Este livro pode ser polémico para incluir aqui, curiosamente tanto para os atacantes como para os defensores. Os atacantes tendem a ser gente de inclinações não esquerdistas (e aqui talvez possamos incluir os Socialistas menos inclinados à esquerda) que foram algo "traumatizados" pela tentativa de catecismo esquerdista durante o Processo Revolucionário em Curso e que foram forçados pelo programa lectivo de 1975 a ler este livro numa idade talvez demasiado jovem para o perceber, e pior ainda, com os professores, pressionados pela esquerda da altura para o ensinarem não como um texto em si mesmo mas como parte de uma "construção do socialismo em Portugal" e de uma nova cultura ideologicamente "engajada". Os defensores serão aqueles que defendem a visão subjacente a esse ensino e que acham neste caso que o texto deve ser dado a crianças e jovens não por ser adequado a elas mas por estarem nas idades ditas "mais impressionáveis" e portanto são mais fáceis de serem levadas a pensar de uma dada forma, mas o livro em si para eles é uma obra-prima adulta e é uma heresia que eu a "atire" aqui para o espaço da literatura infanto-juvenil (mesmo a grande colecção Caminho Jovem da Editorial Caminho que nos anos de 1990 e no princípio deste século publicaram este livro entre outras "pérolas" das obras mais "maduras" da literatura infanto-juvenil, mais juvenil que infanto-, teve de acrescentar à descrição do livro para promoção que "Esteiros é um dos textos inaugurais do neo-realismo e um romance marcante da literatura portuguesa do século XX", quebrando a grande regra da apresentação de qualquer tema aos leitores mais jovens: não usar temas não claros para todos como se o fossem e antes apresentar por palavras mais correntes o que realmente está subjacente a uma dada coisa, e também explicar "marcante porquê?" em vez que "catequizar" que é marcante e pronto).
A minha abordagem aqui não é nem a visão apocalíptica do livro como castigo para jovens e crianças e catecismo ideológico de facto sem qualquer qualidade, nem a de livro marcante e brilhante que é dos melhores da literatura portuguesa de sempre e que lançou uma brilhante corrente literária (no caso o neo-Realismo). Eu (na linha da abordagem de "suavização" das rupturas esquerda-direita e de ultrapassagem de abordagem "religiosa" à política e à ideologia dos anos '90 em que cresci e em que o livro é recuperado pela Caminho como "mera" obra literária sem mais carga) considero que o livro tem claras qualidades de estilo, um bom enredo, personagens bem delineadas com poucas "pinceladas", mas que não é dos livros com estilo mais polido, psicologia mais profunda e com mais simbolismo e substrato (pelo menos à superfície), e acho também que a corrente neo-Realista a que pertenceu (apesar das várias tentativas, de motivações meramente ideológicas para louvarem o neo-Realismo como corrente cheia de brilhantismo e das melhores da literatura portuguesa vintista) foi no geral medíocre, com só uns quantos autores realmente brilhantes (Alves Redol, quer na literatura para adultos quer na infanto-juvenil e até usando da fantasia, Manuel da Fonseca no contismo, no romance e na poesia, Mário Dionísio que era uma sacana com mania de inquisidor-mor em pessoa, ou Egito Gonçalves na poesia, e poucos mais), e muitos autores começaram no neo-Realismo mas só alcançaram realmente o brilhantismo quando começaram a ultrapassar esse estilo (Mário Braga, que deixou não só o neo-Realismo como o esquerdismo, tendo em 1977 publicado Entre Duas Tiranias: Uma Campanha Pouco Alegre em Prol da Democracia, um livro com uma explicita capa em que surgem uma suástica e uma foice e martelo, Fernando Namora que não se limitou pelas convenções do estilo, da Fonseca foi bastante fiel ao neo-Realismo mas não evitou o fantástico nos contos de Um anjo no trapézio e erótico pouco "engajado" nalguns textos, José Cardoso Pires que experimentou o policial, Jorge Reis pregou fidelidade à corrente até morrer mas a sua obra-prima Matai-vos uns aos outros é de facto um policial que ajudou a ir além da já ortodoxia literária neo-Realista, Castro Soromenho não evitou a ficção histórica e o fantástico ou realismo mágico, quase todos os autores neo-Realistas deixaram o estilo aqui ou ali, e os que eram "caninamente" fiéis a ele eram normalmente os piores escritores do estilo, que tinham mais ideologia que talento).
A obra de Soeiro Pereira Gomes é breve (não só esta, mas toda ela, a obra completa cabe num volume com a grossura da maioria dos romances modernos) mas com qualidade formal, e apesar da militância política (PCP) do autor, pela redução dos seus valores a um moralismo e amor a gente comum individualizada e por uma certa qualidade de fábula e uma certa ingenuidade que a torna quase infanto-juvenil, pode ser lida independentemente da ideologia. Mas só por ideologia poderia alguém considerar que este romance ou a obra completa do autor (composta principalmente de pequenas crónicas e contos, a maioria publicado no jornal O Diabo, não confundir com o de extrema-direita fundado em 1977, antes um jornal pró-PCP fundado em 1934 e que foi até ao começo da publicação regular do Avante! em 1941, tinha o Avante! já 10 anos de idade como jornal irregularmente publicado, foi o principal jornal esquerdista, sendo um pouco menos clandestino e mais "encapotado") é algo ao nível de Camilo ou Eça. Críticos pró-PCP como Urbano Tavares Rodrigues bem que tentaram fazer análises a dar uma dimensão épica a este livro e analisá-lo à luz da terminologia e conceitos de Marx ou Lenine...
No artigo O real e o imaginário em Esteiros de Soeiro Pereira Gomes de Tavares Rodrigues para a revista Colóquio Letras, n.º 51 de Setembro de 1979 da Fundação Calouste Gulbenkian, Tavares Rodrigues, ironicamente autor que começou por ser amigável a Salazar, bem tenta, com "frasesonas" grossas como "Em Esteiros não vemos ainda o proletariado organizado, mas é bem evidente a análise das formas e meios de produção, assim como o propósito de desvendar os antagonismos de classe (...). Em Esteiros a natureza (histórica) das relações humanas é determinada pelas relações de produção. Observam-se as classes sociais ligadas ao desenvolvimento económico. Vemos, no próprio acto do trabalho, os estivadores, os descarregadores de carvão da Fábrica Grande, os garotos do Telhal, de lágrimas nos olhos e palavra solta, com os ombros escaldados pelos tijolos. (...) No fundo, as relações económicas - valor de troca, mais valia, dinheiro, capital - são sempre relações que se realizam entre seres humanos, à custa de seres humanos. Em Esteiros são-nos mostradas pessoas deformadas pelo poder que o dinheiro confere (o Sr. Castro) e outras deformadas pela impossibilidade de chegar ao uso, ao consumo. Mas nestes mesmos se vai construir um universo de valores, uma consciência dos direitos que assistem àqueles que dos seus direitos são espoliados. (...) É também importante aspecto de Esteiros o seu alcance desmistificatório, anti-idílico, de romance que inter-relaciona razão e sentimento. Esta unidade realiza-se dialecticamente no receptor da mensagem, e nele progressivamente se constitui a consciência da exploração capitalista e da escravização do proletariado", ele bem tenta...). A mitologia até fala de um livro proibido que só viu a luz após o 25 de Abril ou durante o PREC, mas de facto ele foi primeiro publicado em 1945 de forma limitada e desapareceu pouco depois (quem o assegurará se só por poucas vendas ou também censura política?), e foi novamente publicado durante o período de Marcelo Caetano. Este livro directo, simples e semi-ligeiro não se presta a mitologias ou leituras epicamente dialética, e ainda bem, e é mais forte literariamente este fino livro por causa disso.
A obra de Soeiro Pereira Gomes é breve (não só esta, mas toda ela, a obra completa cabe num volume com a grossura da maioria dos romances modernos) mas com qualidade formal, e apesar da militância política (PCP) do autor, pela redução dos seus valores a um moralismo e amor a gente comum individualizada e por uma certa qualidade de fábula e uma certa ingenuidade que a torna quase infanto-juvenil, pode ser lida independentemente da ideologia. Mas só por ideologia poderia alguém considerar que este romance ou a obra completa do autor (composta principalmente de pequenas crónicas e contos, a maioria publicado no jornal O Diabo, não confundir com o de extrema-direita fundado em 1977, antes um jornal pró-PCP fundado em 1934 e que foi até ao começo da publicação regular do Avante! em 1941, tinha o Avante! já 10 anos de idade como jornal irregularmente publicado, foi o principal jornal esquerdista, sendo um pouco menos clandestino e mais "encapotado") é algo ao nível de Camilo ou Eça. Críticos pró-PCP como Urbano Tavares Rodrigues bem que tentaram fazer análises a dar uma dimensão épica a este livro e analisá-lo à luz da terminologia e conceitos de Marx ou Lenine...
No artigo O real e o imaginário em Esteiros de Soeiro Pereira Gomes de Tavares Rodrigues para a revista Colóquio Letras, n.º 51 de Setembro de 1979 da Fundação Calouste Gulbenkian, Tavares Rodrigues, ironicamente autor que começou por ser amigável a Salazar, bem tenta, com "frasesonas" grossas como "Em Esteiros não vemos ainda o proletariado organizado, mas é bem evidente a análise das formas e meios de produção, assim como o propósito de desvendar os antagonismos de classe (...). Em Esteiros a natureza (histórica) das relações humanas é determinada pelas relações de produção. Observam-se as classes sociais ligadas ao desenvolvimento económico. Vemos, no próprio acto do trabalho, os estivadores, os descarregadores de carvão da Fábrica Grande, os garotos do Telhal, de lágrimas nos olhos e palavra solta, com os ombros escaldados pelos tijolos. (...) No fundo, as relações económicas - valor de troca, mais valia, dinheiro, capital - são sempre relações que se realizam entre seres humanos, à custa de seres humanos. Em Esteiros são-nos mostradas pessoas deformadas pelo poder que o dinheiro confere (o Sr. Castro) e outras deformadas pela impossibilidade de chegar ao uso, ao consumo. Mas nestes mesmos se vai construir um universo de valores, uma consciência dos direitos que assistem àqueles que dos seus direitos são espoliados. (...) É também importante aspecto de Esteiros o seu alcance desmistificatório, anti-idílico, de romance que inter-relaciona razão e sentimento. Esta unidade realiza-se dialecticamente no receptor da mensagem, e nele progressivamente se constitui a consciência da exploração capitalista e da escravização do proletariado", ele bem tenta...). A mitologia até fala de um livro proibido que só viu a luz após o 25 de Abril ou durante o PREC, mas de facto ele foi primeiro publicado em 1945 de forma limitada e desapareceu pouco depois (quem o assegurará se só por poucas vendas ou também censura política?), e foi novamente publicado durante o período de Marcelo Caetano. Este livro directo, simples e semi-ligeiro não se presta a mitologias ou leituras epicamente dialética, e ainda bem, e é mais forte literariamente este fino livro por causa disso.
Soeiro Pereira Gomes é hoje mais conhecido por dar nome à rua e ao edifício onde se situam a sede nacional do PCP, e enquanto militante deste partido, que entrou na clandestinidade enquanto resistente opositor em 1945 (para desenvolver essa actividade de forma mais livre e militante) e que enquanto fumador compulsivo desenvolveu um cancro pulmonar do qual morreu a 5 de Dezembro de 1949 com 40 anos (e não de tuberculose como por vezes se diz) por na clandestinidade não conseguir obviamente o acesso aos tratamentos médicos que precisava para além de a saúde ter sofrido com a condição esquálida da vida clandestina (ontem na emissão da listagem de "heróis" Portugueses Treze da RTP a propósito de Catarina Eufémia perguntou-se se a esquerda também tem santos e Soeiro surgiu entre essas figuras que poderão ser chamados de santos seculares do PCP), mas para além de uma figura romântica que também foi escritor, também se assemelha ao Francês Antoine de Saint-Exupéry (falecido também novo e em circunstâncias misteriosas, abatido na II Guerra Mundial quando voava como parte da Força Aérea das Forças Livres Francesas no Mediterrâneo nos arredores de Marselha) por parte do estilo, poético mesmo quando realista e com uma inclinação a um jeito de fábula e uma certa natureza de aventura (neste caso aventuras social e política em vez de aventura de aviação, pelas áreas de actividade distintas de cada um deles), e pela obra completa curta mas marcante. De certa forma Esteiros, sendo protagonizado por crianças e jovens e tendo um elemento de maravilhoso, é O Principezinho de Soeiro Pereira Gomes (com a diferença do elemento maravilhoso ser abertamente fantástico em O Principezinho e somente sonho ou visão com pequena possibilidade de ser real em Esteiros).
No fim do livro (num episódio com claro simbolismo ideológico para o autor, em que um evento dramático de causa natural ou com um autor não claro age como deus ex machina, "deus na máquina do palco" que "resolve" o enredo quando nenhum dos participantes humanos pode), depois de um incêndio destruir o forno da fábrica de um dos esteiros, Maquineta espera que eles miúdos vão entrar nesse dia mais depressa para a fábrica para trabalhar com os adultos e ganharem a sua vida, mas não acontece assim. Nesse esteiro, um dia ouve-se muito barulho de gente e cavalos: é a feira que chega aí. Gineto fica à espera que venham os amigos e a amiga Rosete para o levarem à feira, mas não aparecem. Porém reconhece uma voz e uma cantiga: é o Gaitinhas. Gineto chama por ele, mas o Gaitinhas e outro dos miúdos da zona (o Sagui) afastam-se juntos a procurar do pai deste primeiro, esperando Gaitinhas voltar com o pai para libertar os restantes miúdos e mandá-los todos para a escola para deixarem de precisar de trabalhar, explorados. Apesar do comunismo marxista-leninista-estalinista incontestável deste livro, Soeiro Pereira Gomes não nos dá uma "massa" anónima e colectiva mas um colectivo feito de indivíduos solidários mas não homogéneos e dá-nos não um relato de revolta operário-campesina mas um retrato de vida dura mas não vazia e com espaço para a esperança e termina com um foco familiar (com a reunião de pai e filho) e um fim quase de "estória de-trapos-para-às-riquezas" norte-americana que podia bem ser de fantasia capitalista (com o comprar da fábrica para a encerrar como método para acabar com a opressão em vez de uma revolução directa; embora claro que Pereira Gomes deve ter escrito isto exactamente para evitar a censura e um comunismo demasiado óbvio ante a censura, não deixa de ser curioso). É por isso que este livro, que se pode encontrar em quase todas as bibliotecas municipais e escolares e que se encontra ainda à venda em edições da Europa-América e outras editoras e em alfarrabistas, feiras do livro e sítios de vendas na rede em edições de várias editoras, valerá hoje para um publico geral de todas as idades (mas talvez maioritariamente para o mais jovem) e todas as inclinações partidário-políticas.
a foto mais "célebre" e repetida de Soeiro Pereira Gomes
Passando à obra em si, começando pelo título, esteiros era o nome dado às fábricas situadas nos estuários do rio Tejo (daí "esteiros"). São estas o cenário deste romancezinho, especificamente os telhais, as fábricas de telhas, em Alhandra, Vila Franca de Xira, no Ribatejo, e os protagonistas são as crianças do sexo masculino que como comum na altura eram operariado aceitável, especificamente os jovens conhecidos pelas alcunhas de "Gineto" (nome alternativo popular para o mamífero pequeno euro-africano gineta), "Gaitinha" (do hábito de tocar harmónica), "Malesso" (termo para o touro que tem mau sangue que na Beira é usado popularmente para designar biltre, patife, mariola, o que não é de todo injusto para ele) e "Maquineta" (o operador de maquinaria). O romance mostra-nos o percurso da vidas destas crianças e outras que conhecem, e embora Soeiro seja obviamente inspirado pela sua militância política e pela sua visão de cultura envolvida politicamente, ele aborda o operariado alhandrense por um lirismo e uma poética, usando do retrato desse grupo de crianças que nos contam a sua realidade como uma espécie de "coro". Nós vemo-los sujeitos à dureza do trabalho, quando o arranjam, e vadiando, roubando para comer ou mantendo ainda apesar de tudo as brincadeiras da sua idade. Mas o mais interessante é quando os vemos sonhar, sonhos escritos pelo autor supostamente neo-Realista cheios de lirismo e penetrando nos sonhos infantis e com o gigantismo e impossibilidade de bater ou limitar do fantasismo infantil mesmo diante de uma realidade deprimente para o jovem real.No fim do livro (num episódio com claro simbolismo ideológico para o autor, em que um evento dramático de causa natural ou com um autor não claro age como deus ex machina, "deus na máquina do palco" que "resolve" o enredo quando nenhum dos participantes humanos pode), depois de um incêndio destruir o forno da fábrica de um dos esteiros, Maquineta espera que eles miúdos vão entrar nesse dia mais depressa para a fábrica para trabalhar com os adultos e ganharem a sua vida, mas não acontece assim. Nesse esteiro, um dia ouve-se muito barulho de gente e cavalos: é a feira que chega aí. Gineto fica à espera que venham os amigos e a amiga Rosete para o levarem à feira, mas não aparecem. Porém reconhece uma voz e uma cantiga: é o Gaitinhas. Gineto chama por ele, mas o Gaitinhas e outro dos miúdos da zona (o Sagui) afastam-se juntos a procurar do pai deste primeiro, esperando Gaitinhas voltar com o pai para libertar os restantes miúdos e mandá-los todos para a escola para deixarem de precisar de trabalhar, explorados. Apesar do comunismo marxista-leninista-estalinista incontestável deste livro, Soeiro Pereira Gomes não nos dá uma "massa" anónima e colectiva mas um colectivo feito de indivíduos solidários mas não homogéneos e dá-nos não um relato de revolta operário-campesina mas um retrato de vida dura mas não vazia e com espaço para a esperança e termina com um foco familiar (com a reunião de pai e filho) e um fim quase de "estória de-trapos-para-às-riquezas" norte-americana que podia bem ser de fantasia capitalista (com o comprar da fábrica para a encerrar como método para acabar com a opressão em vez de uma revolução directa; embora claro que Pereira Gomes deve ter escrito isto exactamente para evitar a censura e um comunismo demasiado óbvio ante a censura, não deixa de ser curioso). É por isso que este livro, que se pode encontrar em quase todas as bibliotecas municipais e escolares e que se encontra ainda à venda em edições da Europa-América e outras editoras e em alfarrabistas, feiras do livro e sítios de vendas na rede em edições de várias editoras, valerá hoje para um publico geral de todas as idades (mas talvez maioritariamente para o mais jovem) e todas as inclinações partidário-políticas.
This book can be controversial to include here, curiously as much for the attackers as for the defenders. The attackers tend to be people of non-leftist leanings (and here maybe we can include the less left leaning Socialists) that were somewhat "traumatised" by the leftist catechism attempt during the Processo Revolucionário em Curso/"Portuguese On-Going Revolutionary Process" and were forced by the 1975 school program to read that book at an age maybe too young to get it, and worst still, with teachers, pressured by the left from the time-point for teaching it not as a text in itself but as part of "building of socialism in Portugal" and of a new ideologically "engaged" culture. The defenders would be those that defend an underlying vision to that teaching and that find in this case that the text must be given to children and younguns not for being adequate to them but for being in so-called "more impressionable" ages and hence they are easier to be lead to think in a given way, but the book in itself is an adult masterpiece and it is a heresy that I "throw it" here to the space of the children's/young-people's literature (even the great collection Caminho Jovem/"Young Caminho" or more literally "Path" by the Editorial Caminho publisher that in the 1990s and in the beginning of this century published this book among other "pearls" of the more "mature" works from children's/young-people's literature, more young-people's than children's/, had to add to the book's description for promotion that "Esteiros ("Stuary-mills") is one of the inaugural texts of neorealism and a striking novel of 20th century Portuguese literature", breaking the great rule of introducing any theme to the younger readers: not using terms not clear to all as if they were and instead presenting by more everyday words what is really underlying to a given thing, and also to explain "striking why?" instead of "catechising" that it is remarkable and there).
My approach here is nor the apocalyptic vision of the book as punishment for younguns and children and ideological catechism de facto without any quality, nor the one of striking and brilliant book that is one of Portuguese literature's best ever and that launched a brilliant literary current (in the case neorealism). I (in the line of approach of softening of the left/right break-downs and of overcoming of the "religious" approach to politics and ideology from the '90s in which I grew up and in which the book is recovered by the Caminho as "mere" literary work without anymore charge) consider that the book has clear styling qualities, a good plot, characters well outlined with few "paintbrushings", but who is not from among the books with more polished style, deeper psychology and withmore symbolism and substrate (at least at the surface), and I think that the neorealist current that it belonged to (despite several attempts, of merely ideological motivations to praise neorealism as current full of brilliancy and out of the best of twentieth Portuguese literature) was in the general mediocre, with only a few truly brilliant authors (Alves Redol, either in literature for adults and in the children's/young-people's literature and even using on fantasy, Manuel da Fonseca in the short-story-writing, on novel and on poetry, Mario Dionisio who was a bastard with a fade of being grand inquisitor in person, or Egito Gonçalves on poetry, and few more), and many authors started on neorealism but only really achieved brilliancy when they started overcoming that style (Mario Braga, who left not only neorealism but leftism, having in 1977 published Entre Duas Tiranias: Uma Campanha Pouco Alegre em Prol da Democracia/"Between Two Tyrannies: A Barely Joyful Campaign for Democracy's Sake", a book with an explicit cover in which it come-up a swastica and a hammer and sickle, Fernando Namora who didn't limit himself by the style conventions, da Fonseca was rather faithful to neorealism but didn't avoid the fantastical in the short-stories from Um anjo no trapézio/"An angel on the trapeze" and little "politically engaged" erotical in some texts, Jose Cardoso Pires who tried the detective-mystery/crime story, Jorge Reis preached fidelity to the current till he died but his masterpiece Matai-vos uns aos outros/"Draw blood on one another" is in fact a detective-mystery/crime story that helped to go beyond the alredy neorealist literary orthodoxy, Castro Soromenho did not avoid the historical fiction and the fantastical or magical realist, lmost all the neorealist authors left the style here or there, and the ones that were "dog-like" faithful to it were normally the worst writers of the style, who had more ideology than talent).
Soeiro Pereira Gomes' work is brief (it is not just this one, but all of it, the whole oeuvre fits into one volume with the thickness of most modern novels) but with formal quality, and despite the political militancy (Portuguese Communist Party) of the author, by the reduction of his values to a moralism and love to individualised common folk and by a certain fable quality and a certain ingenuit that turns it almost children's/young-people's-oriented, can be read independently of one's ideology. But only by ideology could someone consider this novel or the author's full oeuvre (composed mainly of small chronicles and short-stories, the majority published in the O Diabo/"The Devil" newspaper, do not confuse with the far right one founded in 1977, instead a pro-Portuguese Communist Party founded in 1934 and which was till the start of the regular publication of the Avante!/"Forward!" in 1941, had the Avante! already 10 years of age as unregularly published newspaper, was the main leftist newspaper, being a little less underground and "covered-up") is something to the level of Camilo or Essa. Pro-Portuguese Communist Party critics like Urbano Tavares Rodrigues much did they try to do analysis to give an epic dimension to this book or analyse it in light of the terminology and concepts of Marx or Lenine...
In the article O real e o imaginário em Esteiros de Soeiro Pereira Gomes ("The real and the imaginarium in Soeiro Pereira Gomes' Stuary-mills") by Tavares Rodrigues for the Colóquio Letras magazine, #51 of September 1979 from the Calouste Gulbenkian Foundation, Tavares Rodrigues, ironically author who started by being friendly to Salazar, well does he try, with thick "big-ass sentences" like "In Stuary-mills we do not see yet the organised proletariate, but it is well evident the analysis of the forms and means of production, as well as the purpose of unraveling the class antagonisms (...). In Stuary-mills the (historical) nature of the human relations is determined by the relations of production. It are observed the social classes connected to the economical development. We see, in the act of work itself, the dockers, the unloaders of coal from the Big Factory, the urchins from Telhal, of tears in their eyes and loose word, with the shoulders blanched by the bricks. (...) All in all, the economical relations - exchange value, surplus value, money, capital - are always relations that work themselves out between human beings, a the expense of human beings. In Stuary-mills it are to us shown people deformed by the power that money provides (Mr. Castro sir) and others deformed by the impossibility of getting to its use, to the consumption. But in the said former it goes to itself constructing a universe of values, a consciousness of the rights that attends to those who from their rights are despoiled. (...) It is also important aspect of Stuary-mills its demystifying, anti-idyllic, aspect of novel that inter-relates reason and feeling. This unity works itself out dialectically in the receptor of the message, and in it progressively constitutes itself the consciousness of the capitalist exploration and of the enslavement of the proletariate"1, well does he try...). Its mythology even talks of a forbidden book that only saw the light afterwards to the April 25th revolution or during the On-Going Revolution, but in fact it was first published in 1945 in limited way and disappeared little afterwards (who can assure it if only because of few sales or also political censorship?), and it was again published during the late-dictatorial Marcello Caetano period. This direct, simple and semi-light book does not lend itself to mythologies or epically dialectical readings, and better so, and it is literarilly stronger this thin book because of that.
In the article O real e o imaginário em Esteiros de Soeiro Pereira Gomes ("The real and the imaginarium in Soeiro Pereira Gomes' Stuary-mills") by Tavares Rodrigues for the Colóquio Letras magazine, #51 of September 1979 from the Calouste Gulbenkian Foundation, Tavares Rodrigues, ironically author who started by being friendly to Salazar, well does he try, with thick "big-ass sentences" like "In Stuary-mills we do not see yet the organised proletariate, but it is well evident the analysis of the forms and means of production, as well as the purpose of unraveling the class antagonisms (...). In Stuary-mills the (historical) nature of the human relations is determined by the relations of production. It are observed the social classes connected to the economical development. We see, in the act of work itself, the dockers, the unloaders of coal from the Big Factory, the urchins from Telhal, of tears in their eyes and loose word, with the shoulders blanched by the bricks. (...) All in all, the economical relations - exchange value, surplus value, money, capital - are always relations that work themselves out between human beings, a the expense of human beings. In Stuary-mills it are to us shown people deformed by the power that money provides (Mr. Castro sir) and others deformed by the impossibility of getting to its use, to the consumption. But in the said former it goes to itself constructing a universe of values, a consciousness of the rights that attends to those who from their rights are despoiled. (...) It is also important aspect of Stuary-mills its demystifying, anti-idyllic, aspect of novel that inter-relates reason and feeling. This unity works itself out dialectically in the receptor of the message, and in it progressively constitutes itself the consciousness of the capitalist exploration and of the enslavement of the proletariate"1, well does he try...). Its mythology even talks of a forbidden book that only saw the light afterwards to the April 25th revolution or during the On-Going Revolution, but in fact it was first published in 1945 in limited way and disappeared little afterwards (who can assure it if only because of few sales or also political censorship?), and it was again published during the late-dictatorial Marcello Caetano period. This direct, simple and semi-light book does not lend itself to mythologies or epically dialectical readings, and better so, and it is literarilly stronger this thin book because of that.
Soeiro Pereira Gomes is today more known for giving name to the street and to the building where it locatte themselves the Portuguese Communist Party, and while partisan of this party, who got into the underground while opposing resister in 1945 (to develop that activity in more free and militant way) and that while compulsive smoker developed a pulmonary cancer from which he died at December 5 1949 at 40 year-old (and not from tuberculosis as sometimes it is said due to on the underground not getting obviously the access to medical treatments that he needed besides his health having suffered with the squalid condition of the clandestine living (yesterday in the broadcast of the RTP TV's listing of Portuguese "heroes" Treze/"Thirteen" un purpose of Catarina Eufemia it was asked if the left also has saints and Soeiro came-up among those figures that could be called of Portuguese Communist Party secular saints), but besides a romantic figure that was also a writer, he also resembles the Frenchman Antoine de Saint-Exupéry (deceased also young and in mysterious circumstances, shot down in World War II when he flew as part of the Free French Air Force in the Mediterraneum in Marseilles surroundings) on part of the style, poetic even when realistic and with much leaning to a knack of fable and a certain nature of adventure (in this case social and political adventures instead of aviation adventure, due to the distinct areas of activity of each one of them), and by the short but striking full oeuvre. In certain way Stuary-mills, having as leads children and younguns and having an element of wondrous, is Soeiro Pereira Gomes' The Little Prince (with the difference of the wondrous element being openly fantastical in The Little Prince and dream or vision alone with little possibility of being real in Stuary-mills).
the most "celebrated" and repeated Soeiro Pereira Gomes photo
Passing unto the word in itself, starting by the title, stuary-mills was the name given to the factories situated on the stuaries of the river Taguse (hence "stuary-mills"). It are these the scenario of this little-novel, specifically the Single-mills, the roofing tile factories, in Alhandra, Vila Franca de Xira, on the Ribatejo/North Bank Tagus region, and the leads are the male children that as common back then were acceptable toiling proletariate, specifically the younguns known by the nicknames of "Jenneto" (folksy and common alternative name for the euro-african mamal genet), "Little-Pipes" (from the habit of playing harmonica), "Badblooded" (term for the bull that has bad blood that in the Beira region is used popularly for terming a big-fat-git, scoundrel, miscreant, what is not fully unfair to him) and "Dobby-machine" (the machinery operator). The novel shows us the life course of these children and others that they know, and although Soeiro be obviously inspirred by his political militancy and by his vision of politically involved culture, he approaches the Alhandra-native toiling proletariate with some lyricism and a poetics, using of the portrayal of that group of children that to us tell their reality as a kind of "corus". We see them subjected to the harshness of work, when they get it, and drifting around, stealing to eat or keeping still despite everything the playing of their age. But the most interesting is when we see them dream, dreams writen by the author supposedly neorealis filled with lyricism and penetrating into the childish dreams and with th gigantism and impossibility of beating-down or limiting the childish fantasism even before a reality depressing for the real youngun.At the book's end (in an episode with a clear ideological simblism for the author, in which a dramatic event of natural cause or with an author not clear acts as a deus ex machina, "god in the stage machine" that "solves" the plot when none of the human participants can), after a fire destroying the oven from the factory of one of the stuary-mills, Maquineta awaits that they kids to enter that day faster unto the factory for working with the adults and earn their living, but it doesn't happen like that.In that stuary-mill, one day it is heard much noise of folk and horses: it is the fair that arrives there. Jenneto stays awaiting that it do come his friends and the friend Rosete for taking him to the fair, but they don't show up. Yet he recognises a voice and a song: it is the Little-pippes. Jenneto calls for him but the Little-pippes and another of the zone's kids (the Marmoset) stand aside together to look for the former's father, awaiting Little-pippes to go back with the father for freeing the remaining kids and send them all to school for them to cease needing to work, exploited. Despite the unarguable marxist-leninist-stalinist communist of this book, Soeiro Pereira Gomes does not give us an anonymous and collective "mass" but a collective made-up of solidary but not homogeneous individuals and gives us not a report of toiling-peasant revolt but a portrait of hard but not empty life and with room for hope and ends with a familial focus (with a reunion of father and son) and an end almost of north-american "rags-to-riches story" that could well be of capitalist fantasy (with the buying of the factory for closing it as method for ending the oppression instead of a direct revolution; although of course that Pereira Gomes must had written this exactly to avoid censoring of a too obvious communism before the censorship, it doesn't cease being curious). It is for that that this book, which can find itself in almost all the Portuguese municipal and school libraries and that it finds itself still for sale in Europa-América editions and other publishers and in old-book-sellers, book fairs and sales websites on the net in editions from several publishers, it shall be worth it today for a general audience from all ages (but maybe mostly the younger one) and of all partisan-political orientations.
1 In the Portuguese language original "Em Esteiros não vemos ainda o proletariado organizado, mas é bem evidente a análise das formas e meios de produção, assim como o propósito de desvendar os antagonismos de classe (...). Em Esteiros a natureza (histórica) das relações humanas é determinada pelas relações de produção. Observam-se as classes sociais ligadas ao desenvolvimento económico. Vemos, no próprio acto do trabalho, os estivadores, os descarregadores de carvão da Fábrica Grande, os garotos do Telhal, de lágrimas nos olhos e palavra solta, com os ombros escaldados pelos tijolos. (...) No fundo, as relações económicas - valor de troca, mais valia, dinheiro, capital - são sempre relações que se realizam entre seres humanos, à custa de seres humanos. Em Esteiros são-nos mostradas pessoas deformadas pelo poder que o dinheiro confere (o Sr. Castro) e outras deformadas pela impossibilidade de chegar ao uso, ao consumo. Mas nestes mesmos se vai construir um universo de valores, uma consciência dos direitos que assistem àqueles que dos seus direitos são espoliados. (...) É também importante aspecto de Esteiros o seu alcance desmistificatório, anti-idílico, de romance que inter-relaciona razão e sentimento. Esta unidade realiza-se dialecticamente no receptor da mensagem, e nele progressivamente se constitui a consciência da exploração capitalista e da escravização do proletariado".
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