiva de Carvalho, ele teria um trabalho intenso no jornalismo (sendo considerado o principal jornalista Português pela altura da sua morte, apesar de ser também dos que mais extrapolava e "aldrabava" mesmo que por vezes inconscientemente, ou até inventando como a reportagem duma viagem na Rússia Soviética escrita na verdade em Paris através de testemunhos de Russos exilados e reportagens de jornalistas não-Portugueses, apesar das reportagens sobre lutas políticas em Espanha serem notáveis), para o final da sua carreira já nos anos '30 criando até os seus próprios jornais e revistas que por questões logísticas imprimia em Barcelos, em que surgia muita ficção policial e lançou autores e jornalistas como Domingues, foi autor de muita ficção popular (entre policiais, algum fantástico e ficção científica) e melodramática e até de teatro, trabalhou nalgumas das primeiras produções de cinema em Barcelona (onde viveu anos e nasceu o seu filho Reinaldo Ferreira, Filho, poeta, dramaturgo radiofónico e letrista das canções ligeira Uma Casa Portuguesa e Kanimambo, longo tempo radicado em Moçambique) como assistente de realização e depois começou a realizar ele mesmo (para a sua produtora Repórterx Film, filmes como o policial mudo O Taxi Nº 9297 e as comédias Hipnotismo ao DomicílioVigário Sport Club e Rita ou Rito?..., todos de 1927, este último sendo o primeiro retrato do travestismo no cinema português, infelizmente todos hoje sem banda-sonora original). Muita da obra de Ferreira foi criada sob um pseudónimo que nasceu de um erro de impressão: assinou uma reportagem só "Repórter" mas um erro de impressão que fez uma mancha que pareceu um X, acaso que ele apreciou; o Repórter X foi também o protagonista ficcional de textos do próprio Ferreira escritos sob esse pseudónimo (no princípio da sua carreira, que eles fossem a mesma pessoa era desconhecido pelo público, ao ponto de Ferreira ter um dia entrevistado o seu próprio alter-ego/personagem para um jornal). Em 1987, José Nascimento pegou na estória deste muito esquecido personagem outrora mítico e fez a longa de ficção Repórter X, na qual Joaquim de Almeida se estreou no cinema Português (tendo já começado a sua carreira internacional antes) no papel-título, e em 2002 o docudrama da RTP Repórter X Reaparece (realizado por Alexandre Reina e Nuno Vaz e com cenas de reconstituição ou surreais com João Reis como Ferreira, baseado principalmente na autobiografia da recuperação da toxicodependência do escritor, Memórias de um Ex-Morfinómano) renova este arrastado ressuscitar da popularidade do autor que ainda hoje está a ser operado.
Reinaldo Ferreira, Pai, uma mistura de Conan Doyle, de Sherlock Holmes memorialista de si próprio, e de Tintim da vida real
Estando introduzido outro "ilustre desconhecido" merecendo ser conhecido e louvado de novo, passemos à obra em questão: este volume O Homem que Perdeu o Cérebro é uma colectânea feita pelas Edições Rolim em 1987 (até que ponto isto foi o que os Anglo-Saxónicos chamam tie in ou "enlaçar" de um produto com outro lançado na altura, no caso com o filme de Nascimento, é pura especulação) de 3 contos longos ou noveletas, creio que escolhidas ao acaso, mas que, sendo todos policiais, todos excepto o último publicados na colecção Novela Policial dirigida (e parcialmente escrita) por Ferreira em 1931 e sendo todos protagonizados pelo alter-ego personagem de Ferreira, o Repórter X que escreve na primeira pessoa, acabam por não fazer um volume cacofónico, sendo muito mais criticável a inclusão da obra na Colecção Fantástico da Rolim quando os livros são puramente policiais e só podem parecer vagamente fantásticos pela linguagem e escrita algo expressionista e alguns minúsculos toques que poderão parecer irreais de uma forma paranormal.
Capa e contracapa (ou antes o contrário) da edição da Rolim
Este volume (até por ser dos poucos deste autor que se podem encontrar com facilidade fora de alfarrabistas) é uma óptima introdução ao estilo de Reinaldo Ferreira, que é constituído por enredos movimentados, folhetinescos e aventurosos, como na chamada pulp fiction, mas com uma escrita estilística mais polida e esbelta, sendo especialmente interessante hoje pela riqueza do vocabulário e pelos vocábulos muitos deles hoje fora de uso, menos usados ou usados mais com outros significados que podemos achar nele, além de o uso de estrangeirismos dar uma ideia de um ambiente de Lisboa e arredores cosmopolitas (falamos da Lisboa de turistas e missões diplomáticas estrangeiras, da Sintra turística e do Vale do Tejo de algum cosmopolitismo de marinheiros e mercadores marítimos) e de um Portugal a modernizar-se e "aburguesar-se" segundo modelos anglo-franceses; o crítico e autor Jorge Candeias pelo contrário considera que isto é irritante e mais de "provincianismo armado aos cágados", mas discordo e considero o tão rico como o resto da estilística e vocabulário deste tesouro de pulp fiction.
Não, não é isto. É isto
Os textos deste volume não têm tempos mortos ou "gorduras indesejáveis" (citando Candeias), são directos e têm um ambiente de mistério bem sucedido que se desvenda em parte de forma apressada mas em parte de forma completamente natural e seguindo o ritmo das chegadas das pistas, portanto não há nenhuma razão para alguém ficar desiludido com a leitura destas obras-primas do policial popular inesperadas na nossa literatura para a imagem estereotipada da literatura portuguesa que os nossos críticos querem passar), excepto pelo enganador dos títulos e pelo incluir sem nexo destes policiais numa colecção de literatura fantástica, porque O Homem que Perdeu o Cérebro não é literal e realmente sobre um homem a quem removeram o cérebro por alguma cirurgia de ficção científica primitiva, e Os Anfíbios do Tejo não é literalmente sobre algum mundo de criaturas mutantes anfíbias à beira Rio Tejo. O Homem que Perdeu o Cérebro é uma narrativa de mistério e crime típica do policial da viragem do século XIX para o XX e do princípio do XX, que envolve o protagonista/autor encontrar-se com um misterioso Inglês num eléctrico que tenta pedir-lhe auxílio dizendo estar sozinho; pouco depois surge a mulher do dito com dois bebé papudos, e pouco depois os 4 desaparecem, deixando o Repórter confuso quanto a isto tudo. Suspeita que o homem "não bata bem", mas pouco depois vemos que o caso é mais complicado do que parece, e o verdadeiro louco pode ser uma outra figura confundida com o Inglês do eléctrico. Na verdade, tudo é um caso que mete loucura, homicídio, roubo de identidade e várias outras aventuras e desventuras típicas do folhetim, do romance popular e da literatura de cordel, o que é tão competente quer pela escrita e enredo de Ferreira quer pelo seu vocabulário e estilo. Fantástico neste romance, só se (usando da noção de fantástico do crítico Franco-Búlgaro Tzvetan Todorov que concerne coisas que deixam na dúvida o leitor quanto à naturalidade ou sobrenaturalidade do que lê, ouve ou vê) concedermos que realmente há alguma dúvida sobre o quão literal o "perder o cérebro" de que se queixa um vilão é, e o que teria provocado a dita perda (se ele de facto ocorreu).
Capas de algumas novelas da colecção Novela Policial incluindo As azagaias da princesa mulata à venda no Olx
Depois vem As Azagaias da Princesa Mulata, em que o autor é desperto e vê que a definição do seu horário para esse dia foi definido por agentes de uma Princesa Zaizá da Abissínia (hoje Etiópia), que reclama ser uma descendente de uma união de D. Sebastião com uma Moura negra durante um cativeiro após uma suposta sobrevivência a Alcácer-Quibir e por isso pretende reconhecida a sua reivindicação de pretendente ao trono português pela República Portuguesa. A Princesa mulata e os seus servidores querem forçar o Repórter a escrever artigos em defesa da sua causa, para porém a opinião pública lusa do seu lado. Ao longo do enredo, o Repórter é ameaçado com lanças (azagaias africanas) lançadas de um carro misterioso pela própria Zaizá, que atingem sempre muito perto de si sem o atingir de facto, e ele descobre depois que um trabalhador dos Negócios Estrangeiros Português fora morto também com uma azagaia quando estava num café. Embora novamente o policiário, o crime e o mistério sejam principais, aqui já parece surgir um vago travo a fantástico, devido a umas descrições de uma força e agilidade sobre-humana e quase felina da Princesa Zaizá (embora isso poderá ser explicado por um treino militar de elite ou pelas vagas e misteriosas descrições do autor). Alguns como Jorge Candeias têm problemas com a solução do mistério assentar no reconhecimento pelo autor de um certo cheiro, que ele reconhece na altura exacta e não antes de uma forma que pode parecer aleatória e por conveniência, mas pessoalmente parece só o efeito de um protagonista que se viu "afogado" num caso imenso e teve de "assimilar" muito, e creio que o texto insinua com as referências anteriores ao dado cheiro que muito antes da dedução precisa, o herói ia suspeitando e pensando sobre a questão, que assim seria uma solução muito menos "caída do céu".
Por fim, vem a noveleta Os Anfíbios do Tejo, com um ambiente de aventura folhetinesco-policial como os anteriores mas que apresenta no início um ambiente de horror bem-construído (que será a única coisa vagamente "fantástica" que tem), embora no final este seja substituído, embora de uma forma algo natural e satisfatória, por uma solução policial usual (um pouco menos natural pode parecer a forma como esta noveleta, protagonizada de facto por um "anfíbio do Tejo" (um trabalhador fluvial que ganha a vida entre terra e o rio nos paquetes que aportam ao porto de Lisboa), Manuel Belchior alcunhado o Sete-Línguas, de repente passa a ser o protagonista o Repórter X e um amigo historiador no final, analisando o desaparecimento deste e solucionando-a e conseguindo apreender o culpado, embora não deixe de ser agradável, depois de 2 textos com o Repórter X, voltar a "ver" (lêr?) o nosso "velho amigo". O enredo, esse começa quando "Sete-Línguas" lê um jornal num café, recorta um pedaço dum anúncio de jornal, lê-o, e parte com ele, deixando o resto do jornal para trás (os outros tentam perceber o que o atraiu comprando um jornal do dia e vendo o que falta no espaço recortado, mas como não olham para a página certa da folha da secção de anúncios, pensam que ele vai responder a um anúncio de procura duma ama-de-leite, ao invés do verdadeiro anúncio que lhe cativou a atenção). No seguimento do anúncio, ele vai a uma casa isolada, onde consegue ultrapassar alguns desafios pelo caminho, mas acaba por ser apanhado por uma armadilha, o que lhe impede de desvendar um mistério ligado com a sua família. Este mistério será esclarecido pelo Repórter e o seu amigo no final do texto, com uma solução que apesar de ser devidamente elaborada numa novela que é referido em nota de rodapé, O Segredo dos Reis de Portugal que inaugurou a Série Novela Contemporânea por ele editada em 1924-25 (reunindo novelas de vários autores do jornalismo e literatura da altura, incluindo Domingues e um jovem Ferreira de Castro, cujo estilo inicial se parecia muito ao de Reinaldo Ferreira), não deixa de ficar concluída de forma auto-contida, sem mais informações, neste livro que (ao contrário de O Segredo dos Reis de Portugal) se pode encontrar em quase todas as bibliotecas municipais.


We already spke here of Mario Domingues, the Portuguese-Santomean author who was journalist, populariser of history, detective-mystery/crime and western fiction-writer. This post concerns the literary and journalistic "master" to Domingues, the Lisbon-native Reinaldo Ferreira. Ferreira was a precocious talent in journalism, at 12 years-old and with a sufficing domain of Spanish he sent (according to the Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira/"Great Portuguese and Brazilian Encyclopedia", of which he himself was collaborator, says an article on him published little after his death in 1935) articles to be published in Spanish publications, and around 17 years-old he started in the O Século ("The Century") newspaper doing fire coverage (Ferreira, who seemed to take his imagination always to the worst, when the editor asked him if "he already had done fires" he assumed that he meant if he had set one and he told him that he hadn't, initiating his debut in this journalistic "expertise" in lack of a journalist to cover a fire in the Lisbon area). In 1917, he author created an uproar with feuilletons under the title of O Mistério da Rua Saraiva de Carvalho/"The Mystery of Saraiva de Carvalho Street" and the pen-name Gil Goes (presented as a "journalist-detective" in which it describes some crimes in Lisbon involving supposed corpses, a villain called "The Man of the Crooked Eyes" and even a German "spy ring" this was during World War I), that provoked a panic in Lisbon and were a success of readers and only little before the end of the publishing, to finish the panic, it was revealed that all was fiction and Goes was Ferreira, what did not erase the serialised feuilleton till the end.
Little afterwards, a film would be shot by Leitao de Barros and the rarely also mentioned Luis Reis Santos for the producer by the former created Lusitânia Films, but the shot would stay incomplete and the film in negative, due to the almost Portuguese-style comedy scenario around the production company (Leitao de Barros had gone to Lisbon to study, using the money of the provincial countryside aunts to create the production company, and when the money ended, not getting he more due to the unts getting to know ofthe use given to the previous money, the comppany ended after a short life, leaving a film incomplete). The film would be "restored" by the Portuguese Cinematheque in a copu with good image quality but that keeps all the raw filming (including repeated takes), having title cards introducing each section of the film according to chapters from the original text (instead of dividing them throughout time for turning the images less criptic and the visioning less uninteresting) and not having any soundtrack (a restored version with soundtrack and due montage to be bought by order for 5 Euros in physical DVD or WMV or MPEG file by e-mail to omosquito_publishers@gmx.com, with new title cards, and even subtitles in English, French and Spanish).
Sample from the O Mosquito Publishers restoration
After the literary and journalistic success o' O Mistério da Rua Saraiva de Carvalho/"The Mystery of Saraiva de Carvalho", he would have an intense work in journalism (being considered the main Portuguese journalist by the time-point of his death, despite being also one of the ones that the most did extrapolate and "drib and drab" even if sometimes unconsciously, or even making it up like the news piece of a trip to Soviet Russia written indeed in Paris though testimonies of exiled Russians and news pieces of non-Portuguese journalists, despite the news pieces on the political struggles in Spain being remarkable), to the ending of his career already in the '30s creating even his own newspapers and magazines that for logistic issues printed out of Barcelos, in which it came-up much detective-mystery/crime fiction and launched authors and journalists like Domingues, was author of much popular (among detective-mystery/crime stories, some fantasy and science fiction) and melodramatic fiction and even theatre, worked in some of the first cinema productions in Barcelona (where he lived some years and it was born his son Reinaldo Ferreira, Son [profile by Reinaldo Ferreira III], poet, radioplaywright and lyricism of the light songs Uma Casa Portuguesa/"A Portuguese House" and Kanimambo, long time established in Mozambique) assistant director and afterwards started to direct he himself (for his Repórterx Film, films like the silent detective-mystery/crime story O Taxi Nº 9297/"The Taxi No. 9297" and the comedies Hipnotismo ao Domicílio/"Housecall Hipnotism", Vigário Sport Club/"Bunkum Sport Club" and Rita ou Rito?.../"Rita or Rich?", all from 1927, this latter being the first portrayal of cross-dressing on Portuguese cinema, unfortunately all today without original soundtrack). Much of Ferreira's work was created under a pen-name that was born from a printing error: he signed one new piece just "Reporter" but a printing error made a spot that seemed like an X, chance that he appreciated; the Reporter X [not the Guatemalan one] was also a fictional lead of texts by Ferreira himself written under that pseudonym (at his career's beginning, that they were one and the same was unknown by the audience, to the point of Ferreira one day having interviewed his own alter egot/character for a newspaper). In 1987, film director Jose Nascimento picked up the story of this little known of yore mythical character and made the fictional long feature Repórter X, in which Joaquim de Almeida debuted unto Portuguese cinema (having already started his international career before) on the title role, and in 2002 the RTP TV docudrama Repórter X Reaparece ("Reporter X Reappears", directed by Alexandre Reina and Nuno Vaz and with reenactment or surreal scenes with João Reis as Ferreira, based mainly on the autobiography of the writer's drug-dependency, Memórias de um Ex-Morfinómano/"Memoirs of an Ex-Morphinomaniac") renews this dragged-out resurrecting of the author's popularity that is still today being undertaken.
Reinaldo Ferreira, Father, a mixture of Conan Doyle, of Sherlock Holmes memoirist of himself, and of real life Tintin
Being introduced another "illustrious unknown" deserving to be known and praised again, let us pass to the work in question: this volume O Homem que Perdeu o Cérebro ("The Man Who Lost His Brain") is a collection made by the Edições Rolim publisher in 1987 (till what point this was what the anglo-saxonics called tie in of a product with another released on that time-point, in the case with the Nascimento film, is pure speculation) of 3 long short-stories or novelettes, I believe that chosen by chance but that, being all detective-mystery/crime stories, all except the last one published in the Novela Policial collection directed (and mainly written) by Ferreira in 1931 and being all starring Ferreira's character alter ego, the Repórter X who writes in the first person, end-up by not making-up a cacophonic volume, being much more criticisable the inclusion of the work on the Colecção Fantástico ("Fantasy Collection") by Rolim when the books are purely detective-mystery/crime and only can seem vaguely fantastical by the language and somewhat expressionist writing and some miniscule touches that might seem unreal on a paranormal fashion.
Cover and back-cover (or better put the reverse) of the Rolim edition
This volume (it even may be among the few of this author that may be find with ease outside the old-book-sellers) is a great introduction to Reinaldo Ferreira's style, that is constituted that is made-up of eventful plots, serial-like and adventurous, like in the so-callled pulp fiction, but with a more polished and svelte stylistic writing, being specially interesting today for the richness of the vocabulary and for the vocables many of them out of use, less used or used more with other meanings that we can find in it, besides use of loanwords giving an idea of an environment of Lisbon and surroundings (we speak of he Lisbon of tourists and foreign diplomatic mission, of the da touristic Sintra and of the Tagus Valley in some cosmopolitanism of sailors and maritime merchants) and of a Portugal modernising itself and "bourgeoning" according to anglo-french models; the reviewer Jorge Candeias on the contrary considers that this is irritating and more of "show-off provincianism", but I disagree and consider it so rich how the rest of the stylistic and vocabulary of this pulp fiction treasure.
No, not this. It is this
The texts of this volume have no down times or "undesirable fats" (quoting Candeias), are straightforward and have a successful mystery ambience that unravels in part in rushed way but in part in completely natural way and follwing the rhythm of the arrivals of the clues, hence there is no reason for someone to stay disappointed with the reading of these masterpieces of the detective-mystery/crime story unexpected for the steotypical image of Portuguese literature that Portuguese critics want to pass unto us), except by the deceiving of the titles and by the senseless including of these detective-mystery/crime stories into a fantasy literature collection, because O Homem que Perdeu o Cérebro/"The Man who Lost the Brain" is not literal and really on a man to whom they removed the brain by some early science fiction surgery, and Os Anfíbios do Tejo/"The Amphibians from the Tagus" is not literally on some world of amphibian mutant creatures by the Tagus River. The Man Who Lost His Brain is a mystery and crime narrative typical of the detective story from the turn of the 19th to the 20th century, which involves the lead/author meeting with a mysterious Englishman on a streetcar that tries to ask him for aid telling him he is by himself; litle after comes-up the woman of the latter with two jowly babies, and littleafterwards the 4 disappear, leaving the Reporter confused on all this. He suspects that the man "is not quite right", but little afterwards we see that the case is more complicated than it seems, and the truth madman might be another figure confused with the Englishman from the streetcar. In truth, all is a case that gets in madness, homicide, identity theft and several other adventures and misadventures typical of the feuilleton, of the dime novel and the chapbook literature, what is as competent for Ferreira's writing and plotting and for his vocabulary and style. Fantasy in this novel, only if (using the notion of fantastical of the French-Bulgarian critic Tzvetan Todorov that concerns things that leave at doubt the reader about the naturality or supernaturality of what one reads, hears or sees) we conceed that really there is some doubt on how literal the "losing the brain" that the villain complains of is, and what would have provoked said loss (if in fact it occured).
Covers of some Novela Policial/"Detective-Mystery/Crime Novella" collection novellas including As azagaias da princesa mulata"/The javelins of the mulatta princess" for sale at Olx
Afterwads comes As Azagaias da Princesa Mulata/"The Javelins of the Mulatta Princess", in which the author is awakened and sees that the setting of his schedule for that day was set by agents of one Princess Zaizah of Abissinia (today Ethiopia), who claims to be a descendant from a union of Don Sebastian with a black Mooress during a captivity afterwards to a supposed survival to Alcazar-El-Kebir and for that intends to be recognised her claim to the Portuguese throne by the Portuguese Republic. The mulatta princess and her servers want to force the Reporter to write articles in defense to her cause, for putting the luso public opinion on her side. Along the plot, the Reporter is threatened with spears (African javelins) cast out from a mysterious car by Zaizah herself, that always hit very close to himself without hitting him infact, and he discovers that a Portuguese Foreign Affairs worker had been killed also with a javelin when he was at a cafe. Although again the detectivesque, the crime and the mystery be leads, here now it appears to come-up a vague aftertaste to fantasy, due to some descriptions of a superhuman an almost feline force and agility of the Princess Zaizah (although that might be explained by an elite military training or by the vague and mysterious descriptions of the author). Some like Jorge Candeias have problems with the mystery's solution standing on the recognition by the author of a certain smell, that he recognises at the exact time-point and not before in a way that might seem random or by convenience, but personally it seems just the effect of a protagonist that saw himself "drowned" on an immense and had to "assimilate" much, and I believe it so that the text insinuates with the previous references to the given smell that much before the needed deduction, the hero went suspecting and thinking on the issue, that so would be a much less a solution "dropped from the sky".
At last, comes the novelette Os Anfíbios do Tejo/"The Amphibians from the Tagus", with an ambience of serial-detective adventure like the previous ones but which presents at the beginning a well-constructed horror ambience (which shall be the only vaguely "fantastical" thing that it has), although at the end that be replaced, although in somewhat natural and satisfactory way, by an usual detective-mystery/crime solution (a little less natural may seem the way how this novelette, starred by an "amphibian from the Tagus", a waterway that earns the life between the land and the river in the liners that board the Lisbon port, Manuel Belchior nicknamed the "Seven-Tongues", suddenly it passes unto being lead the Reporter X and a historian friend of his at the ending, analysing the desappearance of the former and solve it and getting to aprehend the guilty-party, although it does not cease being agreeable, after 2 texts with the Reporter X, getting back to "see" (read?) our "old friend"). The plot, that one starts when "Seven-Tongues" reads a newspaper at a cafe, cuts-out a piece of a newspaper ad, reads it, and leaves with it, leaving the the rest of the newspaper behind (the others try to understand what attracted him byuing the newspaper of the day and seeing what is missing on the cut-out space, but as they do not look at the right page of the advertisement section's sheet, they think that he is going to answer an ad of want for a wet nurse, instead of the real advert that captivated his attention). Following the advert, he goes to an isolated house, where he gets to overcome some challenges along the way, but ends up being caught by a trap, what prevents him from unraveling a mystery connected with his family. This mystery will be cleared-up by the Reporter and his friend at the text's ending, with a solution that despite being duely elaborated upon in a novella that is refered in footnote, O Segredo dos Reis de Portugal/"The Secret of the Kings of Portugal" which inaugurated the Serie Novela Contemporânea/"Contemporary Novella" by him edited in 1924-25 (gathering novellas by several authors of journalism and literature from that time-point, including Domingues and young future famed novelist Ferreira de Castro, whose early style resembled much Reinaldo Ferreira's), does not cease being concluded in self-contained way, without more informations, on this book that (unlike The Secret of the Kings of Portugal) can find itself in almost all the Portuguese municipal libraries.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

"Jim West - O Ataque ao Forte", Raul Correia // "Jim West - The Attack on the Fort", Raul Correia

Ainda se lembram da publicação, sobre As Aventuras de Jim West de Raul Correia? Se não gostaram dela provavelmente não vão gostar desta 43.ª publicação deste blogue mas enfim, eu já vos tinha avisado nessa publicação que ainda íamos voltar a Jim West, não avisei? Porque agora, vamos passar os olhos por uma espécie de "unidade independente" dentro dessa longa novela "em folhetins" (identificada enquanto "unidade" individualizada numa das capas da revista O Mosquito, em que em vez e simplesmente surgir o título geral da novela, As Aventuras de Jim West, lia-se Jim West - O Ataque ao Forte, como se pode ler acima, assinalando uma metade separada da novela, demarcando a etapa final do texto, um desenvolvimento do enredo que já referi por alto na outra publicação).
Depois de Jim West e Nath Pig encontrarem pelo caminho para o Forte Laramie um velho prospector velho amigo deste último, e reencontrar-se o casal West (visto que Louise se encaminhara para lá depois de se separarem, como previamente combinados por ambos, enquanto primeira paragem mais segura para os colonos europeus). Os Sioux que já haviam atacado e perseguido os nossos heróis e as caravanas de «wagons» (como diz Correia usando do termo inglês) até ao forte, pouco depois organizam uma ataque ao mesmo (a novela inteira, da secção anterior até esta, pode bem comparar-se com a estrutura narrativa d'O Último dos Moicanos de Fenimore Cooper, com a estrutura básica fuga-captura-salvamento-segurança nova-fuga nova captura-novo salvamento-conclusão, embora agora com um final mais feliz para os protagonistas), que resulta num ataque que invade o forte e provoca uma resistência desesperada dos colonos (sob um oficial de ascendência francesa e sua mulher da mesma nacionalidade), que apesar de não acabar com o massacre dos colonos, força-os a uma luta desesperada contendo primeiro a invasão indígena do forte e depois a avançar para fora deste atacando as forças do cerco (numa diferença da obra de Cooper em que o cerco não é quebrado, mas os próprios cercados se rendem em troca de permissão de passagem segura, mas de facto são massacrados ou raptados pelos aliados Hurões dos Franceses que os cercam). Durante o contra-ataque branco, Jim avança junto com Nath primeiro e ambos acabam sozinhos num precipício defendendo-se com tiros e pedregulhos lançados sobre os Sioux que abaixo do precipício os rodeiam. Enquanto isso, Louise West, que nem tem a certeza que o marido ainda está vivo, faz parte da carga de cavalaria que ajuda a resgatá-lo e terminar o ataque à população colona radicada em torno e dentro do forte (este episódio e alguns outros ajudam a fazer de Louise, que já agora parece morena nos desenhos apesar de ser descrita como loira pelo texto, mais que uma mera fada-do-lar migrante).
A narração evolui depois, sempre na terceira pessoa através de um narrador omnisciente, falando da reconstrução do forte e da criação dos primeiros povoamentos em redor, conforme a zona se pacificava para os colonos euro-americanos. Depois, Jim e Nath, voltando a falar com o prospector amigo de Nath, Doods, ficam a saber que este havia ficado a saber, de outro prospector, de uma enorme quantidade de ouro em terra pawnee próxima, e assim os três partem seguindo as indicações do falecido explorador que nunca pudera cumprir o projecto de seguir o rasto das informações que reunira, guiados pelo sonho de Jim e Nath de conseguirem o ouro para darem uma vida condigna ao filho recém-nascido de Jim, baptizado de Fred, e (a insistência do próprio Nath, como homem menos educado mas com respeito da educação elevada) pô-lo a estudar para "ser alguém", a longo prazo. Durante o caminho, Jim mata um urso que surge de repente, e está pronto a atacá-lo, e enquanto ainda recupera o folego e Nath comenta a situação com o seu casticismo do Oeste habitual, um tornado levanta-se e os 3 escapam com vida por pouco, e apesar do tornado baralhar os sinais da natureza um pouco, e de um breve ataque de Pawnees, os 3 exploradores descobrem o local onde está guardado o dito ouro e voltar, supomos que para cumprir os sonhos por eles sonhados.
Esta metade da novela de Correia é organizada como a anterior, e segundo a estrutura de duas repetições da estrutura fuga-captura-salvamento d'O Último dos Moicanos, com novamente as personagens perdendo-se, depois de umas peripécias iniciais voltarem a segurança, e finalmente frustrando todos os perigos e ficando em segurança. As personagens ficam "iguais a si próprios" (como é usual dizer-se dos jogadores de futebol), mas algumas ganham mais peso na 2.ª metade da novela aqui, outras substituindo outras no mesmo papel, mas os mesmos lugares de antagonistas ou coadjuvantes ficando claros. A principal diferença é como na 2.ª metade da novela As Aventuras de Jim West, os antagonistas Índios passam de uma oposição quer colectiva quer individual (com alguns chefes e curandeiros oponentes dos colonos individualizados e bem-delineados, outros fortes e ferozes, outros oportunistas sem a mesma força, outros crentes num sistema de crenças tradicional), para um perigo somente colectivo, com o bando colectivo dos Sioux do ataque ou dos Pawnee da busca ao ouro a tomarem o lugar dos inimigos individualizados líderes seculares ou espirituais dos indígenas do princípio da novela. Mas também relacionado com o retrato dos Índios nesta parte desta obra de Raul Correia, é como o retrato ganha alguma complexidade apesar deste "colectivismo" do retrato: depois do primeiro ataque pawnee, Jim decide que eles devem deixa-los viver e não atacá-los, porque eles agora não deveriam voltar a atacar, e no fim de contas eram todos seres humanos que só queriam a sua vida (um comentário curioso, do princípio da humanização do "selvagem" na ficção nos meados do século XX que parece contradizer o retrato mais simples dos Índios da 1.ª metade do livro).
Esta secção de As Aventuras de Jim West continua a ter as falas grandiosas, grandes actos e amores, lealdades e pregações em grande, dignas do seu género. Como por exemplo esta de Louise West para a esposa do comandante Francês do Forte Laramie: «– Não, M.me de Bresse! Por Deus, não! Jim foi para o norte houve três dias... e os Sioux estão em guerra! Se ele foi capaz de chegar a nossa casa, se ele viu que o fogo a devorava, ele deve ir como louco procurando-me! Por Deus, M.me de Bresse! Ele por certo foi à aldeia dos Sioux! Faça com que me deem uma escolta de soldados! É preciso que encontre Jim, antes que seja tarde mais!...» Coisa com força que reforça o próprio enredo e condiz com ele em dramatismo, e que dá ao laço entre Louise West e o seu marido a força e grandeza acima do normal que seria de esperar de um livro de aventuras deste género e da fase no século XX em que foi escrito.
É fascinante ler todo este texto (incluindo a maior abertura aos Índios e comentário de "todos somos humanos") à luz de paralelo da experiência portuguesa de colonização no período da II Guerra Mundial (e a que viria no pós-guerra), quando Portugal começava a aumentar a colonização populacional efectiva e começava a enfrentar o princípio de um nacionalismo cultural e estava numa longa "contagem descrescente" para as guerras entre colonos e indígenas que se seguiriam no fim do Império Português, e também de um ponto de vista latino (com a maioria dos protagonistas tendo segundo descrições e as ilustrações de E. T. Coelho traços mais "étnicos" que o comum para protagonistas de westerns norte-americanos, o que poderemos atribuir à autoria por dupla de autor e desenhador Europeus Latinos) a história e género norte-americanos. Assim aqui vemos afirmações de nacionalismo, sobre a capacidade de construção da vida de alguém que arriscou uma vida nova feita do nada numa terra longuínqua, e um carácter escapista da literatura que seria de esperar de um livro similar escrito nos EUA, mas que da autoria de autor portuguesissimo como Correia e tendo este quase subtexto de latinidade e de paralelo português é algo muito menos usual e assim muito mais interessante. Algo como se pode ler em muitas obras das que temos visto neste blogue até ao momento. Novamente lembro que esta obra de Raul Correia nunca foi publicada em livro, por isso só cópias antigas da revista O Mosquito de 1943 ou vendo online algumas páginas que surgem no blogue dedicado especificamente à revista de estreia desta novela, O voo d'o Mosquito (novamente lembro, com as imagens das páginas de texto algo fora de ordem, embora lidas todas elas consegue-se ordenar de forma algo intuitiva a sua ordem cronológica no enredo, embora ainda assim seja óbvio que alguns capítulos faltam, embora desde a última publicação, algumas páginas mais sejam visíveis).


You still recall the post on As Aventuras de Jim West/"The Adventures of Jim West" by Raul Correia? If you didn't like it you'll likely not like this 43rd post of this blog but well now, I had warned on in that post that we still would go back to Jim West didn't I? Because now, we will pass the eyes over a kind of "independent unit" inside that long novella "in feuilletons" (identified while individualised "unit" in one of the covers of the O Mosquito magazine, in which instead of simply coming up the general title of the novella, As Aventuras de Jim West, it read itself Jim West - O Ataque ao Forte/"Jim West - The Attack on the Ford", as it can be read above, signaling a separate half of the novella, demarcanting the final stage of the text, a plot development that I already refered a shade in the other post).
After Jim West and Nath Pig find themselves along the way to Fort Laramie to an old prospector old friend of the latter, and meeting again the West couple (seen that Louise heade herself to over there after separating, as preciously agreed by both, while first passage safer for the european settlers). The Sioux that already had attacked and chased our heroes and the caravans of «wagons» (as says Correia using of the English term) till the fort, little afterwards organised an attack to the former (the whole novella, from the previous section till this one, can well compare itself with the narrative structure o' The Last of the Mohicans by Fenimore Cooper, with the basic structure escape-capture-rescue-new security-new capture-new rescue-conclusion, although now with a happier end for the leads), that results in an attack that invades the fort and provokes a desperate resistance of the settlers (under an officer of French ancestry and his wife from the same nationality), that despite not ending with the massacre of the settllers, forces them to a desperate struggle containing first an indigenous invasion of the fort and after wards to advance outwards the former attacking the siege's forces (in a difference from Cooper in which the siege is not broken, but the besieged themselves surrender in exchange of permission of safe passage, but in fact are massacred or kidnapped by the Huron allies of the French that besiege them). During the white counter-attack, Jim advances together with Nath first and both end alone on a cliff defending themselves with shots and boulders launched over the Sioux who beneath the cliff do surround them. Meanwhile, Louise West, who isn't even certain that her husband is still alive, makes part of the cavalry charge that helps to rescue him and finish the attack to the settler population established around and inside the fort (this episode nd some others help to make out of Louise, who by the way now looks brunette in the drawings despite being described as blonde by the text, more than a mere migrant household fairy).
The narration evolves afterwards, always in the third person through an all-knowing narrator, taling on the fort's reconstruction and the creation of the first settlements surrounding it, according to how the area pacified itself for the euro-american settlers. Afterwards, Jim and Nath, going back to talk with Nath's prospector friend, Doods, get to know that he had gotten to know, from another prospectivor, of an enormous quantity of gold in nearby Pawnee land, and so the three leave following the indications of the deceased prospector that never got to fulfil the project of following the track of the informations he gathered, guided by the dream of Jim and Nath of getting the gold to give a condign life to Jim's newly-born son, baptised Fred, and (on insistence of Nath himself, as man less educated but with respect for higher education) put him to study for "being someone", on the long run. During the way, Jim kills a bear that comes-up all the sudden, and is ready to attack him, and while he still catches his breath and Nath comments the situation with his usual old-timey-ness from the West, a tornado rises itself and the 3 escape with their lives barely, and despite the tornado scrambling the signs of nature a little, and a brief attack of Pawnees, the 3 explorers discover the locale where it s kept said gold and come back, we suppose that so to fulfil the dreams by them dream.
This half of Correia's novela is organised like the previous one, and according to a structure of two repetitions of the escape-capture-rescue structure o' The Last of the Mohicans, with again the characters losing themselves, after some early mishaps going back to safety, and finally frustrating to all the dangers and staying in safety. The characters stay "just like themselves" (as is usual to be said in Portugal about International Association Football players), but some gain more weight in the 2nd half of the novella here, others replacing others in the same role, but the same places of antagonists or adjuncts staying clear. The main difference is how in the 2nd half of the novella The Adventures ofJim West, the Indian antagonists pass from an opposition both collective and individual (with some chiefs and healers individualised and well delineated opponents, others strong and ferocious, others opportunists with the same strength, others believers in a traditional belief system), to a merely collective danger, with the collective band of the Sioux from the attack or the Pawnees from the search to the gold taking the place of the secular or spiritual chief individualised enemies from the novella's beginning. But also related with the portrait of the Indians in this part of Raul Correia's work, is how the portrayal gains some complexity despite this "colectivism" of the portrayal: after the first Pawnee attack, Jim decides that they should let them live and not attack them, because they shouldn't be going back to attack, and all in all they were all human beings that only wanted their life (a curious comment, from the beginning of the humanisation of the "savage" in fiction in fiction in the mid 20th century that seems to contradict the simpler portrait of the Indians from the book's first half).
This section of The Adventures of Jim West continues to have the grandiose lines, grand acts and loves, loyalties and preachings, worthy of their genre. For example this one of Louise West towards the wife of Fort Laramie's French commander: «– Não, M.me de Bresse! Por Deus, não! Jim foi para o norte houve três dias... e os Sioux estão em guerra! Se ele foi capaz de chegar a nossa casa, se ele viu que o fogo a devorava, ele deve ir como louco procurando-me! Por Deus, M.me de Bresse! Ele por certo foi à aldeia dos Sioux! Faça com que me deem uma escolta de soldados! É preciso que encontre Jim, antes que seja tarde mais!...» («– No, M.me de Bresse! By God, no! Jim went to the north there have gone by three days.. and theSioux are at war! If he was capable of getting to our home, if he saw that the fire devoured it, he must be going like madman looking for me! By God, M.me de Bresse! He for certain went to the village of he Sioux! Make it so that they give me a escour of soldiers! It is needed that I find Jim, before it is too late!...») Thing with force tha reinforces the plot itself and match with it in dramatism, and that gives to the bond between Louise West and her husband the force and greatness above normal that would be to exect out of an adventure book of this kind and the phase of the 20th century it was written on.
It is fascinating to read all this text (including the greater openness to the Indians and "we are all humans" comments) in light of the parallel of the Portuguese experience of colonisation in the World War II period (and the one that would come in the post-war), when Portugal started to increase the actual populational colonisation and started to face the beginning of a cultural nationalism and was in a long "countdown" to the wars between settlers and indigenous that followed to the end of the Portuguese Empire, and also from a latin point of view (with the majority of the leads having according to the descriptions and the E. T. Coelho illustrations more "ethnic" features than the common for leads of north american westerns, what we could attribute to the authorship by latin european author and artist duo) to north american history and genre.So here we see statements of nationalism on the capacity of building of the life of someone who risked a new life made from scratch in a faraway land, and an escapist character out of literature that would be to expect from a similar book written in the USA, but thatby the authorship of a most Portuguese Correia and having the former almost subtext of ltinityand of Portuguese parallel is something much less usual and much more intersting. Something that can be read in many works that we have seen in this blog till the moment. Again I recall that this work by Raul Correia never was published on book, so only old copies of the O Mosquito magazine from 1943 or seeing online some pages hat come-up in th blog dedicated specifically to the magazine of premiere of this novella, O voo d'o Mosquito ("The flight of the Mosquito") (again I remind, with the images of the text pages out of order, although read them one can order them in somewhat intuitive way their chronological order in the plot, although even so it be obvious that some chapters are missing, although since the last post, some pages more be visible).

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

"Esteiros", Soeiro Pereira Gomes // "Stuary-mills", Soeiro Pereira Gomes

Este livro pode ser polémico para incluir aqui, curiosamente tanto para os atacantes como para os defensores. Os atacantes tendem a ser gente de inclinações não esquerdistas (e aqui talvez possamos incluir os Socialistas menos inclinados à esquerda) que foram algo "traumatizados" pela tentativa de catecismo esquerdista durante o Processo Revolucionário em Curso e que foram forçados pelo programa lectivo de 1975 a ler este livro numa idade talvez demasiado jovem para o perceber, e pior ainda, com os professores, pressionados pela esquerda da altura para o ensinarem não como um texto em si mesmo mas como parte de uma "construção do socialismo em Portugal" e de uma nova cultura ideologicamente "engajada". Os defensores serão aqueles que defendem a visão subjacente a esse ensino e que acham neste caso que o texto deve ser dado a crianças e jovens não por ser adequado a elas mas por estarem nas idades ditas "mais impressionáveis" e portanto são mais fáceis de serem levadas a pensar de uma dada forma, mas o livro em si para eles é uma obra-prima adulta e é uma heresia que eu a "atire" aqui para o espaço da literatura infanto-juvenil (mesmo a grande colecção Caminho Jovem da Editorial Caminho que nos anos de 1990 e no princípio deste século publicaram este livro entre outras "pérolas" das obras mais "maduras" da literatura infanto-juvenil, mais juvenil que infanto-, teve de acrescentar à descrição do livro para promoção que "Esteiros é um dos textos inaugurais do neo-realismo e um romance marcante da literatura portuguesa do século XX", quebrando a grande regra da apresentação de qualquer tema aos leitores mais jovens: não usar temas não claros para todos como se o fossem e antes apresentar por palavras mais correntes o que realmente está subjacente a uma dada coisa, e também explicar "marcante porquê?" em vez que "catequizar" que é marcante e pronto).
A minha abordagem aqui não é nem a visão apocalíptica do livro como castigo para jovens e crianças e catecismo ideológico de facto sem qualquer qualidade, nem a de livro marcante e brilhante que é dos melhores da literatura portuguesa de sempre e que lançou uma brilhante corrente literária (no caso o neo-Realismo). Eu (na linha da abordagem de "suavização" das rupturas esquerda-direita e de ultrapassagem de abordagem "religiosa" à política e à ideologia dos anos '90 em que cresci e em que o livro é recuperado pela Caminho como "mera" obra literária sem mais carga) considero que o livro tem claras qualidades de estilo, um bom enredo, personagens bem delineadas com poucas "pinceladas", mas que não é dos livros com estilo mais polido, psicologia mais profunda e com mais simbolismo e substrato (pelo menos à superfície), e acho também que a corrente neo-Realista a que pertenceu (apesar das várias tentativas, de motivações meramente ideológicas para louvarem o neo-Realismo como corrente cheia de brilhantismo e das melhores da literatura portuguesa vintista) foi no geral medíocre, com só uns quantos autores realmente brilhantes (Alves Redol, quer na literatura para adultos quer na infanto-juvenil e até usando da fantasia, Manuel da Fonseca no contismo, no romance e na poesia, Mário Dionísio que era uma sacana com mania de inquisidor-mor em pessoa, ou Egito Gonçalves na poesia, e poucos mais), e muitos autores começaram no neo-Realismo mas só alcançaram realmente o brilhantismo quando começaram a ultrapassar esse estilo (Mário Braga, que deixou não só o neo-Realismo como o esquerdismo, tendo em 1977 publicado Entre Duas Tiranias: Uma Campanha Pouco Alegre em Prol da Democracia, um livro com uma explicita capa em que surgem uma suástica e uma foice e martelo, Fernando Namora que não se limitou pelas convenções do estilo, da Fonseca foi bastante fiel ao neo-Realismo mas não evitou o fantástico nos contos de Um anjo no trapézio e erótico pouco "engajado" nalguns textos, José Cardoso Pires que experimentou o policial, Jorge Reis pregou fidelidade à corrente até morrer mas a sua obra-prima Matai-vos uns aos outros é de facto um policial que ajudou a ir além da já ortodoxia literária neo-Realista, Castro Soromenho não evitou a ficção histórica e o fantástico ou realismo mágico, quase todos os autores neo-Realistas deixaram o estilo aqui ou ali, e os que eram "caninamente" fiéis a ele eram normalmente os piores escritores do estilo, que tinham mais ideologia que talento).
A obra de Soeiro Pereira Gomes é breve (não só esta, mas toda ela, a obra completa cabe num volume com a grossura da maioria dos romances modernos) mas com qualidade formal, e apesar da militância política (PCP) do autor, pela redução dos seus valores a um moralismo e amor a gente comum individualizada e por uma certa qualidade de fábula e uma certa ingenuidade que a torna quase infanto-juvenil, pode ser lida independentemente da ideologia. Mas só por ideologia poderia alguém considerar que este romance ou a obra completa do autor (composta principalmente de pequenas crónicas e contos, a maioria publicado no jornal O Diabo, não confundir com o de extrema-direita fundado em 1977, antes um jornal pró-PCP fundado em 1934 e que foi até ao começo da publicação regular do Avante! em 1941, tinha o Avante! já 10 anos de idade como jornal irregularmente publicado, foi o principal jornal esquerdista, sendo um pouco menos clandestino e mais "encapotado") é algo ao nível de Camilo ou Eça. Críticos pró-PCP como Urbano Tavares Rodrigues bem que tentaram fazer análises a dar uma dimensão épica a este livro e analisá-lo à luz da terminologia e conceitos de Marx ou Lenine...
No artigo O real e o imaginário em Esteiros de Soeiro Pereira Gomes de Tavares Rodrigues para a revista Colóquio Letras, n.º 51 de Setembro de 1979 da Fundação Calouste Gulbenkian, Tavares Rodrigues, ironicamente autor que começou por ser amigável a Salazar, bem tenta, com "frasesonas" grossas como "Em Esteiros não vemos ainda o proletariado organizado, mas é bem evidente a análise das formas e meios de produção, assim como o propósito de desvendar os antagonismos de classe (...). Em Esteiros a natureza (histórica) das relações humanas é determinada pelas relações de produção. Observam-se as classes sociais ligadas ao desenvolvimento económico. Vemos, no próprio acto do trabalho, os estivadores, os descarregadores de carvão da Fábrica Grande, os garotos do Telhal, de lágrimas nos olhos e palavra solta, com os ombros escaldados pelos tijolos. (...) No fundo, as relações económicas - valor de troca, mais valia, dinheiro, capital - são sempre relações que se realizam entre seres humanos, à custa de seres humanos. Em Esteiros são-nos mostradas pessoas deformadas pelo poder que o dinheiro confere (o Sr. Castro) e outras deformadas pela impossibilidade de chegar ao uso, ao consumo. Mas nestes mesmos se vai construir um universo de valores, uma consciência dos direitos que assistem àqueles que dos seus direitos são espoliados. (...) É também importante aspecto de Esteiros o seu alcance desmistificatório, anti-idílico, de romance que inter-relaciona razão e sentimento. Esta unidade realiza-se dialecticamente no receptor da mensagem, e nele progressivamente se constitui a consciência da exploração capitalista e da escravização do proletariado", ele bem tenta...). A mitologia até fala de um livro proibido que só viu a luz após o 25 de Abril ou durante o PREC, mas de facto ele foi primeiro publicado em 1945 de forma limitada e desapareceu pouco depois (quem o assegurará se só por poucas vendas ou também censura política?), e foi novamente publicado durante o período de Marcelo Caetano. Este livro directo, simples e semi-ligeiro não se presta a mitologias ou leituras epicamente dialética, e ainda bem, e é mais forte literariamente este fino livro por causa disso.
Soeiro Pereira Gomes é hoje mais conhecido por dar nome à rua e ao edifício onde se situam a sede nacional do PCP, e enquanto militante deste partido, que entrou na clandestinidade enquanto resistente opositor em 1945 (para desenvolver essa actividade de forma mais livre e militante) e que enquanto fumador compulsivo desenvolveu um cancro pulmonar do qual morreu a 5 de Dezembro de 1949 com 40 anos (e não de tuberculose como por vezes se diz) por na clandestinidade não conseguir obviamente o acesso aos tratamentos médicos que precisava para além de a saúde ter sofrido com a condição esquálida da vida clandestina (ontem na emissão da listagem de "heróis" Portugueses Treze da RTP a propósito de Catarina Eufémia perguntou-se se a esquerda também tem santos e Soeiro surgiu entre essas figuras que poderão ser chamados de santos seculares do PCP), mas para além de uma figura romântica que também foi escritor, também se assemelha ao Francês Antoine de Saint-Exupéry (falecido também novo e em circunstâncias misteriosas, abatido na II Guerra Mundial quando voava como parte da Força Aérea das Forças Livres Francesas no Mediterrâneo nos arredores de Marselha) por parte do estilo, poético mesmo quando realista e com uma inclinação a um jeito de fábula e uma certa natureza de aventura (neste caso aventuras social e política em vez de aventura de aviação, pelas áreas de actividade distintas de cada um deles), e pela obra completa curta mas marcante. De certa forma Esteiros, sendo protagonizado por crianças e jovens e tendo um elemento de maravilhoso, é O Principezinho de Soeiro Pereira Gomes (com a diferença do elemento maravilhoso ser abertamente fantástico em O Principezinho e somente sonho ou visão com pequena possibilidade de ser real em Esteiros).
a foto mais "célebre" e repetida de Soeiro Pereira Gomes
Passando à obra em si, começando pelo título, esteiros era o nome dado às fábricas situadas nos estuários do rio Tejo (daí "esteiros"). São estas o cenário deste romancezinho, especificamente os telhais, as fábricas de telhas, em Alhandra, Vila Franca de Xira, no Ribatejo, e os protagonistas são as crianças do sexo masculino que como comum na altura eram operariado aceitável, especificamente os jovens conhecidos pelas alcunhas de "Gineto" (nome alternativo popular para o mamífero pequeno euro-africano gineta), "Gaitinha" (do hábito de tocar harmónica), "Malesso" (termo para o touro que tem mau sangue que na Beira é usado popularmente para designar biltre, patife, mariola, o que não é de todo injusto para ele) e "Maquineta" (o operador de maquinaria). O romance mostra-nos o percurso da vidas destas crianças e outras que conhecem, e embora Soeiro seja obviamente inspirado pela sua militância política e pela sua visão de cultura envolvida politicamente, ele aborda o operariado alhandrense por um lirismo e uma poética, usando do retrato desse grupo de crianças que nos contam a sua realidade como uma espécie de "coro". Nós vemo-los sujeitos à dureza do trabalho, quando o arranjam, e vadiando, roubando para comer ou mantendo ainda apesar de tudo as brincadeiras da sua idade. Mas o mais interessante é quando os vemos sonhar, sonhos escritos pelo autor supostamente neo-Realista cheios de lirismo e penetrando nos sonhos infantis e com o gigantismo e impossibilidade de bater ou limitar do fantasismo infantil mesmo diante de uma realidade deprimente para o jovem real.
No fim do livro (num episódio com claro simbolismo ideológico para o autor, em que um evento dramático de causa natural ou com um autor não claro age como deus ex machina, "deus na máquina do palco" que "resolve" o enredo quando nenhum dos participantes humanos pode), depois de um incêndio destruir o forno da fábrica de um dos esteiros, Maquineta espera que eles miúdos vão entrar nesse dia mais depressa para a fábrica para trabalhar com os adultos e ganharem a sua vida, mas não acontece assim. Nesse esteiro, um dia ouve-se muito barulho de gente e cavalos: é a feira que chega aí. Gineto fica à espera que venham os amigos e a amiga Rosete para o levarem à feira, mas não aparecem. Porém reconhece uma voz e uma cantiga: é o Gaitinhas. Gineto chama por ele, mas o Gaitinhas e outro dos miúdos da zona (o Sagui) afastam-se juntos a procurar do pai deste primeiro, esperando Gaitinhas voltar com o pai para libertar os restantes miúdos e mandá-los todos para a escola para deixarem de precisar de trabalhar, explorados. Apesar do comunismo marxista-leninista-estalinista incontestável deste livro, Soeiro Pereira Gomes não nos dá uma "massa" anónima e colectiva mas um colectivo feito de indivíduos solidários mas não homogéneos e dá-nos não um relato de revolta operário-campesina mas um retrato de vida dura mas não vazia e com espaço para a esperança e termina com um foco familiar (com a reunião de pai e filho) e um fim quase de "estória de-trapos-para-às-riquezas" norte-americana que podia bem ser de fantasia capitalista (com o comprar da fábrica para a encerrar como método para acabar com a opressão em vez de uma revolução directa; embora claro que Pereira Gomes deve ter escrito isto exactamente para evitar a censura e um comunismo demasiado óbvio ante a censura, não deixa de ser curioso). É por isso que este livro, que se pode encontrar em quase todas as bibliotecas municipais e escolares e que se encontra ainda à venda em edições da Europa-América e outras editoras e em alfarrabistas, feiras do livro e sítios de vendas na rede em edições de várias editoras, valerá hoje para um publico geral de todas as idades (mas talvez maioritariamente para o mais jovem) e todas as inclinações partidário-políticas.


This book can be controversial to include here, curiously as much for the attackers as for the defenders. The attackers tend to be people of non-leftist leanings (and here maybe we can include the less left leaning Socialists) that were somewhat "traumatised" by the leftist catechism attempt during the Processo Revolucionário em Curso/"Portuguese On-Going Revolutionary Process" and were forced by the 1975 school program to read that book at an age maybe too young to get it, and worst still, with teachers, pressured by the left from the time-point for teaching it not as a text in itself but as part of "building of socialism in Portugal" and of a new ideologically "engaged" culture. The defenders would be those that defend an underlying vision to that teaching and that find in this case that the text must be given to children and younguns not for being adequate to them but for being in so-called "more impressionable" ages and hence they are easier to be lead to think in a given way, but the book in itself is an adult masterpiece and it is a heresy that I "throw it" here to the space of the children's/young-people's literature (even the great collection Caminho Jovem/"Young Caminho" or more literally "Path" by the Editorial Caminho publisher that in the 1990s and in the beginning of this century published this book among other "pearls" of the more "mature" works from children's/young-people's literature, more young-people's than children's/, had to add to the book's description for promotion that "Esteiros ("Stuary-mills") is one of the inaugural texts of neorealism and a striking novel of 20th century Portuguese literature", breaking the great rule of introducing any theme to the younger readers: not using terms not clear to all as if they were and instead presenting by more everyday words what is really underlying to a given thing, and also to explain "striking why?" instead of "catechising" that it is remarkable and there).
My approach here is nor the apocalyptic vision of the book as punishment for younguns and children and ideological catechism de facto without any quality, nor the one of striking and brilliant book that is one of Portuguese literature's best ever and that launched a brilliant literary current (in the case neorealism). I (in the line of approach of softening of the left/right break-downs and of overcoming of the "religious" approach to politics and ideology from the '90s in which I grew up and in which the book is recovered by the Caminho as "mere" literary work without anymore charge) consider that the book has clear styling qualities, a good plot, characters well outlined with few "paintbrushings", but who is not from among the books with more polished style, deeper psychology and withmore symbolism and substrate (at least at the surface), and I think that the neorealist current that it belonged to (despite several attempts, of merely ideological motivations to praise neorealism as current full of brilliancy and out of the best of twentieth Portuguese literature) was in the general mediocre, with only a few truly brilliant authors (Alves Redol, either in literature for adults and in the children's/young-people's literature and even using on fantasy, Manuel da Fonseca in the short-story-writing, on novel and on poetry, Mario Dionisio who was a bastard with a fade of being grand inquisitor in person, or Egito Gonçalves on poetry, and few more), and many authors started on neorealism but only really achieved brilliancy when they started overcoming that style (Mario Braga, who left not only neorealism but leftism, having in 1977 published Entre Duas Tiranias: Uma Campanha Pouco Alegre em Prol da Democracia/"Between Two Tyrannies: A Barely Joyful Campaign for Democracy's Sake", a book with an explicit cover in which it come-up a swastica and a hammer and sickle, Fernando Namora who didn't limit himself by the style conventions, da Fonseca was rather faithful to neorealism but didn't avoid the fantastical in the short-stories from Um anjo no trapézio/"An angel on the trapeze" and little "politically engaged" erotical in some texts, Jose Cardoso Pires who tried the detective-mystery/crime story, Jorge Reis preached fidelity to the current till he died but his masterpiece Matai-vos uns aos outros/"Draw blood on one another" is in fact a detective-mystery/crime story that helped to go beyond the alredy neorealist literary orthodoxy, Castro Soromenho did not avoid the historical fiction and the fantastical or magical realist, lmost all the neorealist authors left the style here or there, and the ones that were "dog-like" faithful to it were normally the worst writers of the style, who had more ideology than talent).
Soeiro Pereira Gomes' work is brief (it is not just this one, but all of it, the whole oeuvre fits into one volume with the thickness of most modern novels) but with formal quality, and despite the political militancy (Portuguese Communist Party) of the author, by the reduction of his values to a moralism and love to individualised common folk and by a certain fable quality and a certain ingenuit that turns it almost children's/young-people's-oriented, can be read independently of one's ideology. But only by ideology could someone consider this novel or the author's full oeuvre (composed mainly of small chronicles and short-stories, the majority published in the O Diabo/"The Devil" newspaper, do not confuse with the far right one founded in 1977, instead a pro-Portuguese Communist Party founded in 1934 and which was till the start of the regular publication of the Avante!/"Forward!" in 1941, had the Avante! already 10 years of age as unregularly published newspaper, was the main leftist newspaper, being a little less underground and "covered-up") is something to the level of Camilo or Essa. Pro-Portuguese Communist Party critics like Urbano Tavares Rodrigues much did they try to do analysis to give an epic dimension to this book or analyse it in light of the terminology and concepts of Marx or Lenine...
In the article O real e o imaginário em Esteiros de Soeiro Pereira Gomes ("The real and the imaginarium in Soeiro Pereira Gomes' Stuary-mills") by Tavares Rodrigues for the Colóquio Letras magazine, #51 of September 1979 from the Calouste Gulbenkian Foundation, Tavares Rodrigues, ironically author who started by being friendly to Salazar, well does he try, with thick "big-ass sentences" like "In Stuary-mills we do not see yet the organised proletariate, but it is well evident the analysis of the forms and means of production, as well as the purpose of unraveling the class antagonisms (...). In Stuary-mills the (historical) nature of the human relations is determined by the relations of production. It are observed the social classes connected to the economical development. We see, in the act of work itself, the dockers, the unloaders of coal from the Big Factory, the urchins from Telhal, of tears in their eyes and loose word, with the shoulders blanched by the bricks. (...) All in all, the economical relations - exchange value, surplus value, money, capital - are always relations that work themselves out between human beings, a the expense of human beings. In Stuary-mills it are to us shown people deformed by the power that money provides (Mr. Castro sir) and others deformed by the impossibility of getting to its use, to the consumption. But in the said former it goes to itself constructing a universe of values, a consciousness of the rights that attends to those who from their rights are despoiled. (...) It is also important aspect of Stuary-mills its demystifying, anti-idyllic, aspect of novel that inter-relates reason and feeling. This unity works itself out dialectically in the receptor of the message, and in it progressively constitutes itself the consciousness of the capitalist exploration and of the enslavement of the proletariate"1, well does he try...). Its mythology even talks of a forbidden book that only saw the light afterwards to the April 25th revolution or during the On-Going Revolution, but in fact it was first published in 1945 in limited way and disappeared little afterwards (who can assure it if only because of few sales or also political censorship?), and it was again published during the late-dictatorial Marcello Caetano period. This direct, simple and semi-light book does not lend itself to mythologies or epically dialectical readings, and better so, and it is literarilly stronger this thin book because of that.
Soeiro Pereira Gomes is today more known for giving name to the street and to the building where it locatte themselves the Portuguese Communist Party, and while partisan of this party, who got into the underground while opposing resister in 1945 (to develop that activity in more free and militant way) and that while compulsive smoker developed a pulmonary cancer from which he died at December 5 1949 at 40 year-old (and not from tuberculosis as sometimes it is said due to on the underground not getting obviously the access to medical treatments that he needed besides his health having suffered with the squalid condition of the clandestine living (yesterday in the broadcast of the RTP TV's listing of Portuguese "heroes" Treze/"Thirteen" un purpose of Catarina Eufemia it was asked if the left also has saints and Soeiro came-up among those figures that could be called of Portuguese Communist Party secular saints), but besides a romantic figure that was also a writer, he also resembles the Frenchman Antoine de Saint-Exupéry (deceased also young and in mysterious circumstances, shot down in World War II when he flew as part of the Free French Air Force in the Mediterraneum in Marseilles surroundings) on part of the style, poetic even when realistic and with much leaning to a knack of fable and a certain nature of adventure (in this case social and political adventures instead of aviation adventure, due to the distinct areas of activity of each one of them), and by the short but striking full oeuvre. In certain way Stuary-mills, having as leads children and younguns and having an element of wondrous, is Soeiro Pereira Gomes' The Little Prince (with the difference of the wondrous element being openly fantastical in The Little Prince and dream or vision alone with little possibility of being real in Stuary-mills).
the most "celebrated" and repeated Soeiro Pereira Gomes photo
Passing unto the word in itself, starting by the title, stuary-mills was the name given to the factories situated on the stuaries of the river Taguse (hence "stuary-mills"). It are these the scenario of this little-novel, specifically the Single-mills, the roofing tile factories, in Alhandra, Vila Franca de Xira, on the Ribatejo/North Bank Tagus region, and the leads are the male children that as common back then were acceptable toiling proletariate, specifically the younguns known by the nicknames of "Jenneto" (folksy and common alternative name for the euro-african mamal genet), "Little-Pipes" (from the habit of playing harmonica), "Badblooded" (term for the bull that has bad blood that in the Beira region is used popularly for terming a big-fat-git, scoundrel, miscreant, what is not fully unfair to him) and "Dobby-machine" (the machinery operator). The novel shows us the life course of these children and others that they know, and although Soeiro be obviously inspirred by his political militancy and by his vision of politically involved culture, he approaches the Alhandra-native toiling proletariate with some lyricism and a poetics, using of the portrayal of that group of children that to us tell their reality as a kind of "corus". We see them subjected to the harshness of work, when they get it, and drifting around, stealing to eat or keeping still despite everything the playing of their age. But the most interesting is when we see them dream, dreams writen by the author supposedly neorealis filled with lyricism and penetrating into the childish dreams and with th gigantism and impossibility of beating-down or limiting the childish fantasism even before a reality depressing for the real youngun.
At the book's end (in an episode with a clear ideological simblism for the author, in which a dramatic event of natural cause or with an author not clear acts as a deus ex machina, "god in the stage machine" that "solves" the plot when none of the human participants can), after a fire destroying the oven from the factory of one of the stuary-mills, Maquineta awaits that they kids to enter that day faster unto the factory for working with the adults and earn their living, but it doesn't happen like that.In that stuary-mill, one day it is heard much noise of folk and horses: it is the fair that arrives there. Jenneto stays awaiting that it do come his friends and the friend Rosete for taking him to the fair, but they don't show up. Yet he recognises a voice and a song: it is the Little-pippes. Jenneto calls for him but the Little-pippes and another of the zone's kids (the Marmoset) stand aside together to look for the former's father, awaiting Little-pippes to go back with the father for freeing the remaining kids and send them all to school for them to cease needing to work, exploited. Despite the unarguable marxist-leninist-stalinist communist of this book, Soeiro Pereira Gomes does not give us an anonymous and collective "mass" but a collective made-up of solidary but not homogeneous individuals and gives us not a report of toiling-peasant revolt but a portrait of hard but not empty life and with room for hope and ends with a familial focus (with a reunion of father and son) and an end almost of north-american "rags-to-riches story" that could well be of capitalist fantasy (with the buying of the factory for closing it as method for ending the oppression instead of a direct revolution; although of course that Pereira Gomes must had written this exactly to avoid censoring of a too obvious communism before the censorship, it doesn't cease being curious). It is for that that this book, which can find itself in almost all the Portuguese municipal and school libraries and that it finds itself still for sale in Europa-América editions and other publishers and in old-book-sellers, book fairs and sales websites on the net in editions from several publishers, it shall be worth it today for a general audience from all ages (but maybe mostly the younger one) and of all partisan-political orientations.

1 In the Portuguese language original "Em Esteiros não vemos ainda o proletariado organizado, mas é bem evidente a análise das formas e meios de produção, assim como o propósito de desvendar os antagonismos de classe (...). Em Esteiros a natureza (histórica) das relações humanas é determinada pelas relações de produção. Observam-se as classes sociais ligadas ao desenvolvimento económico. Vemos, no próprio acto do trabalho, os estivadores, os descarregadores de carvão da Fábrica Grande, os garotos do Telhal, de lágrimas nos olhos e palavra solta, com os ombros escaldados pelos tijolos. (...) No fundo, as relações económicas - valor de troca, mais valia, dinheiro, capital - são sempre relações que se realizam entre seres humanos, à custa de seres humanos. Em Esteiros são-nos mostradas pessoas deformadas pelo poder que o dinheiro confere (o Sr. Castro) e outras deformadas pela impossibilidade de chegar ao uso, ao consumo. Mas nestes mesmos se vai construir um universo de valores, uma consciência dos direitos que assistem àqueles que dos seus direitos são espoliados. (...) É também importante aspecto de Esteiros o seu alcance desmistificatório, anti-idílico, de romance que inter-relaciona razão e sentimento. Esta unidade realiza-se dialecticamente no receptor da mensagem, e nele progressivamente se constitui a consciência da exploração capitalista e da escravização do proletariado".

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

"Cosmos de João Fernandes", Luís Filipe Leite // "Cosmos of Joao Fernandes", Luis Filipe Leite

Esta publicação do blogue traz a curiosidade de ter sido escrito por um multifacetado "homem do Renascimento": o "ilustre desconhecido" Luís Filipe Leite foi professor, romancista, contista, escritor de miscelâneas, teorizador da educação (e de métodos para o ensino da leitura, antes de João de Deus), tradutor, ensaísta e biografo. E outra: ao contrário de algumas obras deste blogue que são ou de todo originais ou adaptações bastante soltas, esta é simultaneamente totalmente original e bastante similar a outra anterior; esta obra publicada em folhetins primeiro na revista futuro sob o pseudónimo "Saggitario" e depois na revista Archivo Universal em 1859 tem muitas semelhanças com Jérôme Paturot (folhetim de 1842 originalmente anónimo, publicado em Portugal em 1849 erradamente atribuído a «Hippolyto Rolle» i.e. o jornalista do mundo teatral Hippolyte Rolle, e sem qualquer referência a tradutor, mas de facto autorado por Louis Reybaud). Por fim outra curiosidade: este texto foi bastante bem recebido e bastante lido mas nunca passou das páginas de periódicos para um volume próprio em livro.
  
Os dois "luíses", Filipe Leite e Reybaud, e o suposto autor do Jérôme Paturot Hippolyte Rolle
Já o título o insinua, isto é outro dos romances de "fresco" de sociedade (o cosmos referido terá de ser obviamente um cosmos social e não um espacial), sendo neste caso ainda um romance algo picaresco "de formação" como História de D. Afonso de Brás de José da Fonseca. Ultrapassada essa explicação, será melhor tentar apreciar a obra pelas suas especificidades (os romances que dão uma ideia abrangente de uma sociedade não sendo particularmente únicos, veja-se Os Maias para um dos principais exemplos na nossa literatura, e romances picarescos também abundam), e procurar formas de o ver e analisar mais focadas nas suas especificidades. Para começar, deve-se notar um certo didaticismo na escrita. Ao contrário do comparável (tematicamente) romance do político, jornalista e escritor Reybaud (um romance de costumes essencialmente satírico que o autor queria que servisse como um quadro de crítica do sistema económico e político sob a "Monarquia de Julho", i.e. a monarquia constitucional francesa fundada em 1830-35), Filipe Leite, autor que escrevera várias obras de facto para leitores mais jovens (até abertamente crianças) e que escrevia muitas vezes pensando na compreensão mesmo de obras não infantis para estes (ou não fosse um autor que teorizava sobre como ensinar crianças a ler), faz uma obra que é "activista" de uma forma diferente da de Reybaud, sendo mais moralizante, querendo educar o leitor e juntando a uma engenhosidade na escrita uma prosa compreensível de forma mais ou menos fácil e algo coloquial e que tenta ser mais fortemente espirituoso, como dá exemplo a abertura «As linhas mais difíceis de se escreverem em tudo que não seja uma carta, são apenas duas, a primeira e a última» (embora Jérôme Paturot não deixe de ter uma qualidade de fábula moral, o espírito irónico sobrepõe-se ao tom moralizador). Esse didaticismo acaba por definir não só o estilo e tom do livro mas o seu fluir.
Portadas de uma edição francesa do inspirador de Cosmos..., Jérôme Paturot
Igual ao romance de Reybaud, este folhetim centra-se numa personagem-título (num caso Paturot e aqui João Fernandes) que quer criar uma posição na vida para si próprio, começando como jovem que busca através de todos os meios possíveis e imaginários escapar à sua ocupação presente, a de camiseiro. No caso da obra de Leite, o protagonista chega a Lisboa esperando fazer a sua sorte (isto não é explicitamente dito, mas o autor descreve ironicamente como um local que parece Portugal em tudo mas que isso não interessa verdadeiramente para o caso, que a língua aí falada cada vez menos parece Português, e que a cidade é uma capital à beira «da foz de um dos mais bellos rios do mundo», o que dá pena pensando no estado actual do rio). A via que ele busca, a princípio, é tentar tornar-se "mais interessante" através de tentar dar a si próprio perfil de herói romântico e de figura "maior que a vida", metendo-se a tentar obter todas as excentricidades para que essas lhe dessem uma certa visibilidade pública. Assim ele passa pelo dândismo de seguidor da filosofia Romântica e aspirante a poeta, por convívio com filósofos socialistas mais palavrosos que realmente revolucionários activos (no paralelo francês de Reybaud, o alvo era especificamente o saint-simonianismo, o socialismo utópico primitivo e experimentalista pregado pelo Francês Conde de Saint-Simon, mas com o socialismo nos primórdios em Portugal e mais conhecido enquanto conceito pelo que se lia de lá fora que praticado cá dentro, o alvo escolhido por Filipe Leite é simplesmente chamado socialismo, e surge mais como tendência filosófica que tendências de experimentação social e organização de comunas e algum filantropismo), e muitas outras excentricidades médio-oitocentistas.
Ilustração do Jérôme... que mostra o nosso herói com um amigo, na sua fase dândi
O esforço de João Fernandes de atingir visibilidade é só parcialmente atingido, conseguindo algum conhecimento mas que lhe serve mais como rampa de lançamento para actividades essas sim mais lucrativas para si, como se vê na segunda parte da obra, em que (como no equivalente Francês) surge como homem maduro e que já viveu os primeiros amores maduros e é agora alguém instalado economicamente com trabalho comercial, mas logo vê-se atraído por novo apelo de sucesso maior, de fortuna rápida e abundante e de sucesso mundano, na política activa, sob um tio que lhe serve de protector (e o criara desde que perdera os pais em criança e fora quem lhe dera o desejo de ser «rico como um nababo»). O texto é acima de tudo sobre esforço vão, sobre ambições pessoais e "fome" por sucessos e lucros fáceis, e assim dá uma espécie de exemplo pela negativa, dos fins que são pelo contrário correctos e da forma mais saudável de viver e agir. O tom da narrativa (narrada na primeira pessoa pelo próprio João Fernandes, ao contrário do romance francês similar narrado por alguém que aparenta ter conhecido Paturot pessoalmente, dando assim Leite a ideia de estar, como homem agora mais sábio e moralizado a recontar uma fase menos ilustrada da sua vida) é assim dado não por uma "pregação directa" do que é certo mas pelo contra-exemplo do mau e por isso o romance não é "pesado" no seu moralismo porque o enredo é interessante e deixa-nos depreender a moralização pelo que nos diz o enredo.
Um abraço romântico numa ilustração do Jérôme... original
Este romance modesto mas interessante pode ser moralizante e didático, mas não pensem que não moraliza e ensina também contra o religiosismo hipócrita ou frouxo que influencia muito moralismo e didaticismo. Como exemplo, veja-se a narração no III capítulo (curto como todos os outros 13 deste texto "corrido") da sua infância e como na sua terrinha tradicional em que desde tempos antigos (em que a Igreja era mais forte) era usual um interesse parolo pelo Latim, dando-se louvores a qualquer um que introduzisse alguns termos latinos na conversa com ou sem contexto porque isso era considerado uma preparação para servir auxiliando os padres na missa, o que era levado muito a sério como coisa em que ninguém queria fazer má figura. Que apesar do fraco estudo de Latim devido a esse parolismo quanto ao Latim, ele consiga aprender o suficiente para se entusiasmar com o poeta satírico Horácio ou historiadores Romanos (apesar de não conseguir perceber «um metro», belo trocadilho com a métrica poética, da poesia de Virgílio).
Mesmo que possa ser uma caricatura algo injusta e que esqueça a força da motivação fé subjacente a este factóide ridículo do Latim, ele serve como exemplo das anedotas e narrativas que vão enriquecendo o enredo em si de Cosmos de João Fernandes, mostrando o talento do autor para o episódico e os pequenos comentários, servindo todos para cumprir o fim de fazer comentário sobre uma ou outra falha social, pecadilho, ridicularia ou outra coisa qualquer condenável. Estas características podem aparecer de forma muito bem cuidada e pessoal neste romance de Luís Filipe Leite, mas na verdade nós vemos estes traços largos em toda a literatura do século XVIII e XIX, dentro e fora de Portugal, na evolução da novela e do romance iniciais, numa altura em que a visão da literatura ocidental oscilava entre o iluminismo vindo do século XVIII, o liberalismo que ainda se vinha impondo desde o final do século anterior e o puritanismo protestante e católico da Contra-Reforma do século XVII, com a vitória de uma destas correntes ainda não definitivamente marcada. Mesmo hoje, em que os restos de iluminismo e liberalismo marcam mais as nossas visões pessoais, um texto de uma época de um liberalismo ainda a implantar-se e com o puritanismo religioso ainda vincado, ainda pode ser um texto com alguma força porque este comenta sobre a sociedade de cidadania, de Igreja socialmente influente e de economia de mercado que ainda é aproximadamente a nossa nos nossos dias. Quem o quiser ler poderá encontrar em-linha na digitalização do tomo I da Archivo Universal no Google Livros, podendo ser lido nas páginas 35 a 37, 53-55, 71-73, 89-92, 106-107, 120-122, 134-136, 154-155, 170-173, 186-189, 203-204, 277-280 e 411-412 deste. E se um folhetim merecia ser recuperado para um livro próprio, este é certamente um deles.


This blog post brings the curiosity of having been written by a multifaceted "Renaissance man": the "illustrious unknown" Luis Filipe Leite was a teacher, novelist, short-story writer, miscellany-books writer, education theorist (and of reading methods, in Portugal before Joao de Deus), transltor, essay-writer and biographer. And another: unlike some works on this blog that are or at all original or rather loose adaptations, this one is simultaneously a totally original and quite similar to the previous one; this work published in feuilletons first on the Futuro ("Future") magazine under the "Saggitario" pen-name and afterwards on the Archivo Universal ("Universal Archive") magazine in 1859 has many similarities with the Jérôme Paturot (1842 feuilleton originally anonymous, published in Portugal in 1849 wrongly attributed to «Hippolyto Rolle» i.e. the theatre world journalist Hippolyte Rolle, and without any reference to translator, but in fact authored by Louis Reybaud). At last another curiosity: this text was rather well received and quite read but never passed from the pages of periodicals into proper volume on book.
  
The two "louises", Filipe Leite and Reybaud, and the Jérôme Paturot's supposed author Hippolyte Rolle
Already the title insinuates it so, this is another of the society "fresco" novel (the cosmos refered will have to be obviously a social cosmos and not a space one), being in this case a somewhat picaresque Bildungsroman novel like História de D. Afonso de Brás/"Story of Don Alphonse Blas" by Jose da Fonseca. Overcome that explanation, it will be better to try to appreciate the work for its specificities (the novels that give a wide-ranging view of a society not being particularly unique, let one see Os Maias/The Maias for one of the main examples in Portugal's literature, and picaresque novels also abound), and look for ways to see and analyse it more focused in its specificities. For starters, it must be noticed a certain didacticism in the writing. Unlike the (thematically) comparable) novel from the politician, journalist and writer Reybaud (an essentially satirical novel of manners that the author wanted to serve as a tableau of criticism of the economical and political system under the "July Monarchy", i.e. the French constitutional monarchy a monarquia constitucional francesa founded in 1830-35), Filipe Leite, author who had written several works in fact for younger readers (even openly for children) and who wrote many times thinking on the understanding even of not children's works for them (or were he not an author who theorised n how to teach children to read), makes a work that is "activistic" in a different way to Reybaud, being more moralising, wanting to educate the reader and adding to an ingenuity in writing a comprehensible prose in way more or less easy and somewhat coloquial and that tries to be strongly witty, as gives example of the opening «The harder lines to write in everything that not be a letter, are just two, the first and the last» (although Jérôme Paturot does not cease having a quality of moral fable, the ironic tone overrides the moralising tone). That didactivism ends by defining not only the style and tone of the book but its flow.
Ported-covers to a French edition of the Cosmos... inspirer, Jérôme Paturot
Just like the Reybaud novel, this feuilleton centers itself on a title character (in one case Paturot and here Joao Fernandes) who wants to create a position in life for himself, starting as youngun that searches through all the possible and imagined means to escape to his present occupation, the one of shirtmaker. In the case of Leite's work, the lead arrives to Lisbon awaiting to make his own luck (this is not explicitly said, but the author describes ironically as a place that seems like Portugal in everything but that that does not truly matter for the case, 'cause the language there spoken each time less does look Portuguese, and in which the city is a capital by «the mouth of one of the world's fairest rivers», what gives one pity thinking on the river's current state). The pathway that he searches for, at first, is to try to become "more interesting" through trying to give himself profile of romantic hero and "bigger than life" figure, putting himself into trying obtaining all the excentricity so that those gave him a certain public visibility. So he passes by the dandyism of follower from Romantic philosophy and aspirant poet, by hangings-ons with socialist philosophers more wordy than truly active revolutionaries (in Reybaud's French parallel, the targed was specifically santi-simonianism, the early and experimentalist utopian socialism preached by the French Count of Saint-Simon, but with the socialism in its earliest days in Portugal and more know while concept through what was read from outside, than practiced in here, the target chosen by Filipe Leite is simply called socialism, and comes-up more as philosophical trend than social experimentation tendencies and commune organisation and some philantropism), and many other mid-eighteen-hundredth excentricities.
Ilustration from the Jérôme... which shows our hero with a friend, on his dandi phase
Joao Fernandes' effort to read visibility is only partially achieved, getting some notice but that serves him more as launchpad for activities now those more lucrative for himself, as it can be seen in the work's second half, in which (as in the French equivalent) h comes-up as a mature man who already lived the first mature loves and is now settled in economically with commercial work, but right-away sees himself attracted by new calling of great success, of fast and abundant fortune and of worldly success, into active politics, under an uncle who serves him as protector (and had raised him since he lost his parents as a child and had been who had given him the desire of being «rich as a nawab»). The text is above all on vain effort, on personal ambitions and "hunger" for successes and easy profits, and so gives a kind of example in the negative reverse, of the ends that are on the contrary correct and of the healthies way to live and act. The tone of the narrative (narrated on the first person by Joao Fernandes himself, unlike the similar French novel narrated by someone who seems to have known Paturot personally, so giving Leite the idea of being, as now wiser and more moralised man recounting a less illustrated phase of his life) is so given not by a "direct preaching" of what is right but on by the counter-example of the bad and for that the novel is not "heavy" in its moralism because the plot is interesting and lets us surmise the moralisation by what tells us the plot.
A romantic embrace on an illustration from the original Jérôme...
This modest but interesting novel can be moralising and didactical, but do not think that it does not moralise and teach against the hypocritical or flabby religionism that influences much moralism and didacticism. For example, let one see the narration on the III chapter (short as all the other 13 from this "hasty" text) from his childhood and how in his traditional little hamlet in which since ancient times (in which the Church was stronger) it was usual a hick interest for Latin, giving one praises to any one who introduced some Latin terms into the conversation with or without context because that was considered a preparation for serving in aiding the priest in mass, what was taken very seriously as thing in which nobody wanted to make a fool of one's self. That despite his weak study of Latin due to that hickism about Latin, he can learn enough to excite himself with the satirical poet Horace or Roman historians (despite not getting «one metter», nice wordplay with poetic metrics, of Virgil).
Even if it might be a somewhat unfair caricature and it be forgotten the strength of faith motivation underlying to this ridiculous Latin factoid, it serves as example of the jokes and narratives that go enriching the Cosmos de João Fernandes/"Comos of Joao Fernandes" plot in itself, showing the author's talent for the episodic and the little commens, serving all to fulfill the end of making comment on one or another social flaw, pecadillo, ridiculous tiny-thing or other more condemnable thing. These characteristics may appear in quite well cared-for and person way in this Luis Filipe Leite novel, but in truth we see these broad strokes in all the literature from the 18th and 19th century, inside and outside Portugal, in the evolution of the early novella and novel, at a time-point in which western literature's vision oscillated between the enlightenment come from the 18th century, the liberalism that still came imposing itself since the ending of the previous century and the 17th century's Protestant and Counter-Reform Catholic puritanism, with the victory of one of these currents not yet definitely marked. Even today, in which leftovers of enlightenment and liberalism mark more our personal views, a text from a time of a still implementing itself liberalism and with a religious puritanism still creased, still can be a text with some strength because the former comments on the society of citizenship, of socially influential Church and of market economy that still is approximately the one from our days. Who would want to readit, will be able to find online within digitalisation of the tome I of the Archivo Universal at Google Books, being able to be read on the pages 35 to 37, 53-55, 71-73, 89-92, 106-107, 120-122, 134-136, 154-155, 170-173, 186-189, 203-204, 277-280 and 411-412 of the former. And if one feuilleton deserved to be recovered for a book of its own, this is certainly one of them.