sexta-feira, 31 de julho de 2015

"Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda", Jorge Ferreira de Vasconcelos // "Memorial of the Deeds of the Second Round Table", Jorge Ferreyra de Vasconcellos

Antes de se começar a leitura deste Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, o desconhecedor pode imaginar que o livro é algo ao estilo da colectânea de lendas arturianas de Augusto da Costa Dias que já resenhámos aqui. Na verdade este livro é um romance original, no estilo de romances de cavalarias que é uma espécie de sequela à lenda arturiana original. Este livro, escrito (na única experiência de ficção em prosa) por um dos autores dramatúrgicos da "escola vicentina" que sucedeu a Gil Vicente, Jorge Ferreira de Vasconcelos, é um romance algo longo mas não excessivamente pesado (fora pelas diferenças que a evolução do Português literário sofreu desde os meados-finais do século XVI),teria sido escrito quando Ferreira de Vasconcelos era cortesão da corte (primeiro de D. João III e depois do nosso "velho amigo" D. Sebastião), sendo o texto editado em 1567 (a primeira versão do romance, sob o título Triunfos de Sagramor seria de 1554, mas a versão final tinha algum texto extra e refere D. Sebastião, para além de o prólogo lhe ser dedicado) em Coimbra para esse jovem Rei (como já expliquei), e desejando-lhe que fosse um monarca e cavaleiro cristão no modelo de Artur ou do seu sucessor, Constante Sagramor (herói deste romance), sendo exemplo perfeito do romance épico de cavalaria que seria parodiado (em época de decadência e extinção da cavalaria real) no D. Quixote e, em parte (embora o alvo fosse mais o romance sentimental de aventuras que foi herdeiro do de cavalaria), no Constante Florinda (que também já analisámos aqui), constituído por enredos de amor cortês e aventura, encantamentos sobrenaturais e vários sub-enredos.
A principal narrativa deste livro é em torno do que se passa depois da queda de Artur, sendo sucedido como Rei da Bretanha pelo seu sobrinho Constantino Sagramor (isto é uma fusão original feita pelo autor de duas personagens arturianas, o cavaleiro Sagramore e Constantino III, o sucessor de Artur segundo as crónicas pseudo-históricas; esta fusão é original de Ferreira de Vasconcelos e só o próprio saberá porque o fez, se é que houve alguma razão), que a exemplo do seu tio cria uma Távola Redonda na sua nova capital inglesa e tenta reunir novo grupo de cavaleiros, os melhores do seu tempo (na maioria filhos inventados por Ferreira de Vasconcelos para os cavaleiros dos romances arturianos), para que consigam fazer o ideal da cavalaria sobreviver depois da derrota de Artur e dos seus cavaleiros. Isto faz mais sentido tendo em conta a estrutura da obra: o romance começa com uma "linhagem" da «ordem da cavalaria», que Ferreira de Vasconcelos (como muitos na Idade Média e Renascimento) fazia remontar ao grupo dos heróis da mitologia grega fundado com a conquista da Índia por «Baco Índico» e que incluía Hércules, Teseu, os Argonautas de Jasão (que partiam para a zona do Cáucaso para recuperar para a Grécia um velo de carneiro de ouro), Peleu (pai de Aquiles) e vários heróis gregos até aos cavaleiros de Alexandre o Grande, a cavalaria romana dos equites (cavaleiros) liderados pelo Imperador Augusto (modelo do que a teologia católica chamava de "pagão virtuoso", e antes da cavalaria moderna e completamente histórica passaria pelos 12 pares de França de Carlos Magno, e com os cavaleiros de D. João III (dos quais um torneio factual é descrito com detalhe pelo autor neste romance, misturado com o enredo ficcional de 10 séculos antes) e D. Sebastião. Ora como se vê, entre Augusto e os antigos Romanos de um lado e Carlos Magno no século VIII-IX, havia primeiro Artur, e depois faltava explicar: como tinha a cavalaria sobrevivido depois do fim trágico de Camelot, para chegar a séculos seguintes? Em parte este novo enredo é para responder a isso.
Enquanto o narrador relata as aventuras de Constantino Sagramor no seu esforço de manter a Bretanha independente dos invasores Anglo-Saxões e da influência dos últimos imperadores (com pouco poder) de Roma, combatem Mouros em terras distantes, combatem encantamentos e monstros e outros elementos tradicionais da lenda arturiana que aqui por imaginação própria, o autor aplica a um novo ciclo de sua criação e a um período imediatamente "herdeiro" do anterior. É um livro muito de colectivo e centrado na ideia de recordar várias narrativas relativamente independentes localizadas num passado supostamente histórico (daí "Memorial"), destacando-se enquanto personagens realmente, só o próprio Sagramor e o seu cavaleiro Lucidardos (criação da cabeça de Ferreira de Vasconcelos). Note-se que, imediatamente do início do enredo principal (da Segunda Távola Redonda), Ferreira de Vasconcelos resume a estória de Artur e a Távola Redonda original e consegue acrescentar alguns toques interessantes (por exemplo, ao descrever o fim de Artur, o velho tema de Artur não morrer mas ser levado para a Ilha de Avalon onde não morre mas dorme numa espécie de sono suspenso para voltar um dia como D. Sebastião, é descrito como uma carantonha voadora chegando ao campo de batalha, de lá saíndo uns homens selvagens e levando o Rei dos Bretões para dentro da carantonha, para nunca mais ser visto novamente. É curioso, à luz do que passou a D. Sebastião já depois da escrita deste livro e da lenda que sobre ele se formou, ver aqui este quase 'sebastianismo antes de haver sebastianismo' neste livro no que a um Artur ensanguentado sendo levado para fora do campo de batalha diz respeito (e nem mencionemos a transformação da leva de Artur para Avalon numa cena quase de levada para disco voador à descrição de encontros imediatos pré-modernos).
Entre outras narrativas com elementos de maravilhoso fantástico, chama-me a atenção o episódio que leva o livro ao seu fim (e une enredo pós-arturiano aos tempos de D. João III e D. Sebastião): a feiticeira Merlinda (uma espécie de Merlim “de saias”) permite a Sagramor que tenha uma visão do futuro, da Lisboa quinhentista, e do torneio de Xabregas. Não sendo exactamente per se um enredo aventureiro ou notável, porém é bastante bem escrito e as suas descrições são fortes e vívidas.
Muitos dos livros que temos vindo a analisar neste blogue têm interesse não só por si próprias mas pelas muitas outras obras literárias e inspirações a que deram origens: assim neste vemos a raíz de muito arturianismo e pseudo-arturianismo português e lusófono, do narrar do mito arturiano por Monteiro Lobato na série de livros Sítio do Pica-pau Amarelo, a mitologia e a ficção do sebastianismo e ainda a ficção de inspiração arturianas de autores Galegos a favor do Reintegracionismo do Galego no Português como Daniel Cortezón (como As Covas do Rei Cintolo de 1956).
Para além de estas inspirações maioritariamente indirectas (até porque esta obra nunca foi directamente adaptada; o jogo de vídeo Spirit of Excalibur/"Espírito de Excalibur" send provavelmente o mais próximo com o seu enredo de aventuras de cavaleiros sob Constantino III, embora não chamado Sagramor também aí), o tipo de estórias deste livro mostra-nos uma visão de sociedade e de política, visto que o livro para além de romance, tem no final de cada capítulo recomendações que didacticamente o autor recomendava a D. Sebastião quanto a governo e a ser cavaleiro, mostrando o texto algum louvor (com o suave relativismo cultural dos humanistas renascentistas) de muitos não-cristãos (embora afirmando a superioridade do Catolicismo, ou não fosse o livro publicado durante a regência do Cardeal e líder da Inquisição portuguesa D. Henrique em nome do jovem D. Sebastião), defesa da ética cavaleiresca medieval como revista pelo valores renascentistas e louvor de um modelo de corte que talvez estivesse ultrapassado (e que terminaria na cruzada falhada de Alcácer Quibir) e que o autor achava que poderia ser renovado para uma nova glória com um regresso aos valores de uma Idade Média idealizada, renovados pelo novo humanismo do Renascimento. E é isso que realmente sustenta e dá substância a este livro no seu desequilíbrio entre enredo ficcional e texto didáctico, para além da obra em si já transformar em ficção todo estes tipo de questões, de factos e de valores. Quem quiser confirmar tudo isso por si só, pode encontrar em várias bibliotecas e ainda à venda, principalmente cópias da edição da colecção Grandes Clássicos da Literatura Portuguesa dirigida pelo saudoso Vasco Graça Moura, e muito mais raramente da da Lello Editores que teve primeira edição em 1998 editada pelo falecido escritor e estudioso João Palma-Ferreira, principal historiador das "pérolas" esquecidas da literatura portuguesa (no topo da publicação apresentada).


Before starting the reading of this Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda ("Memorial of the Deeds of the Second Round Table"), the unknowledgeable may imagine that the book is something in the style of collection of arthurian legends by Augusto da Costa Dias that we already outlined here. In truth this book is an original novel, in the style of chivalry novels that is a kind of sequel to he original arthurian legend.This book, written (in the only experience of prose fiction) by one of the "vicentine school" playwrights that succeeded to modern Portuguese theatre founder Gil Vicente, Jorge Ferreira de Vasconcelos, is a somewhat long but not excessively heavy novel (aside the differences that literary Portuguese's evolution suffered since the mid-late-16th century), would have been written when Ferreira de Vasconcelos was courtly courtesan (first of Don John III and afterwards of our "old friend" Don Sebastian), being the text published in 1567 (the first version of the novel, under the title Triunfos de Sagramor/"Triumphs of Sagramore" would be from 1554, but the final version had some extra text and refers Don Sebastian, besides the prologue being dedicated to him) in Coimbra for that young King (as I already explained), and wishing him that he were a monarch and Christian knight in the model of Arthur or of his successor, Constans Sagramore (hero of this novel), being perfect example of the chivalry epic novel that would be parodied (in time of decadence and extinction of the real chivalry class) in the Don Quijote and, in part (although the target were more the adventure sentimental romance that was heir to the chivalry one), in the Constante Florinda/"Constant Florinda" (which we also already analysed here), made out of plots of courtly love and adventure, supernatural enchantments and several subplots.
The main narrative of this book is around what passes by after the fall of Arthur, being succeeded as King of Britain by his nephew Constantino Sagramor ("Constantine Sagramore"; this is an original fusion done by the author of two arthurian characters, the knight Sagramore and Constantine III, Arthur's successor according to the pseudo-historical chronicles; this fusion is original to Ferreira de Vasconcelos and only he himself would know why hedid it, if there is any reason), who on his uncle's example created a Round Table in his new English capital and tries to gather new group of knights, the best of his time (mostly sons made-up by Ferreira de Vasconcelos for the knights from the arthurian novels), so that they can make the ideal of chivalry survive after the defeat of Arthur and his knights. This makes more sense having in mind the structure of the oeuvre: the novel starts with a "lineage" of the «order of chivalry", which Ferreira de Vasconcelos (as many in the Middle Ages and Renaissance) made go far back to the conquest of India by «Indian Bacchus» and which included Hercules, Theseus, Jason's Argonauts (which departed to the Caucasus zone to recover for Greece a golden ram's fleece), Peleus (Achilles' father) and several Greek heroes till the knights of Alexander the Great, the Roman cavalry of the equites (knights) lead by Emperor Augustus (model of what Catholic theology called a "virtuous pagan"), and before the modern chivalry and completely historical would pass by Charlemagne's 12 peers of France, and with Don John III's knights (of whom a factual tournament is described with detail by the author in this novel, mixed with the fictional plot from 10 centuries before) and Don Sebastian). Well how it is seen, between Augustus and the ancient Romans on one side and Charlemagne in the 8th-9th century, there was first Arthur, and afterwards it was to be explained: how had chivalry survived after the tragic end of Camelot, to get to the following centuries? Partly this new plot is for answering that.
Whle the narrator reports the adventures of Constantine Sagramore in his effort of keeping Britain independent from Anglo-Saxon invaders and from the influence of the last Emperors (with little power) of Rome, combat Moors in distant lands, combat enchantments and monsters and other traditional elements of the arthurian legen that here by his own imagination, the author applies to a new cycle of his creation and to an immediately "heir" period to the previous. It is a very collective book and centered in the idea of remembering several relatively independent narratives located on a supposedly historical past (hence "Memorial"), highlighting themselves while characters really, only Sagramor himself and his knight Lucidardos (creation of Ferreira de Vasconcelo's head). Let it be noted that, immediately from the beginning of the main plot (the Second Round Table), Ferreira de Vasconcelos summarises the story of Arthur and the original Round Table and can add interesting detals (for example, at describing Arthur's end, the old theme of Arthur not dying but being taken to the Island of Avalon where he does not die but sleeps in a kind of suspended sleep to return one day like the Sleeping Hero like Don Sebastian for the Portuguese, is described as a flying Jessant arriving to the battlefield, from it exiting some savage men and taking the King of the Britons unto inside the Jessant, for never to be seen again. It is curious, in light of what went down with Don Sebastian already after the writing of this book and of the legend that on him did form itself, to see here almost a 'sebastianism before there being sebastianism' in this book in what to an Arthur being taken outside a battlefield concerns (and lets not even mention the transformation of the taking of Arthur to Avalon into a scene almost of take-away unto flying saucer pre-modern close encounters description-style).
Among other narratives with elements of fantastical wondrous, it calls unto my attention the episode that takes the book to its ending (and unites post-arthurian plot to the times of Don John III and Don Sebastian): the sorceress Merlinda (a kind of “lady Merlin”) permits to Sagramor that he have a vision of the future, of the fifteen-hundredth Lisbon, and of he tournament of Lisbon's Xabregas place. Not being exactly per se an adventurous or remarkable plot, yet it is quite well written and its descriptions are strong and vivid.
Many of the books that we have come to analyse on this blog have interest not only on themselves but for many other literary works and inspirations to which they gave root to: so in this we see the root of many Portuguese and lusophone arthurianism and pseudo-arthurianism, from the narrating of the arthurian myth by Monteiro Lobato in the Sítio do Pica-pau Amarelo/Yellow Woodpecker Ranch-farm book series, the mythology and the fiction of sebastianism and moreover the fiction of arthurian inspiration of Galician authors in favour of Galician language's Reintegrationism into the Portuguese language like Daniel Cortezon (like As Covas do Rei Cintolo/"The Caves of King Cintolo" from 1956).
Besides these mostly indirect inspirations (even because this work never was directly adapted; the videogame Spirit of Excalibur being probably the closest with its plot on adventures of knights under Constantine III, although not called Sagramore too there), the type of stories from this book shows us a vision of society and of politics, seen that the book besides novel, has at the end of each chapter recommendationsthat didactically the author recommended to Don Sebastian about government and being a knight, showing the text some apraisal (with the suave cultural relativism of the Renaissance humanists) of many non-Christians (although stating the superiority of Catholicism, or were it not a book published during the regency of the Cardinal and leader of the Portuguese Inquisition Don Henrique on the young Don Sebastian's name), defense of the medieval chivalrous ethics as revised by the Renaissance values and apraisal of a model of cour that maybe was oudated (and that would end in the failed crusade of Alcazar El-Kebir) and which the author thought so that it could be renewed for a new glory with a return to the values of an idealised Middle Ages, renewed by the Renaissance's new humanism. And it is that that really supports and gives substance to this book in its unbalance between fictional plot and didactical text, besides the work in itself lready transforming into fiction all this type of issues, of facts and of values. Who may wish to confirm all tis for themselves, may find in several Portuguese libraries and still for sale, mainly copies of the edition from the Grandes Clássicos da Literatura Portuguesa ("Great Classics of Portuguese Literature") directed by the nostalgia-worthy poet/scholar Vasco Graça Moura, and much more rarely the Lello Editores one that had first edition in 1998 published by the late writer e scholar Joao Palma-Ferreira, main historian of forgotten "perls" from Portuguese literature principal historiador das "pérolas" esquecidas da literatura portuguesa (at the post's top presented).

sexta-feira, 24 de julho de 2015

"A Mantilha de Beatriz", Manuel Pinheiro Chagas // "The Mantilla of Beatriz", Manuel Pinheiro Chagas

Ao longo deste blogue, Pinheiro Chagas tem vindo a ser um dos autores que mais "cobrimos", e os períodos cobertos pelas suas obras (em obras dele e de outros), i.e., a história de Portugal dos Descobrimentos até aos princípios do século XIX, têm vindo a ser períodos históricos mais cobertos por obras analisadas aqui. Mas será porventura este romance, A Mantilha de Beatriz, aquela obra deste autor e sobre esta época que mais realisticamente e com mais qualidades estilísticas formais retrata este período, dando uma narrativa das que mais impressiona, surpreende e agrada ao leitor na passagem de um retrato desse período passado. E isto diz muito tendo em conta que obras igualmente fortes deste autor sobre este longo período da história de Portugal, como A Jóia do Vice-Rei, A Máscara Vermelha e Os Guerrilheiros da Morte, também passaram por publicações deste blogue.
Deve-se porém ter em conta que eu uso da expressão "realisticamente" não para querer dizer que a narrativa aqui apresentada neste «romance original» (como Pinheiro Chagas chamava aos seus romances históricos não plenamente baseados na história real) é real e histórica, mas somente para expressar que a ficção deste enredo o encaixa nalguns eventos e factos históricos políticos e afins, e a intriga é essencialmente realista no que mostra quer da natureza humana em termos de dinâmica amorosa e de intriga política, como irei demonstrar descrevendo mais a fundo esta obra.
O livro começa com um mecanismo de meta-ficção (a abordagem a uma obra de ficção que abertamente trabalha ou discute o facto de a obra de ficção ser exactamente isso). O livro começa com um representante diplomático em Madrid do Reino de Portugal no tempo de D. Pedro II (portanto, pouco depois de a Guerra da Restauração ser vencida e de Portugal ver a sua independência reconhecida pelo antigo ocupante Espanha) a visitar um dos teatros populares apinhados da época da "Idade de Ouro do Teatro Espanhol", e assistir a uma peça em que surge uma caricatura do Português como amante piegas e intenso (caricatura que devo dizer, era "endémica" do teatro espanhol da altura, tendo até sido aplicado a D. Afonso Henriques na curiosa peça Las quinas de Portugal de Tirso de Molina), e ofendido o diplomata quase chega a "lavar a honra" à espadeirada, não fora outro Português no público, João de Matos Fragoso (dramaturgo Português histórico radicado em Espanha nesta época e que escreveu em Castelhano peças ao estilo da Espanha da época), o avisou de que a peça era antiga e não um ataque directo a Portugal devido à guerra de independência recente. Depois do primeiro contacto, lidando amizade entre si, Matos Fragoso convida o diplomata (Francisco de Mendonça), a vir consigo a um jantar do autor da peça, Pedro Calderón de la Barca. É nesse jantar que Mendonça elogia o autor Espanhol mas diz-lhe que tem uma estória que daria uma peça muito melhor que as que o autor já escrevera. E assim ele começa a narrar a estória da sua vida em torno do casamento com uma loira fidalga chamada Beatriz. Ora isto é meta-ficcional, porque a verdade é que Pinheiro Chagas inspirou o enredo deste romance na peça Antes que todo es mi dama de Calderón de la Barca (e não No son todos ruiseñores de Felix Lope de Vega por vezes atribuído erradamente a Calderón como alguns resumos do livro erradamente afirmam), só que P. Chagas atribui a inspiração original a esta narrativa ficcional "colada" a figuras históricas, e assim a inspiração do livro torna-se assim retroactiva e ficcionalmente peça inspirada no enredo deste romance (quem tiver nós na cabeça nesta altura está desculpado).
Pedro Calderón de la Barca
Ora o enredo propriamente dito começa em torno do Francisco de Mendonça de anos antes, ainda reinava Afonso VI, quando depois de dar uma estocada quase mortal num tal de D. Estevão de Portugal, foge do seu Porto para Lisboa, onde é salvo de uns bandidos por outro jovem chamado Luís, do qual se torna amigo, e algum tempo depois disso, andando pela rua vê uma mantilha cair dos cabelos de uma dama às águas do Tejo e não querendo entregá-la de volta à dona para a manter como recordação, envia à dita Beatriz (pela qual se interessa, e a qual se interessa por ele) uma outra mantilha substituta pela amiga da jovem, Clara, o que cria um 1.º problema porque isto é confundido com Francisco cortejar Clara, e portanto depois o pai de Beatriz, D. Álvaro de Mascarenhas, fica com a falsa impressão de que o jovem Portuense namora as duas, mas depois de algumas peripécias, graças a Gonçalo, o criado de Francisco (que não é santo mas é um grande casamenteiro, para além de querer ele próprio namoriscar a criada dos Mascarenhas, Inês), seguindo-se outra confusão mesmo assim: D. Álvaro é amigo do pai de Francisco e vai à estalagem perguntar por ele para interceder por ele ante a corte, mas o amigo Luís, temendo que o nobre viesse por causa de um duelo, disse-lhe ser ele próprio Francisco, obviamente criando um cenário de comédia de enganos. O enredo centra-se depois principalmente em duas linhas nas quais se sucedem vários eventos. Uma é pessoal, em torno destas personagens principais, rodeando o cenário de enganos criado com o assumir de falsa identidade por Luís, que se adensa quando o altivo e intempestivo D. Estevão de Portugal (afinal irmão de Clara, amiga de Beatriz) vem do Porto para Lisboa, recuperado, não só para acertar contas mas ele próprio interessado em desposar Beatriz, seguindo-se tanto duelos de capa-e-espada como enganos de comédia...
Cartaz de uma produção moderna de Antes que todo es mi dama
E a outra linha é política, em torno da carreira diplomática de Francisco e os principal eventos políticos que ocupam Portugal ao longo dos anos em que a estória de Francisco e Beatriz se vai passando, a Guerra de Restauração continuada pelo filho de D. João IV, D. Afonso VI, e a crise política em torno do destronar deste Rei considerado louco, que ajudam a dar mais "musculatura" e "esqueleto" ao enredo e a torná-lo mais sério para não criar demasiada tensão entre o cómico da comédia de erros e o aventureiro dos duelos e afins, dando assim qualquer coisa da seriedade (no melhor sentido da palavra) de um romance de capa-e-espada politizado à O Homem da Máscara de Ferro de Dumas, Pai a esta obra que seria somente um romance histórico com enredo "à margem" da história real e uma simples aplicação do enredo da peça de Calderón de la Barca numa nova obra, sem isso.
No fim, D. Afonso VI é substituído pelo seu irmão D. Pedro e internado em Sintra (isto não conta como revelações-do-enredo visto que qualquer pessoa com um livro de história pode ver isto), a Guerra da Restauração conclui-se sobre o 3.º rei da IV Dinastia, e tudo acaba em bem também na "frente pessoal" do romance, com Beatriz casando com Francisco, Clara com Luís, Estevão partindo para o Brasil e Gonçalo aparentemente estando destinado para não muito tempo depois disso casar com a criada Inês. E, claro, Calderón de la Barca ganhou um enredo para uma peça de teatro nova.
Assim, como na peça original, Francisco não tem que concluir senão que, antes que qualquer outra coisa e independentemente de todas as complicações ou problemas que Beatriz lhe traga, ela é a sua dama. E no caminho até essa conclusão, encontramos lições sobre a ganância e violência das tramas do poder (no episódio político do destronar de D. Afonso VI), mostras do lado mais excêntrico e menos louvável da classe aristocrática, e como os enganos criados mesmo por boas intenções e para auxiliar os melhores amigos acabam sempre por criar os seus problemas (embora devam inevitavelmente ser postos de lado para que a felicidade possa ser alcançada pelos envolvidos). Finalmente devo notar que o livro ainda é relativamente comum em muitas bibliotecas municipais ou escolares em edições da Europa-América dos anos de 1980, anteriores de outras editoras ou dos anos de 1990 da colecção Clássicos Juvenis TVI editada pela Verbo Juvenil da Editorial Verbo, por vezes surgindo mesmo nas mesmas bibliotecas em edições antes dos anos '90 na secção adulta/genérica da biblioteca e na edição da Verbo Juvenil na secção infanto-juvenil.
Não se esqueça ainda a adaptação (que já aqui referi) d'A Mantilha de Beatriz ao cinema de 1946 em co-produção luso-espanhola realizada por Eduardo G. Maroto.


Along this blog, Pinheiro Chagas has come to be one of the authors that the more "we have covered", and the periods covered by his works (in works of his and of others), i.e., the history of Portugal from the Discoveries till the beginnings of the 19th century, have come to be most covered historical periods by works analysed here. But it would be haply this novel, A Mantilha de Beatriz ("The Mantilla of Beatriz"/"Beatrix's Mantilla"), that work by this author and on this period that more realistically and with more stylistic formal qualities portrays this period, giving a narrative among the ones that impress, surprise and please to the reader on the passage of a portrayal of that past period. And that says much having in mind that equally strong works of this author's on this long period of Portugal's history, like A Jóia do Vice-Rei/"The Jewell of the Vice Roy", A Máscara Vermelha/"The Red Mask" e Os Guerrilheiros da Morte/"The Guerrillas of Death", also passed by posts from this blog.
It must he held in account that I make use of the expression "realistically not to mean that the narrative here presented in this «original novel» (as Pinheiro Chagas called to his historical novels not fully based on real history) is real and historical, but murely to express that te fiction of this plot fits it in some events and political historical facts and the like, and the intrigue is essentially realisic in what it shows both of the human nature in terms of love dynamic and of political intrigue, as I shall demonstrate describing more deeply this work.
The book starts with a mecanism of metafiction (the approach to a work of fiction that openly works on or discusses the fact that the work of fiction is exactly that). The book starts with a diplomatic representative in Madrid from the Kingdom of Portugal in Don Pedro II's time (hence, little after the Portuguese Restoration War being won and Portugal having its independence recognised by the former occupier Spain) visiting one of the crowded popular theatres of the "Golden Age of Spanish Theatre", and watching a play in which it comes up a caricature of the Portagee as mushy and intense lover (caricature that I must say rather "endemic" to the Spanish theatre of the time-point, having even been applied to founder Don Alfonso Henriques in the curious play Las quinas de Portugal/"The Cinque Shields of Portugal" by Tirso de Molina), and offended the diplomat almost gets to "wash his honor" by sword blows, had it not been another Portuguee in the audience, Joao de Matos Fragoso (historical Portuguese playwright established in Spain at this period an who wrote in Castilian plays to the style of the Spain of the period), and warned that the play was ancient and not a direct attack on Portugal due to the recent independence war. After the first contact, stricking friendship amongst themselves, Matos Fragoso invites the diplomat (Francisco de Mendonssa), to come with him to a dinner of the play's author, Pedro Calderon de la Barca. It is in that dinner that Mendonssa praises the Spanish author but tells him that he got a story that would give a much better play than the ones the author already had written. And so he begins to narrate the story of his life around the marriage to a blond landed-lady called Beatriz. Well now this is metaficional, because the truth is that Pinheiro Chagas inspired the plot of this novel on the play Antes que todo es mi dama ("Before all it is my dame") by Calderon de la Barca (and not No son todos ruiseñores/"They're not all nightinghales" by Felix Lope de Vega somestimes tributed wrongly to Calderón as some book abstracts wrongly state), only that P. Chagas attributes the original inspiration to this fictional narrative "glued" to historical figures, and so the inspiration to the book becomes retroactively and fictionally a play inspired in the plot of this novel (whoever might have their head tied into a knot by now is excused).
Pedro Calderon de la Barca
Well the plot proper begins around the Francisco de Mendonssa from years before, it still reigned Alfonso VI, when afterwards to giving a stab almost deadly on some Don Estevao de Portugal, runs away from his Oporto to Lisbon, where he is saved from some bandits by another man called Luis, of whom he becomes friend, and some time after that, walking by the street sees a mantilla falling down from the hairs of a dame into the Tagus waters and not wanting to deliver it to the lady for keeping it as souvenir, sends to said Beatriz, for whom he interests himself in, and who interests herself in him) one other replacement mantilla through the young-woman's friend, Clara, what creates one 1st problem because this is confused with Francisco courting Clara, and hence afterwards Beatriz's father, Don Alvaro de Mascarenhas, gets with the false impression that the young Oporto native romances both, but afterwards to some mishaps, thanks to Gonssalo, Francisco's servant (who is no saint but is a great matchmaker, besides wanting he himself to flirt the maid of Mascarenhas, Inez), following itslf another confusion even so: Don Alvaro is friend to Francisco's father and goes to the inn ask for him and intercede for him before the court, but the friend Luis, fearing that the nobleman came on account of a duel, told him he was Francisco himself, obviously creating a scenari of comedy of errors. Th plot centers itself afterwards mainly on two lines in which it come in succession several events. One is personal, around thse main characters, surrounding the scenario of deeptions created with the assuming of false identity by Luis, that thickens when haughty and thunderous Don Estevao de Portugal (after-all brother of Clara, friend of Breatriz) comes from Oporto to Lisbon, recovered, not only to settle scores but he himself interested in bewedding Beatriz, following themselves as much swashbuckling duels as comedy deceptions...
Poster of a modern production of Antes que todo es mi dama
And the other line is political, around the diplomatic career of Francisco and the main political events that occupy Portugal along the years in which the story of Francisco and Beatriz goes passing itself, the Portuguese Restoration War continued by restorer Don John IV's son, Don Alfonso VI, and the political crisis around the overthrowing of this king, considered mad, that help to give more "musculature" and "skeleton" to the plot and to turn it more serious for not creating too much tension between the comical of the comedy of errors and the adventurous of duels and the like, giving something of seriousness (n the best sense of the word) of a politicised swashbuckler novel Dumas Père's The Man in the Iron Mask-style, to this work that would be merely a historical novel with plot "to the sidelines" of real history and a mere appliyng of the plot of Calderon de la Barca's plot into a new work without it.
In the end, Don Alfonso VI is replaced by his brother Don Pedro and is committed in Sintra (this does not count as spoilers seen that any person with a history book can check this), the Portuguese Restoration War concludes itself under the 3rd king of Portugal's IV dynasty, and all ends well in the novel's "personal front", with Beatriz marrying with Francisco, Clara with Luis, Estevao leaving for Brazil and Gonzalo apparently being destined for not long after that marrying with the maid Inez. And, of course, Calderon de la Barca gained a plot for a new theatre play.
So, as in the original play, Francisco does not have but to conclude that, before any other thing and independently from all complications or problems that Beatriz might bring him, she is his dame. And on the path to that conclusion we find lessons on greed and violence of the power plays (in the political episode of the overthrowing of Don Alfonso VI), shows of more excentric and less praiseworthy sides of the aristocratic class, and how the deceptions created even for good intentions and for aiding our best friends end up always by creating problems to it (although they must be inevitably be cast aside so that the happiness may be reached by the involved parties). Finally I must note that the book is still relatively common in many Portuguese municipal or school libraries in 1980s Europa-América publisher's editions, previous ones from other publishers or from the 1990s on the Clássicos Juvenis TVI ("Portuguese Independent Television Young-people's Classics") collection published by Editorial Verbo publisher's Verbo Juvenil publishing seal, sometimes appearing even in the same libraries in editions before the '90s on the grown-up/generic section of the library and in the Verbo Juvenil edition on the children's/young-people's section.
Let it not be forgotten moreover the adaptation (that I already mentioned here) o' Beatrix's Mantilla to cinema from 1946 in Portuguese-Spanish co-production directed by Eduardo G. Maroto.

sábado, 18 de julho de 2015

"Os Homens da Cruz Vermelha", Carlos Pinto de Almeida // "The Men of the Red Cross", Carlos Pinto de Almeida

Carlos Pinto de Almeida não será um nome familiar para a maioria dos leitores desta publicação. Não é sequer comummente estudado no ensino português ou outros lusófonos, ou mencionado na maioria das enciclopédias ou dicionários de literatura. Mas para aqueles que ainda o conhecem e lêem, o nome do autor Lisboeta radicado na Golegã é sinónimo de aventuras, narrativas de piratas, guerreiros Árabes e resistências portuguesas de períodos passados, de lutas por honra e narrativas à moda do orientalismo exótico (embora todos estes elementos, fora as aventuras, resistências portuguesas de períodos passados e lutas por honra, estejam presentes noutros livros do autor que não este).
Antes de começar a escrever nos meados-final do século XIX, época de florescer da literatura moderna pós-Romântica portuguesa e do Portugal da Regeneração, Pinto de Almeida fora um burocrata do governo local da Golegã, vindo de fundo familiar pouco notável e que acabou por escrever para vários períodicos da imprensa da altura (como o Diário de Notícias), em que se notabilizou principalmente por folhetins ficcionais, para além de traduzir obras sobre temas de discussão religiosa e histórica (como a obra do Francês Renan sobre o possível Jesus histórico que já referimos a propósito de A Relíquia), escrevendo também obras suas do mesmo tipo e alimentando folhetos de polémica anti-clerical. Foi na literatura e no anticlericalismo liberal que Carlos Pinto de Almeida encontrou a sua vocação e a sua filosofia pessoal.
De funcionário público "de baixa patente" a jornalista, tradutor e polemista ele passou a escritor, e aproveitando a lenta alfabetização da pequena-burguesia e da classe baixa com posses para escrever para um novo público interessado em narrativas tardo-Românticas de aventura e heroísmo em terras distantes exploradas pelos Portugueses, ou ainda menos conhecidas, ou pelo menos indo ao "país estrangeiro" do passado (relativamente recente, no caso da maioria da sua obra), que atraíam principalmente jovens leitores que queriam conhecer novas realidades, e o passado, de formas mais agradáveis que pelos compêndios eruditos, lendo antes estes livros que lhes mostravam aventuras que no final do século XIX europeu burguês e levemente industrial já não havia e "formar-lhes" o espírito para o patriotismo e a vida moral adulta.
E foi com esses fitos que este autor nos apresentou a D. Álvaro, nobre do tempo das Invasões Franceses (a que voltamos novamente, espero que sem problema para os nossos leitores), que é uma figura honrada que tentava servir de casamenteiro entre D. José, seu amigo, e D. Beatriz, uma dama de condição superior (mesmo sendo todos da aristocracia; como se sabe todas as classes sociais têm dentro delas as suas graduações); D. Álvaro serve aqui como um símbolo de um tipo de aristocrata já extinto à altura da publicação original deste livro (em 4 volumes) em 1880, depois das Invasões Francesas e da implantação do regime liberal. Além deste foco sentimental (que dá sempre jeito para dar um núcleo forte para um enredo longo e com muita expansão no tempo e em detalhes de acção), Álvaro e José, como muitos neste tempo, viram-se forçados pelas circunstâncias a juntar-se a uma luta inicialmente puramente de guerrilhas populares (como vimos na publicação anterior), para tentar salvaguardar o seu país (e, mais pessoalmente, a vida que tinham e que a criação de uma nova classe dominante sob a ocupação francesa ameaça terminar), com um grupo de patriotas diverso incluindo militares, polícias, advogados, frades, uma versão masculina da beata de igreja e o Capitão Mateus, um fanfarrão de aldeia extremamente patriota (personagem extravagante sempre interessante de "ver" agir).
Ao longo destes quatro volumes há demasiados detalhes para descrever demasiado a fundo sem ou alongar demasiado a publicação ou revelar demasiado do livro(s) em causa, mas devo tornar claro que ao longo do enredo claramente definido em termos de estrutura geral (a situação sentimental José-Beatriz a resolver e a Invasão a derrotar) mas também muito episódico, há imensos combates, perseguições, capturas, libertações, "justicialismo" a trabuco e punhal ou faca e alguidar, personagens que entram em cena e desaparecem ou falecem de todo (de idade ou da guerra), vinganças dos mortos, e vemos a divisão dos Portugueses, com alguns, por razões políticas (como alguns liberais pró-Franceses, como vimos em Os Guerrilheiros da Morte) ou razões pessoais, auxiliando o Exército de Napoleão Bonaparte.
"Insisto, quero falar a Sua Alteza." (cena do III volume)
Neste caso, felizmente, os 4 volumes significam mais um enredo bem desenvolvido e não apressado ou excessivamente condensado do que uma leitura pesada ou imensamente arrastada, sendo um deleite ler esta narrativa desde ainda antes da 1.ª Invasão Francesa (começando o enredo narrando a paz relativa da Europa em 1802, com a França a recuperar da violenta revolução e com Napoleão a converter a república numa monarquia imperial consigo como soberano, e descrevendo a vida dos seus personagens ficcionais nesse ano) até maquinações de alguns personagens fidalgos para seu lucro pessoal (possivelmente envolvendo os Franceses). Depois de muitas aventuras dos personagens narrados e outros dos seus "coadjuvantes" (talvez dos mais interessantes de ler sendo Mateus), vemos a 1.ª Invasão Francesa (este livro cobre menos ainda do período total das Invasões Francesas de Portugal que a Os Guerrilheiros da Morte) a evoluir até ao seu fim, sendo derrotada e seguindo-se à Convenção de Sintra (ou na grafia da época das Invasões e da publicação original do livro, «Cintra») de 1808 o terror de nobres traidores que cairão como que fulminados pelo terror de serem deixados sozinhos com a ausência dos protectores estrangeiros (embora estes fossem regressar em breve, mas claro que na altura ninguém, talvez nem mesmo os militares Franceses, poderia saber tal coisa), e seis meses depois disso associados de um dos nobres traidores pedem perdão aos que injustiçaram, tendo as antigas vítimas tomado conta dos filhos inocentes de tais pais, para além de Álvaro desposar Beatriz no lugar de José (é uma longa história que é melhor confirmarem nos volumes III e IV), outros heróicos resistentes à invasão são promovidos na hierarquia militar, continuam com sucesso profissões do pré-guerra, conseguem posições na polícia (e mantêm intimidade com nobreza local), são recompensados monetariamente e em terras por D. Álvaro, conseguem a atraente posição de mordomo da parte dos seus empregadores, retornam ou ingressam pela primeira vez na vida conventual (expiando os Franceses que haviam ajudado «a mandar para a eternidade») ou (no caso do Capitão Mateus) continuando a ser fanfarrões e muito patriotas como sempre (mas fugindo ao chefe de repartição da polícia e ex-companheiro na guerra, segundo o autor por lá ter «as suas razões»), um final e uma caracterização de acordo com a visão romantizada deste autor (como de outros deste período ou depois) de pequenos heróis locais de província, filibusteiros, algo troca-tintas, mas mesmo assim aventureiros e agradáveis (como aliás, muitos dos outros 'heróis menores' da guerrilha deste romance).
Neste romance, para além do deleite de romance de aventuras, temos a escrita polida dos autores mais eruditos do século XIX e a apresentação de informação histórica e geográfica sobre as várias partes de Portugal percorridas ao longo do enredo (e mesmo algumas referências soltas ao resto da Europa). É curioso porém saber que Carlos Pinto de Almeida era um homem essencialmente livresco, que não tivera experiência militar de conta nem grandes aventuras "em pessoa" na sua vida e com poucas viagens pelo mundo na altura em que começou a sua carreira de escritor de ficção de aventuras (primeiro em publicações e depois em livros), tendo assim pouca experiência ou conhecimento pessoal de grupos de guerrilheiros (lembremos que poderia tê-la em Portugal, com os muitos guerrilheiros e salteadores miguelistas ou liberais do Portugal pré-Regeneração e mesmo dos primeiros anos desse período, os mais tardios tendo sido o bando do Zé do Telhado no Minho e Douro Litoral e a guerrilha e bando de João Brandão nas Beiras, ou poderia tê-la em Espanha com as várias guerrilhas ditas Carlistas até aos anos de 1870), viajantes ou exércitos invasores. A sua matéria factual para criação vinha quase toda de livros de história, compêndios e jornais, para além do seu estilo e alguma da "musculatura" para as suas aventuras vir de imitação de livros de material de aventura e guerra nos romances históricos mais medievalistas de Alexandre Herculano (que já aqui vimos no Eurico, o Presbítero), cujo estilo ele passou para épocas mais próximas do seu tempo (seguindo exemplo de outros romancistas históricos do seu tempo). Desta mistura de criatividade e imaginação do autor, criou-se este romance ainda hoje bastante legível, interessante pelo seu discurso em termos do valor da aventura para formação de carácter ou do patriotismo, e a crítica que faz ao puritanismo eclesiático nas figuras do frade (embora não atacando abertamente ou totalmente a crença ou a religião como todo), para além da crítica que dá a excessos ideológicos ou de interesse de classe pessoal (principalmente de elites que traem a sua própria nação pelo seu lucro pessoal), de forma que ainda encontramos o legado de livros como este ou Os Guerrilheiros da Morte, por exemplo, em filmes como As Linhas de Wellington de 2012, que sendo obras originais ainda têm porém a filosofia subjacente e a abordagem ficcional e de enredo e tipo de personagens (em elencos alargados) destes dois romances de pouco mais de um século antes, e, mais romantismo menos romantismo, a abordagem mantém-se sempre actual e atraente nos seus "esqueletos" básicos (apesar de o filme cobrir a última das 3 invasões e não o início das invasões como os dois romances que por aqui passaram).
Quase que poderia ser um filme de Os Homens da Cruz Vermelha, mas não é
Quanto ao livro, é raro de achar em bibliotecas (existe na Biblioteca Nacional de Portugal) e tem quase nenhumas edições modernas, mas encontram-se os 4 volumes no Internet Archive.


Carlos Pinto de Almeida would not be a familiar name to the majority of this post's readers. It is not even commonly studied in the Portuguese or other Portuguese-speaking teaching-systems. But for those who still know him and read him, the name of the Lisboner writer established on Golegan town is synonymous with adventures, narratives of pirates, Arabian warriors and Portuguese resistances of past periods, of fights for honour and narratives in the fashion of the exotic orientalism (although all these elements, aside the adventures, Portuguese resistances of past periods and fights for honour, are present in other books of he author not this one).
Before starting to write in the mid-late-19th century, time of florishing of the Portuguese modern post-Romantic literature and the Portugal of the Regeneração/Regeneration, Pinto de Almeida had been a Golegan local government bureaucrat, coming from little remarkable a family background and who ended writing for several press periodical of the time-point (as the Diário de Notícias/"News Daily"), in which he became noticed mainly for fictional feuilletons, besides translating works on religious and historical discussion themes (as the work by the Frechman Renan on the possible historical Jesus that we already refered about A Relíquia/The Relic), writing also works of his in the same type and feeding fliers of anti-clerical polemics. It was in literature and on liberal anticlericalism that Carlos Pinto de Almeida found his calling and his personal philosophy.
From "low rank" public servant to journalist, translator and polemicist he passed to writer, and taking advantage of the slow alphabetisation of the petite bourgeoisie and of the property-owning lower class to write for a new audience interested in late-Romantic narratives of adventure and heroics in distant lands explored by the Portuguese, or even less known, or at least going tot he "foreign country" of the past (relatively recent, in the case of most of his oeuvre), that attracted mainly young readers that wanted to know new realities, and the past, in more agreeable ways than by the scholarly compendia, reading instead these books that showed them adventures that at the bourgeois and lightly industrial European late-19th century there were no longer and "to form them" the spirit into patriotism and the adult moral living.
And it was with those goals that he introduced us to Don Alvaro, nobleman from the French invasions time (to which we comeback, I hope that without problem for our readers), who is a honoured figure that tried to serve as matchmaker between Don Jose, his friend, and Dona Beatriz, a dame of superior standing (even being all from the aristocracy; as it is known all the social classes got within themselves their gradings); Don Alvaro serves here as a symbol of a type of aristocrat already extinct at the time of this book's original publication (in 4 volumes) in 1880, after the French Invasions and the liberal regime's establishing. Besides this sentimental focus (that comes always handy for a strong core to a plot long and with much expansion in time and in action details), Alvaro and Jose as many at this time, saw themselves forced by the circunstances to join up to a struggle initially purely of popular guerrillas (as we saw on the previous post), to try to safeguard to their country (and, more personally the life that they had and that the creation of a new ruling class under the French occupation threatened to finish-off), with a diverse group of patriots including military-men, policemen, barristers, friars, a male version of the church-lady and the Captain Mateus, an extremely patriot village boaster (extravagant character always interesting to "see" act).
Throughout these four volumes there are too many details to describe too deeply without either stretching out too much the post or revealing too much of the book(s) at stake, but I must make clear that throughout the plot clearly defined in terms of general structure (the Jose-Beatriz sentimental situation to sort out and the invasion to defeat) but also very episodic, there are loads of combats, chases, captures, releases, "vigilantism" by trebuchet and dagger or cloak and dagger, characters that enter the stage and disappear or pass-away at all (out of age or of the war), revenges on the dead, and we see the division of the Portuguese, with some , for political reasons (like some pro-French liberals, as we saw in Os Guerrilheiros da Morte/"The Guerrillas of Death") or personal reasons, aiding to the Army of Napoleon Bonaparte.
"Insisto, quero falar a Sua Alteza" ("I do insist, I want to talk to His Highness." (scene from the III volume)
In this case, fortunately, the 4 volumes mean more a well developed and not rushed or excessively condensed than a heavy or immensely dragged-out read, being a delight to read this narrative from just before the 1st French invasion (starting the plot narrating the relative peace of Europe in 1802, with France recovering from the violent revolution and with Napoleon converting the republic into an imperial monarchy with himself as sovereign, and describing the life of his fictional characters that year) till machinations of some landed-gents for their personal profit (possibly involving the French). After many adventures of the narrated characters and other "adjunct" characters of theirs (maybe out of them most interesting to read being Mateys), we see the 1st French Invasion (this book covers even less of the total period of the French Invasions than The Guerrillas of Death) evolving till its end, being defeated and following itself the Convention of Sintra (oe in the spelling of the period of the Invasions and of the book's original publication, «Cintra») from 1808, the dread of the traitor nobles that shall fall as if smited by the terror of being left alone in the absence of the foreign protectors (although these were to return soon, but of course that at the time nobody, maybe not even the French military, could have known such a thing), and six months after that associates of one of the treasonous nobles that ask for forgiveness to the ones they done wrong to, having the former victims taken care of the innocent children of such parents, besides Alvaro beweding Beatriz in Jose's stead (it is a long story that is better for you to check yourself in the III and IV volumes), other heroic resistance-fighters to the invasion ar promoted on the military hierarchy, they continue with success pre-war jobs, achieve positions in the police (and keep intimacy with the local nobility), are rewarded monetarily and in lands by Don Alvaro, get attractive positions of butler from the part of his employers, returning or joining-in for the first time into the convent life (attoning for the French that they'd helped «send into eternity) or (in the case of the Captain Mateus) continuing to be boasters and very much so as patriotic as always (but running away to the police departmment's chief and ex-war companion, according to the author for having «his reasons»), an ending and a characterisation in agreement with this author's romanticised vision (as the one of others of this period or afterwards) of small provincial local heroes, filibusters, somewhat daubers, but even so adventurers and agreeable (as more so, many of the other guerrilla 'minor heroes' of this novel).
In this novel, besides the delight of the adventure novel, we got the polished writing of the more erudite 19th century authors and the presentation of historical and geographical information on the several parts of Portugal treaded along the plot (and even some loose references to the rest of Europe). It is curious to know that Carlos Pinto de Almeida was an essentially bookish man, who did not have militry experience nor grand adventures "in person" in his life and with few travels through the world at the time in which he started his adventure fiction writer's career (first in periodical publications and then in books) having thus little experience or personal knowledge of guerrilla groups (let us recall that he could have had it in Portugal, with the many miguelist or liberal guerrillas and raiders of the pre-Regeneration Portugal and even of the first years of that period, the latest having been the Ze from the Rooftop band on the Minho region and Douro And Oporto Coastline region and the Joao Brandao guerrilla and band on the Beiras regions, or could have it in Spain with the several said Carlist guerrillas till the 1870s), voyagers or invading armies. His factual matter set for creation came almost all from history books, compendia and newspapers, besides his style andsome of the "musculature" for his adventures coming from immitation of books of adventure and war material in the more medievalist historical novel by Alexandre Herculano (that we already saw here in the Eurico, the Presbiter), whose style he passed to closer to his time (following the example of other historical novelist of their time). From this mixture of author creativity and imagination, created itself this novel still today rather readable, interesting for its discourse in terms of the value of the adventure for the character or patriotism formation, and the criticism that it does to the eclesiastic puritanism in the figure of the friar (although not attacking openly or totally believing or religion as a whole), besides the critique that it gives to ideological or personal class interest excesses (mainly of elites that betray their own nation for their personal profit), in way tht we still find the legacy of books like this one or The Guerrillas of Death, for example, in films like As Linhas de Wellington/The Lines of Wellington from 2012, that being original works still got though the underlying philosophy and the fictional and plot/character type approach (in large casts) of these two novels from little more than a century ago, and, give or take romanticism, the approach keeps itself ever current and attactive in ther basic "skeletons" (despite the film covering the last of the 3 invasion and not the start of the invasions like the two novels that through here did pass).
Almost that it could be a film of The Men of the Red Cross, but it is not
About the book, it is rare to find in Portuguese libraries (it exists in the Portugal National Library) and has almost no modern editions, but it do find themselves the 4 volumes at the Internet Archive.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

"Os Guerrilheiros da Morte", Manuel Pinheiro Chagas // "The Guerrillas of Death", Manuel Pinheiro Chagas

Já muito se estudou e disse sobre os laços criados entre pessoas em situações limites. E um dos laços mais magistralmente escritos é este entre Portugueses comuns atirados para a clandestinidade da guerrilha pelas 2 primeiras invasões napoleónicas, como saído da pena de Manuel Pinheiro Chagas, de 1872, que será esta 27.ª publicação deste blogue. Não sendo das maiores obras do autor, também não fica demasiado na sombra das outras (tendo merecido 4.ª edições só até 1873). Pinheiro Chagas dá ao livro toda a verossimilitude da história, quanto aos personagens e enredos históricos que intervêm nela, preservando os factos do princípio da 1.ª Invasão Francesa em Novembro de 1807, através da partida da corte para o Brasil, até à 2.ª Invasão de 1809. Depois de introduzir uma noite chuvosa de Novembro de 1807, no Largo da Ajuda (hoje Ajuda, Lisboa), e apresentar o reboliço da Corte no Palácio local, ante a iminência da chegada dos exércitos de um Napoleão triunfante que havia esmagado os exércitos da Prússia, da Rússia e da Áustria por esta altura em batalha em território alemão (Austerlitz). Portugal havia recusado aderir ao Bloqueio Continental (destinado a bloquear o acesso do Reino Unido a produtos e bens chegados da Europa, que não era a única fonte do país-potência marítima, mas era uma fonte importante), e por isso Napoleão declarara-nos guerra (coisa que vinha desde o ano anterior anunciando como possível se Portugal mantivesse a aliança luso-britânica).
Um Pinheiro Chagas na meia-idade
Sucede-se uma cena imaginada mas plausível em que o Príncipe Regente (o futuro D. João VI, considerado pelo crítico autor «tão pouco fadado para a época tormentosa em que viveu») questiona os ministros quanto ao que «o Príncipe da Paz» (Manuel de Godoy, o Primeiro-Ministro Espanhol da altura) lhe recomendava fazer ante o ultimato quanto à adesão de Portugal ao Bloqueio, responderam-lhe que ele recomendava ceder a Napoleão (descrito como "invencível") e deixar as tropas francesas entrarem para "protegerem" Portugal de eventual ataque britânico depois de Portugal se aliar a Napoleão, posição apoiada pelo ex-embaixador em Paris, Lourenço de Lima (que a Princesa Carlota Joaquina, retratada como mantendo-se maioritariamente silenciosa e sorrindo ironicamente, diz ter tido "lavagem cerebral" de Napoleão quando ainda em Paris, e avisa que Godoy se vendera, e a Espanha, a Napoleão). Enquanto ministros ex-visitantes de França aconselham cautela com o procedimento dos Ingleses para com Portugal e Carlota Joaquina provoca os francófilos, o pouco dado a lutas políticas Príncipe Regente queixa-se de não receber nenhum verdadeiro conselho. Quando Carlota Joaquina comenta que D. João não se lembra de resistir e que ela própria não o faz montada a cavalo só por não estar no seu país, ele lembra como rainhas então recentes haviam feito isso com maus resultados, e que ele próprio não o fazia porque não era herói nem general e portanto faria fraca figura se o tentasse (ao contrário de Napoleão, que começara a carreira como militar antes de ser cabeça coroada). Carlota Joaquina sai da sala enquanto o marido comenta (em voz baixa, mas adivinhada a intenção por todos da sala) que enquanto Maria Antonieta tinha provocado a queda do marido mas acompanhou-o ao cadafalso, a esposa provavelmente não o acompanharia na desgraça. A discussão esclarece que Portugal, comprometido verbalmente (por influência de Lourenço de Lima) a cumprir o Bloqueio (e a expulsar os cidadãos Britânicos) mas sem capacidade militar para defender o Reino dos Ingleses se tomassem de facto o lado da França (em consequência de uma breve invasão espanhola do Alentejo sob comando de Godoy em 1801 que provocara a toma de Olivença por Espanha). É então (na passagem para o I capítulo que o embaixador Inglês Lord Strangford, depois de revelar que Godoy e Napoleão dividiram entre si em tratado secreto (o de Fointainebleau) o território continental de Portugal, desenvolvendo uma sugestão do diplomata Luso António de Araújo, o Inglês sugere transferir a corte portuguesa para a colónia brasileira, para defender a corte e suas políticas quanto à defesa do Reino dos Franceses (com pouca capacidade de actividade militar trans-oceânica naquela altura), e defendendo depois Portugal de invasores napoleónicos como possível.
Retrato por Manuel Sousa Dias do casal principesco D. João VI e D. Carlota Joaquina
Depois da fuga para o Brasil (a princípio aclamada pelo povo, mas logo insultada devido ao facto de levar alguma tropa para defesa da corte, tropa que segundo o povo seria mais precisa em Portugal), e de um intermezzo do enredo com a descrição duma peça de teatro propositadamente chocha (mas que revela que os Franceses chegam já a Abrantes) pelo autor, o enredo começa propriamente com o reencontro de velhos conhecidos, o conde de Vila Velha e o sargento Jaime Cordeiro de Altavila (filho de um mestre de esgrima Francês com o apelido original de Hauteville que anos antes viera para Portugal e um amante frustrado da filha do conde, Madalena, que ele quis pôr num convento). Por sua vez o conde procura encontrar tropas para os convencer a deixarem-no embarcar com a corte para o Brasil. Depois de várias linhas que fazem o flashback da estória de Jaime e Madalena desde a infância e de o conde no presente finalmente voltar a Portugal, o exército francês já exausto da marcha por Espanha e das doenças ao longo do percurso (Pinheiro Chagas descreve como a figura do exército criava mais «comiseração do que terror») chega a Lisboa sendo guiado por um destacamento de cavalaria (que apesar de ser bem capaz de dispersar o devastado exército gaulês, tem ordens de tratar «como amigos os Franceses») e recebido por um Jaime que se tornara agente revolucionário liberal pró-Francês (por um anti-Portuguesismo incentivado pelo seu amor frustrado com a aristocrática Madalena). A partir daqui, como diz o autor, não temos a história do governo napoleónico (via Junot) de Portugal, mas sim da vida de Jaime no meio desse regime.
General Junot
Jaime segue Napoleão não só pela ascendência francesa mas talvez principalmente por o seu patriotismo de Português de criação estar ofendido pela realidade de um Portugal que só pode ou depender de Inglaterra ou de França, preferindo a segunda opção mais por reconhecer o génio do governante Francês, e de forma pessoal, ele acreditava que, sendo Napoleão (apesar da Concordata com o Papa) um secularista, talvez Junot enquanto governador seu abolisse os conventos e assim liberta-se Madalena da clausura. Porém, apesar de Junot apreciar o culto (de bela letra) e bom falante do Francês Jaime, não só não faz isto como faz uma gestão crescentemente tirânica, que abole a regência de Portugal criada pelo Príncipe Regente na altura da partida para o Brasil, removendo a bandeira de Portugal dos postes de bandeira para trocar pela tricolor francesa, cria uma polícia mais repressiva que a de Pina Manique, os contribuintes são esmagados pela fazenda do governo francês e planeia a redução do exército luso para criar de parte dele uma legião para servir França. Jaime começa a chocar nesta altura com o intendente da Polícia, um tal de Lagarde, recusando-se a deter Portugueses em ajuntamentos públicos que fazem declarações patrióticas (o que também, ele pode fazer porque está sob a protecção de Junot. Este ainda incentiva o Luso-Francês com a hipótese do casamento. Visto que Junot anular os votos por decisão unilateral e libertar a jovem para casar com quem ele desejava criaria um motim em Portugal, aconselhado pelo seu chefe do estado maior, Thiébaut, Junot decide apelar ao Imperador dos Franceses enquanto a esposa de Junot apela à Imperatriz, para que ambos apelem ao Papa para a anulação dos votos específicos da jovem. Coincidentalmente, nesta altura Napoleão manda um amigo de Junot, Miollis, para atacar a Santa Sé devido a diferendos entre o Imperador e o Papa. Isto efectivamente punha a Santa Sé submetida a Junot e portanto capaz de dar todas as bulas que Miollis quisesse.
Nesta altura, Espanha entrava em pânico com o acumular de tropas francesas na fronteira dos Pirenéus, e a ocupação por estas de algumas cidades importantes no nordeste de Espanha, a família real e Godoy ponderando mesmo uma fuga para a América do Sul espanhola seguindo o exemplo luso, o que só não acontece devido a uma revolta popular que ataca os palácios de Godoy em Aranjuez, o que provocou a abdicação de Carlos IV de Espanha para o filho Fernando, e logo deste para José, irmão de Napoleão Bonaparte, sucedendo-se revoltas de juntas independentes umas das outras nas várias regiões de Espanha. É assim que sem enviar muitas batalhões para auxiliar o colega Murat em Espanha, Junot envia de Lisboa algumas forças para a Andaluzia ou para a fronteira luso-espanhola, o que enfraqueceu a segurança francesa de Lisboa, visto que a polícia impopular tinha deserções frequentes, enquanto os Elvenses se aliavam com os de Espanhóis de Badajoz para combater os invasores comuns. É em Elvas que outro general Francês, Kellerman, ouve um coro de Espanhóis e Portugueses a cantar uma canção anti-francesa, e dá ordens a um oficial que passa a cavalo para os arredores de Elvas (Jaime em pessoa) que leve para execução os cantores, sendo que o oficial recusa levar para a morte seus compatriotas. Sendo justo, Kellerman demite Jaime e tira-lhe a espada de oficial (presente de Junot) e indirectamente manda-o para fora de Elvas para lhe salvar a vida. Depois de avisar os cantores de taberna em perigo para fugirem, ele próprio vai-se para Évora (onde fica o outeiro do convento onde está Madalena), parando pelo caminho numa aldeia onde escreve uma carta explicando o seu caso a Junot. Em Évora reencontra-se com Madalena, e pelo novo contacto o seu laço reforça-se. Quando Jaime de noite fala com Madalena (que também quer fugir com ele) através da janela da cela desta, são interrompidos pelo saltimbanco Espanhol que cantara a música e Jaima salvara em Elvas.
É junto com este Espanhol, Benito, que Jaime resgata outro dos cantores desse dia, Simão (alcunhado «o macaco»), do forte da Graça, e depois disso, formam-se finalmente numa guerrilha, um grupo de guerrilheiros liderado por Benito e Jaime que combateram a revolta de Évora contra os Franceses (aquartelados no convento), e depois de uma dura defesa e de um incêndio no convento em que Madalena é levada pelos Franceses e aparentemente é morta, segue para norte, conforme Algarve e Alentejo são libertados, e junta-se à guerrilha de Monsanto. Agora a guerrilha de Jaime é guiada pela mera vingança, apesar do seu espírito humano e de abominar abusos, devido ao que passou a Madalena (o «da morte» do título deve-se ao facto de esta guerrilha matar todos os inimigos sobreviventes no campo de batalha, não fazendo prisioneiros, por ordem explícita do agora amargo Jaime), e para continuar a guerrilha com a recepção de novos soldados que querem a viva força ter um capelão militar para a tropa fandanga, ele passa Benito por padre devido a ter alguns conhecimentos do cerimonial (tendo antes sido ajudante de missa). Depois de uns episódios cómicos em que Benito ganha reputação de grande falador de Latim por somente repetir nele que o seu nome é Benito (o que outros confundem com dizer orações Benedictus domine em Latim), e depois até de milagreiro, chega a guerrilha a Abrantes e entra em cena no romance Arthur Wellesley, o Duque de Wellington, cuja primeira campanha em Portugal estava a ser bastante bem-sucedida. Depois de mais um interlúdio dramático (descrevendo uma ópera do compositor da altura Marcos Portugal no Teatro S. Carlos, como típico de Pinheiro Chagas uma divagação do enredo que não incomoda pelo estilo e interesse que este dá à cena; o autor aproveita para comentar como M. Portugal era já na altura olvidado em Portugal apesar de ter sido louvado e interpretado pela Europa fora), Jaime encontra um vulto feminino em que reconhece Madalena, que havia sido salva dos oficiais Franceses que a levavam e tentavam violentar por um Tenente que impôs a sua autoridade levando-a consigo, e alguns dias depois tornando-se amante dele, com um amor mais intenso e genuíno que tivera por Jaime, e acompanhou-o através de Portugal até àquele teatro onde ela e Jaime se viram, este seguiu-os ao acampamento francês e por não saber a senha é alvejado e passa 2 meses entre a vida e a morte, sendo que por essa altura há muito que Madalena havia partido para França com o oficial, enquanto Junot e todos os seus deixavam Portugal.
Quadro de Goya sobre os fuzilamentos de 3 de Maio feito pelos Franceses contra a resistência Espanhola
Em 1808 seguia-se uma segunda invasão capitaneada pelo General Soult, vinda do norte, que derrotava os Espanhóis e punha os Britânicos em retirada na Galiza, sendo o esforço de guerra anti-napoleónico salvo pelo começo de outra guerra na Alemanha e Áustria na mesma altura que dividiu os esforços e recursos do exército napoleónico. Esta invasão seria ainda mais traumática (é aqui que acontece a tragédia da Ponte das Barcas), ocorrendo desastres como a morte do capitão das forças do Minho, Bernardim Freire. Depois dessa batalha, Jaime encontra entre os soldados Franceses uma amazona que é Madalena, que se juntara ao exército francês para servir com o seu amante. Muito haviam mudado os namorados infantis neste espaço de tempo, ela deixando de ser uma donzela ingénua para se tornar uma amazona enérgica e ele passara de amante servidor e idealista a homem mais cruel e vingativo. Quando vêm as tropas Francesas para a recuperar, os guerrilheiros luso-espanhóis conseguem escapar com ela prisioneira até ao curso do Rio Ave na Barca da Trofa. Depois de estarem seguros atrás das linhas luso-britânicas, Jaime leva Madalena para um convento em Vila Nova de Gaia, cavando o abismo entre ambos; Jaime era depois de todo o ódio da guerra incapaz de amar de todo mesmo que Madalena o amasse. Quando se reencontram, Jaime resgata o corpo de uma Madalena que havia tentado fugir durante a invasão do Porto e perecera no desastre das Barcas. Perdoando-a postumamente e considerando que foram os seus pais (com a clausura conventual) e ele (tentando convence-la a fugir com ele por um amor que era só dele) que haviam corrompido a jovem de quem fora amigo na infância, Jaime desiste da vingança e decide dissolver a Guerrilha da Morte e passar a lutar pela independência de Portugal agora como soldado convencional.
Como em Cafuso, o enredo não é particularmente trágico, mas conclui-se depois de alguma tragédia, mas aqui talvez a conclusão seja mais final (ao contrário do livro anterior, que dava a ideia de uma vida que iria continuar) e saiba mais a final feliz pelo facto de terminar com a reconciliação possível e um Jaime que recupera os seus princípios e humanidade. Mas mais importante do que o final do livro ou como este se adequa à estória do romance, é importante o enredo em si, pelo quadro que nos dá das oposições entre Portugal, França, Reino Unido e Espanha, e deste período da história destas 4 nações, e como questiona a violência do lado oprimido tanto quanto a do lado opressor, e não confunde dois errados com um errado e um certo ou dois certos. Quando Jaime enterra as esporas no cavalo e parte para o sul, o que fica claro é que há uma forma certa de combater, e que «As ideias de pátria e de humanidade podem e devem conciliar-se». Se nunca foi adaptado a outra media, porém o seu retrato da invasão de Portugal de Napoleão e sua queda começando a estória do lado francês é algo presente numa outra forma na série de TV franco-polaco-belgo-canadiano-portuguesa Napoléon et l'Europe especialmente o espisódio realizado por José Fonseca e Costa Le Blocus. Quanto ao livro, apesar de algumas edições mais recentes (no seio do recente leve "renascimento" da reputação de Pinheiro Chagas que temos vindo a referir nalgumas publicações), como a de 2009 (aniversário do fim da 2.ª Invasão Francesa) da Planeta Editora ou a da Esfera do Caos Editores que segue a 4.ª edição revista pelo autor de 1873este livro é ainda relativamente raro de encontrar em bibliotecas ou à venda, mas pode ser encontrado em-linha no Internet Archive.org numa cópia de uma 1.ª edição(?) de 1872.
Capa da edição de 2006 da Esfera do Caos


Already much has been studied and said on the bonds created between people in borderline case situations. And one f the most masterfully written bonds is this one between common Portuguese thrown into the clandestine underground of guerrilla by the 2 first napoleonic invasions, as come out of the pen of Manuel Pinheiro Chagas', from 1872, which shall be this 27th post of this blog. Not being among the greatest works of the author, it also is not cast too much on the shadow of the others (having deserved 4th editions just till 1873). Pinheiro Chagas gives to the book all the verisimilitude of history about the historical characters and plots that intervene in it, preserving the facts of the beginning of the 1st French Invasion on November 1807, through the departure of the court to Brazil, till the 2nd Invasion from 1809. After introducing a rainy November 1807 night, on the Ajuda Plaza (today Ajuda, Lisbon), and presenting the Court's hubbub on the local Palace, before the brink of the arrival of the armies of a triumphant Napoleon who had crushed the armies of Prussia, of Russia and of Austria by this time in battle in German territory (Austerlitz). Portugal had refused to join to the Continental Blockade (destined to block the United Kingdom's access to products and goods arrived from Europe, which was not the only source of the sea power-country, but was an important source), and for that Napoleon declared the Portuguese war (thing that he went on since the previous year announcing as possible if Portugal kept the luso-British alliance).
A middle aged Pinheiro Chagas
It follows itself an imagined but plausible scene in which the Regent Prince (the future Don John VI, considered by the critical author «so little well-fated for the stormy period in which he lived») questions the ministers about what the «Prince of Peace» (Manuel de Godoy, the Spanish Prime Minister at the time-point) recommended him to do facing the ultimatum about the adherence of Portugal to the Blockade, they answered him that he recommended to give in to Napoleon (described as "invincible") eand let the French troops enter to "protect" Portugal from eventual British attack after Portugal allying itself to Napoleon, position supported by the ex-ambassador in Paris, Lourensso de Lima (whom the Princess Carlota Joaquina, portrayed as keeping herself mostly silent and smiling ironically, says to have had "brainwashing" from Napoleon while still in Paris, and warns that Godoy had sold himself, and Spain, o Napoleon). While ex-French visiting ministers advisecaution with the procedure of the English towards Portugal and Carlota Joaquina provokes the francophiles, the little prone to political fights Prince Regent complains of not receiving any true advice. When Carlota Joaquina comments that Don John does not think on resisting and that she herself does not do it on horseback only for not being in her country, he recalls how then recent queens had done that with bad results, and that he himself did not do it because he was not hero nor general and hence would make weak a figurine of himself if he tried it (unlike Napoleon, who started the career as military-man before being crown-wearing head). Carlota Joaquina exits the room while the husband comments (in low voice but guessed the intention by everyone in the room) that while Marie Antoinette had provoked the husband's fall but accompanied him to the scaffold, his wife probably would not accompany him into disgrace. The discussion clear that Portugal, verbally committed (by influence of Lourensso de Lima) to fulfil the Blockade (and to expell the British citizens) but without military capability to defend the Kingdom from the English if they took in fact France's side (in consequence of a brief Spanish invasion of Alentejo under Godoy's command in 1801 that provoked the taking of Olivenza municipality by Spain). It is then (in the passage to I Chapter that the ambassador (the one from Fointainebleau) the continental territory of Portugal, developping a suggestion of the luso diplomat António de Araújo, the Englishman suggests to transfer the Portuguese court to the Brazilian colony, to defend the court and its politics about the defense of the Kingdom from the French (with little capability of transoceanic military activity at that time), and defending afterwards Portugal from napoleonic invaders as possible.
Portrait by Manuel Sousa Dias of the princely couple Don John VI e Dona Carlota Joaquina
After the escape to Brazil (at first aclaimed by the people, but right-away insulted due to the fact of taking some troop for defense to the court, toop that according to the people would be more needed in Portugal), and a plot intermezzo with the description of a theatre play purposefully smooched (but that reveals that the French arrive already to Abrantes) by the author, the plot starts properly with the meeting again of old acquaintances, the count of Vila Velha and the sargent Jaime Cordeiro o enredo começa propriamente com o reencontro de velhos conhecidos, o conde de Vila Velha e o sargento Jaime Cordeiro de de Altavila (son of a French fencing master with the original surname of Hauteville who years before had come to Portugal and a frustrated lover to the count's daughter, Madalena, who he wanted to put on a convent). On his turn the count looks to find the troops for convincing them to let him boat in with the court to Brazil. After several lines that do the flashback of Jaime and Madalena's story since childhood and of the count in the present finally going back to Portugal, the French army already exhausted by the march through Spain and of the diseases along the course (Pinheiro Chagas describes how the figure of the army created more commiseration than terror») arrives to Lisbon being guided by a cavalry detachment (that despite being well capable of dispersing the devastated Gaul army, has orders to treat «as friends to the French») and received by Jaime who had become pro-French liberal revolutionary (due to an anti-portuguese feeling incentivised by his frustrated love with the aristocratic Madalena). Starting from here, as says the author, we do not have the history of the napoleonic government (via Junot) of Portugal, but now indeed of the life of Jaime in the middle of that regime.
General Junot
Jaime follows Napoleon not only for the French descent but maybe mainly for his patriotism of Portuguese by upbringing being offended by the reality of a Portugal that can only either depend on England or on France, prefering the second option more for recognising the French ruler's genius, and in personal way, he believes that, being Napoleon (despite the Concordata with the Pope) a secularist, maybe Junot while governor of his would abolish the convents and so it frees itself Madalena from the cloister-closure. Yet, despite Junot appreciating the cultivated (of fair handwriting) and good speaker of French Jaime, not only he does not do that but as he does growingly tyrannical management, that abolishes the regency of Portugal created by the Prince Regent at the time of the departure for Brazil, removing the flag of Portugal from the flagpoles to switch it for the French tricolour, creates a more repressive police than the one of Intendant Pina Manique, the taxpayers are crushed by the French government's exchequer and plans the reduction of the Lusitanian army to create out of a part of it a legion to serve France. Jaime starts to clash at that time with the Police intendant, some Lagarde, refusing himself to detain Portuguese people in public gatherings that do patriotic statements (what anyhow, he can do because he is under Junot's protection). The latter still incentivises the Luso-Frenchman with the hypothesis of marriage. Seen that Junot annulling her religious-vows by unilateral decision and freeing the young-woman to marry with him would create a riot in Portugal, advised by his military chief of staff, Thiébaut, Junot decides to appeal to the Emperor of the French while Junot's wife appeals to the Emperess, so that both appeal to the Pope for the annulment of the specific vows of the youngun. Coincidentally, at this time-point Napoleon sends a friend of Junot's, Miollis, to attack the Holy See due to the differenda between the Emperor and the Pope. This effectively put the Holy See submited to Junot and hence capable of giving all the papal bull's that Miollis would want.
At this time-point, Spain panicked with the accumulating of French troops in the Pirinees border, and the occupation by these of some important cities in Spain's northeast, the royal family and Godoy pondering even an escape for Spanish South America following the Lusitanian example, what only does not happen due to a popular revolt that attacks the palaces of Godoy in Aranjuez, what provoked the abdication of Charles IV of Spain for the son Ferdinand, and right-away of the latter to Joseph, Napoleon Bonapart's brother, succeeding each other revolts of juntas independent from each other in the several regions of Spain. It is so that without sending many battalions to aid to the colleague Murat in Spain, Junot sends from Lisbon some forces to Andalusia or to the Portuguese-Spanish border, what weakened the French safety of Lisbon, seen that the unpopular police had frequent desertions, while the Elvas natives allied themselves with the Badajoz Spaniards to fight the common invaders. It is in Elvas that another French General, Kellerman, listens to a choir of Spaniards and Portuguese singing an anti-French song, and gives orders to an officer that passes by on horse towards the surroundings of Elvas (Jaime in person) that he takes for execution to the singers, being that the officers refuses to take for death his countrymen. Being just, Kellerman resigns Jaime and takes him away the officer's sword (present of Junot's) and indirectly sends him ot of Elvas to save his life. After warning the tavern singers in danger to runaway, he himself goes off to Ehvora (where it is the onde fica o outeiro do convento onde está Madalena), stopping along the way in a village where he writes a letter explaining his case to Junot. In Ehvorah Jaime re-meets with Madalena, and by the new contact their bond reinforces itself. When Jaime by night talks with Madalena (who also wants to runaway with him) through her cell window, they are interrupted by the Spanish mountebank who sand the tune and Jaime had saved in Elvas.
It is together with that Spaniard, Benito, that Jaime rescues another of the singers of that day, Simao (nicknamed «the monkey»), from the Grassa fort, and after that, they form themselves finally into a guerrilla, a group of guerrillas lead by Benito and Jaime that fought the Ehvora revolt against the French (quartered on the convent), and after a hard defense and a set-fire in the convent in which Madalena is taken by the French and apparently is killed, follows northwards, according to Algarve and Alentejo are freed, and joins himself to the Monsanto guerrilla. Now the Jaime guerrilla is guided by mere revenge, despite its humane and abuse abhoring spirit, due to what had passed with Madalena (the «of Death» from the title is owed to the fact of thi guerrilla killing all the enemies surviving on the battle field, not making prisoners, by explicit order of the now bitter Jaime), and for continuing the guerrilla with the reception of new soldiers that want forcefully to have a military chaplain for the fandanga troop, he passes Benito of as a priest due to having some knowledges of the ceremonial (having been assistant to church mass). After some comical episodes in which Benito earns reputation of great speaker of Latin by merely repeating that his name is Benito in it (what the others confuse with saying Benedictus domine prayers in Latin), and afterwards even of miracle-worker, it arrives the guerrilla to Abrantes and enters the stage into the novel Arthur Wellesley, the Duke of Wellington, whose first campaign in Portugal was being quite successful. After one more dramatic interlude (describing an opera of the composer from that time-point Marcos Portugal on the Sao Carlos Theatre, as typical of Pinheiro Chagas a digression from the plot tht does not bother for the style and interest that the latter gives to the scene; the author takes advantage of it to comment how M. Portugal was alredy at that time-point into oblivion in Portugal despite having been praised and performed throughout Europe), Jaime finds a female outlined figure in which he recognises Madalena, who had been saved from the French officers who took her and tried to violate her by a Lieutenant who imposed his authority and took her with himself, and accompanied him throughout Portugal till that theatre where she and Jaime saw each other, the latter followed them till the French camp and for not knowing the password is shot nd passes 2 months between life and death, being that by that time it was long gone that Madalena had left for France with the officer, while Junot and his own left Portugal.
Goya painting on the Third of May shootings done by the French against the Spanish resistance
In 1808 it followed itself a second invasion headed by the General Soult, coming from the north, that defeated the Spaniards and put the British in retreat in Galicia, being the anti-napoleonic war effort saved by the start of another war in Germany and Austria at the same time-point which divided the napoleonic army's efforts and resources. This invasions would be even more traumatic (it is here that it occurs the Ponte das Barcas tragedy), occuring disasters like the death of the captain of the Minho region forces, Bernardim Freire. After that battle, Jaime finds among the French soldiers an amazon who is Madalena, who had joined the French army to serve with her lover. Much had changed the childhood sweethearts in this space of time, she ceasinbg being a naive damsel to become an energetic amazon and he had passed from server lover and idealist to more cruel and vengeful man. When do come in the French trooops to take her back, the luso-Spanish guerrillas can escape with her imprisoned till the course of the Ave River on Barca da Trofa. After being safe behind Portuguese-British lines, Jaime takes Madalena to a convent in Vila Nova de Gaia, digging the abyss between both; Jaime was after all the war's hate incapable of loving at all even if Madalena loved him. When they meet again, Jaime rescues the body of a Madalena that had tried to runaway during the Oporto invasion and had perished on the Ponte das Barcas disaster. Forgiving her posthumously and considering that it were her parents (with the convent cloister-closure) and he (attempting to convince her to runaway wth him for a love that was only his) that had corrupted the young-woman of whom he had been childhood friend, Jaime gives up on childhood and decides to dissolve the Guerrilla of Death and pass unto fighting for Portugal's independence now as a conventional soldier.
As in Cafuso/"Free-Moor", the plot is not particularly tragic, but it concludes itself after some tragedy but here maybe the conclusion be more final (unlike the previous book, that gave the idea that it would continue) and tastes more like happy ending due to the fact of ending with the possible reconciliation and a Jaime that recovers his principles and humanity. But more important than the ending of the book is how it befits the novel's story, itis important the plot in itself, for the tableau that it gives us of the opposals between Portugal, France, United Kingdom and Spain, and of this period of the history of the 4 nations, and how it questions the violence on the oppressed side as much as on the oppressing side, and does not confuse two wrongs with a wrong and right or two rights. When Jaime burries the horse's spurs and leaves southwards, what stays clear is that there is a right way to fight, and that «The idea of fatherland and of humanity can and must conciliate themselves». If it was never adapted to other media, nevertheless its portrayal of Napoleon's invasion of Portugal and his fall starting the story from the French side is somewhat present in another form in the 1991 French-Polish-Belgian-Canadian-Portuguese TV series Napoléon et l'Europe especially the episode directed by José Fonseca e Costa Le Blocus. About the book, despite some more recent editions (in the midst of the recent light "renaissance" of Pinheiro Chagas' reputation that we have come to refer in some publications), like the 2009 one (anniversary of the end of the 2nd French Invasion) by Planeta Editora publisher or the Esfera do Caos Editores publisher's one that follows the 1873 4th edition revised by the author, this book is still relatively rare to find in Portuguese libraries or for sale, but can be found online at the Internet Archive.org in an 1872 1st edition(?) copy.
Cover of the 2006 Esfera do Caos publisher edition