quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

"Nitockris", Veiga Simões // "Nitockris", Veiga Simoens

Capa do livro, via Coisas.com
Se como eu, os leitores forem aficionados do velho cinema "de espectáculo" da "Idade de Ouro de Hollywood", provavelmente já viram um de vários daqueles épicos históricos sobre a antiguidade ou bíblicos, como um Ben-Hur, um Dez Mandamentos, um A Terra dos Faraós. Para além dos de Hollywood (e frequentemente confundindo-se com eles) haviam os chamados peplums (do termo Grego Antigo para um tipo de saiote), produzidos em Itália (ou ocasionalmente em locais de filmagens na Europa baratos como Espanha ou a Jugoslávia), com orçamentos mais baixos e com elencos maioritariamente italianos e/ou locais do local de filmagem, mas estrelas Americanas ou Europeias em geral, a Alemanha tendo nos anos de 1960 (em co-produção alemã-italiana-jugoslava só lançada na década seguinte na Alemanha) e de 1990 feitos dois peplums sobre a Batalha de Teutoburgo (em que os Germanos derrotaram os Romanos), e Espanha produziu poucos peplums seus, com o exemplo "chefe" sendo Los cántabros de Paul Naschy (de 1980, já bem depois do fim da era peplum pela Europa fora) e um certo "neo-peplum" imitando a série Roma da HBO nas séries Hispánia la Leyenda (2010-2012, que apresenta um Viriato iberista proto-espanholista) e Imperium (2012).
Se o contributo de Espanha para o género peplum (e para a filmagem de filmes do tipo de Hollywood) é pequeno, o de Portugal foi ainda menor, não tendo filmado peplums próprios (o mais próximo sendo o filme sobre o líder Romano dos Lusitanos, Sertório de António Faria de 1976 nunca estreado comercialmente, e o filme de duas horas sobre Viriato que pode ser feito pela união dos 4 episódios de 30 minutos cada da série do início da década de 1990 Lendas e Factos da História de Portugal), mas porém teve um certo papel na filmagens de épicos da antiguidade de Hollywood e de peplums europeus: o Madeirense Virgílio Teixeira teve papéis secundários de alguma importância no género como o general e futuro faraó do Egipto Ptolomeu na produção americano-espanhola Alexandre, o Grande (1956, protagonizado por Richard Burton) e como o fictício governador rebelde do Egipto Marcellus na produção americana A Queda do Império Romano, protagonizado pelo vilão de Ben-Hur, Stephen Boyd, e Sophia Loren), e o forcado Nuno Salvação Barreto trabalhou como duplo do boxer Buddy Baer como Ursus na cena do domar do touro no coliseu na produção americana do Quo Vadis (1951), criando a confusão em alguns Portugueses nascidos mais tarde de que Salvação Barreto interpretou mesmo Ursus. Dado o pequeno contributo de Portugal para este género cinematográfico (explicado quer pela imaginação portuguesa tradicionalmente estar mais atraída por períodos históricos da Idade Média em diante, quer pela maior atração dos criadores de ficção histórica Portugueses pela história de Portugal que pela dos 'países clássicos' Itália e Grécia como notou João Aguiar numa palestra sobre romance histórico, quer pela falta de meios de produção para produções frequentes do género), torna-se algo surpreendente ver (como eu vi ao longo das leituras para este blogue) que houve ficção histórica, pelo menos escrita, no tipo dos "romances de toga" do século XIX e inícios do XX que inspiraram muitos dos filmes dos géneros referidos acima (e contemporâneos dos mesmo). É o caso do livro que aqui discutiremos, hoje essencialmente desconhecido, escrito pelo natural de Arganil igualmente essencialmente desconhecido hoje chamado Alberto da Veiga Simões (1888  1954).
Veiga Simões na sua juventude durante a viragem do século
Esta obra de 1908 (se houvessem dúvidas a data surge, de forma pouco usual em livros em geral, na capa, como se pode ver acima) é constituída por uma novela (que dá o título ao volume) e 5 contos longos (nunca abaixo de 15 páginas), todos de cenário histórico, os três primeiros textos remontando à Antiguidade e os três últimos remontando à Idade Média cristã, uma escolha literária pouco comum para um autor que se destacou principalmente como um activista político Republicano e diplomata, que colaborou em jornais Republicanos e serviu em vários cargos diplomáticos e políticos ao longo da I República e mesmo durante a Ditadura Militar e o Estado Novo (com o qual se incompatibilizou, acabando por ter o passaporte cassado e morrer em Paris) e que escreveu pouca obra de contismo e de teatro, principalmente reproduzindo as suas preocupações com a actualidade, pelo que é curioso uma obra que tem mais de "poesia" (em prosa, claro) e de encantamento orientalista e Romântico histórico que de política ou análise social.
Este conhecimento do percurso, literário e político, do autor não influencia a análise do livro, porque quando muito pode ser visto como um toque de brilhantismo este "representar contra o tipo" do autor não acostumado a ficção histórica e que tenta, com um talento que não seria de esperar, algo de diferente para si. É curioso como o livro mistura dois modos de ficção histórica: o que transforma factos históricos (ou pelo menos dados registados pela história escrita como sendo factos) em ficção, e o que cria enredos de raiz com base em períodos históricos reais. A novela Nitockris e os contos Ruth e As Núpcias de Nero estão na primeira categoria, e os contos Ignoto Deo, Lenda de um Santo que Morreu Moço e Frei Demónio estão na segunda. Mas sejam as personagens principais históricas ou ficcionais, elas são sempre reduzidas a arquétipos (embora mais substanciais que clichés) que representam as suas fés, povos, classes sociais, dando, embora na sua profundidade psicológica não plenamente explorada, a sensação de mulheres e homens reais de outras eras e civilizações.
Posso agora virar-me para o enredo do texto principal (ocupando 60 páginas do livro). A novela é a estória do percurso de Nitócris I a Divina (Nitockris na grafia orientalista da época), filha do faraó Egípcio Psamtik I, que começando a vida como herdeira da Divina Adoradora do deus Amon (a Divina Adoradora era uma sumo-sacerdotisa que para todos os efeitos era "a mulher" do deus) depois do faraó pai dela ter enviado uma poderosa frota naval em Março de 656 a. C. a Tebas para obrigar a Adoradora (na altura Shepenupet II) a aceitar Nitócris/Nitockris como sua protegida, e herdeira (segundo as leis do cargo da altura), numa altura em que o Egipto, que só 8 anos antes voltara a ser independente, ainda recuperava de uma invasão pelos Assírios em que saquearam os templos de Tebas. Em 655 a. C., a jovem sucederia à sua protectora Shepenupet II, e continuaria no cargo por largos anos, até à sua morte em 585 a. C., quando já havia adoptado (já na casa dos 80) a sua sobrinha-neta Anknesneferibre, que lhe sucedeu como Divina Adoradora de Amon.
Ao longo do seu mandato como Divina Adoradora, retratado por Veiga Simões (algo historicamente correctamente) como um período de tensões políticas, sociais, religiosas e militares (é sem dúvida o mais politizado dos textos da colectânea, e aquele em que mais se vêm os interesses pessoais do autor) num império em decadência e à mercê dos vizinhos inimigos ao Este, Nitócris/Nitockris seria alvo de várias homenagens arquitectónicas, que com o seu perfil no exterior de edifícios assinalaram a sua pessoa e o seu nome em Karnak, Luxor e Abydos, tal como a assinalaram a capela-túmulo que partilha com a sua mãe e a antecessora Shepenupet II nos recintos do lugar hoje chamado em Árabe Egípcio de Medinet-Habu (obras que dariam numa versão cinematográfica gloriosas cenas; esse travo de espectáculo já se encontra no próprio texto, que um ensaio sobre ficção curta na prosa de antes do modernismo português para um revista da Universidade de Aveiro caracteriza como "wagneriano", comparando tacitamente às óperas de grande espectáculo do Alemão Richard Wagner, com influência extra da estética da decadência e das ideologias que procuravam revitalizar o Portugal em crise). Enquanto Nitockris/Nitócris seguia largos anos no seu cargo, o seu pai falecia em 610 a.C., o irmão dela Necho II sucedia-lhe (nalgo que deve interessar bastante aos Portugueses pela nossa história, ele ordenou à moda do Infante D. Henrique ou de D. João II ou D. Manuel II uma expedição de Fenícios contratados a circunavegar África do Mar Vermelho até ao Delta do Nilo), e durante a última década de vida dela já sob o filho de Necho, Psamtik II, ela resignou-se com a sua morte para breve e que o Egipto reunificado não seria glorioso e preparou a sua sucessão sob a sua sobrinha-neta Ankhnesneferibre (filha de Psamtik II). Numa nota curiosa à margem do livro, o sarcófago de Nitócris/Nitockris foi reutilizado num túmulo do período Greco-Egípcio, ou Ptolemaico (nomeado no seguimento da dinastia greco-egípcia descendente do Ptolomeu referido acima), que hoje está no Museu do Cairo (dado os problemas de financiamento e gestão que o Egipto tem tido nos últimos tempos devido à transição política pós-Mubarak, mesmo que a situação arqueológica não comparável ao saque dos museus no Iraque pós-Saddam ou nas partes da Síria e Iraque ocupados pelo auto-proclamado Estado Islâmico, esperemos que dito túmulo esteja seguro).
Sarcófago de Nitócris (Nitockris) I
A narrativa de Antiguidade de Veiga Simões começa com um parágrafo numa prosa impressionista muito intensa (não haja dúvidas que não tivessem a política e a diplomacia tomado o maior foco de atenção de Veiga Simões, ele seria provavelmente mais conhecido como um notável prosador da língua Portuguesa), e desculpem-me o uso da grafia da época ao citar: «O Templo de Phtah erguia as suas columnas angulosas ao fundo duma praça irregular, cortada por acacias e sycómoros. Por todo o Muro-Branco, onde o templo se espalhava, pesado e grave, as casas claras desciam para a beira do Lago. Para norte, destacando aos grandes diques da cidade, os bairros populosos perdiam-se na planura. E quando a vista corria ao fundo, seguia a cordilheira lybia, a desenrolar-se junto ao Nilo, ficava-se nas areias do deserto, parava nas Pyramides que o sol amarellecia...» (Isto é: «O Templo de Phtah erguia as suas colunas angulosas ao fundo duma praça irregular, cortada por acácias e sicómoros. Por todo o Muro-Branco, onde o templo se espalhava, pesado e grave, as casas claras desciam para a beira do lago. Para norte, destacando aos grandes diques da cidade, os bairros populosos perdiam-se na planura. E quando a vista corria ao fundo, seguia a cordilheira líbia, a desenrolar-se junto ao Nilo, ficava-se nas areias do deserto, parava nas Pirâmides que o sol amarelecia...») O resto do livro é assim (não estou a falar só da grafia pré-Reforma Ortográfica de 1911): em prosa impressionista, principalmente na mostra do luxo e do decadentismo associado ao estereótipo do Oriente.
Falando agora do período histórico escolhido pelo autor para o texto principal do livro, a escolha do período é curiosa: não é o Egipto inicial da formação da nacionalidade, nem o da construção das pirâmides poucos séculos depois disso, nem o Egipto do apogeu do Império dos Amenofises, Aquenaténs, Tutancámons, Setis e Ramseses (muito visível pela reforma religiosa monoteísta de Aquenatem e pela associação com o Êxodo da Bíblia), mas o pouco retratado Egipto da decadência, depois de uma guerra civil e da invasão do Egipto primeiro pelos Núbios (do Sudão) que conquistam os seus antigos opressores Egípcios, depois pelos Assírios, seguindo-se a breve re-independência egípcia (com os Núbios, agora chamados de Cuxitas, mantendo o seu reino à parte) e uns 60 anos depois da morte de Nitócris chegaria o domínio persa, só voltando a haver um faraó de um Egipto autónomo, mas Grego Macedónio, com Ptolomeu já depois da morte de Alexandre o Grande (e novamente sem os Núbios/Cuxitas sob domínio egípcio). Mas com isso, e o foco na área da foz do Rio Nilo no Baixo Egipto (Norte do Egipto) onde se concentrava a actividade religiosa, ele consegue dar um olhar raro e por isso "fresco" na ficção quanto ao Antigo Egipto.
Chama um pouco a atenção como o volume circula "liberalmente" ao longo tempo, de estória para estória: do século VII-VI a.C. de Nitócris/Nitóckris para a história (ou pseudo-história) bíblica de Ruth (sobre a ancestral do Rei David de Israel) que teria vivido por volta do século XII ou XI a.C., depois para os anos de 50-60 do século I d.C. para As Núpcias de Nero, e depois directamente para os vagos períodos da Idade Média cristã nos três últimos contos longos. Isso é porém um detalhe, dado o interesse de ver a "pena" do autor aplicada a todos esses períodos e cenários afro-eurasiáticos diferentes, com que Veiga Simões lida, em todos os casos, talentosamente. Todas as narrativas do livro apresentam (como alguns outros livros que temos vindo a ler) aventuras e episódios interessantes que servem para o autor apresentar algo do espírito humano em busca do cumprimento dos seus objectivos, em defesa da sua honra, conforme o caminho da personagem (ou personagens) principal (principais).
Como quem já estudou política internacional, e sendo o livro de um autor que era um profissional dessa área, não posso deixar de dar um olhar relacionado com essa área (e à política nacional) a algumas das narrativas dele. Se Ruth e os três últimos contos são essencialmente textos romanescos a que "politiquices" não se aplicam, todavia Nitockris e As Núpcias de Nero dão-nos olhares da classe alta em sistemas monárquicos (as "bestas negras" do republicanismo de Veiga Simões), e não há como evitar, no primeiro, ler o enredo à luz da época (o livro é de 1908, ano do Regicídio e no qual faltavam dois anos para o fim da monarquia constitucional): o retrato de famílias reais moralmente corruptas (lembremos o foco da propaganda republicana nas supostas, e pelo menos por vezes autênticas, infidelidades do Rei D. Carlos e nas supostas paixões da Rainha D. Amélia pelo militar Mousinho de Albuquerque e algumas das aias dela) em contextos em que (pelo menos em Nitockris) a religião era quase um Estado dentro do Estado, num país enfraquecido e em decadência com inimigos externos que se sobrepunham ao poder do país em causa (em Nitockris como no Portugal pós-Ultimato Britânico quanto ao Reino Unido), que continuava a aumentar o território em causa mas tinha um regime político em decadência (como em As Núpcias de Nero, que representa o fim da primeira dinastia do Império Romano mas com muitos anos ainda faltando para o auge do Império, tal como a monarquia constitucional se aproximava do fim que Republicanos como Veiga Simões esperavam ansiosamente, mas mesmo assim continuava a expandir-se no terreno em África para interior, mesmo após o Ultimato Britânico) é provavelmente o retrato que Veiga Simões faria do Portugal da sua época. Mas também não posso deixar de pensar na ironia (que em 1908 Veiga Simões não podia ver, e quiçá nunca lhe ocorreu em vida mesmo depois de 1910 dado o seu republicanismo ferrenho), de o Portugal Republicano acabar em parte a sucumbir aos mesmos erros (excepto quanto ao poderio da Igreja, embora tenha sido o confronto com a maioria católica portuguesa uma das principais razões da quebra do regime, e a I República tenha em parte repetido o mesmo modelo, mas com o poder dado agora à Maçonaria em vez da Igreja Católica).
Depois de lermos este livro, é irrelevante a questão do sub-texto (se é que o há voluntariamente da parte do autor), pois a qualidade da escrita do autor é incontestável, tal como a força de atracção das narrações deste livro, e do material digno de um velho filme épico que ele tem, importando talvez acima de tudo a forma como a paixão política e cívica de Veiga Simões o inspirou a "embrenhar-se" na história e na cultura da Antiguidade e da Idade Média e a descobrir o seu caminho artístico (e parte da visão política e social que tinha no seu tempo aplicável para outros tempos), e dando-nos assim esta visão de um Republicano democrático, activista, laico e culto de um certo passado.
Este livro de 221 páginas é muito raro, só se podendo encontrar em cópias da edição original de 1908 pela França Amado Editor coimbrã, e não se encontrando na Biblioteca Municipal de Barcelos, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, na Biblioteca Pública de Braga, na Biblioteca Geral da Universidade do Minho, e creio que não se encontre mesmo em bibliotecas do Grande Porto (embora surja na Biblioteca Nacional em Lisboa e na Biblioteca João Paulo II da Universidade Católica Portuguesa em Lisboa). Podem-se encontrar em sítios como o Coisas.com oportunidades de negócios para comprar velhas cópias do Nitockris. Para se ver como é hoje raro encontrar obras de Veiga Simões editadas, o único caso de um texto da sua larga obra ensaística, ficcional ou teatral com edição recente é a edição crítica dos seus Estudos De História pela editora Centro de História em 2004.


Book cover, via Coisas.com
If like I, the readers are afficionados of the old "spectacle" cinema of the "Golden Age of Hollywood", probably you already saw one of several of those historical epics on antiquity or biblical, like a Ben-Hur, a Ten Commandments, a Land of the Pharaohs. Beyond the ones from Hollywood (and frequently confusing themselves with them) there were the so-called peplums (from the Ancient Greek term for a kind of petticoat), produced in Italy (or occasionally in cheap Europe filming locations like Spain or Yugoslavia), with lower budgets and with mostly Italian and/or local to the shooting place casts, but starring American or European in general, Germany having in the 1960s (in German-Italian-Yugoslavian coproduction only launched the following decade in Germany) and the 1990s made two peplums on the Battle of Teutoburg (in which the Germani defeated the Romans), and Spain produced few peplums of its own, with the chief example being Los cántabros by Paul Naschy (from 1980, already well after the end of the peplum era throughout Europe) and a certain "neo-peplum" immitating HBO's Rome series in the series Hispánia la Leyenda (2010-2012, that presents a pro-hispanicity iberist Viriathus) and Imperium (2012).
If the contribution of Spain to the peplum genre (and for the filming of films o the type from Hollywood) is small, the one of Portugal's is even lesser, not having filmed peplums of its own (the closest being the film on the Roman leader of the LusitaniansSertório/"Sertorius" by Antonio Faria from 1976-77 never commercially, and the two hour film on Viriathus that can be made by the uniting of the 4 episodes of 30 minutos each of the series from the beginning of the 1990s decade Lendas e Factos da História de Portugal/"Legends and Facts from Portugal's History"), but yet it did have a certain role in the shootings of Hollywood antiquity epics and of european peplums: the Madeiran Virgilio Teixeira had supporting roles of some importance in the genre like the general and future pharaoh of Egypt Ptolomy on the American-Spanish production Alexander the Great (1956, starred by Richard Burton) and as the fictious governor of Egypt Marcellus on the American production The Fall of the Roman Empire, starred by the villain of Ben-Hur, Stephen Boyd, and Sophia Loren), and the forcado/"bull-grabber" Nuno Salvassao Barreto worked as stunt-double to the boxer Buddy Baer as Ursus on the Colosseum bull taming scene in the American production of Quo Vadis (1951), creating a confusion on some Portuguese born later that Salvassao Barreto actually played Ursus. Given the little contribution of Portugal to this cinematic genre (explained by the Portuguese imaginarium traditionally being more attracted by historical periods from the Middle Ages onwards, both by the greater attraction of the Portuguese historical fiction creators for the history of Portugal than the one of the 'classical countries' Italy and Greece as it noted Joao Aguiar in a lecture on the historical novel, and by the lack of production means for frequent productions of the genre), it becomes somewhat surprising to see (as I saw throughout the reads for the blog) that there was historical fiction, at least written, in the type of the "toga novels" from the 19th century and the beginnings of the 20th that inspired many of the films of the genre refered above (and contemporary to the former). It is the case of the book we shall discuss here, today essentially unknown, written by the Arganil town native equally essentially unknown today called Alberto da Veiga Simoens (1888  1954).
Veiga Simoens in his youth during the turn of the century
This 1908 work (if there were doubts the date comes-up, in form little usual in books in general, in the cover, as it can be seen above) it is constituted by a novella (which titles the volume) and 5 long short-stories (never under 15 pages), all on historical setting, the first three texts going-back to Antiquity and the last three going-back to the Christian Middle Ages, a little common literary choice for an author who did stand out mainly as a Republican political activist and diplomat, who collaborated in Republican newspapers and served in several diplomatic and politics offices throughout the 1st Republic and even during the Military Dictatorship and the Portuguese New State (with which he  had a falling out with, ending by having the passport cassated and dyng in Paris) and who wrote litle work of short-story-writting and theatre, mainly reproducing his concerns with current time, so that it is curious that a work that has more of "poetry" (in prose, of course) and of orientalist and historical Romantic enchantment than of politics or social analysis.
This knowledge of the life-course, literary and political, of the author's does not influence the analysis of the book, because as much it can be seen as a touch of brilliancy this "playing against type" of the author not used to historical fiction and that tries, with a talent that would not be to expect, something different to himself. It is curious how the book mixes two modes of historical fiction: the one that transforms historical facts (or at least recorded by written history as being facts) into fiction, and the one in which it are created plots from scratch with basis on real historical periods. The novella Nitockris and the short-stories Ruth and As Núpcias de Nero/"Nero's Wedding-nuptials" are on the first category, and the short-stories Ignoto DeoLenda de um Santo que Morreu Moço/"Legend of a Saint who Died a Lad" and Frei Demónio/"Friar Demon" are on the second one. But be the main characters historical or fictional, they are always reduced to archetypes (although more substantial than cliches) that represent their faiths, peoples, social classes, giving, although in their psychological depth not wholly explored, the sensation of real women and men from other eras and civilisations.
I may now turn myself towards the plot of the main text (occupying 60 pages of the book). The novella is the story of the life-course of Nitocris I the Divine Adoratrice (Nitockris on the orientalist spelling from the period), daughter of the Egyptian pharaoh Psamtik I, who starting her life as heir to the Divine Adoratrice of the god Amun (the Divine Adoratrice was a high priestess that for all intents and purposes was the god's "wife") afterwards to the pharaoh her father having sent a powerful naval fleet in March 656 b.C. to Thebes for obligating the Adoratrice (at the time Shepenupet II) to accept Nitocris/Nitockris as her protegee, the heiress (according to the laws of the office from the time), on a time in which Egypt, that just 8 years before would go back to be independent, still recovered from an invasion by the Assyrians in which they ransacked the temples from Thebes. In 655 b.C., the young woman would succeed to her protector Shepenupet II, and would continue in the office for long years, till her death in 585 b.C., when she had already adopted (already in her 80s) her great-niece Anknesneferibre, who succeeder to her as Divine Adoratrice of Amun.
Throughout her term as Divine Adoratrice, portrayed by Veiga Simoens (somewhat historically correctly) as a period of political, social, religious and military tensions (it is without doubt the more politicised of the texts of the collection, and that in which it sees itsself more the personal interests of the author) on a empire decaying and at the mercy of its enemy neighbours to the East, Nitocris/Nitockris would be the aim of several architectural homages, which with her profile on the exterior of buildings signaled her person and her name in Karnak, Luxor and Abydos, as it signal it the chapel-tomb that she shares with her mother and the predecessor Shepenupet II on the grounds of the place now called in Egyptian Arabic as Medinet-Habu (works that would give in a cinematic version glorious scenes; that touch of spectacle already found itself on the text itself, which an essay on short fiction in the prose from before Portuguese modernism for a magazine from the Aveiro University characterises as "wagnerian", comparing tacitally to the big spectacle operas of the German Richard Wagner, with extra influence from the aesthetic of decadence and from the ideologies that looked to revitalise the Portugal at crisis).While Nitockris/Nitocris followed for long years in her office, her father passed away in 610 b.C., her brother Necho II succeeded to him (in something that might interest quite to the Portuguese due to our history, he ordered in the fashion of the Infant-prince Don Henry, John II ou Don Manuel II an expedition of hired Phoenicians a circumnavigate Africa from the Red Sea to the Delta of the Nile), and during the last decade of her life already under the son of Necho, Psamtik II, she resigned to her soon death and that the reunified Egypt would not be glorious and prepared her succession under her adopted great-niece Ankhnesneferibre (daughter of Psamtik II). On a curious note on the sidelines of the book, the sarcophagus of Nitocris/Nitockris was reutilised on a tomb of the Graeo-Egyptian, or Ptolomaic (named after the Graeco-Egyptian dynasty descendent of the Ptolomy above mentioned), period, that is today in the Cairo Museum (due to the financing and management problems that Egypt has been having lately due to the post-Mubarak political transition, even if the archeological situation is not comparable to the looting of the museums in the post-Saddam Iraq or on the parts of Syria and Iraq occupied by the self-proclaimed Islamic State, let us hope that said tomb be safe).
Sarcophagus of Nitocris (Nitockris) I
The narrative of antiquity of Veiga Simoens' starts with a paragraph in a very intense impressionist prose (let there not be doubts that if it had not politics and diplomacy taken the great focus of attention to Veiga Simoens, he would be probably more known as remarkable Portuguese language prose-writer), and excuse me the use of the Portuguese spelling of the period in quoting it: «O Templo de Phtah erguia as suas columnas angulosas ao fundo duma praça irregular, cortada por acacias e sycómoros. Por todo o Muro-Branco, onde o templo se espalhava, pesado e grave, as casas claras desciam para a beira do Lago. Para norte, destacando aos grandes diques da cidade, os bairros populosos perdiam-se na planura. E quando a vista corria ao fundo, seguia a cordilheira lybia, a desenrolar-se junto ao Nilo, ficava-se nas areias do deserto, parava nas Pyramides que o sol amarellecia...» (That is: «The Temple of Phtah rose up its angulr columns at the end of an irregular square, cut by acaciae and sycamores. All over the White-Wall, where the temple spread itself, heavy and stern, the light houses leaned downwards unto the edge of the lake. To the north, standing out unto the big dykes of the city, the populous neighbourhoods lost themselves into the plateau. And when the sight sped through at the background, it followed the Libyan mountain-range, at unraveling itself by the Nile, it sticked itself by the desert sands, it stopped by on the Pyramids that the sun yellowed...») The rest of the book is like that (I do not mean just the pre-1911 Ortographical Reform): in impressionist prose, mainly in the showing of the luxury and of the decadentism associated to the stereotype of the Orient.
Talking now of the historical period chosen by the author for the main text of the book's, the choice of the period is curious: it is not the Egypt of the initial formation of its nationality, nor the one of the construction of the pyramids few centuries after that, nor the Egypt of the apex of the Empire of the Amenhoteps, Akhenatens, Tutankhamuns, Setis e Ramesseses (very visible for Akhenaten's monotheistic religious reform and the associationwith the Bible's Exodus), but the little portrayed Egypt of the decay, afterwards to a civil war and of the invasion of Egypt first by the Nubians (from Sudan) that conquer their former Egyptian oppressors, afterwards by the Assyrians, following itself the brief Egyptian re-independence (with the Nubians, now called Cushites keeping their kingdom aside) and some 60years afterwards to the Nitocris' death would arrive the Persian domain, only going back to having a pharaoh of an authonomous pharaoh, but the Macedonian Greek, with Phtolomy already after the death of Alexander the Great (and again without the Nubians/Cushites under Egyptian domain). But with that, and the focus on the area of the mouth of the River Nile on the Lower Egypt (Northern Egypt) where it concentrated itself the religious activity, he can give a rare gaze and hence "fresh" on the fiction about ancient Egypt.
It draws a little to our attention how the volume circulates "liberally" throughout time, from story to story: from the 7th-6th century b.C. of Nitocris/Nitockris to the biblical history (or pseudo-history) of Ruth (on the ancestor of Israel's King David) that would have lived around the 12th or 11th century b.C., afterwards to the 50s-60s of the 1st century A.D. for The Wedding-nuptials of Nero, and afterwards directly into the vague periods of the Christian Middle Agesin the last three long short-stories. Tht is though just a detail, given the interest of seeing the "pen" of the author applied to all those different Afro-Eurasian periods and sceneries, with which Veiga Simoens deals, in every case, talentedly. All the narratives of the book present (like some other books that we have been reading) interesting adventures and episodes that serve for the author to present something of the human spirit in search of the fulfiling of its objectives, in defense of the honors, according to the path of the main character (or characters).
As who already studied international politics, and being the book of an author who was professional of that area, I cannot cease casting on a gaze related with that area (and to the national politics) to some of the narratives of it. If Ruth and the last three short-stories are essentially romanesque texts to which "politickings" are not appliable, nevertheless Nitockris and The Wedding-nuptials of Nero give us gazes over the upper-class in monarchical systems (the "bête noires"/"bugbears" of Veiga Simoens' republicanism), and there is not how to avoid, in the first, reading the plot in light of the time (the book is from 1908, year of the Portuguese Regicide and in which there were two years missing to the end of the Portuguese constitutional monarchy): the portrayal of morally corrupt royal families (let us recall the focus of the republican propaganda on the supposed, and at least sometimes authentic, infidelities of the King Don Carlos and on the supposed passions of the Queen Dona Amelia for the military man Mousinho de Albuquerque and some of her maids in honor) in contexts in which (at least in Nitockris) the religion was almost a state within the state, on a country weakened and in decay with external enemies that superseded to the power of the country in case (in Nitockris as in the post-British Ultimatum Portugal towards he United Kingdom), that continued to increase the territory at stake but had a political regime in dacadence (as in The Wedding-nuptials of Nero, that portrays the end of the first dynasty of the Roman Empire but with many more years still to go for the apex of the Empire, just like the constitutional monarchy neared itself to the end that Republicans like Veiga Simoens awaited anxiously, but even so kept expanding itself on the terrain in Africa inwards, even after the British Ultimatum) is likely the portrayal that Veiga Simoens would do on the Portugal of his time. But I also cannot cease thinking on the irony (that in 1908 Veiga Simoens could not see, and perhaps never to him did occur in his lifetime even after 1910's Republican Revolution given his diehard republicanism), of the Republican Portugal ending partly by succumbing to the same mistakes (except about the might of the Church, allthough it had been the confrontation with the Portuguese Catholic majority one of the main reasons of the brakdown of the regime, and the Portuguese 1st Republic had in part repeat the same model, but with the power now given to the Freemasonry instead of the Catholic Church).
Afterward to reading this book, it is irrelevant the issue of the subtext (if it is so that there is one voluntarily on the part of the author), 'cause the quality of the author's writing is undeniable, such is the pulling force of the narrations of this books, and of the material worthy of an old epic film that it has, mattering maybe above all the form how Veiga Simoens' political and civic passion inspired him to "burry himself" into the history and the culture from Antiquity and the Middle Ages and to discover his artistic path (and part of the political and social vision that he had in his time as appliable to other times), and giving us thus this vision from a democratic, activist, secular and cultivated Republican from a certain past.
This 221 pages book is very rare, only being able to find itself in copies of the 1908 original edition by the Coimbra França Amado Editor publisher, and not being found among other Portuguese ones in the Barcelos Municipal Library, in the Lucio Craveiro da Silva Library, in the Braga Public Library, in the Minho University General Library, and I believe that it is not even found in the libraries of the Greater Oporto (although it comes up in the Portuguese National Library in Lisbon and in the Joao Paulo II Library from the Portuguese Catholic University in Lisbon). It can be found in sites like the Coisas.com business opportunities to buy old copies of the Nitockris. For one to see how it is rare today to find works by Veiga Simoens published, the only case of a text from his wide essay, fictional or theatrical work with recent edition is the critical edition of his Estudos De História/"Studies of History" by the Centro de História in 2004.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

"Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões Contado às Crianças e Lembrados ao Povo", João de Barros // "Luis Vaz de Camoens' The Lusiads Told to the Children and Recalled to the People", Joao de Barros

Não é fácil fazer comentários originais sobre uma obra considerada clássica e nacional de uma literatura e que já passou há muito de um século de existência. E foi por Os Lusíadas serem uma obra também desafiadora de leitura para o leitor não erudito actual (principalmente o mais jovem) que João de Barros (não o historiador conhecido como "o Grande" que viveu antes de Camões e lhe serviu de fonte a parte da sua epopeia, mas um poeta, activista político Republicano e defensor de uma maior coesão Portugal-Brasil do final do século XIX e da primeira metade do XX) fez em 1930 (como parte de uma colecção de Clássicos Universais dos anos de 1930 e 1940 para promover conhecimento de literatura entre os mais jovens e o público geral, principalmente com o vasto analfabetismo em Portugal na altura em mente), esta versão apropriada para uma primeira introdução dos leitores mais jovens.
É conhecimento mais ou menos geral por ouvir dizer e cultura geral, que o original de Camões é uma epopeia, dos primeiros texto épicos (principalmente nos moldes clássicos greco-romanos) de Portugal a chegar à posteridade na sua completa extensão, dos primeiros textos épicos de Portugal com texto de alguma extensão, que o poema foi escrita pelo autor do Renascimento tardio português Luís Vaz de Camões (do qual se sabe pouco, para além de que tinha ascendência galega e da baixa-nobreza portuguesa, que era uma mulherengo e um brigão inveterado e que passou muita da sua vida lutando pelo Império Português como soldado quer no Norte de África (onde teria perdido o olho direito) e Ásia, que se envolveu no Oriente com uma escrava negra (a quem dedicou um poema póstumo em forma de endechas) e uma tal de Dinamene (segundo uma interpretação seria uma Macaense Chinesa cujo nome foi aportuguesado de Tinamen, mas o filme biográfico de Leitão de Barros sobre o poeta apresenta-a brevemente como vagamente de aspecto indiano), que o autor leu Os Lusíadas para D. Sebastião em Sintra antes de Alcácer-Quibir, que ele teria morrido essencialmente pobre (com uma insignificante pensão dada pelo Rei pela sua epopeia nacional) por volta da altura da anexação por Espanha em 1580 (porém a data de 10 de Junho de 1580 não está propriamente provada, tendo sido, para a comemoração do tricentésimo aniversário da sua morte em 1880 com a necessidade de um dia específico para comemorar o autor, 'inventada' a data através de uns cálculos quanto à suposta idade de morte, últimas informações conhecidas dos registos reais e algumas informações sobre a sua vida), e que Os Lusíadas será (embora discutivelmente) a sua obra maior, que relata a viagem marítima para a Índia de Vasco da Gama em 1498-99 tendo em torno dela a narração de toda a história de Portugal (factual e legendária) e que se tornando-se uma obra clássica mundial e na lusofonia (principalmente no seio do género épico). Como curiosidade aponte-se que nos anos de 1960 surgiu uma epopeia As Quibíriadas (nomeadas no seguimento de Alcácer-Quibir) que simula ser texto antigo duvidosamente atribuído ao próprio Camões (que fora Os Lusíadas só escreveu poesia lírica e três autos de teatro de alguma influência clássica) como sequela desta epopeia sobre a decadência de Portugal, mas era de facto do pintor Viseense radicado (25 anos) em Moçambique António Augusto Melo de Lucena e Quadros (sob o pseudónimo João Pedro Grabato Dias, latinizado Frei Ioannes Garabatus).
Centremo-nos agora na narrativa do poema em si, e na forma como João de Barros a tratou neste livro, que transforma os 10 cantos (com número variável de estrofes), 1.102 estrofes de versos decassílabos e 8.816 versos do texto original de Camões em pouco mais de 200 páginas de texto conciso mas detalhado em 10 capítulos (que correspondem muito proximamente à divisão dos temas dos cantos do poema original) e uma conclusão sobre a vida do poeta. O texto dá um bom equivalente prosaico da narração de Camões e que transforma os diálogos dos personagens em verso em diálogos dignos de velho romance infanto-juvenil, conseguindo assim entreter e atrair a atenção do leitor jovem. Um bom leitor que esteja particularmente agradado pelo resultado poderá lê-lo de uma só (mesmo que longa) assentada (que era a forma de leitura que o poeta e contista Norte-Americano Edgar Allan Poe atribuía como traço definidor do verdadeiro conto).
João de Barros (que hoje muitos pensam ter sido algum salazarista devido à abordagem discutivelmente paternalista de adaptações "para o povo e as crianças" e pelo seu patriotismo e entendimento do cânone da literatura mundial segundo a tradição ocidental; na verdade era um Republicano anti-salazarista, como os outros autores das adaptações desta colecção, os socialistas não-marxistas António Sérgio e Jaime Cortesão e o nosso conhecido Aquilino Ribeiro. Temos de nos lembrar que nesta altura o ocidentalismo, colonialismo e patriotismo eram também parte da filosofia da chamada "esquerda republicana") fez um excelente trabalho com este texto em termos de trabalho com o original de Camões, essencialmente mantendo toda a narrativa, em texto relativamente corrido, condensando a narração e sucessão dos eventos porque passam o Gama, a sua tripulação e toda a nação portuguesa no poema original, com a ajuda dos deuses seus apoiantes (principalmente Vénus e Marte), apresentando embora em prosa de forma bem-sucedida as qualidades formais e narrativas do estilo do verso original de Camões (o que se pode dizer também das adaptações que para a mesma colecção fez de Barros de A Odisseia e A Ilíada de Homero, A Eneida de Virgílio, A Divina Comédia de Dante e As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift, embora nesta última de Barros mudou mais o tom do texto para ser menos pessimista e mais pró-português e aclimatizado ao que seria o nosso suposto contexto e gosto nacional). O texto envelheceu muito bem, como provam as muitas edições que teve desde 1930, as mais recentes sendo de 2011 em diante, com o "selo de aprovação" do programa Ler +.
João de Barros no final da sua vida
Os Lusíadas segundo de Barros mostram-nos, tal como o original, uma armada do Gama já a meio do caminho de ida para a Índia, tendo ela entrado no Índico, e depois de um concílio entre os deuses da mitologia (algo que era muito discutido no tempo de Camões de um ponto de vista religioso no pós-Concílio de Trento, mas que o censor da Inquisição na altura desculpou como mero efeito poético) em torno de apoiar ou opor aos planos imperiais dos Portugueses e a sua viagem. Baco, que havia até então sido senhor e deus na Índia (isto era uma velha tradição da mitologia greco-romana, que é uma possível interpretação dos Gregos antigos de algum deus hindu similar de alguma forma a Dionísio, talvez Xiva ou o deus Marang-buru do povo tribal Santhal), teme o diminuir da sua influência e o seu esquecimento ante a chegada dos Portugueses; por outro lado, Vénus, antepassada dos povos Latinos (como mãe do Troiano e antepassado dos Romanos Eneias) e divindade que tem os Portugueses em conta de povo apaixonado (lembremos que é a deusa do amor), e Marte, velho amante de Vénus, tomam o lado dos Lusos. Júpiter acaba por decidir a favor dos Portugueses, mas dando a Baco a liberdade de defender o seu domínio da Índia como entender. É assim que depois de chegado a Mombaça, Baco toma a forma de um sacerdote cristão (convencendo assim os Portugueses de estarem em território da sua fé), e através da missa que os Portugueses executam com ele como padre, os locais atacam os recém-chegados que são revelados como infiéis. Vénus, sabendo da traição de Baco, acaba por guiar os Lusos através dos ventos e das ondas para segurança. Chegando a outra terra da costa da África oriental, Melinde, os Portugueses são recebidos de forma mais calorosa pelo rei local.
Baco e Xiva
Durante a sua recepção, o Rei pede a Vasco da Gama que lhe conte sobre o seu país, o que ele faz, descrevendo a localização de Portugal na «cabeça» da Europa, e a sua história desde Luso, patriarca dos Lusitanos e assim dos Portugueses (ironicamente filho do opositor dos Portugueses, Baco; isto depende de interpretação visto que alguns mitógrafos distinguem o "Baco Índico" que será filho de Júpiter com Io do antepassado lusitano filho de Júpiter e Sémele ou Dionísio e do Baco/Iaco dos mistérios de Eléusis ou órficos filho de Júpiter com Ceres ou com Proserpina), na antiguidade, até ao momento da partida da armada do Gama no reinado de D. Manuel I, passando pelos feitos de Afonso Henriques, Afonso IV (na Batalha do Salado), da Revolução de 1383-1385 (Aljubarrota) e D. Afonso V (na Batalha de Toro, um "empate técnico" com Castela, e o episódio trágico e lírico (principalmente nos versos de Camões, que regressa ao seu velho lirismo no meio deste épico) de Inês de Castro.
Depois, o Gama narra a sua própria (e não menos dramática e aventureira) viagem, através da qual ele e a sua tripulação passam pelo encontro com trovoadas medonhas repentinas, o fogo de Santelmo (um fenómeno eléctrico-tempestuoso com aspecto fogoso) e uma tromba marítima depois de passada a linha do Equador a meio caminho entre Brasil e África Ocidental, o contacto de um Português chamado Fernão Veloso com um nativo da ilha de Santa Helena (ao largo de África, mais célebre hoje por ter sido o local do último exílio de Napoleão até à sua morte), que por barreira linguística termina com a fuga do Veloso de um grupo de nativos armados a chegar (ele é gozado pelos companheiros pela fuga rápida, o que ele responde que só fugiu porque se lembrava que os amigos estavam ali sem a sua ajuda contra os nativos que chegavam), e um confronto entre os Portugueses e os Santa-Helenenses no qual se fere o Gama numa perna, o enfrentar no Cabo das Tormentas do gigante Adamastor (que ameaça futuros navegadores Portugueses com naufrágios, incluíndo quem o 'derrotou', Bartolomeu Dias, e a pedido do Gama conta o seu próprio passado e como se tornara um rochedo), a doença do escoburto, os soldados de Mombaça e (já depois de deixarem Mombaça) os deuses marítimos e os ventos (que após serem comovidos por um apelo chorado e sentido de Baco num concílio deles, aceitam atacar a frota portuguesa; será a intervenção de Vénus e das ninfas amorosas que salvaram os Lusos, apesar de Gama, cristão e não sabendo o que se passa, agradecer em oração o salvamento à Divina Providência), e depois de terminar a sua narração, o Gama e os Portugueses partem de Melinde, seguem a viagem para a Índia, onde se confrontam com os exércitos do Samorim de Calicute. Pelo final da viagem, já muitos Portugueses morreram, mas a maioria sobrevive, e todos conseguem a recompensa dos seus feitos na Ilha dos Amores que Vénus ergue no meio do Índico, com uma ninfa para cada Português, sendo o Gama guiado pela deusa Tétis para longe dos outros e recebendo uma visão do universo (pelo menos como o imaginavam os Europeus antes de Copérnico e Galileu) e do futuro do Império Português até ao tempo de Camões, terminando um enredo que (como em Camões) "casava" Cristianismo e paganismo, num "culminar" de toda a literatura e cultura ocidental antiga e moderna (inicial) num só sistema. (É um testamento aos dons narrativos em prosa de barros que ele consiga pôr todos os episódios individuais e fluir do enredo geral sem parecer um best of d'Os Lusíadas mas algo tão "orgânico" como o original)
A primeira página do capítulo sobre o episódio do Adamastor
Os mais puristas quanto a um texto literário original não terão à partida muito gosto por experiências deste tipo, mas quem ler individualmente este livro, ou conjuntamente com o original camoniano, não pode deixar de reconhecer o valor, no trabalho de (re)criação para a prosa do seu tempo para o público mainstream e/ou mais jovem de João de Barros, recordando assim mesmo os mais puristas de que a adaptação também é um trabalho de criação e um labor criativo e mesmo algo complexo, por diferente que seja de uma criação plenamente original. A forma como de Barros apresenta a velha epopeia de Camões faz parecer quase se estamos a ouvir o narrar de um velho mito por um contador de estórias tradicionais, usando do mesmo maravilhoso e tradição mais antiga do que o seu nascimento, mas que se sente ainda "fresca", ainda para mais nesta prosa (usando as palavras da contra-capa da 2ª edição de 1996) «fácil e clara sem desvirtuar a beleza, o espírito e a inspiração poéticas da obra original».
Do enredo camoniano essencialmente fica tudo, mas da voz do poeta narrador original, nem tudo sobrevive, principalmente as partes que pouco contribuem para avançar o enredo e são mais referências culturais e figuras de estilo. Barros também tem o cuidado de, com o texto e sub-texto do poema, enfatizar os aspectos mais modernos do livro original e dos seus valores, e eliminar o que poderia causar problemas com os leitores típicos dos nossos tempos ou os leitores mais jovens (como o facto de João de Barros chamar Vénus de filha de Júpiter, o que não surge em Camões; na mitologia existem duas Afrodites ou Vénus, uma que nasceu das ondas do mar ou Afrodite Urânica e outra que é filha de Zeus ou Júpiter, e Camões não explicita a qual se refere, mas a ideia que é a filha de Júpiter dava uma vibração incestuosa à cena em que ela surgia ante ele nua como forma de lhe implorar misericórdia para com os Portugueses ou faz parecer que uma mulher não-aparentada apelou à luxúria de Júpiter e nada mais para conseguir a sua vontade, mas de Barros escolhe pelo contrário apresentar a cena como uma filha que surge nua e indefesa ante o pai, chorosa e implorando, apelando à sua piedade e não ao proverbial apetite sexual de Júpiter). São escolhas que faziam sentido na altura em que Barros reescreve Os Lusíadas, quer do ponto de vista do regime político da altura, quer da própria ética do Republicanismo Liberal cívico do autor.
No fim de contas, o que importa nesta 9.ª publicação sobre livro do Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics não é a fidelidade à letra (ou verso) camoniano, mas a forma como consegue ser real, envolvente para o leitor, e transformar o poema épico original num outro formato de livro (ficção em prosa) em que se torna. O leitor assim não vem a este livro para ler Camões ou para aprender sobre literatura quinhentista portuguesa, mas para que lhe seja contada por um mestre da literatura de quase quatro séculos depois e Camões uma das narrativas de aventuras clássicas da humanidade, e da língua portuguesa especificamente, que atravessou pouco mais de cinco séculos e que continuará a impressionar gente na lusofonia e no mundo fora por séculos mais porvir.
Há cópias de edições mais próximas do original ou reedições subsequentes ao longo do século XX, principalmente a 2ª de 1996 (ilustradas, seguindo a edição original, por Martins Barata de forma clássica e atractiva), em quase todas as bibliotecas municipais ou escolares, e em algumas também das edições a partir de 2011 ilustradas de forma comicamente interessante por André Letria. Estas edições de 2011 em diante encontram-se ainda à venda no mercado livreiro. Todas essas edições são da Livraria Sá da Costa Editora.


It is not easy to make original remarks on a work considered classical and national to a literature and that already passed long ago a century of existance. And it was due to The Lusiads being a work also challenging on reading for the current not scholarly (mainly he youngest) that Joao de Barros (not the historian known as "The Great" that lived before Camoens and to him served as source to part of his epic, but a poet, Republican political activist and defender of a greater Portugal-Brazil cohesion from the late 19th century and the first half of the 20th century) made in 1930 (as part of a collection of Clássicos Universais/"Universal Classics" from the 1930s and 1940s to promote knowledge of literature among the youngsters and the general audience, mainly with the wide illiteracy in Portugal at the time in mind), this version appropriate for a first introduction on the younger reads.
It is more or else general knowledge by hearing it said and general culture, that the Camoens' original is an epic poem, among the first epic texts (mainly in the classical Graeco-Roman molds) of Portugal to get to posterity in its full extension, among the first epic texts of Portugal with text of some extension, that the poem was written by the author from the Portuguese late Renaissance Luis Vaz de Camoens (on whom it is known little, beyond that he had Galician and low-nobility ancestry, that he was a womaniser and an inveterate brigand and that he passed much of his life fighting through the Portuguese Empire as soldier both in North Africa (where he would have lost the right eye) and Asia, that he involved himself with a black slave (to whom he dedicated a posthumous poem in form of poema póstumo em forma de endechas/"lament-poem") and some Dinamene (according to one interpretation it would be a Chinese Macanese whose name was Portuguesefied from Tinamen, but the biographical film by Leitao de Barros on the poet presents her briefly as vaguely of Indian appearance), that the author read The Lusiads to King Sebastian on Sintra before the Alcazar El Kebir, that he would have died essentially poor (but with an insignificant pension given by the King for his national epic) around the time of the annexation by Spain in 1580 (nevertheless the date of July 10, 1580 is not properly proven, having been, for the commemoration of the tricentennial anniversary of his death in 1880 with the need of a specific day for commemorating the author, 'made up' the dat through some calculations about the supposed age of death, last informations known from the royal reccords and some informations on his life), and that The Lusiads would be (although arguably) his greater work, that reports Vasco da Gama's maritime voyage to India in 1498-99 having around it the narration of all the history of Portugal (factual and legendary) and that turning itself a world and lusophone classic work (mainly in the midst of the epic genre). As curiosity let it be pointed out that in the 1960s it came-up the epic poem As Quibíriadas ("The Kebiriads", named after the Alcazar el Kebir) that simulates to be ancient text doubtfully attributed to Camoens himself (that aside The Lusiads only wrote lyrical poetry and two theatre one-acts of some classical influence) as sequel to this epic poem on the decadence of Portugal, but it was in fact of the Viseu painter established (for 25 years) in Mozambique António Augusto Melo de Lucena e Quadros (under the pen name Joao Pedro Grabato Dias, latinised Friar Ioannes Garabatus).
Let us centre ourselves now on the narrative of the poem itself, and on the form how Joao de Barros treated it, that turns the 10 cantos (with variable number of stanzas), 1,102 stanzas of decassylable verses and 8,816 verses of the original text by Camoens in little more than 200 pages of concise but detailed text in 10 chapters (that correspond very nearly to the division of the themes of the cantos of the original poem) and a conclusion on the life of the poet. The text gives a good prosaic equivalent of Camoens' narration and that it transforms the dialogues of th characters in verse into dialogues worthy of old children's/young-people's novel, achieving so to entertain and attract the attention of the young reader. The good reader that be particularly pleased by the outcome could read it from a single (even if very long) sitting (which was a form of reading that the North-American poet and short-story-writter Edgar Allan Poe attributed as defining features of the true good story).
Joao de Barros (who today many thought-out to be some salazarist due to the arguably paternalist approach of adaptations "for the people and the children" and for his patriotism and understanding of the canon of the world literature according to the western tradition; indeed he was an anti-salazarist Republican, like the other authors of the adaptation from this collection, the non-marxist socialists Antonio Sergio and Jaime Cortesao and our acquaintance Aquilino Ribeiro. We got to remember ourselves that on this time westernism, colonialism and patriotism were also part of the philosophy of the so-called "republican left") did an excellent work with this text in terms of working with Camoens' original, essencially keeping all the narrative, in relatively hasty text, condensing the narration and succession of events through which pass by The Gama, his crew and all the Portuguese nation in the original poem, with the help of their supporting gods (mainly Venus and Mars), presenting though in prose in successful ways the formal and narrative qualities of the style of Camoens' original verse (what one can say also of the adaptations that for the same collection did do de Barros of The Odyssey and The Illiad by Homer, The Aeneid to Virgil, The Divine Comedy by Dante and Gulliver's Travels by Jonathan Swift, although the latter by de Barros changed more the tone of the text to be less pessimistic and more pro-Portuguese and acclimated to what would be the Portuguese supposed national context and taste). The text aged quite well., as it proves the many editions that it had since 1930, the most recent ones being from 2011 onwards with the "seal of approval" of the Portuguese Ler + ("Read +") program.
Joao de Barros at the end of his life
The Lusiads according to de Barros show us, like the original, an armada of The Gama already mid way going to India, it having entered on the Indic, and afterwards of a council among the gods of mythology (sometimes very argued on on Camoens' time from a post-Trent Council religious point of view, but the censor from the Inquisition at the time excused it as mere poetic effect) around to support or oppose to the imperial plans of the Portuguese and their voyage. Bacchus, who would have till then been lord and god in India (this was an old tradition of Graeco-Roman mythology, that is a possible interpretation of the ancient Greeks of some Hindu god similar in some form to Dionysus, maybe Shiva or the god Marang-buru from the Santhal tribal people), fears the diminishing of his influence and his forgetting faced with the arrival of the Portuguese; on another hand, Venus, anceestor of the Latin peoples (like the mother of the Trojan and ancestor of the Romans Aeneas) and divinity that holds the Portuguese in account of passionate people (let us recall that is the goddess of love), and Mars, old lover of Venus, take the side of the Lusitanians. Jupiter ends up deciding in favour of the Portuguese, but giving to Bacchus the freedom of defending his domain of India as he see fit. It is so that after arrived to Mombassa, Bacchus takes the form of a Christian clergyman (convincing so the Portuguese of being in territory of their faith), and through the mass that the Portuguese execute with him as priest, the locals attack the newly-arrived that are revealed as Muslim "infidels". Venus, knowing of the betrayal of Bacchus, ends up by guiding the Lusitanians through the winds and the waves into safety. Arriving to another land of the eastern shore of Africa, Melinde, the Portuguese are received in way much warmer by the local king.
Baccchus and Shiva
During his reception, the King asks to Vasco da Gama that he tells him on his country, which he did, describing the location of Portugal on the «head» of Europe, and its history since Lusus patriarch of the Lusitanians and hence of the Portuguese (ironically son of the opponent of the Portuguese, Bacchus; this depends on interpretation seeing that some mythographers distinguish between the "Indian Bacchus" who would be son to Jupiter with Io from the Lusitanian ancestor son to Jupiter and Semele or Dionysus and from the Bacchus/Iacchus from the Eleusis and orphic mysteries son to Jupiter and Ceres or with Proserpina), in antiquity, till the moment of the departure of The Gama's armada in the reign of Don Manuel I, passing by the deeds of Afonso Henriques, Afonso IV (on the Battle of Río Salado), from the Revolution of 1383-1385 (Aljubarrota) and Don Afonso V (in the Battle of Toro, a "draw" with Castile, and the tragic and lyrical (mainly in the verses of Camoens, who returns to his old lyricism in the middle of this epic) of Agnes de Castro.
Afterwards, the Gama narrates his own (and not less dramatic and adventurous) voyage, through the which he and his crew pass by the encounter with sudden gruesome thunderings, the Saint Elmo's fire (an electric-stormy phenomenon with firey aspect) and a marine waterspout after passed the line of the Equator midway between Brazil and Western Africa, the contact of a Portagee called Fernao Veloso with a native of the island of Saint Helena (at bay from Africa, more famed today for having been the place of the last exile of Napoleon till his death), that due to linguistic barrier ends with the escape of Veloso from a group of armed natives arriving (he is mocked by the companions for the quick escape, to which he answers that he only ran away because he recalled that his friends were there without his help against the natives who arrived), and a confrontation among the Portuguese and the Saint-Helenians in which it does injures himself the Gama on the leg, the facing in the Cape of Storms of the giant Adamastor (who treatens future Portuguese navigators with shipwrecks, including who to him 'defeated', Bartholomew Dias, and at request of The Gama tells his own past and how he became a rock), the disease of scurvy, the soldiers of Mombassa and (already after leaving Mombassa) the sea gods and the winds (that afterwards being moved by a cried and heartfelt appeal on a council of their own, accept to attack the Portuguese fleet; it would be the intervention of Venus and of the love nymphs that save the Lusitanians, despite Gama, Christian and not knowing what goes on, thanking in prayer the rescue to the Divine Providence), and afterwards to finishing the narration, The Gama and the Portuguese depart from Melinde, follow the journey to India, where they face the armies of the Zamorin of Calcutta. By the journey's end, already many Portuguese had died, but the majority survives, and all get their reward on their deeds in Love's Own Island that Venus arises in the middle of the Indian Ocean, with a nymph for each Portuguese, being he Gama guided by the goddess Thetis for faraway from the others and receiving a vision of the universe (at least as it imagined it the Europeans before Copernicus and Galileo) and of the future of the Portuguese Empire up to the time of Camoens, ending the plot that (as in Camoens) "wedded "Christianity and paganism, into a "culminating" of all the ancient and (early) modern western literature and culture into a single system. (It is a testament to the narrative gifts in prose of de Barros that he can put all the indidividual episodes and general flow of the plot without seeming like a best of o' The Lusiads bug something as "organic" as the original)
The first page of the chapter on the episode of the Adamastor
The more purists about an original literary text will not have from the start a lot of taste for experiences of this kind, but who reads individually this book, or in ensemble with the camonian original, cannot cease to recognise the worth, in the work of (re)creation into the prose from his time for the mainstream and/or younger audience of João de Barros', remembering thus to even the most purists that the adaptation is also a work of creation and a creative and even somewhat complex labour, no matter how different it be from a wholly original creation. The form how de Barros presents the old epic-poem of Camoens makes seem that we are hearing the narrating of an old myth by a traditional story teller, using of the same wondrous and tradition more ancient than one's birth, but that feels itself still "fresh", even more so in this prose (using of the words from the back-cover of the 2nd edition from 1996) «easy and clear without detracting on the beauty, the poetic spirit and the inspiration of the original work».
From the camonian plot essentially stands all, but from the voice of the original narrating poet, not everything survives, mainly the parts that little contribute to advance the plot and are more cultural references and figures of speech. Barros also has the care of, with the text and subtext of the poem, to emphacise the more modern aspects of the original book and of its values, and eliminating what could have caused problems with the typical readers of our times or younger readers (like the fact of Joao de Barros calling Venus daughter to Jupiter, what does not appear in Camoens; in mythology there exist two Aphrodites or Venuses, one that was born out of the waves of the sea or Aphrodite Urania and another that is daughter to Zeus or Jupiter, and Camoens does not make explicit to which one it refers, but the idea that it is the daughter of Jupiter gives an incestuous vibe to the scene in which she appeared nude as form to implore him for mercy towards the Portuguese or makes it seem like a non-related woman appealed to Jupiter's lust and nothing more to get her will, but de Barros choses on the contrary to present the scene as a daughter that appears nude and defenseless before the father, crying and begging, appealing to his pity and not to the proverbial sexual appetite of Jupiter). It are choices that made sense at the day and time in which de Barros rewrote The Lusiads, both from the point of view of the political regime of the time, and from the civic Liberal Republicanism ethics of the author's itself.
All in all, what matters in this 9th post on a book from Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics is not the fidelity to the camonian letter (or verse), but the form as it can be real, engaging to the reader, and transform the original epic poem into another format of book (fiction in prose) in which it turns into. The reader so does not come to this book to read Camoens or to learn on Portuguese fiftteen-hundredth literature, but so that it be to one's self told by a master of literature from almost four centuries lattermost to Camoens one of the cclassical adventure narratives of humanity, and of the Portuguese language specifically, that crossed little more than five centuries and that shall continue to impress folk within lusophony and the world over for centuries to come.
There are copies of editions closer to the original or subsequent reeditions throughout the 20th century, mainly the 2nd from 1996 (illustrated, following the original edition, by Martins Barata in classical and appealing fashion), in almost all the Portuguese municipal or school libraries, and in some also of the editions from 2011 onwards find themselves still for sale on the book market. All those editions eare by the Livraria Sá da Costa Editora publisher.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

"Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado", Camilo Castelo Branco // "Adventures of Basilio Fernandes Enxertado", Camilo Castello Branco

Devo admitir que, apesar de ter anos de leitor e já ter lido bastante sobre a vida e obra de Camilo Castelo Branco (e ter lido alguma coisa da obra do próprio), nunca tinha lido ou ouvi falar sequer deste livro até ao final do ano passado. É o quão obscuro ele é, talvez só excepto para camilianistas (que mesmo assim não dão assim tanta atenção a esta obra como Amor de Perdição, a sua "resposta" Amor de Salvação, a crítica social A Queda de um Anjo, a paródia do Realismo/Naturalismo Eusébio Macário ou os seus romances de "faca e alguidar" e históricos mais "divertidos" de ler pelo seu "excesso" melodramático). Num texto para o N.º 119 de Janeiro de 1991 da COLÓQUIO/Letras da Fundação Gulbenkian, Gustavo Rubim propunha que o esquecimento da obra se deva à crítica estar muito pegada à ideia de um Camilo "de faca e alguidar" e que 'fazia chorar' o seu público alvo, pelo que uma obra altamente cómica como esta não "encaixa" na imagem criada pela mesma, razão porque A Queda do Anjo, apesar de mais livro conhecido, ser um pouco mal analisado por ser abordado pela crítica de um ponto de vista mais moralista do que foi objectivo original do autor (a faceta moralista de Camilo surge de facto na obra camiliana, mas mais noutras obras do autor do que nessa).
Assim, aqui estou eu agora a lê-lo, de uma cópia da edição da Lello & Irmão - Editores de 1987 como nº 79 da colecção Biblioteca iniciação literária (provavelmente, as cópias mais comuns desta obra de cerca de 220 páginas em bibliotecas, hoje são desta edição). É uma obra longa o suficiente para ser um romance, mas algo concisa, não demasiado densa, mas rico no humor e na preocupação socialmente crítica do autor e em todo o seu estilo, em que simpatia (para com o elenco de personagens 'positivas'), ironia, crítica (dos erros do sistema educacional e da sociedade no Portugal da época), entretenimento literário, e alguma "consciência retórica" (i.e., a escrita da obra tendo em conta que é uma obra que foi escrita, ficção, em que o narrador é assumidamente o autor e "brinca" com o seu público, comenta a própria obra escrita e por vezes auto-critica-se ante o leitor pelos exageros que usa no enredo; isto surge nesta obra como em outros romances do autor como Coração, Cabeça e Estômago, A Filha do Arcediago e Memórias de Guilherme do Amaral).
Camilo, nascido Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco em Encarnação (Lisboa) a 16 de Maio de 1825 e suicidando-se em S. Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, a 1 de Junho de 1890, teve uma infância conturbada (os pais nunca casaram apesar de terem dois filhos juntos, e Camilo foi registado «filho de mãe incógnita», ficando órfão de mãe poucos anos depois) mas a sua adolescência foi estável (criado pela família paterna em Vila Real, tendo tido a possibilidade de ler muita literatura clássica portuguesa e greco-latina e de experienciar a vida ao ar livre em Trás-os-Montes), sucedendo-se uma vida de cultura, muita leitura, alguma instabilidade amorosa, um sentimento de permanente insatisfação mas simultaneamente uma vida de ascensão meteórica como autor e figura dos meios culturais e jornalísticos em Portugal e no Brasil (embora em trabalho permanente para se sustentar, e mais tarde à sua família, devido a uma vida de grandes soldos mas de não menores gastos e apostas). Entre as suas obras, são mais famosas, para além das já referidas no primeiro parágrafo, Anátema (1851), A Filha do Arcediago (1854), Livro Negro do Padre Dinis (1855), Vingança (1858), Coração, Cabeça e Estômago (1862) e Estrelas Funestas (1862).
Camilo tendia a escrever obras com uma carga pessimista e de amostragem dura da sociedade do seu tempo ou de períodos poucos séculos anteriores (do século XVII e XVIII nos seus romances históricos), que lembram vagamente um Charles Dickens para uma sociedade menos industrializada e mais rural ou de sociedade burguesa urbana mais de serviços (diferença que reflecte as sociedade diferentes de que ambos os autores vinham) e com menos optimismo, levidade e didactismo (embora Dickens tenha bastante negrume nas suas obras, frequentemente elas terminam com finais felizes que dão uma certa "moral da estória", e ele não costuma chegar aos níveis de "faca e alguidar" de muitas obras de Camilo, mesmo que a "faca e alguidar" do Português seja frequentemente escrita de modo auto-paródico, para além de que é pouco de imaginar Camilo a escrever uma espécie de conto-de-fadas à la Conto de Natal), e sendo ainda menos associado à literatura para jovens (embora a associação do Inglês aos jovens se deva menos a ter escrito para tal público mas mais por escrever frequentemente sobre protagonistas crianças ou cuja vida desde a infância seguimos ao longo do livro, e ao escrever estórias moralizantes pendendo a finais felizes, lembrando assim uma espécie de contos-de-fadas; anote-se porém que Camilo também segue algumas personagens desde a infância, de um modo quase dickensiano e também parecendo fábulas, como A Filha do Arcediago ou este Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, mas a associação é mais raramente feita entre obras de Camilo e estes públicos, embora esta possa ser feita para as obras referidas pelas razões que começámos a explicar).
Camilo Castelo Branco em fotografia por volta das décadas de 1860 e 1870
Passando agora propriamente para a obra em causa, este romance de 1863 trata assim, de uma forma algo cómica e picaresca, da vida da personagem-título (que deve o "Enxertado" do nome à alcunha jocosamente dada pelos Portuenses ao pai do herói por se estar sempre a referir à sua aldeia transmontana natal do mesmo nome), tendo talvez sido escrito originalmente para publicação em folhetins (como muitas obras do autor), o que explica os capítulos relativamente curtos (no formato de metade de uma folha A4 em que se publicou a referida edição da Lello & Irmão, cada um ocupa à volta de 6, 7, 8 páginas, que nos formatos de edição mais correntes seriam ainda menos), e a forma corrida e bem episodicamente dividida da acção. A narrativa começa dando-nos a descrição do herói («BASÍLIO Fernandes é um sujeito de trinta e sete anos, com senso comum, engraçado a contar histórias de sua vida, activo negociante de vinhos no Porto, amigo do seu amigo, e bastante dinheiroso - o que é melhor que tudo já dito e por dizer»), a sua família (na linha de trabalho merceeira) e a estória do seu nascimento como bebé «gordo e extraordinariamente volumoso», com «a cabeça igual ao restante do corpo, e uns pés dignos pedestais», como um frade carmelita que visitava a casa dos pais agourava pelo tamanho da cabeça que seria um talentoso sábio nalguma ordem religiosa (as ordens são pouco depois extintas em Portugal), como num primeiro momento pareceu que pelo contrário talvez a cabeça de Basílio fosse (como dizia o seu mestre-escola que ele começara a ter à entrada na escolaridade com 8 anos) «muito mais dura, e tapada, e maior que a bola de pedra da torre dos Clérigos» (no fim de contas ele, lentamente, aprende eficientemente a ler e a fazer as operações matemáticas contra as previsões do mestre). Camilo "desenha" depois curioso quadro da vida dos pais de Basílio, padrinhos da filha de um despachante da alfândega do Porto com a mesma idade que Basílio (a princípio baptizada Bonifácia, como a mãe de Basílio, mas depois crismada Custódia como a sua mãe, o que «Não melhorou» segundo o narrador), e como as duas famílias tinham os hábitos das famílias já algo abastadas com o comércio do tempo da juventude do autor, de irem em dias santificados comer peixe frito, salada e azeitonas a Reimão ou Valbom. A Custódia filha (que no III capítulo será novamente re-crismada, agora Etelvina), que começava então a aprender a tocar cravo e falar Francês para desagrado da madrinha (que segundo Camilo se "agarra" às «saudáveis doutrinas da estupidez»), começa devido a esse 'enobrecimento' da sua pessoa a lidar com as brincadeiras de Basílio com enfado.
Depois disso vão crescendo Basílio e Custódia/Etelvina (esta crescendo muito magra mas não desatraente, com o rosto oval e pálido com olhos e cabelos negros e nariz fino, embora ela se auto-flagelasse nas mãos e pés porque era um zona onde abundavam defeitos de família), e começa a namorar Henrique Pestana, o filho do director da Alfândega de Bragança. Um dia Basílio encontra na rua o casal, e aborda-a pelo seu nome anterior de Custódia e fala-lhe dos tempos do peixe frito (ora nesta altura a música tocada à frente do Paço de Sintra era conhecida por tal alcunha, pelo que o acompanhante da jovem ficou sobre a impressão de Basílio se estar a referir a algum «recreio filarmónico»), o que faz ela corar. Basílio acabará por ter uma caricata luta em mangas de camisa com Henrique (que então já ama Etelvina, segundo o autor apesar desta se chamar de facto Custódia) numa luta sobre a honra da jovem devido ao corar da mesma motivado pela referência aos tempos do peixe frito. Depois disso, Basílio (que é de facto um "enxertado": alguém com uma identidade flexível, maleável e que se insere no contexto em seu redor) passa aventuras como o herói salvar-se a si próprio milagrosamente de afogamento no Douro por volta da Primavera de 1848, a sua passagem por carreiras de poeta (segundo Camilo «O Porto, em 1848, era um viveiro de poetas» mas já em 1863 ninguém sabia já «que fim levaram as dezenas de mancebos bafejados pela inspiração») e de trabalhador no convento das freiras de Santa Clara. Enquanto isso, Henrique ia-se regenerando devido à influência do amor de Etelvina, que começava a actuar na Filarmónica local como cantora e pianista, sendo na mesma que ela se reencontra com Basílio, que também a integrou como financiador (Basílio era excessivamente gastador a um ponto que o «avaro na fama» pai até suspeitava a mulher de adultério) e era na altura um sucesso com as mulheres sendo poeta (que chegou a bater-se em duelo com um romancista por causa duma tal de Celina), e Etelvina ia-se re-afeiçoando a Basílio, que parecia aos olhos dela "mudado" para melhor (fora o volume da cabeça que se mantinha); o autor nota que esta situação prova que «O amor iguala todos os homens» e que a espécie humana é «a mais ilógica de todas as espécies». Esta evolução seria mútua, como provaria uma exibição a cavalo que ele faz ante Etelvina... que termina com ser cuspido do cavalo para uma sebe longínqua e arranjar um rasgão nas calças (por compensação foi depois depois tratado pela moça).
Depois da queda, Basílio ouve do pai da Artista Anteriormente Conhecida como Custódia que Etelvina teria ficado doente de cama com o susto da sua queda, o que era mentira (incentivada na jovem pelo próprio pai, com o olho na fortuna comercial de Basílio) e é apresentado pelo narrador como prova do quão tolo e palerma era Basílio (ele até ironiza que ele próprio «dando a nova funesta da queda» de Basílio, chamou a ele «inteligente; mas como na oração havia dois agentes, ele um, e o cavalo outro, o público fez-me o favor de duvidar se eu chamava inteligente o cavalo, ou o Basílio», e compara este engano do jovem com a vida de todas as pessoas: «Quantas engoli eu assim! Quantas tem engolido o leitor! Quantas engoliremos até que a sepultura nos engula!…»).
Basílio passa depois por um sem-fim mais de aventuras ao longo do meio e da segunda metade do livro, como a oposição de Basílio ao casamento entre Etelvina e Henrique Pestana que acaba por se concretizar, um entrudo bizarro na Campanhã em que o herói se confronta com o marido da amada, a fuga de Basílio Fernandes (a conselho do pai) para Paris por uns tempos para que a gente em Portugal se esqueça do dito entrudo... chegando a Paris no mesmo dia em que o casal Pestana também chega à cidade em férias para se afastar de Portugal e do escândalo (o autor ironicamente chama a esse capítulo «Capítulo de muita moral», isto só assinalando que a suposta feição de moralista de Camilo é um tanto exagerada, visto que o próprio parodia aqui a ficção excessivamente moralizante), um capítulo XVII em que o próprio autor partilha correspondência com o herói do seu livro (embora hoje isto seja pouco recordado: Camilo era muito dado a estas "quebras da quarta parede" entre ficção e realidade, sendo esta obra ou A Filha do Arcediago grandes exemplos desse estilo), o reencontro de Basílio e Henrique em Lisboa com o primeiro a dar «O maior murro que ainda levaram queixos de homem» no segundo e ainda dois pontapés por instinto quando lhe pareceu que o adversário "despertava" (o que porém se tornou vitória para Henrique, porque sorveu o último dinheiro da herança paterna do Enxertado numa indemnização), o chorado regresso do herói ao Porto (em que ele se fica a saber que ocorreram só desgraças durante a sua ausência, incluindo Etelvina deixar de cantar), e por altura do «Que Fim!» (título do penúltimo capítulo, que vem antes de uma conclusão em que o autor volta a ouvir novas do herói, o que também acontece nalguns outros romances cómicos do autor), o enredo implica que o tonto e estroina Basílio acabe por se recuperar e ser transformado através do amor e do sofrimento amoroso, sendo que também Etelvina deixa para trás atribulações e leviandades, e ambos se "reconvertem" moralmente e conquistam a felicidade a dois.
Este grande resumo dá uma ideia dos traços gerais do enredo do livro, mas não da vivacidade e do desenho a traços largos do elenco de personagens que pelo livro vão passando, apresentados numa escrita irónica do autor, como o manhoso mas pouco bem-sucedido Manuel José Borges, o pai de Bonifácia/Custódia/Etelvina, e tão vivaz e detalhado como o retrato do próprio Basílio Fernandes Enxertado (e por isso divertido, na sua apresentação irónica) é o da filha de Manuel José: Etelvina é apresentada como uma verdadeira prova de que (nas palavras do autor) «As mulheres fazem tudo de si para fazerem o que querem de nós».
Note-se que há algo de vagamente autobiográfico em alguma parte do retrato de Basílio Fernandes Enxertado: como o autor, ele nasceu numa família de posses mas não aristocrática que do lado paterno tinha raízes transmontana mas o próprio era nascido noutra parte, ele viveu vida boémia, foi poeta, um mulherengo que se deu a duelos por mulheres, era um bom narrador (embora no caso de Basílio isto possa ser defeito de alguém que não percebe que não tem assim muita razão para ter tanto orgulho nos episódios ocorridos à sua própria pessoa) e acabou por se "reabilitar" (embora não de forma tão bem resolvida como o seu herói) ao encontrar o amor com uma mulher que teve de roubar a outro que tinha um nível de vida mais estável (embora, ao contrário da vida real de Camilo, não haja aqui adultério, parecendo o final dado à personagem de Henrique, que não revelarei para não "desmanchar-prazeres", uma forma "conveniente" de o tirar de cena para que o casal principal se possa unir sem criar problemas morais ao leitor do seu tempo, que provavelmente não suportaria algo do género nem da parte de um autor que tivesse sido ele mesmo adúltero; o autor ironiza sobre isto ao intitular o antepenúltimo XXI capítulo «Como eles se amavam, sem afrontarem a moral pública»).
Apresentando outra diferença para com Dickens, enquanto o Inglês apresentava o retrato da sociedade industrial (não que o campo rural não surgisse na sua obra, mas como na Inglaterra real, com a cidade industrial e a sua "longa sombra" nunca muito longe), o Português, mostrando também a pobreza e a dificuldade social da vida de muitos Portugueses do seu tempo, mostra porém uma realidade que é menos a do trabalho intensivo e opressivo fabril e mais a da falta do dinheiro por vida custosa, dos biscates, e do trabalho duro mas com pouco fruto, diferença que é explicada pelo contexto diferente: não industrial mas de país rural aburguesando-se comercialmente, ainda parcialmente pré-industrial (principalmente no tempo da acção, pelos anos de 1840; no tempo em que Camilo escreveu e publicou este livro, porém, a realidade era, pelo menos em Lisboa e alguns outros centros urbanos do país, algo diferente por causa da industrialização após o golpe de Estado da Regeneração, embora ainda faltassem em 1863 doze anos para o primeiro governo chefiado por Fontes Pereira de Melo, embora este já tivesse passado pelo governo como Ministro das Obras Públicas do 3.º governo do Duque da Terceira uns quatro, três anos antes). Assim o retrato das desventuras picarescas e cómicas de Basílio não são só desventuras para entreter e divertir, fruto da imaginação incontestavelmente frutífera do autor, mas também um retrato algo realista do que eram as dificuldades e as vivências socioeconómicas de uns certos tipos sociais da sociedade urbana baixo-burguesa boémia da altura, que os aspectos cómicos e sentimentais da obra camiliana não diminuem na sua força e credibilidade, nem com o final feliz e moralizante dado para o casal de enamorados do enredo.
Ao contrário de outros clássicos de Camilo, Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (apesar de ter esta qualidade de David Copperfield lusófono ignorado por incompreensão crítica) não teve até agora a atenção (merecida) do público leitor e erudito nem adaptações cinematográficas e televisivas (apesar da primeira adaptação de uma obra de Camilo, no caso de Amor de Perdição, remontar a 1914, livro novamente adaptado 4 e 7 anos depois, e mais duas vezes para cinema a partir de 1943, fora a adaptação modernizada Um Amor de Perdição de 2008, e para televisão no Brasil em 1965 e em Espanha como um episódio de 1973 da série dos anos '60 e '70 Novela que adaptava romances clássicos, e surgiram ainda algumas adaptações televisivas de O Retrato de Ricardina e A Brasileira de Prazins na telenovela Ricardina e Marta de 1989, d'O Morgado de Fafe em Lisboa, d'A Viúva do Enforcado, de Mistérios de Lisboa e d'O Livro Negro de Padre Dinis que deu parte do enredo da telenovela luso-brasileira Paixões Proibidas de 2006-07), não tendo havido sequer, tanto quanto sei, adaptações a teatro ou BD. O que é uma pena, porque a obra está indiscutivelmente no domínio público, e o facto de ser pouco conhecida ajuda a que esteja ainda mais fresca e viva que outras do autor, apesar de já ter passado dos cem anos de idade (embora ainda falte para os 200), devido a não ter sido mencionada por título e exposta ao público português até à exaustão ao longo do tempo de 1863 até agora, e assim o leitor de todas as idades pode apresentar-se a esta narrativa que tem tanto de emocional e comovente como de hilariante, sobre um herói pícaro que passou pela miséria por idiotice própria, sem ficar cruel, e que se regenerou junto com a sua cara-metade, e por isso é um romance que serve de lição e de fábula que por ser cómica não se torna pesadona e demasiado moralista.
Este romance pode encontrar-se com alguma facilidade em pelo menos algumas bibliotecas municipais, e existem raras edições novas deste século, embora seja de edição menos frequente que muitas outras obras deste autor.

Must admit that, despite having some years as reader and already having read lots on the life and work of Camilo Castelo Branco (and having read some thing on the work of himself), never had read or heard talk at all till the end of last year. It is how obscure it is, maybe only except for camilianist scholars (that even so do not give as much attention to this work as to Amor de Perdição/"Love of Damnation" or "Doomed Love", its "answer" Amor de Salvação/"Salvation Love", the social critique A Queda de um Anjo/"The Fall of an Angel", the parody of Realism/Naturalism Eusébio Macário or his "cloak and dagger" and historical novels more "fun" to read for their melodramatic "excess"). In a text for the #119 from January 1991 of the COLÓQUIO/Letras from the Gulbenkian Foundation, Gustavo Rubim proposed that the oblivion of the work is owed to reviewers being very much sticked to the idea of a "cloak and dagger" Camilo who 'made' his target audience 'cry', so that a highly comical work like this one doesn't "fit" into the image created by said reviewers, reason why The Fall of an Angel, despite more known a book, bing a little baddly analised due to being approached by the reviewers from a more moralist point of view more moralistic than what was original purpose of the author (the moralistic facette of Camilo comes-up in fact within the camilian ouvre, but more in other works of the author than in this one).
So, here I am now reading it, out of a copy of an edition of the Lello & Irmão - Editores from 1987 as an #79 of the Biblioteca iniciação literária/"Literary initiation library" collection (probably, the more common copies of this work of about 220 pages in libraries, today are from this edition). It is a work long enough for being a novel, but something concise, not too dense, richer in humour and in the socially critical concern of the author and in all its style, in which sympathy (towards the cast of 'positive' characters), irony, criticism (of the errors of the educational system and of the society within the Portugal of the period), literary entertainment, and some "rhetorical consciousness" (i.e., the writing of the work having into account that it is a work that was written, fiction, in which the narrator is outrightly the author and "plays" with his own audience, comments the written work itself and sometimes self-criticises himself before the reader with the exagerations that he uses in the plot; this comes-up in this work as in other novels of the author as Coração, Cabeça e Estômago/"Heart, Head and Stomach", A Filha do Arcediago/"The Daughter of the Archdeacon" and Memórias de Guilherme do Amaral/"Memoirs of Guilherme do Amaral").
Camilo, born Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco in Encarnassao (Lisbon) on 16th of May, 1825 and commiting suicide on Sao Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicao, on 1st of June, 1890, had a troubled (the parents never got married despite having two children together, and Camilo was registered «father of incognito mother», getting orphan of mother few years afterwards) but his adolescency was stable (raised by the paternal family on Vila Real, having had the possibility of reading much Portuguese and Graeco-Latin classical literature and of experiencing the great outdoors in Trahs-os-Montes region), it ensued itself a life of culture, much reading, some love-life instability, a feeling of permanent dissatisfaction but simultaneously a life of meteoric rise as author and figure from the cultural and journalistic millieux in Portugal and Brazil (although in permanent labour for supporting himself, and later his family, due to a life of great solidus wages but no lesser expenses and gambles). Among his works, it are more famous, besides the ones already mentioned on the first paragraph, Anátema/"Anathema" (1851), A Filha do Arcediago/"The Daughter of the Archdeacon" (1854), Livro Negro do Padre Dinis/"Black Book of Father Diniz" (1855), Vingança/"Revenge" (1858), Coração, Cabeça e Estômago/"Heart, Head and Stomach" (1862) and Estrelas Funestas/"Baleful Stars" (1862).
Camilo tended to write works with a pessimistic charge and of hard sampling of the society of his time or of periods a few centuries previous to it (the 17th and 18th century in his historical novels), that recall vaguely a Charles Dickens for a less industrialised and more rural or more services-oriented urban bourgeois society (difference that reflects the different societies that both authors came from) and with less optimism, levity and didaticism (although Dickens has rather quite a gloom in his works, frequently they ended with happy endings that give a certain "moral of the story", and he doesn't use to get to the levels of "cloak and dagger" of many works of Camilo's, even if the "cloak and dagger" of the Portuguese-man be frequently written in self-parody fashion, besides that it is little to be imagined Camilo writing a kind of fairy-tale A Christmas Carol-style), and being even lss associated to literature for young people (although the association of the Englishman to the younguns is owed less to having written for such public and more for writing frequently on leads either children or whose life since childhood we follow throughout the book, and to writing moralising stories pending to happy endings, recalling so a kind of fairy tales; let it be noted that Camilo also follows some characters since childhood, in a dickensian fashion and also fables, like The Daughter of the Archdeacon or this Adventures of Basilio Fernandes Enxertado, but the association is more rarely made between works of Camilo and these publics, although this may be made for the mentioned works for the reasons we started to explain).
Camilo Castelo Branco in photograph around the 1860s and 1870s decades
Passing now properly to the work at hand, this 1863 novel deals so, in a somewhat comical and picaresque/roguish form, on the life of the title character, (which owes the "Enxertado" on the name to the nickname mockingly given by the Oportoans to the father of the hero due to always being refering to his native Trahs-os-Montes village of the same name), having maybe been writen originally for publication into feuilletons (as many works of the author's), what explains the relatively short chapters (in the formate of half of a letter size sheet in which it waspublished the mentioned Lello & Irmão edition, each one takes around 6, 7, 8 pages, that in the more current formats would be even less), and the hasty and well episodically divided form of the action. The narrative starts giving us a description of the hero («BASILIO Fernandes is a fellow thirty seven years-old, with common sense, funny at telling stories of his life, active wine dealer in Oporto, a friend to his friends, and rather bountyful - what is the best of everything already said and to be said»), his family (in the grocer's line of work) and the story of his birth as «fat and extraeordinarily bulky» baby, with «the head equal to the remaining of the body, and a hell of a feet worthy of pedestals», like a carmelite friat who visited the house of his parents foretold by the size of the head that would be a talented wiseman in some religious order (the others are little afterwards extinguished in Portugal), as in a first moment it seemed that on the contrary maybe Basilio's head were (as said his school-master that he started to have at the entry into compulsory education at 8 years-old) «much harder, and covered up, and bigger than the ball of stone of the tower of Clérigos» (all in all he, slowly, learns efficiently to read and to do the mathematical procedures against the predictions of the school-master). Camilo "draws" afterwards curious tableaux of the life of Basilio's parents, godparents of the daughter of an Oporto customs dispatcherwith the same age as Basilio (at first baptised Bonifacia, like Basilio's mother, but afterwards christened Custodia like her mother, what «It did not improve» according to the narrator), and as the two families had the habits of the families already somewhat well-off with trade on the author's youthful days, of going on sainted days to eat fried fish, salad and olives to the Reimão or Valbom civil parishes. Custodia Junior (who on the III chapter shall be again re-christened, now Etelvina), who started then to learn to play the harpsichord and to speak French to the dislike of her godmother (who according to Camilo "grabs" herself to the «healthy doctrines of stupidity»), starts due to that 'ennobling' of her person at dealing with Basilio's playing with sulking.
Afterwards to that it do grow up Basilio and Custodia/Etelvina (she growing very thin but not unactractive, with the oval and pale face with black eyes and hair and thin nose, although she self-flagellated on the hands and feet because it was an area where it abounded family flaws), and starts to date Henrique Pestana, the son of the director of the Braganza customs. One day Basilio finds on the street the couple, approaches her by the previous name of Custodia and talks to her of the fried fish days (well on this time the music played facing the Passo de Sintra manor was known by such nickname, so that the date of the young-lady got under the impression that Basilio was referring to some «philarmonic recreation»), what made her blush. Basilio will end by having a cartoonish fight with shirt sleeves pulled back with Henrique (who then already loves Etelvina, according to the author despite her being called Custodia) on a fight over the horor of the young-woman due to the blushing of the former provoked by the reference to the times of the fried fish. Afterwards to that, Basilio (who is in fact an "enxertado"/"engrafted": someone with a flexible, maleable identity who inserts oneself in the context around) passes by adventures like the hero saving himself miraculously from drowning on the Douro round the Spring of 1848, his passage by carreers of poet (according to Camilo «Oporto, in 1848, was a breeding ground of poets» but already in 1863 nobody knew already «what nding took the tens of youths breathed on by the inspiration») and of worker on the nun convent of Santa Clara. Meanwhile, Henrique went regenerating himself due to the influence of the love of Etelvina, who started to perform on the local Philarmonica as singer and pianist,being on the former that she mets again with Basilio, who also integrated it as financier lessor (Basilio was excessively a spender to a point that his «miser by fame» father even suspected on his wife for adultery) and was at the time a hit with women being a poet (who got to duel with a novelist over some Celina), and Etelvina re-becoming attached to Basílio, who seemed to her eyes "changed" for the better (aside the bulkiness of the head that kept itself); the author notes tha this situation proves that «Love equalises all men» and that the human species is «the most illogical of all species». This evolution would be mutual, as would prove an exhibition on hourse that he does before Etelvina... which ends with being spat out of the horse unto a faraway hedge and getting a rip on his pants (for compensation he was afterwards taken care of by the lass).
After the fall, Basilio hears from the father of The Artist Formerly Known as Custodia that Etelvina would have been sick in bed with the fright of his fall, what was a lie (spurred unto the young-woman by her own father, with eyes set on the commercial fortune of Basilio's) and is presented by the narrator as proof of how foolish and a schmo was Basilio (he even made irony that he himself «giving the baleful news of the fall» of Basilio's, called to him «intelligent; but as in the clause there were two agents, he one, and the horse another, the audience did me the favour of doubting if I called intelligent to the horse, or to Basilio», and compares this deception of the young-man with the life of all people: «How many did I eat up thus! How many has eatten up the reader! How many will we eat up until the grave eats us up!…»).
Basilio passes afterwards by a neverend of more adventures throughout the middle and second half of the book, like the opposition of Basilio to the wedding between Etelvina and Henrique Pestana that ends fulfiling itself, a bizarre shrovetide on Campanhã parish in which the hero faces himself with the husband of his beloved, the escape of Basilio Fernandes (on his father's advice) to Paris for a time so that the folks in Portugal forget of said shrovetide... arriving to Paris on the same day that the Pestana couple also arrivesto the city on holidays to draw themselves away of Portugal and of the scandal (the author ironically calls to this chapter «Chapter of much morals», this only signaling that the supposed moralist trait of Camilo is a notch exagerated, seen that he himself parodies here the excessive moralising fiction), a chapter XVII in which the author himself shares correspondence with the hero of his book (although this be little recalled: Camilo was very much given to these "breaches of the fourth wall" between fiction and reality, being this work or The Daughter of the Archdeacon great examples of that style), the reencounter of Basilio and Henrique in Lisbon with the first giving-out «The biggst punch that have still took in man chin's» on the latter and yet two kicks by instinct by instinct when it seemed to him that the adversary "awoke" (what became a victory for Henrique, because he slipped the last money of the inheritance of the Enxertado's in an indemnity), the cried return of the hero to Oporto (in which he gets to know that it have occured only disgraces during his absence, including Etelvina ceasing from singing), and by the time of the «What an End!» (title of next-to-last chapter, which comes before a conclusion in which the author goes back to hearin news of the hero, what also happens in some other comical novels of the author), the plot implies that the foolish and roisterer Basilio ends by recovering one's self and be transformed through the love and the loving suffering, being that also Etelvina leaves behind tribulations and carelessnesses, and both "reconvert" morally and conquers happiness the two of them.
This large abstract gives an idea of the general features of the plot of the book, but not of the livelihood and of the drawing at wide strokes of the cast of characters that throughout the book do go passing by, presented in an ironical writing of the author's, with the crafty but little successful Manuel Jose Borges, the father of Bonifacia/Custodia/Etelvina, and as lively and detailed as the portrait of Basilio Fernandes Enxertado (and due to that amusing, in its ironical presentation) is the one of the daughter of Manuel José: Etelvina is presented as a true proof that (in the words of the author) «Women do everything out of themselves to do everything they want out of us».
Let it be noted that there is something vaguely autobiographical in some parts of the portrayal of Basilio Fernandes Enxertado: like the author, he was born unto a family of possessions but not aristocratic that on the paternal side had Trahs-os-Montes region roots but he himself was born elsewhere, he lived a bohemian life, was a poet, a womaniser who gave himself to duels over women, was a good narrater (although in the case of Basilio that may be flaw of someone who does not realise that one's self does not have that much reason for having pride on the episodes occured to one's own person) and ended by "rehabilitating" (although not in well-resolved form like his hero) by finding love with a woman that he had to steal from another that already had a more stable standard of living (although, unlike the real life of Camilo, there is not here adultery, seeming the ending giving to Henrique, which I shall not reveal here for not "spoiling it", a "convenient form of taking him off stage so that the main couple can united itself without raising moral problems to the reader of its time, that probably would not bare something of the kind and not even close to it nor on the part of an author that had been himself adulterous; the author makes irony on this in titling the second-to-last XXI chapter «How they loved each other, without facing off to the public morals»).
Presenting another difference towards Dickens, while the Englishman presented a portrayal of the industrial society (not that the rural countryside did not come-up in his work, but like on real England, with the industrial city with its "long shadow" never too far-offs), the Portuguese-man, showing also the poverty and the social difficulty of many Portuguese from his time, shows though a rality that is less the one of intensive and oppressive factory work and more the one of the lack of money due to the costly life, of the sidejobs, and of the hardwork but with little fruitfulness, difference that is explained by the different context: not industrial but of rural country bourgeoining itself commercially, still partially pre-industrial (mainly on the time of the setting, by the 1840s; on the time in which Camilo wrote and published this book, though, the reality was, at least in Lisbon and some other urban centres of the country, something different because of the industrialisation after the coup d'État of the Regeneração/"Regeneration", although it still were left in 1863 twelve years to the first government lead by Fontes Pereira de Melo, although the former already had passed through the government as Minister of Public Contracted Works of the 3rd government of the Duke of Terceira some four, three years before). So the portrayal of the picaresque/roguish and comedic misavendures of Basilio are not just misadventures for entertaining and amusing, fruit-bore out of unarguably fruitful imagination of the author's, but are also a somewhat realistic portrayal of what were the social-economic dificulties and the livings of some certain social types from the bohemian petite-bourgeois urban society of the time, which comical and sentimental aspects of the camilian ouvre do not diminish in their strength and credibility, not even with the happy or moralising ending given to the plot's couple of enamoured ones.
Unlike the other Camilo classics, Adventures of Basilio Fernandes Enxertado (despite having this quality of Portuguese-speaking David Copperfield ignored by the incomprehension of reviewers) did not have till now the (deserved) attention from the reading and scholarly audience nor cinematic or television adaptations (despite the first adaptation of a work by Camilo, in the case of Doomed Love, going back to 1914, book again adapted 4 and 7 years afterwards, and two plus times to cinema sarting from 1943, aside the modernised adaptation Um Amor de Perdição/"Doomed Love" from 2008, and to television in Brazil in 1965 and in Spain as a 1973 episode of the '60s and '70s show Novelawhich adapted classic novels, and it would appears sill some television adaptations of O Retrato de Ricardina/"The Portrait of Ricardina" and A Brasileira de Prazins/"The Brazilian-woman of Prazins" into the soap opera Ricardina e Marta/"Ricardina and Marta" from 1989, o' 'O Morgado de Fafe em Lisboa/"The Morgado of Fafe in Lisbon", o' A Viúva do Enforcado/"The Hanged-man's Widow", of Mistérios de Lisboa/"Mysteries of Lisbon"and o' O Livro Negro de Padre Dinis/"The Black Book of Father Dinis" which gave part of the plot to the Portuguese-Brazilian soap opera Paixões Proibidas/"Forbidden Passions" from 2006-07), not having been even, as far as I know, afaptations to theatre or Comics. What is a shame, because the work is unarguably on the public domain, and the fact of being little known helps that it be still fresher and livelier than others of the author, despite already having passed one.hundred years of age (although there is still time to go for the 200), due to not having been mentioned by title and exposed to the Portuguese audience throughout time from 1863 till now, and so the reader of all ages can introduce one's self to this narrative that has as much of emotional and moving as of hillarious, on a rogue hero who passed throughout misery for his own idiocy, without getting cruel, and who himself did regenerate together with his better half, and for that it is a novel that serves as lesson and as fable which for being comical does not become chunky and too moralist.
This novel can find itself with some ease on at least some Portuguese municipal libraries, and it exist rare new editions from this century, although it is in edition less frequent than many other works of this author.