Devo admitir que, apesar de ter anos de leitor e já ter lido bastante sobre a vida e obra de Camilo Castelo Branco (e ter lido alguma coisa da obra do próprio), nunca tinha lido ou ouvi falar sequer deste livro até ao final do ano passado. É o quão obscuro ele é, talvez só excepto para camilianistas (que mesmo assim não dão assim tanta atenção a esta obra como Amor de Perdição, a sua "resposta" Amor de Salvação, a crítica social A Queda de um Anjo, a paródia do Realismo/Naturalismo Eusébio Macário ou os seus romances de "faca e alguidar" e históricos mais "divertidos" de ler pelo seu "excesso" melodramático). Num texto para o N.º 119 de Janeiro de 1991 da COLÓQUIO/Letras da Fundação Gulbenkian, Gustavo Rubim propunha que o esquecimento da obra se deva à crítica estar muito pegada à ideia de um Camilo "de faca e alguidar" e que 'fazia chorar' o seu público alvo, pelo que uma obra altamente cómica como esta não "encaixa" na imagem criada pela mesma, razão porque A Queda do Anjo, apesar de mais livro conhecido, ser um pouco mal analisado por ser abordado pela crítica de um ponto de vista mais moralista do que foi objectivo original do autor (a faceta moralista de Camilo surge de facto na obra camiliana, mas mais noutras obras do autor do que nessa).
Assim, aqui estou eu agora a lê-lo, de uma cópia da edição da Lello & Irmão - Editores de 1987 como nº 79 da colecção Biblioteca iniciação literária (provavelmente, as cópias mais comuns desta obra de cerca de 220 páginas em bibliotecas, hoje são desta edição). É uma obra longa o suficiente para ser um romance, mas algo concisa, não demasiado densa, mas rico no humor e na preocupação socialmente crítica do autor e em todo o seu estilo, em que simpatia (para com o elenco de personagens 'positivas'), ironia, crítica (dos erros do sistema educacional e da sociedade no Portugal da época), entretenimento literário, e alguma "consciência retórica" (i.e., a escrita da obra tendo em conta que é uma obra que foi escrita, ficção, em que o narrador é assumidamente o autor e "brinca" com o seu público, comenta a própria obra escrita e por vezes auto-critica-se ante o leitor pelos exageros que usa no enredo; isto surge nesta obra como em outros romances do autor como Coração, Cabeça e Estômago, A Filha do Arcediago e Memórias de Guilherme do Amaral).
Camilo, nascido Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco em Encarnação (Lisboa) a 16 de Maio de 1825 e suicidando-se em S. Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, a 1 de Junho de 1890, teve uma infância conturbada (os pais nunca casaram apesar de terem dois filhos juntos, e Camilo foi registado «filho de mãe incógnita», ficando órfão de mãe poucos anos depois) mas a sua adolescência foi estável (criado pela família paterna em Vila Real, tendo tido a possibilidade de ler muita literatura clássica portuguesa e greco-latina e de experienciar a vida ao ar livre em Trás-os-Montes), sucedendo-se uma vida de cultura, muita leitura, alguma instabilidade amorosa, um sentimento de permanente insatisfação mas simultaneamente uma vida de ascensão meteórica como autor e figura dos meios culturais e jornalísticos em Portugal e no Brasil (embora em trabalho permanente para se sustentar, e mais tarde à sua família, devido a uma vida de grandes soldos mas de não menores gastos e apostas). Entre as suas obras, são mais famosas, para além das já referidas no primeiro parágrafo, Anátema (1851), A Filha do Arcediago (1854), Livro Negro do Padre Dinis (1855), Vingança (1858), Coração, Cabeça e Estômago (1862) e Estrelas Funestas (1862).
Camilo tendia a escrever obras com uma carga pessimista e de amostragem dura da sociedade do seu tempo ou de períodos poucos séculos anteriores (do século XVII e XVIII nos seus romances históricos), que lembram vagamente um Charles Dickens para uma sociedade menos industrializada e mais rural ou de sociedade burguesa urbana mais de serviços (diferença que reflecte as sociedade diferentes de que ambos os autores vinham) e com menos optimismo, levidade e didactismo (embora Dickens tenha bastante negrume nas suas obras, frequentemente elas terminam com finais felizes que dão uma certa "moral da estória", e ele não costuma chegar aos níveis de "faca e alguidar" de muitas obras de Camilo, mesmo que a "faca e alguidar" do Português seja frequentemente escrita de modo auto-paródico, para além de que é pouco de imaginar Camilo a escrever uma espécie de conto-de-fadas à la Conto de Natal), e sendo ainda menos associado à literatura para jovens (embora a associação do Inglês aos jovens se deva menos a ter escrito para tal público mas mais por escrever frequentemente sobre protagonistas crianças ou cuja vida desde a infância seguimos ao longo do livro, e ao escrever estórias moralizantes pendendo a finais felizes, lembrando assim uma espécie de contos-de-fadas; anote-se porém que Camilo também segue algumas personagens desde a infância, de um modo quase dickensiano e também parecendo fábulas, como A Filha do Arcediago ou este Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, mas a associação é mais raramente feita entre obras de Camilo e estes públicos, embora esta possa ser feita para as obras referidas pelas razões que começámos a explicar).
Camilo tendia a escrever obras com uma carga pessimista e de amostragem dura da sociedade do seu tempo ou de períodos poucos séculos anteriores (do século XVII e XVIII nos seus romances históricos), que lembram vagamente um Charles Dickens para uma sociedade menos industrializada e mais rural ou de sociedade burguesa urbana mais de serviços (diferença que reflecte as sociedade diferentes de que ambos os autores vinham) e com menos optimismo, levidade e didactismo (embora Dickens tenha bastante negrume nas suas obras, frequentemente elas terminam com finais felizes que dão uma certa "moral da estória", e ele não costuma chegar aos níveis de "faca e alguidar" de muitas obras de Camilo, mesmo que a "faca e alguidar" do Português seja frequentemente escrita de modo auto-paródico, para além de que é pouco de imaginar Camilo a escrever uma espécie de conto-de-fadas à la Conto de Natal), e sendo ainda menos associado à literatura para jovens (embora a associação do Inglês aos jovens se deva menos a ter escrito para tal público mas mais por escrever frequentemente sobre protagonistas crianças ou cuja vida desde a infância seguimos ao longo do livro, e ao escrever estórias moralizantes pendendo a finais felizes, lembrando assim uma espécie de contos-de-fadas; anote-se porém que Camilo também segue algumas personagens desde a infância, de um modo quase dickensiano e também parecendo fábulas, como A Filha do Arcediago ou este Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, mas a associação é mais raramente feita entre obras de Camilo e estes públicos, embora esta possa ser feita para as obras referidas pelas razões que começámos a explicar).
Camilo Castelo Branco em fotografia por volta das décadas de 1860 e 1870
Passando agora propriamente para a obra em causa, este romance de 1863 trata assim, de uma forma algo cómica e picaresca, da vida da personagem-título (que deve o "Enxertado" do nome à alcunha jocosamente dada pelos Portuenses ao pai do herói por se estar sempre a referir à sua aldeia transmontana natal do mesmo nome), tendo talvez sido escrito originalmente para publicação em folhetins (como muitas obras do autor), o que explica os capítulos relativamente curtos (no formato de metade de uma folha A4 em que se publicou a referida edição da Lello & Irmão, cada um ocupa à volta de 6, 7, 8 páginas, que nos formatos de edição mais correntes seriam ainda menos), e a forma corrida e bem episodicamente dividida da acção. A narrativa começa dando-nos a descrição do herói («BASÍLIO Fernandes é um sujeito de trinta e sete anos, com senso comum, engraçado a contar histórias de sua vida, activo negociante de vinhos no Porto, amigo do seu amigo, e bastante dinheiroso - o que é melhor que tudo já dito e por dizer»), a sua família (na linha de trabalho merceeira) e a estória do seu nascimento como bebé «gordo e extraordinariamente volumoso», com «a cabeça igual ao restante do corpo, e uns pés dignos pedestais», como um frade carmelita que visitava a casa dos pais agourava pelo tamanho da cabeça que seria um talentoso sábio nalguma ordem religiosa (as ordens são pouco depois extintas em Portugal), como num primeiro momento pareceu que pelo contrário talvez a cabeça de Basílio fosse (como dizia o seu mestre-escola que ele começara a ter à entrada na escolaridade com 8 anos) «muito mais dura, e tapada, e maior que a bola de pedra da torre dos Clérigos» (no fim de contas ele, lentamente, aprende eficientemente a ler e a fazer as operações matemáticas contra as previsões do mestre). Camilo "desenha" depois curioso quadro da vida dos pais de Basílio, padrinhos da filha de um despachante da alfândega do Porto com a mesma idade que Basílio (a princípio baptizada Bonifácia, como a mãe de Basílio, mas depois crismada Custódia como a sua mãe, o que «Não melhorou» segundo o narrador), e como as duas famílias tinham os hábitos das famílias já algo abastadas com o comércio do tempo da juventude do autor, de irem em dias santificados comer peixe frito, salada e azeitonas a Reimão ou Valbom. A Custódia filha (que no III capítulo será novamente re-crismada, agora Etelvina), que começava então a aprender a tocar cravo e falar Francês para desagrado da madrinha (que segundo Camilo se "agarra" às «saudáveis doutrinas da estupidez»), começa devido a esse 'enobrecimento' da sua pessoa a lidar com as brincadeiras de Basílio com enfado.
Depois disso vão crescendo Basílio e Custódia/Etelvina (esta crescendo muito magra mas não desatraente, com o rosto oval e pálido com olhos e cabelos negros e nariz fino, embora ela se auto-flagelasse nas mãos e pés porque era um zona onde abundavam defeitos de família), e começa a namorar Henrique Pestana, o filho do director da Alfândega de Bragança. Um dia Basílio encontra na rua o casal, e aborda-a pelo seu nome anterior de Custódia e fala-lhe dos tempos do peixe frito (ora nesta altura a música tocada à frente do Paço de Sintra era conhecida por tal alcunha, pelo que o acompanhante da jovem ficou sobre a impressão de Basílio se estar a referir a algum «recreio filarmónico»), o que faz ela corar. Basílio acabará por ter uma caricata luta em mangas de camisa com Henrique (que então já ama Etelvina, segundo o autor apesar desta se chamar de facto Custódia) numa luta sobre a honra da jovem devido ao corar da mesma motivado pela referência aos tempos do peixe frito. Depois disso, Basílio (que é de facto um "enxertado": alguém com uma identidade flexível, maleável e que se insere no contexto em seu redor) passa aventuras como o herói salvar-se a si próprio milagrosamente de afogamento no Douro por volta da Primavera de 1848, a sua passagem por carreiras de poeta (segundo Camilo «O Porto, em 1848, era um viveiro de poetas» mas já em 1863 ninguém sabia já «que fim levaram as dezenas de mancebos bafejados pela inspiração») e de trabalhador no convento das freiras de Santa Clara. Enquanto isso, Henrique ia-se regenerando devido à influência do amor de Etelvina, que começava a actuar na Filarmónica local como cantora e pianista, sendo na mesma que ela se reencontra com Basílio, que também a integrou como financiador (Basílio era excessivamente gastador a um ponto que o «avaro na fama» pai até suspeitava a mulher de adultério) e era na altura um sucesso com as mulheres sendo poeta (que chegou a bater-se em duelo com um romancista por causa duma tal de Celina), e Etelvina ia-se re-afeiçoando a Basílio, que parecia aos olhos dela "mudado" para melhor (fora o volume da cabeça que se mantinha); o autor nota que esta situação prova que «O amor iguala todos os homens» e que a espécie humana é «a mais ilógica de todas as espécies». Esta evolução seria mútua, como provaria uma exibição a cavalo que ele faz ante Etelvina... que termina com ser cuspido do cavalo para uma sebe longínqua e arranjar um rasgão nas calças (por compensação foi depois depois tratado pela moça).
Depois da queda, Basílio ouve do pai da Artista Anteriormente Conhecida como Custódia que Etelvina teria ficado doente de cama com o susto da sua queda, o que era mentira (incentivada na jovem pelo próprio pai, com o olho na fortuna comercial de Basílio) e é apresentado pelo narrador como prova do quão tolo e palerma era Basílio (ele até ironiza que ele próprio «dando a nova funesta da queda» de Basílio, chamou a ele «inteligente; mas como na oração havia dois agentes, ele um, e o cavalo outro, o público fez-me o favor de duvidar se eu chamava inteligente o cavalo, ou o Basílio», e compara este engano do jovem com a vida de todas as pessoas: «Quantas engoli eu assim! Quantas tem engolido o leitor! Quantas engoliremos até que a sepultura nos engula!…»).
Basílio passa depois por um sem-fim mais de aventuras ao longo do meio e da segunda metade do livro, como a oposição de Basílio ao casamento entre Etelvina e Henrique Pestana que acaba por se concretizar, um entrudo bizarro na Campanhã em que o herói se confronta com o marido da amada, a fuga de Basílio Fernandes (a conselho do pai) para Paris por uns tempos para que a gente em Portugal se esqueça do dito entrudo... chegando a Paris no mesmo dia em que o casal Pestana também chega à cidade em férias para se afastar de Portugal e do escândalo (o autor ironicamente chama a esse capítulo «Capítulo de muita moral», isto só assinalando que a suposta feição de moralista de Camilo é um tanto exagerada, visto que o próprio parodia aqui a ficção excessivamente moralizante), um capítulo XVII em que o próprio autor partilha correspondência com o herói do seu livro (embora hoje isto seja pouco recordado: Camilo era muito dado a estas "quebras da quarta parede" entre ficção e realidade, sendo esta obra ou A Filha do Arcediago grandes exemplos desse estilo), o reencontro de Basílio e Henrique em Lisboa com o primeiro a dar «O maior murro que ainda levaram queixos de homem» no segundo e ainda dois pontapés por instinto quando lhe pareceu que o adversário "despertava" (o que porém se tornou vitória para Henrique, porque sorveu o último dinheiro da herança paterna do Enxertado numa indemnização), o chorado regresso do herói ao Porto (em que ele se fica a saber que ocorreram só desgraças durante a sua ausência, incluindo Etelvina deixar de cantar), e por altura do «Que Fim!» (título do penúltimo capítulo, que vem antes de uma conclusão em que o autor volta a ouvir novas do herói, o que também acontece nalguns outros romances cómicos do autor), o enredo implica que o tonto e estroina Basílio acabe por se recuperar e ser transformado através do amor e do sofrimento amoroso, sendo que também Etelvina deixa para trás atribulações e leviandades, e ambos se "reconvertem" moralmente e conquistam a felicidade a dois.
Este grande resumo dá uma ideia dos traços gerais do enredo do livro, mas não da vivacidade e do desenho a traços largos do elenco de personagens que pelo livro vão passando, apresentados numa escrita irónica do autor, como o manhoso mas pouco bem-sucedido Manuel José Borges, o pai de Bonifácia/Custódia/Etelvina, e tão vivaz e detalhado como o retrato do próprio Basílio Fernandes Enxertado (e por isso divertido, na sua apresentação irónica) é o da filha de Manuel José: Etelvina é apresentada como uma verdadeira prova de que (nas palavras do autor) «As mulheres fazem tudo de si para fazerem o que querem de nós».
Note-se que há algo de vagamente autobiográfico em alguma parte do retrato de Basílio Fernandes Enxertado: como o autor, ele nasceu numa família de posses mas não aristocrática que do lado paterno tinha raízes transmontana mas o próprio era nascido noutra parte, ele viveu vida boémia, foi poeta, um mulherengo que se deu a duelos por mulheres, era um bom narrador (embora no caso de Basílio isto possa ser defeito de alguém que não percebe que não tem assim muita razão para ter tanto orgulho nos episódios ocorridos à sua própria pessoa) e acabou por se "reabilitar" (embora não de forma tão bem resolvida como o seu herói) ao encontrar o amor com uma mulher que teve de roubar a outro que tinha um nível de vida mais estável (embora, ao contrário da vida real de Camilo, não haja aqui adultério, parecendo o final dado à personagem de Henrique, que não revelarei para não "desmanchar-prazeres", uma forma "conveniente" de o tirar de cena para que o casal principal se possa unir sem criar problemas morais ao leitor do seu tempo, que provavelmente não suportaria algo do género nem da parte de um autor que tivesse sido ele mesmo adúltero; o autor ironiza sobre isto ao intitular o antepenúltimo XXI capítulo «Como eles se amavam, sem afrontarem a moral pública»).
Apresentando outra diferença para com Dickens, enquanto o Inglês apresentava o retrato da sociedade industrial (não que o campo rural não surgisse na sua obra, mas como na Inglaterra real, com a cidade industrial e a sua "longa sombra" nunca muito longe), o Português, mostrando também a pobreza e a dificuldade social da vida de muitos Portugueses do seu tempo, mostra porém uma realidade que é menos a do trabalho intensivo e opressivo fabril e mais a da falta do dinheiro por vida custosa, dos biscates, e do trabalho duro mas com pouco fruto, diferença que é explicada pelo contexto diferente: não industrial mas de país rural aburguesando-se comercialmente, ainda parcialmente pré-industrial (principalmente no tempo da acção, pelos anos de 1840; no tempo em que Camilo escreveu e publicou este livro, porém, a realidade era, pelo menos em Lisboa e alguns outros centros urbanos do país, algo diferente por causa da industrialização após o golpe de Estado da Regeneração, embora ainda faltassem em 1863 doze anos para o primeiro governo chefiado por Fontes Pereira de Melo, embora este já tivesse passado pelo governo como Ministro das Obras Públicas do 3.º governo do Duque da Terceira uns quatro, três anos antes). Assim o retrato das desventuras picarescas e cómicas de Basílio não são só desventuras para entreter e divertir, fruto da imaginação incontestavelmente frutífera do autor, mas também um retrato algo realista do que eram as dificuldades e as vivências socioeconómicas de uns certos tipos sociais da sociedade urbana baixo-burguesa boémia da altura, que os aspectos cómicos e sentimentais da obra camiliana não diminuem na sua força e credibilidade, nem com o final feliz e moralizante dado para o casal de enamorados do enredo.
Ao contrário de outros clássicos de Camilo, Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (apesar de ter esta qualidade de David Copperfield lusófono ignorado por incompreensão crítica) não teve até agora a atenção (merecida) do público leitor e erudito nem adaptações cinematográficas e televisivas (apesar da primeira adaptação de uma obra de Camilo, no caso de Amor de Perdição, remontar a 1914, livro novamente adaptado 4 e 7 anos depois, e mais duas vezes para cinema a partir de 1943, fora a adaptação modernizada Um Amor de Perdição de 2008, e para televisão no Brasil em 1965 e em Espanha como um episódio de 1973 da série dos anos '60 e '70 Novela que adaptava romances clássicos, e surgiram ainda algumas adaptações televisivas de O Retrato de Ricardina e A Brasileira de Prazins na telenovela Ricardina e Marta de 1989, d'O Morgado de Fafe em Lisboa, d'A Viúva do Enforcado, de Mistérios de Lisboa e d'O Livro Negro de Padre Dinis que deu parte do enredo da telenovela luso-brasileira Paixões Proibidas de 2006-07), não tendo havido sequer, tanto quanto sei, adaptações a teatro ou BD. O que é uma pena, porque a obra está indiscutivelmente no domínio público, e o facto de ser pouco conhecida ajuda a que esteja ainda mais fresca e viva que outras do autor, apesar de já ter passado dos cem anos de idade (embora ainda falte para os 200), devido a não ter sido mencionada por título e exposta ao público português até à exaustão ao longo do tempo de 1863 até agora, e assim o leitor de todas as idades pode apresentar-se a esta narrativa que tem tanto de emocional e comovente como de hilariante, sobre um herói pícaro que passou pela miséria por idiotice própria, sem ficar cruel, e que se regenerou junto com a sua cara-metade, e por isso é um romance que serve de lição e de fábula que por ser cómica não se torna pesadona e demasiado moralista.
Este romance pode encontrar-se com alguma facilidade em pelo menos algumas bibliotecas municipais, e existem raras edições novas deste século, embora seja de edição menos frequente que muitas outras obras deste autor.
Apresentando outra diferença para com Dickens, enquanto o Inglês apresentava o retrato da sociedade industrial (não que o campo rural não surgisse na sua obra, mas como na Inglaterra real, com a cidade industrial e a sua "longa sombra" nunca muito longe), o Português, mostrando também a pobreza e a dificuldade social da vida de muitos Portugueses do seu tempo, mostra porém uma realidade que é menos a do trabalho intensivo e opressivo fabril e mais a da falta do dinheiro por vida custosa, dos biscates, e do trabalho duro mas com pouco fruto, diferença que é explicada pelo contexto diferente: não industrial mas de país rural aburguesando-se comercialmente, ainda parcialmente pré-industrial (principalmente no tempo da acção, pelos anos de 1840; no tempo em que Camilo escreveu e publicou este livro, porém, a realidade era, pelo menos em Lisboa e alguns outros centros urbanos do país, algo diferente por causa da industrialização após o golpe de Estado da Regeneração, embora ainda faltassem em 1863 doze anos para o primeiro governo chefiado por Fontes Pereira de Melo, embora este já tivesse passado pelo governo como Ministro das Obras Públicas do 3.º governo do Duque da Terceira uns quatro, três anos antes). Assim o retrato das desventuras picarescas e cómicas de Basílio não são só desventuras para entreter e divertir, fruto da imaginação incontestavelmente frutífera do autor, mas também um retrato algo realista do que eram as dificuldades e as vivências socioeconómicas de uns certos tipos sociais da sociedade urbana baixo-burguesa boémia da altura, que os aspectos cómicos e sentimentais da obra camiliana não diminuem na sua força e credibilidade, nem com o final feliz e moralizante dado para o casal de enamorados do enredo.
Ao contrário de outros clássicos de Camilo, Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (apesar de ter esta qualidade de David Copperfield lusófono ignorado por incompreensão crítica) não teve até agora a atenção (merecida) do público leitor e erudito nem adaptações cinematográficas e televisivas (apesar da primeira adaptação de uma obra de Camilo, no caso de Amor de Perdição, remontar a 1914, livro novamente adaptado 4 e 7 anos depois, e mais duas vezes para cinema a partir de 1943, fora a adaptação modernizada Um Amor de Perdição de 2008, e para televisão no Brasil em 1965 e em Espanha como um episódio de 1973 da série dos anos '60 e '70 Novela que adaptava romances clássicos, e surgiram ainda algumas adaptações televisivas de O Retrato de Ricardina e A Brasileira de Prazins na telenovela Ricardina e Marta de 1989, d'O Morgado de Fafe em Lisboa, d'A Viúva do Enforcado, de Mistérios de Lisboa e d'O Livro Negro de Padre Dinis que deu parte do enredo da telenovela luso-brasileira Paixões Proibidas de 2006-07), não tendo havido sequer, tanto quanto sei, adaptações a teatro ou BD. O que é uma pena, porque a obra está indiscutivelmente no domínio público, e o facto de ser pouco conhecida ajuda a que esteja ainda mais fresca e viva que outras do autor, apesar de já ter passado dos cem anos de idade (embora ainda falte para os 200), devido a não ter sido mencionada por título e exposta ao público português até à exaustão ao longo do tempo de 1863 até agora, e assim o leitor de todas as idades pode apresentar-se a esta narrativa que tem tanto de emocional e comovente como de hilariante, sobre um herói pícaro que passou pela miséria por idiotice própria, sem ficar cruel, e que se regenerou junto com a sua cara-metade, e por isso é um romance que serve de lição e de fábula que por ser cómica não se torna pesadona e demasiado moralista.
Este romance pode encontrar-se com alguma facilidade em pelo menos algumas bibliotecas municipais, e existem raras edições novas deste século, embora seja de edição menos frequente que muitas outras obras deste autor.
Must admit that, despite having some years as reader and already having read lots on the life and work of Camilo Castelo Branco (and having read some thing on the work of himself), never had read or heard talk at all till the end of last year. It is how obscure it is, maybe only except for camilianist scholars (that even so do not give as much attention to this work as to Amor de Perdição/"Love of Damnation" or "Doomed Love", its "answer" Amor de Salvação/"Salvation Love", the social critique A Queda de um Anjo/"The Fall of an Angel", the parody of Realism/Naturalism Eusébio Macário or his "cloak and dagger" and historical novels more "fun" to read for their melodramatic "excess"). In a text for the #119 from January 1991 of the COLÓQUIO/Letras from the Gulbenkian Foundation, Gustavo Rubim proposed that the oblivion of the work is owed to reviewers being very much sticked to the idea of a "cloak and dagger" Camilo who 'made' his target audience 'cry', so that a highly comical work like this one doesn't "fit" into the image created by said reviewers, reason why The Fall of an Angel, despite more known a book, bing a little baddly analised due to being approached by the reviewers from a more moralist point of view more moralistic than what was original purpose of the author (the moralistic facette of Camilo comes-up in fact within the camilian ouvre, but more in other works of the author than in this one).
So, here I am now reading it, out of a copy of an edition of the Lello & Irmão - Editores from 1987 as an #79 of the Biblioteca iniciação literária/"Literary initiation library" collection (probably, the more common copies of this work of about 220 pages in libraries, today are from this edition). It is a work long enough for being a novel, but something concise, not too dense, richer in humour and in the socially critical concern of the author and in all its style, in which sympathy (towards the cast of 'positive' characters), irony, criticism (of the errors of the educational system and of the society within the Portugal of the period), literary entertainment, and some "rhetorical consciousness" (i.e., the writing of the work having into account that it is a work that was written, fiction, in which the narrator is outrightly the author and "plays" with his own audience, comments the written work itself and sometimes self-criticises himself before the reader with the exagerations that he uses in the plot; this comes-up in this work as in other novels of the author as Coração, Cabeça e Estômago/"Heart, Head and Stomach", A Filha do Arcediago/"The Daughter of the Archdeacon" and Memórias de Guilherme do Amaral/"Memoirs of Guilherme do Amaral").
Camilo, born Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco in Encarnassao (Lisbon) on 16th of May, 1825 and commiting suicide on Sao Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicao, on 1st of June, 1890, had a troubled (the parents never got married despite having two children together, and Camilo was registered «father of incognito mother», getting orphan of mother few years afterwards) but his adolescency was stable (raised by the paternal family on Vila Real, having had the possibility of reading much Portuguese and Graeco-Latin classical literature and of experiencing the great outdoors in Trahs-os-Montes region), it ensued itself a life of culture, much reading, some love-life instability, a feeling of permanent dissatisfaction but simultaneously a life of meteoric rise as author and figure from the cultural and journalistic millieux in Portugal and Brazil (although in permanent labour for supporting himself, and later his family, due to a life of great solidus wages but no lesser expenses and gambles). Among his works, it are more famous, besides the ones already mentioned on the first paragraph, Anátema/"Anathema" (1851), A Filha do Arcediago/"The Daughter of the Archdeacon" (1854), Livro Negro do Padre Dinis/"Black Book of Father Diniz" (1855), Vingança/"Revenge" (1858), Coração, Cabeça e Estômago/"Heart, Head and Stomach" (1862) and Estrelas Funestas/"Baleful Stars" (1862).
Camilo tended to write works with a pessimistic charge and of hard sampling of the society of his time or of periods a few centuries previous to it (the 17th and 18th century in his historical novels), that recall vaguely a Charles Dickens for a less industrialised and more rural or more services-oriented urban bourgeois society (difference that reflects the different societies that both authors came from) and with less optimism, levity and didaticism (although Dickens has rather quite a gloom in his works, frequently they ended with happy endings that give a certain "moral of the story", and he doesn't use to get to the levels of "cloak and dagger" of many works of Camilo's, even if the "cloak and dagger" of the Portuguese-man be frequently written in self-parody fashion, besides that it is little to be imagined Camilo writing a kind of fairy-tale A Christmas Carol-style), and being even lss associated to literature for young people (although the association of the Englishman to the younguns is owed less to having written for such public and more for writing frequently on leads either children or whose life since childhood we follow throughout the book, and to writing moralising stories pending to happy endings, recalling so a kind of fairy tales; let it be noted that Camilo also follows some characters since childhood, in a dickensian fashion and also fables, like The Daughter of the Archdeacon or this Adventures of Basilio Fernandes Enxertado, but the association is more rarely made between works of Camilo and these publics, although this may be made for the mentioned works for the reasons we started to explain).
Camilo tended to write works with a pessimistic charge and of hard sampling of the society of his time or of periods a few centuries previous to it (the 17th and 18th century in his historical novels), that recall vaguely a Charles Dickens for a less industrialised and more rural or more services-oriented urban bourgeois society (difference that reflects the different societies that both authors came from) and with less optimism, levity and didaticism (although Dickens has rather quite a gloom in his works, frequently they ended with happy endings that give a certain "moral of the story", and he doesn't use to get to the levels of "cloak and dagger" of many works of Camilo's, even if the "cloak and dagger" of the Portuguese-man be frequently written in self-parody fashion, besides that it is little to be imagined Camilo writing a kind of fairy-tale A Christmas Carol-style), and being even lss associated to literature for young people (although the association of the Englishman to the younguns is owed less to having written for such public and more for writing frequently on leads either children or whose life since childhood we follow throughout the book, and to writing moralising stories pending to happy endings, recalling so a kind of fairy tales; let it be noted that Camilo also follows some characters since childhood, in a dickensian fashion and also fables, like The Daughter of the Archdeacon or this Adventures of Basilio Fernandes Enxertado, but the association is more rarely made between works of Camilo and these publics, although this may be made for the mentioned works for the reasons we started to explain).
Camilo Castelo Branco in photograph around the 1860s and 1870s decades
Passing now properly to the work at hand, this 1863 novel deals so, in a somewhat comical and picaresque/roguish form, on the life of the title character, (which owes the "Enxertado" on the name to the nickname mockingly given by the Oportoans to the father of the hero due to always being refering to his native Trahs-os-Montes village of the same name), having maybe been writen originally for publication into feuilletons (as many works of the author's), what explains the relatively short chapters (in the formate of half of a letter size sheet in which it waspublished the mentioned Lello & Irmão edition, each one takes around 6, 7, 8 pages, that in the more current formats would be even less), and the hasty and well episodically divided form of the action. The narrative starts giving us a description of the hero («BASILIO Fernandes is a fellow thirty seven years-old, with common sense, funny at telling stories of his life, active wine dealer in Oporto, a friend to his friends, and rather bountyful - what is the best of everything already said and to be said»), his family (in the grocer's line of work) and the story of his birth as «fat and extraeordinarily bulky» baby, with «the head equal to the remaining of the body, and a hell of a feet worthy of pedestals», like a carmelite friat who visited the house of his parents foretold by the size of the head that would be a talented wiseman in some religious order (the others are little afterwards extinguished in Portugal), as in a first moment it seemed that on the contrary maybe Basilio's head were (as said his school-master that he started to have at the entry into compulsory education at 8 years-old) «much harder, and covered up, and bigger than the ball of stone of the tower of Clérigos» (all in all he, slowly, learns efficiently to read and to do the mathematical procedures against the predictions of the school-master). Camilo "draws" afterwards curious tableaux of the life of Basilio's parents, godparents of the daughter of an Oporto customs dispatcherwith the same age as Basilio (at first baptised Bonifacia, like Basilio's mother, but afterwards christened Custodia like her mother, what «It did not improve» according to the narrator), and as the two families had the habits of the families already somewhat well-off with trade on the author's youthful days, of going on sainted days to eat fried fish, salad and olives to the Reimão or Valbom civil parishes. Custodia Junior (who on the III chapter shall be again re-christened, now Etelvina), who started then to learn to play the harpsichord and to speak French to the dislike of her godmother (who according to Camilo "grabs" herself to the «healthy doctrines of stupidity»), starts due to that 'ennobling' of her person at dealing with Basilio's playing with sulking.
Afterwards to that it do grow up Basilio and Custodia/Etelvina (she growing very thin but not unactractive, with the oval and pale face with black eyes and hair and thin nose, although she self-flagellated on the hands and feet because it was an area where it abounded family flaws), and starts to date Henrique Pestana, the son of the director of the Braganza customs. One day Basilio finds on the street the couple, approaches her by the previous name of Custodia and talks to her of the fried fish days (well on this time the music played facing the Passo de Sintra manor was known by such nickname, so that the date of the young-lady got under the impression that Basilio was referring to some «philarmonic recreation»), what made her blush. Basilio will end by having a cartoonish fight with shirt sleeves pulled back with Henrique (who then already loves Etelvina, according to the author despite her being called Custodia) on a fight over the horor of the young-woman due to the blushing of the former provoked by the reference to the times of the fried fish. Afterwards to that, Basilio (who is in fact an "enxertado"/"engrafted": someone with a flexible, maleable identity who inserts oneself in the context around) passes by adventures like the hero saving himself miraculously from drowning on the Douro round the Spring of 1848, his passage by carreers of poet (according to Camilo «Oporto, in 1848, was a breeding ground of poets» but already in 1863 nobody knew already «what nding took the tens of youths breathed on by the inspiration») and of worker on the nun convent of Santa Clara. Meanwhile, Henrique went regenerating himself due to the influence of the love of Etelvina, who started to perform on the local Philarmonica as singer and pianist,being on the former that she mets again with Basilio, who also integrated it as financier lessor (Basilio was excessively a spender to a point that his «miser by fame» father even suspected on his wife for adultery) and was at the time a hit with women being a poet (who got to duel with a novelist over some Celina), and Etelvina re-becoming attached to Basílio, who seemed to her eyes "changed" for the better (aside the bulkiness of the head that kept itself); the author notes tha this situation proves that «Love equalises all men» and that the human species is «the most illogical of all species». This evolution would be mutual, as would prove an exhibition on hourse that he does before Etelvina... which ends with being spat out of the horse unto a faraway hedge and getting a rip on his pants (for compensation he was afterwards taken care of by the lass).
After the fall, Basilio hears from the father of The Artist Formerly Known as Custodia that Etelvina would have been sick in bed with the fright of his fall, what was a lie (spurred unto the young-woman by her own father, with eyes set on the commercial fortune of Basilio's) and is presented by the narrator as proof of how foolish and a schmo was Basilio (he even made irony that he himself «giving the baleful news of the fall» of Basilio's, called to him «intelligent; but as in the clause there were two agents, he one, and the horse another, the audience did me the favour of doubting if I called intelligent to the horse, or to Basilio», and compares this deception of the young-man with the life of all people: «How many did I eat up thus! How many has eatten up the reader! How many will we eat up until the grave eats us up!…»).
Basilio passes afterwards by a neverend of more adventures throughout the middle and second half of the book, like the opposition of Basilio to the wedding between Etelvina and Henrique Pestana that ends fulfiling itself, a bizarre shrovetide on Campanhã parish in which the hero faces himself with the husband of his beloved, the escape of Basilio Fernandes (on his father's advice) to Paris for a time so that the folks in Portugal forget of said shrovetide... arriving to Paris on the same day that the Pestana couple also arrivesto the city on holidays to draw themselves away of Portugal and of the scandal (the author ironically calls to this chapter «Chapter of much morals», this only signaling that the supposed moralist trait of Camilo is a notch exagerated, seen that he himself parodies here the excessive moralising fiction), a chapter XVII in which the author himself shares correspondence with the hero of his book (although this be little recalled: Camilo was very much given to these "breaches of the fourth wall" between fiction and reality, being this work or The Daughter of the Archdeacon great examples of that style), the reencounter of Basilio and Henrique in Lisbon with the first giving-out «The biggst punch that have still took in man chin's» on the latter and yet two kicks by instinct by instinct when it seemed to him that the adversary "awoke" (what became a victory for Henrique, because he slipped the last money of the inheritance of the Enxertado's in an indemnity), the cried return of the hero to Oporto (in which he gets to know that it have occured only disgraces during his absence, including Etelvina ceasing from singing), and by the time of the «What an End!» (title of next-to-last chapter, which comes before a conclusion in which the author goes back to hearin news of the hero, what also happens in some other comical novels of the author), the plot implies that the foolish and roisterer Basilio ends by recovering one's self and be transformed through the love and the loving suffering, being that also Etelvina leaves behind tribulations and carelessnesses, and both "reconvert" morally and conquers happiness the two of them.
This large abstract gives an idea of the general features of the plot of the book, but not of the livelihood and of the drawing at wide strokes of the cast of characters that throughout the book do go passing by, presented in an ironical writing of the author's, with the crafty but little successful Manuel Jose Borges, the father of Bonifacia/Custodia/Etelvina, and as lively and detailed as the portrait of Basilio Fernandes Enxertado (and due to that amusing, in its ironical presentation) is the one of the daughter of Manuel José: Etelvina is presented as a true proof that (in the words of the author) «Women do everything out of themselves to do everything they want out of us».
Let it be noted that there is something vaguely autobiographical in some parts of the portrayal of Basilio Fernandes Enxertado: like the author, he was born unto a family of possessions but not aristocratic that on the paternal side had Trahs-os-Montes region roots but he himself was born elsewhere, he lived a bohemian life, was a poet, a womaniser who gave himself to duels over women, was a good narrater (although in the case of Basilio that may be flaw of someone who does not realise that one's self does not have that much reason for having pride on the episodes occured to one's own person) and ended by "rehabilitating" (although not in well-resolved form like his hero) by finding love with a woman that he had to steal from another that already had a more stable standard of living (although, unlike the real life of Camilo, there is not here adultery, seeming the ending giving to Henrique, which I shall not reveal here for not "spoiling it", a "convenient form of taking him off stage so that the main couple can united itself without raising moral problems to the reader of its time, that probably would not bare something of the kind and not even close to it nor on the part of an author that had been himself adulterous; the author makes irony on this in titling the second-to-last XXI chapter «How they loved each other, without facing off to the public morals»).
Presenting another difference towards Dickens, while the Englishman presented a portrayal of the industrial society (not that the rural countryside did not come-up in his work, but like on real England, with the industrial city with its "long shadow" never too far-offs), the Portuguese-man, showing also the poverty and the social difficulty of many Portuguese from his time, shows though a rality that is less the one of intensive and oppressive factory work and more the one of the lack of money due to the costly life, of the sidejobs, and of the hardwork but with little fruitfulness, difference that is explained by the different context: not industrial but of rural country bourgeoining itself commercially, still partially pre-industrial (mainly on the time of the setting, by the 1840s; on the time in which Camilo wrote and published this book, though, the reality was, at least in Lisbon and some other urban centres of the country, something different because of the industrialisation after the coup d'État of the Regeneração/"Regeneration", although it still were left in 1863 twelve years to the first government lead by Fontes Pereira de Melo, although the former already had passed through the government as Minister of Public Contracted Works of the 3rd government of the Duke of Terceira some four, three years before). So the portrayal of the picaresque/roguish and comedic misavendures of Basilio are not just misadventures for entertaining and amusing, fruit-bore out of unarguably fruitful imagination of the author's, but are also a somewhat realistic portrayal of what were the social-economic dificulties and the livings of some certain social types from the bohemian petite-bourgeois urban society of the time, which comical and sentimental aspects of the camilian ouvre do not diminish in their strength and credibility, not even with the happy or moralising ending given to the plot's couple of enamoured ones.
Unlike the other Camilo classics, Adventures of Basilio Fernandes Enxertado (despite having this quality of Portuguese-speaking David Copperfield ignored by the incomprehension of reviewers) did not have till now the (deserved) attention from the reading and scholarly audience nor cinematic or television adaptations (despite the first adaptation of a work by Camilo, in the case of Doomed Love, going back to 1914, book again adapted 4 and 7 years afterwards, and two plus times to cinema sarting from 1943, aside the modernised adaptation Um Amor de Perdição/"Doomed Love" from 2008, and to television in Brazil in 1965 and in Spain as a 1973 episode of the '60s and '70s show Novelawhich adapted classic novels, and it would appears sill some television adaptations of O Retrato de Ricardina/"The Portrait of Ricardina" and A Brasileira de Prazins/"The Brazilian-woman of Prazins" into the soap opera Ricardina e Marta/"Ricardina and Marta" from 1989, o' 'O Morgado de Fafe em Lisboa/"The Morgado of Fafe in Lisbon", o' A Viúva do Enforcado/"The Hanged-man's Widow", of Mistérios de Lisboa/"Mysteries of Lisbon"and o' O Livro Negro de Padre Dinis/"The Black Book of Father Dinis" which gave part of the plot to the Portuguese-Brazilian soap opera Paixões Proibidas/"Forbidden Passions" from 2006-07), not having been even, as far as I know, afaptations to theatre or Comics. What is a shame, because the work is unarguably on the public domain, and the fact of being little known helps that it be still fresher and livelier than others of the author, despite already having passed one.hundred years of age (although there is still time to go for the 200), due to not having been mentioned by title and exposed to the Portuguese audience throughout time from 1863 till now, and so the reader of all ages can introduce one's self to this narrative that has as much of emotional and moving as of hillarious, on a rogue hero who passed throughout misery for his own idiocy, without getting cruel, and who himself did regenerate together with his better half, and for that it is a novel that serves as lesson and as fable which for being comical does not become chunky and too moralist.
This novel can find itself with some ease on at least some Portuguese municipal libraries, and it exist rare new editions from this century, although it is in edition less frequent than many other works of this author.
Presenting another difference towards Dickens, while the Englishman presented a portrayal of the industrial society (not that the rural countryside did not come-up in his work, but like on real England, with the industrial city with its "long shadow" never too far-offs), the Portuguese-man, showing also the poverty and the social difficulty of many Portuguese from his time, shows though a rality that is less the one of intensive and oppressive factory work and more the one of the lack of money due to the costly life, of the sidejobs, and of the hardwork but with little fruitfulness, difference that is explained by the different context: not industrial but of rural country bourgeoining itself commercially, still partially pre-industrial (mainly on the time of the setting, by the 1840s; on the time in which Camilo wrote and published this book, though, the reality was, at least in Lisbon and some other urban centres of the country, something different because of the industrialisation after the coup d'État of the Regeneração/"Regeneration", although it still were left in 1863 twelve years to the first government lead by Fontes Pereira de Melo, although the former already had passed through the government as Minister of Public Contracted Works of the 3rd government of the Duke of Terceira some four, three years before). So the portrayal of the picaresque/roguish and comedic misavendures of Basilio are not just misadventures for entertaining and amusing, fruit-bore out of unarguably fruitful imagination of the author's, but are also a somewhat realistic portrayal of what were the social-economic dificulties and the livings of some certain social types from the bohemian petite-bourgeois urban society of the time, which comical and sentimental aspects of the camilian ouvre do not diminish in their strength and credibility, not even with the happy or moralising ending given to the plot's couple of enamoured ones.
Unlike the other Camilo classics, Adventures of Basilio Fernandes Enxertado (despite having this quality of Portuguese-speaking David Copperfield ignored by the incomprehension of reviewers) did not have till now the (deserved) attention from the reading and scholarly audience nor cinematic or television adaptations (despite the first adaptation of a work by Camilo, in the case of Doomed Love, going back to 1914, book again adapted 4 and 7 years afterwards, and two plus times to cinema sarting from 1943, aside the modernised adaptation Um Amor de Perdição/"Doomed Love" from 2008, and to television in Brazil in 1965 and in Spain as a 1973 episode of the '60s and '70s show Novelawhich adapted classic novels, and it would appears sill some television adaptations of O Retrato de Ricardina/"The Portrait of Ricardina" and A Brasileira de Prazins/"The Brazilian-woman of Prazins" into the soap opera Ricardina e Marta/"Ricardina and Marta" from 1989, o' 'O Morgado de Fafe em Lisboa/"The Morgado of Fafe in Lisbon", o' A Viúva do Enforcado/"The Hanged-man's Widow", of Mistérios de Lisboa/"Mysteries of Lisbon"and o' O Livro Negro de Padre Dinis/"The Black Book of Father Dinis" which gave part of the plot to the Portuguese-Brazilian soap opera Paixões Proibidas/"Forbidden Passions" from 2006-07), not having been even, as far as I know, afaptations to theatre or Comics. What is a shame, because the work is unarguably on the public domain, and the fact of being little known helps that it be still fresher and livelier than others of the author, despite already having passed one.hundred years of age (although there is still time to go for the 200), due to not having been mentioned by title and exposed to the Portuguese audience throughout time from 1863 till now, and so the reader of all ages can introduce one's self to this narrative that has as much of emotional and moving as of hillarious, on a rogue hero who passed throughout misery for his own idiocy, without getting cruel, and who himself did regenerate together with his better half, and for that it is a novel that serves as lesson and as fable which for being comical does not become chunky and too moralist.
This novel can find itself with some ease on at least some Portuguese municipal libraries, and it exist rare new editions from this century, although it is in edition less frequent than many other works of this author.
Sem comentários:
Enviar um comentário