quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

"Nitockris", Veiga Simões // "Nitockris", Veiga Simoens

Capa do livro, via Coisas.com
Se como eu, os leitores forem aficionados do velho cinema "de espectáculo" da "Idade de Ouro de Hollywood", provavelmente já viram um de vários daqueles épicos históricos sobre a antiguidade ou bíblicos, como um Ben-Hur, um Dez Mandamentos, um A Terra dos Faraós. Para além dos de Hollywood (e frequentemente confundindo-se com eles) haviam os chamados peplums (do termo Grego Antigo para um tipo de saiote), produzidos em Itália (ou ocasionalmente em locais de filmagens na Europa baratos como Espanha ou a Jugoslávia), com orçamentos mais baixos e com elencos maioritariamente italianos e/ou locais do local de filmagem, mas estrelas Americanas ou Europeias em geral, a Alemanha tendo nos anos de 1960 (em co-produção alemã-italiana-jugoslava só lançada na década seguinte na Alemanha) e de 1990 feitos dois peplums sobre a Batalha de Teutoburgo (em que os Germanos derrotaram os Romanos), e Espanha produziu poucos peplums seus, com o exemplo "chefe" sendo Los cántabros de Paul Naschy (de 1980, já bem depois do fim da era peplum pela Europa fora) e um certo "neo-peplum" imitando a série Roma da HBO nas séries Hispánia la Leyenda (2010-2012, que apresenta um Viriato iberista proto-espanholista) e Imperium (2012).
Se o contributo de Espanha para o género peplum (e para a filmagem de filmes do tipo de Hollywood) é pequeno, o de Portugal foi ainda menor, não tendo filmado peplums próprios (o mais próximo sendo o filme sobre o líder Romano dos Lusitanos, Sertório de António Faria de 1976 nunca estreado comercialmente, e o filme de duas horas sobre Viriato que pode ser feito pela união dos 4 episódios de 30 minutos cada da série do início da década de 1990 Lendas e Factos da História de Portugal), mas porém teve um certo papel na filmagens de épicos da antiguidade de Hollywood e de peplums europeus: o Madeirense Virgílio Teixeira teve papéis secundários de alguma importância no género como o general e futuro faraó do Egipto Ptolomeu na produção americano-espanhola Alexandre, o Grande (1956, protagonizado por Richard Burton) e como o fictício governador rebelde do Egipto Marcellus na produção americana A Queda do Império Romano, protagonizado pelo vilão de Ben-Hur, Stephen Boyd, e Sophia Loren), e o forcado Nuno Salvação Barreto trabalhou como duplo do boxer Buddy Baer como Ursus na cena do domar do touro no coliseu na produção americana do Quo Vadis (1951), criando a confusão em alguns Portugueses nascidos mais tarde de que Salvação Barreto interpretou mesmo Ursus. Dado o pequeno contributo de Portugal para este género cinematográfico (explicado quer pela imaginação portuguesa tradicionalmente estar mais atraída por períodos históricos da Idade Média em diante, quer pela maior atração dos criadores de ficção histórica Portugueses pela história de Portugal que pela dos 'países clássicos' Itália e Grécia como notou João Aguiar numa palestra sobre romance histórico, quer pela falta de meios de produção para produções frequentes do género), torna-se algo surpreendente ver (como eu vi ao longo das leituras para este blogue) que houve ficção histórica, pelo menos escrita, no tipo dos "romances de toga" do século XIX e inícios do XX que inspiraram muitos dos filmes dos géneros referidos acima (e contemporâneos dos mesmo). É o caso do livro que aqui discutiremos, hoje essencialmente desconhecido, escrito pelo natural de Arganil igualmente essencialmente desconhecido hoje chamado Alberto da Veiga Simões (1888  1954).
Veiga Simões na sua juventude durante a viragem do século
Esta obra de 1908 (se houvessem dúvidas a data surge, de forma pouco usual em livros em geral, na capa, como se pode ver acima) é constituída por uma novela (que dá o título ao volume) e 5 contos longos (nunca abaixo de 15 páginas), todos de cenário histórico, os três primeiros textos remontando à Antiguidade e os três últimos remontando à Idade Média cristã, uma escolha literária pouco comum para um autor que se destacou principalmente como um activista político Republicano e diplomata, que colaborou em jornais Republicanos e serviu em vários cargos diplomáticos e políticos ao longo da I República e mesmo durante a Ditadura Militar e o Estado Novo (com o qual se incompatibilizou, acabando por ter o passaporte cassado e morrer em Paris) e que escreveu pouca obra de contismo e de teatro, principalmente reproduzindo as suas preocupações com a actualidade, pelo que é curioso uma obra que tem mais de "poesia" (em prosa, claro) e de encantamento orientalista e Romântico histórico que de política ou análise social.
Este conhecimento do percurso, literário e político, do autor não influencia a análise do livro, porque quando muito pode ser visto como um toque de brilhantismo este "representar contra o tipo" do autor não acostumado a ficção histórica e que tenta, com um talento que não seria de esperar, algo de diferente para si. É curioso como o livro mistura dois modos de ficção histórica: o que transforma factos históricos (ou pelo menos dados registados pela história escrita como sendo factos) em ficção, e o que cria enredos de raiz com base em períodos históricos reais. A novela Nitockris e os contos Ruth e As Núpcias de Nero estão na primeira categoria, e os contos Ignoto Deo, Lenda de um Santo que Morreu Moço e Frei Demónio estão na segunda. Mas sejam as personagens principais históricas ou ficcionais, elas são sempre reduzidas a arquétipos (embora mais substanciais que clichés) que representam as suas fés, povos, classes sociais, dando, embora na sua profundidade psicológica não plenamente explorada, a sensação de mulheres e homens reais de outras eras e civilizações.
Posso agora virar-me para o enredo do texto principal (ocupando 60 páginas do livro). A novela é a estória do percurso de Nitócris I a Divina (Nitockris na grafia orientalista da época), filha do faraó Egípcio Psamtik I, que começando a vida como herdeira da Divina Adoradora do deus Amon (a Divina Adoradora era uma sumo-sacerdotisa que para todos os efeitos era "a mulher" do deus) depois do faraó pai dela ter enviado uma poderosa frota naval em Março de 656 a. C. a Tebas para obrigar a Adoradora (na altura Shepenupet II) a aceitar Nitócris/Nitockris como sua protegida, e herdeira (segundo as leis do cargo da altura), numa altura em que o Egipto, que só 8 anos antes voltara a ser independente, ainda recuperava de uma invasão pelos Assírios em que saquearam os templos de Tebas. Em 655 a. C., a jovem sucederia à sua protectora Shepenupet II, e continuaria no cargo por largos anos, até à sua morte em 585 a. C., quando já havia adoptado (já na casa dos 80) a sua sobrinha-neta Anknesneferibre, que lhe sucedeu como Divina Adoradora de Amon.
Ao longo do seu mandato como Divina Adoradora, retratado por Veiga Simões (algo historicamente correctamente) como um período de tensões políticas, sociais, religiosas e militares (é sem dúvida o mais politizado dos textos da colectânea, e aquele em que mais se vêm os interesses pessoais do autor) num império em decadência e à mercê dos vizinhos inimigos ao Este, Nitócris/Nitockris seria alvo de várias homenagens arquitectónicas, que com o seu perfil no exterior de edifícios assinalaram a sua pessoa e o seu nome em Karnak, Luxor e Abydos, tal como a assinalaram a capela-túmulo que partilha com a sua mãe e a antecessora Shepenupet II nos recintos do lugar hoje chamado em Árabe Egípcio de Medinet-Habu (obras que dariam numa versão cinematográfica gloriosas cenas; esse travo de espectáculo já se encontra no próprio texto, que um ensaio sobre ficção curta na prosa de antes do modernismo português para um revista da Universidade de Aveiro caracteriza como "wagneriano", comparando tacitamente às óperas de grande espectáculo do Alemão Richard Wagner, com influência extra da estética da decadência e das ideologias que procuravam revitalizar o Portugal em crise). Enquanto Nitockris/Nitócris seguia largos anos no seu cargo, o seu pai falecia em 610 a.C., o irmão dela Necho II sucedia-lhe (nalgo que deve interessar bastante aos Portugueses pela nossa história, ele ordenou à moda do Infante D. Henrique ou de D. João II ou D. Manuel II uma expedição de Fenícios contratados a circunavegar África do Mar Vermelho até ao Delta do Nilo), e durante a última década de vida dela já sob o filho de Necho, Psamtik II, ela resignou-se com a sua morte para breve e que o Egipto reunificado não seria glorioso e preparou a sua sucessão sob a sua sobrinha-neta Ankhnesneferibre (filha de Psamtik II). Numa nota curiosa à margem do livro, o sarcófago de Nitócris/Nitockris foi reutilizado num túmulo do período Greco-Egípcio, ou Ptolemaico (nomeado no seguimento da dinastia greco-egípcia descendente do Ptolomeu referido acima), que hoje está no Museu do Cairo (dado os problemas de financiamento e gestão que o Egipto tem tido nos últimos tempos devido à transição política pós-Mubarak, mesmo que a situação arqueológica não comparável ao saque dos museus no Iraque pós-Saddam ou nas partes da Síria e Iraque ocupados pelo auto-proclamado Estado Islâmico, esperemos que dito túmulo esteja seguro).
Sarcófago de Nitócris (Nitockris) I
A narrativa de Antiguidade de Veiga Simões começa com um parágrafo numa prosa impressionista muito intensa (não haja dúvidas que não tivessem a política e a diplomacia tomado o maior foco de atenção de Veiga Simões, ele seria provavelmente mais conhecido como um notável prosador da língua Portuguesa), e desculpem-me o uso da grafia da época ao citar: «O Templo de Phtah erguia as suas columnas angulosas ao fundo duma praça irregular, cortada por acacias e sycómoros. Por todo o Muro-Branco, onde o templo se espalhava, pesado e grave, as casas claras desciam para a beira do Lago. Para norte, destacando aos grandes diques da cidade, os bairros populosos perdiam-se na planura. E quando a vista corria ao fundo, seguia a cordilheira lybia, a desenrolar-se junto ao Nilo, ficava-se nas areias do deserto, parava nas Pyramides que o sol amarellecia...» (Isto é: «O Templo de Phtah erguia as suas colunas angulosas ao fundo duma praça irregular, cortada por acácias e sicómoros. Por todo o Muro-Branco, onde o templo se espalhava, pesado e grave, as casas claras desciam para a beira do lago. Para norte, destacando aos grandes diques da cidade, os bairros populosos perdiam-se na planura. E quando a vista corria ao fundo, seguia a cordilheira líbia, a desenrolar-se junto ao Nilo, ficava-se nas areias do deserto, parava nas Pirâmides que o sol amarelecia...») O resto do livro é assim (não estou a falar só da grafia pré-Reforma Ortográfica de 1911): em prosa impressionista, principalmente na mostra do luxo e do decadentismo associado ao estereótipo do Oriente.
Falando agora do período histórico escolhido pelo autor para o texto principal do livro, a escolha do período é curiosa: não é o Egipto inicial da formação da nacionalidade, nem o da construção das pirâmides poucos séculos depois disso, nem o Egipto do apogeu do Império dos Amenofises, Aquenaténs, Tutancámons, Setis e Ramseses (muito visível pela reforma religiosa monoteísta de Aquenatem e pela associação com o Êxodo da Bíblia), mas o pouco retratado Egipto da decadência, depois de uma guerra civil e da invasão do Egipto primeiro pelos Núbios (do Sudão) que conquistam os seus antigos opressores Egípcios, depois pelos Assírios, seguindo-se a breve re-independência egípcia (com os Núbios, agora chamados de Cuxitas, mantendo o seu reino à parte) e uns 60 anos depois da morte de Nitócris chegaria o domínio persa, só voltando a haver um faraó de um Egipto autónomo, mas Grego Macedónio, com Ptolomeu já depois da morte de Alexandre o Grande (e novamente sem os Núbios/Cuxitas sob domínio egípcio). Mas com isso, e o foco na área da foz do Rio Nilo no Baixo Egipto (Norte do Egipto) onde se concentrava a actividade religiosa, ele consegue dar um olhar raro e por isso "fresco" na ficção quanto ao Antigo Egipto.
Chama um pouco a atenção como o volume circula "liberalmente" ao longo tempo, de estória para estória: do século VII-VI a.C. de Nitócris/Nitóckris para a história (ou pseudo-história) bíblica de Ruth (sobre a ancestral do Rei David de Israel) que teria vivido por volta do século XII ou XI a.C., depois para os anos de 50-60 do século I d.C. para As Núpcias de Nero, e depois directamente para os vagos períodos da Idade Média cristã nos três últimos contos longos. Isso é porém um detalhe, dado o interesse de ver a "pena" do autor aplicada a todos esses períodos e cenários afro-eurasiáticos diferentes, com que Veiga Simões lida, em todos os casos, talentosamente. Todas as narrativas do livro apresentam (como alguns outros livros que temos vindo a ler) aventuras e episódios interessantes que servem para o autor apresentar algo do espírito humano em busca do cumprimento dos seus objectivos, em defesa da sua honra, conforme o caminho da personagem (ou personagens) principal (principais).
Como quem já estudou política internacional, e sendo o livro de um autor que era um profissional dessa área, não posso deixar de dar um olhar relacionado com essa área (e à política nacional) a algumas das narrativas dele. Se Ruth e os três últimos contos são essencialmente textos romanescos a que "politiquices" não se aplicam, todavia Nitockris e As Núpcias de Nero dão-nos olhares da classe alta em sistemas monárquicos (as "bestas negras" do republicanismo de Veiga Simões), e não há como evitar, no primeiro, ler o enredo à luz da época (o livro é de 1908, ano do Regicídio e no qual faltavam dois anos para o fim da monarquia constitucional): o retrato de famílias reais moralmente corruptas (lembremos o foco da propaganda republicana nas supostas, e pelo menos por vezes autênticas, infidelidades do Rei D. Carlos e nas supostas paixões da Rainha D. Amélia pelo militar Mousinho de Albuquerque e algumas das aias dela) em contextos em que (pelo menos em Nitockris) a religião era quase um Estado dentro do Estado, num país enfraquecido e em decadência com inimigos externos que se sobrepunham ao poder do país em causa (em Nitockris como no Portugal pós-Ultimato Britânico quanto ao Reino Unido), que continuava a aumentar o território em causa mas tinha um regime político em decadência (como em As Núpcias de Nero, que representa o fim da primeira dinastia do Império Romano mas com muitos anos ainda faltando para o auge do Império, tal como a monarquia constitucional se aproximava do fim que Republicanos como Veiga Simões esperavam ansiosamente, mas mesmo assim continuava a expandir-se no terreno em África para interior, mesmo após o Ultimato Britânico) é provavelmente o retrato que Veiga Simões faria do Portugal da sua época. Mas também não posso deixar de pensar na ironia (que em 1908 Veiga Simões não podia ver, e quiçá nunca lhe ocorreu em vida mesmo depois de 1910 dado o seu republicanismo ferrenho), de o Portugal Republicano acabar em parte a sucumbir aos mesmos erros (excepto quanto ao poderio da Igreja, embora tenha sido o confronto com a maioria católica portuguesa uma das principais razões da quebra do regime, e a I República tenha em parte repetido o mesmo modelo, mas com o poder dado agora à Maçonaria em vez da Igreja Católica).
Depois de lermos este livro, é irrelevante a questão do sub-texto (se é que o há voluntariamente da parte do autor), pois a qualidade da escrita do autor é incontestável, tal como a força de atracção das narrações deste livro, e do material digno de um velho filme épico que ele tem, importando talvez acima de tudo a forma como a paixão política e cívica de Veiga Simões o inspirou a "embrenhar-se" na história e na cultura da Antiguidade e da Idade Média e a descobrir o seu caminho artístico (e parte da visão política e social que tinha no seu tempo aplicável para outros tempos), e dando-nos assim esta visão de um Republicano democrático, activista, laico e culto de um certo passado.
Este livro de 221 páginas é muito raro, só se podendo encontrar em cópias da edição original de 1908 pela França Amado Editor coimbrã, e não se encontrando na Biblioteca Municipal de Barcelos, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, na Biblioteca Pública de Braga, na Biblioteca Geral da Universidade do Minho, e creio que não se encontre mesmo em bibliotecas do Grande Porto (embora surja na Biblioteca Nacional em Lisboa e na Biblioteca João Paulo II da Universidade Católica Portuguesa em Lisboa). Podem-se encontrar em sítios como o Coisas.com oportunidades de negócios para comprar velhas cópias do Nitockris. Para se ver como é hoje raro encontrar obras de Veiga Simões editadas, o único caso de um texto da sua larga obra ensaística, ficcional ou teatral com edição recente é a edição crítica dos seus Estudos De História pela editora Centro de História em 2004.


Book cover, via Coisas.com
If like I, the readers are afficionados of the old "spectacle" cinema of the "Golden Age of Hollywood", probably you already saw one of several of those historical epics on antiquity or biblical, like a Ben-Hur, a Ten Commandments, a Land of the Pharaohs. Beyond the ones from Hollywood (and frequently confusing themselves with them) there were the so-called peplums (from the Ancient Greek term for a kind of petticoat), produced in Italy (or occasionally in cheap Europe filming locations like Spain or Yugoslavia), with lower budgets and with mostly Italian and/or local to the shooting place casts, but starring American or European in general, Germany having in the 1960s (in German-Italian-Yugoslavian coproduction only launched the following decade in Germany) and the 1990s made two peplums on the Battle of Teutoburg (in which the Germani defeated the Romans), and Spain produced few peplums of its own, with the chief example being Los cántabros by Paul Naschy (from 1980, already well after the end of the peplum era throughout Europe) and a certain "neo-peplum" immitating HBO's Rome series in the series Hispánia la Leyenda (2010-2012, that presents a pro-hispanicity iberist Viriathus) and Imperium (2012).
If the contribution of Spain to the peplum genre (and for the filming of films o the type from Hollywood) is small, the one of Portugal's is even lesser, not having filmed peplums of its own (the closest being the film on the Roman leader of the LusitaniansSertório/"Sertorius" by Antonio Faria from 1976-77 never commercially, and the two hour film on Viriathus that can be made by the uniting of the 4 episodes of 30 minutos each of the series from the beginning of the 1990s decade Lendas e Factos da História de Portugal/"Legends and Facts from Portugal's History"), but yet it did have a certain role in the shootings of Hollywood antiquity epics and of european peplums: the Madeiran Virgilio Teixeira had supporting roles of some importance in the genre like the general and future pharaoh of Egypt Ptolomy on the American-Spanish production Alexander the Great (1956, starred by Richard Burton) and as the fictious governor of Egypt Marcellus on the American production The Fall of the Roman Empire, starred by the villain of Ben-Hur, Stephen Boyd, and Sophia Loren), and the forcado/"bull-grabber" Nuno Salvassao Barreto worked as stunt-double to the boxer Buddy Baer as Ursus on the Colosseum bull taming scene in the American production of Quo Vadis (1951), creating a confusion on some Portuguese born later that Salvassao Barreto actually played Ursus. Given the little contribution of Portugal to this cinematic genre (explained by the Portuguese imaginarium traditionally being more attracted by historical periods from the Middle Ages onwards, both by the greater attraction of the Portuguese historical fiction creators for the history of Portugal than the one of the 'classical countries' Italy and Greece as it noted Joao Aguiar in a lecture on the historical novel, and by the lack of production means for frequent productions of the genre), it becomes somewhat surprising to see (as I saw throughout the reads for the blog) that there was historical fiction, at least written, in the type of the "toga novels" from the 19th century and the beginnings of the 20th that inspired many of the films of the genre refered above (and contemporary to the former). It is the case of the book we shall discuss here, today essentially unknown, written by the Arganil town native equally essentially unknown today called Alberto da Veiga Simoens (1888  1954).
Veiga Simoens in his youth during the turn of the century
This 1908 work (if there were doubts the date comes-up, in form little usual in books in general, in the cover, as it can be seen above) it is constituted by a novella (which titles the volume) and 5 long short-stories (never under 15 pages), all on historical setting, the first three texts going-back to Antiquity and the last three going-back to the Christian Middle Ages, a little common literary choice for an author who did stand out mainly as a Republican political activist and diplomat, who collaborated in Republican newspapers and served in several diplomatic and politics offices throughout the 1st Republic and even during the Military Dictatorship and the Portuguese New State (with which he  had a falling out with, ending by having the passport cassated and dyng in Paris) and who wrote litle work of short-story-writting and theatre, mainly reproducing his concerns with current time, so that it is curious that a work that has more of "poetry" (in prose, of course) and of orientalist and historical Romantic enchantment than of politics or social analysis.
This knowledge of the life-course, literary and political, of the author's does not influence the analysis of the book, because as much it can be seen as a touch of brilliancy this "playing against type" of the author not used to historical fiction and that tries, with a talent that would not be to expect, something different to himself. It is curious how the book mixes two modes of historical fiction: the one that transforms historical facts (or at least recorded by written history as being facts) into fiction, and the one in which it are created plots from scratch with basis on real historical periods. The novella Nitockris and the short-stories Ruth and As Núpcias de Nero/"Nero's Wedding-nuptials" are on the first category, and the short-stories Ignoto DeoLenda de um Santo que Morreu Moço/"Legend of a Saint who Died a Lad" and Frei Demónio/"Friar Demon" are on the second one. But be the main characters historical or fictional, they are always reduced to archetypes (although more substantial than cliches) that represent their faiths, peoples, social classes, giving, although in their psychological depth not wholly explored, the sensation of real women and men from other eras and civilisations.
I may now turn myself towards the plot of the main text (occupying 60 pages of the book). The novella is the story of the life-course of Nitocris I the Divine Adoratrice (Nitockris on the orientalist spelling from the period), daughter of the Egyptian pharaoh Psamtik I, who starting her life as heir to the Divine Adoratrice of the god Amun (the Divine Adoratrice was a high priestess that for all intents and purposes was the god's "wife") afterwards to the pharaoh her father having sent a powerful naval fleet in March 656 b.C. to Thebes for obligating the Adoratrice (at the time Shepenupet II) to accept Nitocris/Nitockris as her protegee, the heiress (according to the laws of the office from the time), on a time in which Egypt, that just 8 years before would go back to be independent, still recovered from an invasion by the Assyrians in which they ransacked the temples from Thebes. In 655 b.C., the young woman would succeed to her protector Shepenupet II, and would continue in the office for long years, till her death in 585 b.C., when she had already adopted (already in her 80s) her great-niece Anknesneferibre, who succeeder to her as Divine Adoratrice of Amun.
Throughout her term as Divine Adoratrice, portrayed by Veiga Simoens (somewhat historically correctly) as a period of political, social, religious and military tensions (it is without doubt the more politicised of the texts of the collection, and that in which it sees itsself more the personal interests of the author) on a empire decaying and at the mercy of its enemy neighbours to the East, Nitocris/Nitockris would be the aim of several architectural homages, which with her profile on the exterior of buildings signaled her person and her name in Karnak, Luxor and Abydos, as it signal it the chapel-tomb that she shares with her mother and the predecessor Shepenupet II on the grounds of the place now called in Egyptian Arabic as Medinet-Habu (works that would give in a cinematic version glorious scenes; that touch of spectacle already found itself on the text itself, which an essay on short fiction in the prose from before Portuguese modernism for a magazine from the Aveiro University characterises as "wagnerian", comparing tacitally to the big spectacle operas of the German Richard Wagner, with extra influence from the aesthetic of decadence and from the ideologies that looked to revitalise the Portugal at crisis).While Nitockris/Nitocris followed for long years in her office, her father passed away in 610 b.C., her brother Necho II succeeded to him (in something that might interest quite to the Portuguese due to our history, he ordered in the fashion of the Infant-prince Don Henry, John II ou Don Manuel II an expedition of hired Phoenicians a circumnavigate Africa from the Red Sea to the Delta of the Nile), and during the last decade of her life already under the son of Necho, Psamtik II, she resigned to her soon death and that the reunified Egypt would not be glorious and prepared her succession under her adopted great-niece Ankhnesneferibre (daughter of Psamtik II). On a curious note on the sidelines of the book, the sarcophagus of Nitocris/Nitockris was reutilised on a tomb of the Graeo-Egyptian, or Ptolomaic (named after the Graeco-Egyptian dynasty descendent of the Ptolomy above mentioned), period, that is today in the Cairo Museum (due to the financing and management problems that Egypt has been having lately due to the post-Mubarak political transition, even if the archeological situation is not comparable to the looting of the museums in the post-Saddam Iraq or on the parts of Syria and Iraq occupied by the self-proclaimed Islamic State, let us hope that said tomb be safe).
Sarcophagus of Nitocris (Nitockris) I
The narrative of antiquity of Veiga Simoens' starts with a paragraph in a very intense impressionist prose (let there not be doubts that if it had not politics and diplomacy taken the great focus of attention to Veiga Simoens, he would be probably more known as remarkable Portuguese language prose-writer), and excuse me the use of the Portuguese spelling of the period in quoting it: «O Templo de Phtah erguia as suas columnas angulosas ao fundo duma praça irregular, cortada por acacias e sycómoros. Por todo o Muro-Branco, onde o templo se espalhava, pesado e grave, as casas claras desciam para a beira do Lago. Para norte, destacando aos grandes diques da cidade, os bairros populosos perdiam-se na planura. E quando a vista corria ao fundo, seguia a cordilheira lybia, a desenrolar-se junto ao Nilo, ficava-se nas areias do deserto, parava nas Pyramides que o sol amarellecia...» (That is: «The Temple of Phtah rose up its angulr columns at the end of an irregular square, cut by acaciae and sycamores. All over the White-Wall, where the temple spread itself, heavy and stern, the light houses leaned downwards unto the edge of the lake. To the north, standing out unto the big dykes of the city, the populous neighbourhoods lost themselves into the plateau. And when the sight sped through at the background, it followed the Libyan mountain-range, at unraveling itself by the Nile, it sticked itself by the desert sands, it stopped by on the Pyramids that the sun yellowed...») The rest of the book is like that (I do not mean just the pre-1911 Ortographical Reform): in impressionist prose, mainly in the showing of the luxury and of the decadentism associated to the stereotype of the Orient.
Talking now of the historical period chosen by the author for the main text of the book's, the choice of the period is curious: it is not the Egypt of the initial formation of its nationality, nor the one of the construction of the pyramids few centuries after that, nor the Egypt of the apex of the Empire of the Amenhoteps, Akhenatens, Tutankhamuns, Setis e Ramesseses (very visible for Akhenaten's monotheistic religious reform and the associationwith the Bible's Exodus), but the little portrayed Egypt of the decay, afterwards to a civil war and of the invasion of Egypt first by the Nubians (from Sudan) that conquer their former Egyptian oppressors, afterwards by the Assyrians, following itself the brief Egyptian re-independence (with the Nubians, now called Cushites keeping their kingdom aside) and some 60years afterwards to the Nitocris' death would arrive the Persian domain, only going back to having a pharaoh of an authonomous pharaoh, but the Macedonian Greek, with Phtolomy already after the death of Alexander the Great (and again without the Nubians/Cushites under Egyptian domain). But with that, and the focus on the area of the mouth of the River Nile on the Lower Egypt (Northern Egypt) where it concentrated itself the religious activity, he can give a rare gaze and hence "fresh" on the fiction about ancient Egypt.
It draws a little to our attention how the volume circulates "liberally" throughout time, from story to story: from the 7th-6th century b.C. of Nitocris/Nitockris to the biblical history (or pseudo-history) of Ruth (on the ancestor of Israel's King David) that would have lived around the 12th or 11th century b.C., afterwards to the 50s-60s of the 1st century A.D. for The Wedding-nuptials of Nero, and afterwards directly into the vague periods of the Christian Middle Agesin the last three long short-stories. Tht is though just a detail, given the interest of seeing the "pen" of the author applied to all those different Afro-Eurasian periods and sceneries, with which Veiga Simoens deals, in every case, talentedly. All the narratives of the book present (like some other books that we have been reading) interesting adventures and episodes that serve for the author to present something of the human spirit in search of the fulfiling of its objectives, in defense of the honors, according to the path of the main character (or characters).
As who already studied international politics, and being the book of an author who was professional of that area, I cannot cease casting on a gaze related with that area (and to the national politics) to some of the narratives of it. If Ruth and the last three short-stories are essentially romanesque texts to which "politickings" are not appliable, nevertheless Nitockris and The Wedding-nuptials of Nero give us gazes over the upper-class in monarchical systems (the "bête noires"/"bugbears" of Veiga Simoens' republicanism), and there is not how to avoid, in the first, reading the plot in light of the time (the book is from 1908, year of the Portuguese Regicide and in which there were two years missing to the end of the Portuguese constitutional monarchy): the portrayal of morally corrupt royal families (let us recall the focus of the republican propaganda on the supposed, and at least sometimes authentic, infidelities of the King Don Carlos and on the supposed passions of the Queen Dona Amelia for the military man Mousinho de Albuquerque and some of her maids in honor) in contexts in which (at least in Nitockris) the religion was almost a state within the state, on a country weakened and in decay with external enemies that superseded to the power of the country in case (in Nitockris as in the post-British Ultimatum Portugal towards he United Kingdom), that continued to increase the territory at stake but had a political regime in dacadence (as in The Wedding-nuptials of Nero, that portrays the end of the first dynasty of the Roman Empire but with many more years still to go for the apex of the Empire, just like the constitutional monarchy neared itself to the end that Republicans like Veiga Simoens awaited anxiously, but even so kept expanding itself on the terrain in Africa inwards, even after the British Ultimatum) is likely the portrayal that Veiga Simoens would do on the Portugal of his time. But I also cannot cease thinking on the irony (that in 1908 Veiga Simoens could not see, and perhaps never to him did occur in his lifetime even after 1910's Republican Revolution given his diehard republicanism), of the Republican Portugal ending partly by succumbing to the same mistakes (except about the might of the Church, allthough it had been the confrontation with the Portuguese Catholic majority one of the main reasons of the brakdown of the regime, and the Portuguese 1st Republic had in part repeat the same model, but with the power now given to the Freemasonry instead of the Catholic Church).
Afterward to reading this book, it is irrelevant the issue of the subtext (if it is so that there is one voluntarily on the part of the author), 'cause the quality of the author's writing is undeniable, such is the pulling force of the narrations of this books, and of the material worthy of an old epic film that it has, mattering maybe above all the form how Veiga Simoens' political and civic passion inspired him to "burry himself" into the history and the culture from Antiquity and the Middle Ages and to discover his artistic path (and part of the political and social vision that he had in his time as appliable to other times), and giving us thus this vision from a democratic, activist, secular and cultivated Republican from a certain past.
This 221 pages book is very rare, only being able to find itself in copies of the 1908 original edition by the Coimbra França Amado Editor publisher, and not being found among other Portuguese ones in the Barcelos Municipal Library, in the Lucio Craveiro da Silva Library, in the Braga Public Library, in the Minho University General Library, and I believe that it is not even found in the libraries of the Greater Oporto (although it comes up in the Portuguese National Library in Lisbon and in the Joao Paulo II Library from the Portuguese Catholic University in Lisbon). It can be found in sites like the Coisas.com business opportunities to buy old copies of the Nitockris. For one to see how it is rare today to find works by Veiga Simoens published, the only case of a text from his wide essay, fictional or theatrical work with recent edition is the critical edition of his Estudos De História/"Studies of History" by the Centro de História in 2004.

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