segunda-feira, 27 de abril de 2015

"Romances Marítimos", volume 2, Francisco Maria Bordalo // "Maritime Novels",volume 2, Francisco Maria Bordalo

Há daqueles livros que pela capa a gente não pegaria neles, e este segundo volume de Romances Marítimos (trato deste volume isoladamente porque os dois volumes de Romances Marítimos são colectâneas póstumas de textos independentes entre si fora pelo estilo e temática "marítimos" comuns, daí que creia que o livro bem pudesse ser intitulado Romances Marítimos: Episódios duma viagem, Cenas da escravatura, Viagens aos pólos, Quadros marítimos, Dois anos de viagem, Ignoto Deo) do hoje quase totalmente esquecido Francisco Maria Bordalo é um deles, tendo uma daquelas capas "respeitáveis" com o título somente, emoldurado num contorno rectangular e pouco mais (e as páginas com o título já dentro da capa, antes da primeira página com o título do primeiro texto pouco mais têm, sendo igualmente tão elegantes como algo vazias). Mas quem ultrapassar esta seca primeira impressão, na verdade achará aqui um tipo de literatura que não tendemos a esperar de autores Portugueses (principalmente da época deste autor, o meado do século XIX): uma aventura marítima que não deve muito (falando qualitativamente) ao Norte-Americano Herman Melville (de Moby Dick) que escrevera poucos anos antes das primeiras obras de Maria Bordalo. Quem tivesse o mínimo conhecimento de marketing (mesmo no século XIX) poria na capa deste tipo de livros lobos do mar, jovens aventureiros bem-parecidos, ilhas, mar, nativos (ou nativas...) visitados, animais marítimos, "comboios" de escravos, etc. (no estilo relativamente simples das capas dos romances de aventuras vitorianos de W. H. G. Kingston, que já agora viveu parte da juventude no "nosso" Porto), não esta... "mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma".
Para verem o que teria em mente para uma capa "de jeito" para o livro de Maria Bordalo contraponha-se esta capa oitocentista de Nas Montanhas Rochosas do Britânico W. H. G. Kingston
Para os poucos (mesmo poucos) que nunca deixaram Maria Bordalo cair no esquecimento (para isso ajudou por exemplo a republicação de algumas das suas obras curtas no seio da comemoração da Expo '98, como quase todo o tipo de material em torno de mar e navegação na literatura portuguesa nessa altura), a sua escrita intensa e aventureira, elementar (ou não envolvesse os elementos da água, do vento e outros associados à navegação marítima), nunca deixou de exercer uma força sobre eles, tendo estes textos publicados em 1880 postumamente e coleccionando obras publicadas na imprensa pelo autor (um jornalista que tinha um passado na Marinha Portuguesa que remontava aos 12 anos, quando entrou na classe de aspirantes da Marinha, com 13 anos navegando duas vezes Lisboa-Açores, formando-se da Academia da Marinha aos 16, passando nos anos seguintes pelo posto de guarda-marinha efectivo, e membro da comissão que buscou os restos da esquadra lusa aprisionada nas águas do Tejo pelo almirante Roussin em 1834) umas três ou quatro décadas antes, tendo o autor falecido já em 1861 (com 40 anos), não chegando a ver o esquecimento em que a sua obra relativamente popular no seu tempo cairia pela viragem do século, vá-se lá saber porquê.
Este livro dá aos leitores um conjunto de reportagens ficcionadas relatando viagens do autor e alguns relatos semi-ficcionados de eventos marítimos na história marítima portuguesa. Nos seus quatro curtos capítulos, "Episódios duma Viagem" relata uma viagem de 1840, em que indo de Portugal, Maria Bordalo chegava às bandas do abrasador sol do Equador, estando a distância de vista da Ilha de São Tomé quando começa o relato do primeiro "romance" do livro. O barco vai a caminho de Luanda. O mar parece quase um espelho (de tão claro que está). A tripulação, sofre de gáveas, papa-figos (lepra no fígado) e joanetes e bocejava, e os oficiais conversavam entre si sem muita emoção, numa atmosfera abafada. Eis quando é vista nas águas uma garrafa com uma mensagem, que alguns marinheiros e o capitão tiram das águas para a sua barca e no navio abrem (toda esta cena segundo o autor o impressionou muito quando ocorreu). Já de noite, o capitão desata a mensagem e lê-la. É do segundo piloto Carlos António Pedroso da galera Amazona. A Amazona era um navio que 9 anos antes tinha tombado os mastros da proa sobre a vela grande, que tombou sobre a vela mezena, enquanto o barco começava a meter água. O piloto autor da mensagem tinha ido beber para o camarote, e quando acordou já era o dia seguinte e viu-se sozinho num navio vazio com tubarões nadando em torno. A carta terminava a pedir que quem achasse a carta que rezasse por ele e os seus pecados.
Estes factos deixaram a tripulação do barco enojada, visto que as notícias de 9 anos antes diziam que toda a tripulação do Amazona tinha-se salvo para bordo de um navio inglês, e obviamente que a hipótese de um abandono voluntário de um tripulante os irritou completamente. Mas quando chegam a Luanda, os factos da resolução do evento resolvem-se de uma forma relativamente cómica: Maria Bordalo e os restantes tripulantes encontram lá, vivo, Carlos, quando o capitão do navio em que seguia o escritor ia denunciar às autoridades o abandono de um membro da tripulação do Amazona no naufrágio de 9 anos antes. Ele narra como depois de enviar a mensagem, enquanto rezava no convés, quando um onda galgou a popa do navio e o bateu contra a bitácula do navio e ele ficou instintivamente agarrado a ela, olhou para o horizonte e viu reflectido na água o navio inglês com os seus companheiros a aproximar-se, salvando-o a tempo e levando-o de volta a Lisboa, onde casa e de onde parte para Luanda e se torna negreiro (pouco tempo depois, o autor vê-lo-ia preso por esta actividade; na altura a escravatura ainda era legal em Portugal mas devido à pressão dos nossos aliados Britânicos, que haviam por esta altura já há muito abolido a escravatura nos seus territórios, a pouco e pouco ia sendo uma actividade cada vez mais pressionada).
O tema da escravatura dá uma certa complexidade ao texto hoje: Maria Bordalo mostra a escravatura como algo que existe mas não louva como algo natural nem como algo que "tem" de acontecer aos "povos inferiores" de África (ou como mero subproduto de uma "civilização"), e embora não comentando de forma muito condenadora a actividade de Carlos, porém a forma como ele acaba (embora seja um facto e não invenção do autor) só prova que talvez ele deve-se ter-se ficado em Lisboa com a mulher em vez de se armar em esclavagista. Este aparente "progressismo" de Maria Bordalo quanto a questões humanistas e sociais reforçasse com um episódio da viagem entre Luanda e Ambriz, em que um mulato mestre de lancha é preso acusado de roubar a faca de um negreiro (o facto curioso de ser um mestiço a confrontar-se com um negreiro dá que pensar) e é condenado a chibatadas pelo governador local sem investigação, mas após um combate do navio com um navio inglês, a inocência do acusado é provada por Maria Bordalo e um amigo. No texto seguinte, Maria Bordalo voltará a abordar a questão da raça, também com uma posição relativamente "avançada" para a época (um pouco mais relativista do que usual na altura, ou mesmo hoje). No fundo, Maria Bordalo aceita a diversidade do mundo que conhecia relativamente bem das suas viagens, e via a escravatura e confrontos raciais como lamentáveis consequências da forma como o mundo era e dos encontros nem sempre pacíficos entre as raças diversas do mundo, compreendendo a causa dos povos que sofriam sob opressões, e tendo simpatias pelo estatuto por vezes paradoxal dos vários tipos de mestiços pelo mundo fora.
A explosão de uma fragata noutro romance marítimo de F. Maria Bordalo, Sansão na Vingança!
O texto seguinte do livro, também com 4 curtos capítulos, é "Cenas da Escravatura", que também dá muito que pensar quanto a raça e história do racismo com o seu relato real de uma viagem do autor ao Brasil em 1844. O relato feito da instituição esclavagista no Brasil é muito curioso pelo que nos relata sobre muitos pormenores raramente discutidos da história e realidade da escravatura no Brasil: temos estórias de mestiços de pele negra que eram donos de escravos que eram mestiços de pele branca, de brancos não-escravos cujo sistema de exploração de trabalho pelos seus patrões não eram muito diferentes dos que sofriam os escravos negros, e outros factos avulsos curiosos e interessantes de ler pelo formalismo da escrita e pela dramatização da escrita romanceada (para além de pelo que contam). A escravatura é assim mostrada como uma instituição que apesar de centrada maioritariamente na exploração de uma raça, como um sistema essencialmente de exploração económica, feito a pensar no lucro, e com consequências principalmente económicas (embora também humanas) mais que sociais ou inter-raciais.
Com o 3.º texto, "Quadros Marítimos", passamos de textos autobiográficos na primeira pessoa para narrativas do tipo de ensaio romanceado, em que, depois de 1 capítulo introdutório explicando o objectivo do texto que se seguirá, Maria Bordalo descreve em 4 capítulos um caso histórico de naufrágio português quinhentista ou seiscentista por capítulo (segundo creio, todos estes casos foram tirados da setecentista História Trágico-Marítima de Bernardo Gomes de Brito), em que o autor mostra não só um conhecimento da história e das suas fontes, mas também o mesmo conhecimento da realidade da navegação que mostra nos outros textos plenamente autobiográficos, que só poderia vir de alguém com a experiência de marinha militar e mercante e de navegação (como militar e como jornalista) que Maria Bordalo tinha (e que foi a causa das viagens que deram origem aos dois textos anteriores). Esta vivência transmite tanta vivacidade aos "romances marítimos" históricos (como este "romance" e o último do livro, "Ignoto Deo", sobre um episódio marítimo em torno do envio da irmã de D. Afonso V, a Infanta D. Leonor, para a Alemanha para casar com o Imperador Frederico III do Sacro Império Romano-Germânico) de Maria Bordalo como aos seus mais autobiográficos.
Quadro do casamento de Frederico III e D. Leonor
Como todos os textos sobre aventuras entre a natureza que sejam autênticos e não soem falso, os "romances" deste livro são textos ligados aos ciclos da natureza, de vida, de morte, de matar, de sobreviver, de trabalhar, de constituir família até, de partir e de voltar, e não há relato que mais enfatize isto neste livro do que os mais longos dos "romances" (novamente autobiográficos), "Viagens aos Polos" (com 4 capítulos e 51 páginas) e "Dous Annos de Viagem" ou mais correntemente "Dois Anos de Viagem" (com 8 capítulos e 75 páginas). O primeiro, descreve a viagem do autor de Lisboa ao Porto, ao Mar do Norte, para norte até ao Polo Norte, indo depois através das costas da América do Norte, do Oceano Pacífico, do Extremo Oriente, de Timor, do Taiti, através da Oceânia até perto da América do Sul, passando pela costa do Polo Sul/Antártida, e daí pela Nova Zelândia, através do Oceano Índico até à costa africana, circum-navegando esse continente até às Canárias e finalmente de volta a Lisboa. O último dos dois descreve uma viagem de Lisboa para a ilha da Madeira, e daí para a América do Sul, passando por Brasil, Uruguai e Argentina, fazendo o «torna-viagem» até à ilha do Faial, de onde navega de volta a Lisboa. São relatos repletos do quotidiano dos marinheiros, as suas superstições, da descrição da natureza e dos meios humanos visitados, dando quer a ideia atraente do mundo vivo conhecido pelo viajante quer a ideia do perigo e da morte que pendem sobre ele.
Uma sessão real em África segundo a revista Archivo Pittoresco, para a qual colaborava Maria Bordalo
As estórias e histórias deste (volume 2 de) Romances Marítimos é um pouco como a história do género humano, de uma espécie ante uma natureza que lhe é superior e que busca conseguir o triunfo, ultrapassar-se e espalhar-se pelo mundo para buscar terras melhores além do horizonte. Apesar das semelhanças (de escrita e de biografia) entre Maria Bordalo e outros autores Portugueses de aventuras marítimas como José Nunes da Mata (outro injustamente esquecido que a seu tempo analisaremos neste blogue), há uma diferença significativa entre a visão de Maria Bordalo e desses outros autores: é que Francisco Maria Bordalo apresenta o mar não tanto como ou perigo puro ou um simples habitat com um conjunto de seres que o habitam, mas antes como um fundo contra o qual se combatem os dramas dos humanos que navegam e os dramas do confronto entre esses humanos e a natureza e nações que se lhes esbarram no caminho. E assim muitos dos heróis destes "romances" acabam por vir a acabar não muito diferente do bispo D. Garcia de Menezes de Évora e Guarda que «miseravelmente veio a acabar n'uma cisterna do castello de Palmela».
E no fim de cada um destes "romances", se alguns conseguem finais relativamente felizes, outros acabam pouco longe de acabararem miseravelmente numa cisterna de castelo, por entre prisões em penas justificadas, sofrendo na escravatura ou perto disso, morrendo a caminho de algum lugar, morrendo no regresso à pátria, conseguindo cumprir os seus caminhos mas sofrendo para os cumprir, perdendo alguém próximo pelo caminho, sofrendo da vida difícil do navegante, sofrendo com a dureza da hierarquia dos navios, etc.. Embora a maioria das narrativas deste livro tenham finais não dramáticos e a maioria das suas viagens se concluam com sucesso, a sombra de problemas sociais que ocorrem em terra e de tragédias que ocorrem no mar nunca estão muito longe no texto e na mente do autor, que bem merece ser resgatado do esquecimento como um clássico da literatura de Portugal. Quanto a este livro, ele pode ser encontrado em PDF no Internet Archive, para além de em bibliotecas mais "centrais" e recheadas (que devem ser poucas para além da Biblioteca Nacional de Lisboa).


There are those books that by the cover us folks would not pick them up, and this second volume of Maritime Novels (I deal with this volume in isolation because the two volumes of Maritime Novels are posthumous collections of texts independent amongst themselves aside for the common "maritime" style and themes, hence that I believe that the book could well be titled Romances Marítimos: Episódios duma viagem, Cenas da escravatura, Viagens aos pólos, Quadros marítimos, Dois anos de viagem, Ignoto Deo, "Maritime Novels: Episodes of a Travel, Scenes of Slavery, Travels to the Poles, Two Years of Travel, Maritime Tableaux, Ignoto Deo") by the today almost totally forgotten Francisco Maria Bordalo is one of them , having one of those "respectable covers" with the title alone, framed in a rectangular outline and little more (and the pages with the title already inside the cover, before the first page with the title to the first text, little more that it does it have, being equally as elegant as somewhat empty). But those who overcomes this dry first impression, in truth shall find here a type of literature that we do not tend to expect from Portuguese authors (mainly from thge author's time, the middle of the 19th century): a maritime that does not owe much (qualitatively speaking) to the North-American Herman Melville (of Moby Dick fame) who wrote few years before the first works by Maria Bordalo. Who would have the minimum knowledge of marketing (even in the 19th cenury) would put on the cover these type of books sea wolvse, young good-looking adventurers, islands, visited natives (or native women...), maritime animals, slave "convoys", etc. (in the relatively simple style of the covers of the victorian adventure novels by W. H. G. Kingston, who by the way lived part of his youth in Portugal's Oporto), not this... "one hand full of nothing and another empty".
To see what I would have in mind for a cover for Maria Bordalo's book that would be "any good" let it be counterpointed this eighteen-hundreds cover to In the Rocky Mountains by the Briton W. H. G. Kingston
For the few (really a few) that never let Maria Bordalo fall into oblivion (for that helped for example the reposting of some of his short worksin the midst of the World Expo '98, as almost all the kind of material on the sea and navigation in the Portuguese literature up to that time-point), his intense and adventurous, elemental (or were it not involved with the elements of water, of wind and other associated to the maritime navigation writing), never cease exercising some pull-force on them, having these texts published posthumously publisedh in 1880 and collecting works published in the press by the author (a journalist hat had a past in the Portuguese Navy that went back to being twelve years-old, when he entered into the Navy midshipmen clas, at 13 years-old navigating twice Lisbon-Azores, graduating himself from the Portuguese Navy Academy at 16, passing the remaining years by th navy-ensign in effect post, and member of the commission that fetched the remains of the luso fleet squadron imprisoned in the Tagus water by the admiral Roussin in 1834) some three or four decades before, having the author passed-away already in 1861 (at 40 years-old), not getting to see the oblivion in which his work relatively popular in his time would fall by the turn of the century, lord knows why.
This book gives to the readers an ensemble of fictionalised reportings reporting travels of the author's and some semi-fictionalised reports of maritime events in Portuguese maritime history. In his four short chapters, "Episódios duma Viagem" ("Episodes of a Travel") reports an 1840 travel, in which going from Portugal, Maria Bordalo arrived to the parts of the blazing Equator sun, being at sighting distance of the Island of Sao Tomeh when it starts the report of the book's first "novel". The book goes on the way to Luanda. The sea seems almost a mirror (so clear that it is). The crew, suffers from crow's chest, liver-leaper and bunions and it yawned, and the officers talked amongst themselves without much emotion, in a stuffy atmosphere. Here is when it is seen on the waters a bottle with a message, that some sailors and the captain remove out od the waters into their barge and in the ship open up (all the scene according to the author impressed him much when it occured). Already by night, the captain unties the message and reads it. It is from the second pilot Carlos António Pedroso from the galley Amazona. The Amazona was a ship that 9 years before had tumbled down its prow masts over the mainsail, which tumbled over the larboard topsail, while the boat started to let water in. The pliot author to the message had gone to drink to his booth, and when he woke up it was already the following day and saw himself alone on an empty ship with sharks swimming around. The letter ended by asking that whoever found the letter prayed for him and his sins.
These facts left the crew of the ship sickened, seen that the news from 9 years before said that the whole crew of the Amazona had saved itself to board an English ship, and obviously that the hypothesis of a voluntary crewman abandonment annoyed them completely. But when they arrived to Luanda, the facts on the event's resolution sort themselves in relatively comical form: Maria Bordalo and the remaining crewmen find there, alive, Carlos, when the captain of the ship where it followed the writer went to denounce to the authorities the abandonment of a crewman of the Amazona in the shipwrecking of 9 years before. He narrates how afterwards to sending the message, while he prayed on the deck, when a wave overflowed climbing the ship's stern and beat him against the ship's steering wheel's logand he got instinctively grabbed unto it, gazed unto the horizon and saw reflected on the water an English ship with his companions approaching themselves, saving him on time and taking him back to Lisbon, where he marries and from where he leaves to Luanda and becomes slaver (little time after, the author would see him arrested for this activity; at the time slavery was still legal in Portugal but due to the pressure of our British allies, that had by this time-point already for a while abolished slavery in their territories, little by little it went being an activity each time more pressured).
The theme of slavery gives a certain complexity to the text today: Maria Bordalo shows slavery as something that exists but does not praise as something natural nor something that "has" to happen to the "inferior people" of Africa (or as mere byproduct of a "civilisation"), and although not commenting in too codemning a way Carlos' activity, yet the way hiw he ends (although it be a fact and not the author's making-up) only proves that maybe he should have sticked himself to Lisbon with his woman instead of propping himself up into a slaver. This apparent "progressivism" of Maria Bordalo about humanist and social issues reinforces itself with an episode of the travel between Luanda and Ambriz, in which a mulatto raft master mariner is arrested accused of stealing a slaver's knife(the curious fact of being a halfbreed facing off with a slaver gives one something to think on) and he is condemned to lashings by the local governor without investigation, but afterwards to a combat by ship with an English ship, the accused's innocence is proven by Maria Bordalo and a friend. In the following text, Maria Bordalo will go back again to approach the issue of race, also with a relatively "advanced" position for th period (a little more relativist than the usual at the time or even today). At the bottom of it, Maria Bordalo accepts the world diversity that he knew relatively well from his travels, and sw the slavery and racial clashes as regretable consequences of the way as the world was and of the encounters not always peaceful among the world's diverse races, understanding the causes of the peoples that suffered under oppressions, and having sympathies for the status sometimes paradoxical of the several types of halfbreeds throughout the world.
A frigate explosion on another maritime novel by F. Maria Bordalo, Sansão na Vingança! ("Samson on the Vendetta!")
The book's following text, also with 3 short chapters, is"Cenas da Escravatura" ("Scenes of Slavery"), which also gives a lot to think about race and the history of racism with its real portrait of a travel of the author's to Brazil in 1844. The report done on the slaver institution in Brazil is very much curious for what it reportsus on many rarely discussed details of the history and reality of the slavery from Brazil: we got stories of halfbreeds of black skin that were owners of slaves that were halfbreeds of white skin, of non-slave whites whose system of labour exploitation by their bosses were not much different of the ones suffered the black slaves, and other miscellaneous facts curious and interesting to read for the writing's formalism and for the dramatisation of the romanticised writing (beyond the what they are worth for). Slavery is so shown as institution that despite centered overwhelmingly on the exploitation of one race, as a system essentially of economical exploitation, done thinking on the profit, and with mainly economical consequences (although also human) more that social or interracial.
With the 3rd text, "Quadros Marítimos" ("Maritime Tableaux"), we pass from first person autobiograpical texts unto narratives of the rommanticised essay type, in which afterwards to 1 introductory chapter explaining the objective of the text that shall follow, Maria Bordalo describes in 4 chapters a historical case of Portuguese fifteen-hundredth or seventeen-hundredth shipwrecking a chapter (according to my belief, all these cases were taken out from the seventeen-hundredth História Trágico-Marítima/"Tragic-Maritime History"/"The Tragic of the Sea" by Bernardo Gomes de Brito), in which the author shows not just a knowledge of history and of its sources, but also the same knowledge of the reality of navigation that he shows in the other fully autobiographical texts, that only could have come from someone with the experience of military and merchant navy and of navigation (as military-man and as journalist) that Maria Bordalo had (and which was the cause of the travels that gave origin to the two previous texts). This livingness transmites so much vivacity to the historical "maritime novels" (like this "novel" and the last one from the book, "Ignoto Deo", on a maritime episode around the sending of King Don Alfonso V's sister Dona Eleanor, for Germany to marry with the Emperor Frederick III of the Holy Roman Empire) by Maria Bordalo as to his more biographical ones.
Tableau of the wedding of Frederick III and Dona Eleanor
Like all the texts on adventures among nature that be authentic and do not sound false, the "novels" from this book are texts conncted to the cycles of nature, of life, of death, of killing, of surviving, of working of starting a family even, of leaving and of coming back, and there is no report that more emphasises this on this book than the longest of the "novels" (once again autobiographical), "Viagens aos Polos" ("Travels to the Poles", with 4 chapters and 51 pages) and "Dous Annos de Viagem" or more currently "Dois Anos de Viagens" ("Two Years of Travel" or "Twain Years of Travel" with 8 chapters and 75 páginas). The first, describes the author's travel from Lisbon to Oporto, to the North Sea, northwards till the North Pole, going through the shores from North America, from the Pacific Ocean, from the Fra East, from Timor, from Tahiti, through Oceania till near South America, passing by the shore of the North Pole/Antartida, and from there till New Zaland, through the Indian Ocean till the African coast, circumnavigating that continent till the Canary islands and finally going back to Lisbon. The last two describe a travel from Lisbon to Madeira island and from there to South America, passing by Brazil, Uruguay and Argentina, doing the «back-again-trip» till the Faial island, from where he sails back to Lisbon. It are reports filled of the daily-life of the sailors, of their superstitions, of the descrition of nature and of the visited human milieux, giving out both an attractive idea of the lived-in world known by the traveller and a clue on the danger and the death that pend over the traveller's self.
A sessão real ("royal session", local equivalent to a pow wow) in Africa according to the Archivo Pittoresco ("Picturesque Archive") magazine, for which collaborated Maria Bordalo
The stories and histories of this (volume 2 of) Maritime Novels is a little like the story of the humankind, of a species in face of a nature that is to itself superior and that searches to get its triumph, overcome itself and spread itself across the world for fetching better lands beyond the horison. Despite the similarities (of writing and of biography) between Maria Bordalo and other Portuguese authors of maritime adventures like Jose Nunes da Mata (another unfairly forgotten one that on its due time we shall analyse on this blog), there is a significant difference between the vision of Maria Bordalo and of those other authors: it is that Maria Bordalo presents the sea or not so much as either danger or a simple habitat for a set of beings that inhabit it, but instead as the background against which it are fought the dramas of the humans that sail and the dramas of the confrontation of those humans and the nature and nations that to them do bump before their path. And so many of the heroes of these "novels" end by coming to end not very differently from the bishop Don Garcia de Menezes from Ehvora and Guarda that «miserably came to end ō̆n a cistern of the castē̆l of Palmela».
And at the end of each one of these "novels", if some can get relatively happy endings, others end little far-off from ending miserably on a cistern of castle, between prisons on justifiable penalties, suffering in slavery or close to that, dying on the way to some place, dying returning to the fatherland, getting to fulfil their paths but suffering to fulfil them, losing someone close along the way, suffering from the hard life of the boating, suffering with the harshness of the hierarchy of the ships, etc.. Although the majority of the narratives of this book have not dramatic endings and the majority of their travels conclude themselves with success, the shadow of social problems that occur at land and of tragedies that occur at sea never are too faraway on the text and in the mind of the author, that well deserves to be rescued from oblivion as a classics of Portugal's literature. About this book, it can be found on PDF at the Internet Archive, besides on more "central" and well-stocked libraries (which must be few beyond the Lisbon National Library).

segunda-feira, 20 de abril de 2015

"As Aventuras de Jim West", Raul Correia // The Adventures of Jim West", Raul Correia

Nos anos de 1940 Raul Correia foi o mais notório escritor para jovens na revista O Mosquito (mais conhecido pela sua prosa e guionismo de BD, mas também sendo apreciado pela poesia que publicava sob o pseudónimo de "Um Velho" ou "O Avozinho" na rubrica cantinho de um velho n'O Mosquito), e depois dessa década, só na de 1970 voltou a ter alguma notoriedade, com a Colecção Juvenil Galo de Oiro da Portugal Press (continuação da colecção Galo de Ouro da mesma editora que juntava clássicos internacionais como Ben-Hur ou Os Três Mosqueteiros) que recolheu várias novelas de aventura vindas de revistas anteriores como O Mosquito ou Mundo de Aventuras (uma "dissidência" d'O Mosquito criada pelo escritor e jornalista Roussado Pinto) e algumas novas novelas no mesmo estilo por autores mais novos "herdeiros" do estilo dessas revistas (como Jorge de Magalhães, há já 20 anos notório estudioso e coleccionador de literatura de aventuras e "popular" portuguesa e argumentista de BD), e na década de 1980 Correia foi mais visível quer pela colecção de livros de contos curtos As Histórias do Avozinho, quer como uma espécie de 'velho senador' da literatura para jovens em Portugal, acarinhado pelos fãs, entrevistado com alguma frequência e visto como a figura 'patronal' de uma nova 'encarnação' d'O Mosquito (agora principalmente como revista de BD). Hoje Correia volta a recuperar alguma visibilidade com a sua biografia A Vida de Jesus ilustrada por Carlos Alberto Santos (como muitas obras de Correia) a ser editada pelo Clube do Livro SIC com bastante sucesso de vendas.
Raul Correia
Correia aspesar do seu actual 'semi-olvido', foi um autor prolífico, em tempos muito popular e com bastante estilo literário e que ainda hoje se lê bem como um autor (de estilo polido) para jovens de aventuras históricas ou actuais, mais ou menos realistas (embora a fantasia surja nas suas obras; a ficção científica porém detestava), no estilo da melhor literatura do género no século XIX e primeira metade do XX. Nascido a 11 de Dezembro de 1904 em Lisboa, Raul Correia vinha de uma família da Rua da Prata (então chamada Rua Nova da Rainha), rua de gente dada a ofícios de comércio ouriveseiro e livreiro, tendo-se virado para a escrita pelos anos de 1930 para a revista Tic-Tac (1931-1937) fundada pelo ilustrador Cardoso Lopes (depois co-fundador da O Mosquito com Correia), quando mesmo em Portugal com a dimensão mais modesta do seu mercado de consumo de cultura popular, se vivia um momento de boom e (relativamente) forte vitalidade.
Vindo de um background muito português mas "alimentado" literariamente não só pela literatura clássica portuguesa do Iluminismo ("erudita" ou "de cordel") e do romance histórico à Herculano (que já vimos neste blogue na forma do Eurico) mas também por grandes literaturas clássicas de aventuras universais como Robinson Crusoé, O Último dos Moicanos e as obras de Edgar Rice Burroughs (o criador de Tarzan, de quem Correia traduziu muitas obras para Português pelos anos de 1970). Mas Raul Correia não seguiu só a tradição do romance clássico e/ou de aventuras, nem traduziu a ideologia oficial do Portugal da altura na sua literatura, mas 'traduziu' para o contexto português a ideologia liberal e social que se via na literatura de aventuras infanto-juvenil anglo-saxónica que usou como uma branda resposta ao oficialismo do Estado Novo (com o qual O Mosquito teve um historial de frequentes problemas com a censura), e foi um autores fundadores de um western português e de uma literatura de aventuras pulp similar mas passada no território e história portugueses, que era lida e comercializada de forma algo industrial e de massas, que para melhor e para pior ajudou a ocidentalizar e americanizar os gostos lusos e foi um ganha-pão para muita editora e muito audiovisual em Portugal, e serviria de escapismo a muito cidadão Português durante anos de maior escassez económica ou recessão.
Capa do 1.º número d'O Mosquito
Esta novela, publicada n'O Mosquito entre 27 de Janeiro e 27 de Março(?) de 1943, é a narrativa de Jim West, um colono relativamente jovem de cabelos negros (uma variação de Latino Sul-Europeu ao típico da literatura western) e cara lavada (tudo isso lhe dá um ar vagamente índio, ou pelo menos vagamente à Príncipe Valente), já casado, que parte nos anos de 1840 com a mulher Louise para o Wyoming, viajando nas comuns (e cliché) caravanas de carros-de-cavalos para Oeste. Neste período, os EUA haviam tido as suas primeiras vitórias militares contra os Mexicanos, expandiam-se pelo sudoeste da América do Norte e começavam a expandir-se para o noroeste (onde está o Wyoming) ante o recuar dos caçadores de peles independentes e dos interesses franceses, russos e britânico-canadianos. Pelo caminho, Jim acaba por se perder da mulher, conhecer o velho mountain man Nath Pig (sim, Nath PORCO) e juntos acabam por ver-se no rasto de Siouxs atacantes de um chefe Lobo Cinzento. Quando se vêm novamente livres, Jim e Nath têm de continuar a caminho de Forte Laramie (então o principal povoado da região do Wyoming), para onde a caravana onde Louise segue se dirige, para se reencontrarem com os seus e avisarem todos de um ataque índio que para o Forte se dirige, e ajudarem na defesa contra o mesmo ataque. Para além desta linha de enredo principal, ainda temos uma vida diária e de trabalho de West e Pig tentando sobreviver no Wyoming do início da colonização norte-americana e do fim da economia de comércio de peles.
O grande foco do enredo, para além da acção aventureira e da camaradagem masculina de Jim e Nath, é familiar: do amor de Jim ao lar e à família, e da tentativa de regressar à sua esposa Louise, que está grávida, e constituir um novo lar no lugar de novo estabelecimento no Faroeste. Este texto é um certo louvor de um certo "arrivismo" social positivo e trabalhador (e com ética de trabalho), das famílias vinda de um fundo familiar empobrecido que com uma migração interna de colonização consegue uma posição socialmente mais confortável e um ganha-pão digno e cómodo, mas não depois de uma viagem dura e de um começo muito difícil, e mesmo depois disso nunca conseguindo maior "favorecimento" legal ou capacidade financeira (este é o tipo de filosofia que encaixa na lógica do "Sonho Americano" de classe média ou trabalhadora, mas também pelo mundo fora no ideal da classe média ou do colono de classe baixa e média Europeu, podendo comparar-se esta realidade com a realidade dos colonos Portugueses em África que talvez Correia conhece-se nem que minimamente).
Jim, Louise e Nath Pig
O enredo é assim simultaneamente uma estória de Jim West a tentar voltar para Louise e não mais separar-se dela, uma estória das aventuras de Jim e Nath em busca da riqueza e tesouros que existem naquelas terras e que quando mais jovem Nath explorou, uma estória da criação de um novo lar pela família West depois da nova fixação em terra segura, uma estória dos confrontos com os desafios naturais (climáticos ou animais), indígenas e dentre a sociedade colona depois da fixação, e por fim uma estória do aumento da família West (cujo filho seria o herói de uma sequela também escrita por Correia e desenhada por E. T. Coelho, mas mais próxima da BD pura, Falcão Negro, o filho de Jim West).
Como se vê, o material da narrativa de Correia não deve nada à ficção usual deste género escrita por Norte-Americanos ou outros autores Europeus (principalmente Espanhóis, Italianos, Franceses e Alemães) que "ensaiaram" o western, que se podem ler em várias colecções para este tipo de público infanto-juvenil ou jovem de várias décadas para cá, sendo Correia um dos primeiros (embora não o primeiro de todos) no western em Portugal, e que pelo que se pode ver no blogue Memorial do Búfalo foi um género que teve muita criação por Portugueses, por vezes enchendo colecções inteiras, com estes autores oscilando entre um estilo de inspiração mais literária ou cinematográfica do western clássico ou inspirado mais no western spaghetti italo-espanhol (dependendo dos gostos de uma pessoa podemos ver os "herdeiros" de Correia no western como melhores ou piores que o seu mestre, sendo indiscutível que se em estilística Correia tinha poucos rivais na literatura "popular" portuguesa, em narração e inventividade nem todos os autores ficavam a dever muito a ele), alguns podendo preferir a abordagem mais "dura" ou com temas mais sociais e críticos (e menos com a idealização do "Velho Oeste") de Roussado Pinto e outros autores "tardios", outros preferindo o Oeste aventureiro-pitoresco e belo de Correia (e mesmo o Oeste deste, se não mostra tanta luta de classes, trabalho infantil ou conflitos sociais e raciais, não deixa de mostrar que os colonos tinham entre si muitos bandidos e vigaristas, e se algumas das mulheres do enredo lembram a estereotipada 'flor de porcelana', outras como Louise são mulheres pioneiras mais realistas e que sobrevivem duramente quando os homens estão longe, e a terra é, se bela, principalmente nas ilustrações originais de E. T. Coelho, dura e estranha). Correia como muitos autores de aventuras infanto-juvenis é criticado por "higienizar" contextos de perigo e promover (mesmo se involuntariamente) ideologias politicamente incorrectas, mas a verdade é que em vida era tanto criticado por isto como por escrever narrativas que não promoviam plenamente o ideário do Estado Novo mas que antes sobrepunham a liberdade ao tradicionalismo e o nacionalismo. Preso por ter cão...
Gostemos ou não, o "ideário" (se não é demais ler "ideários" neste tipo de obras) deste obra e similares era um elemento vital à possibilidade de venda delas na altura em que eram vendidas nos meados e meados-final do século XX, em que no tardo-Salazarismo e mais tarde no Marcelismo e na sociedade do consumo pós-25 de Abril, o número de pessoas acima do limiar da pobreza ia gradualmente aumentando, junto com a capacidade de consumo, a economia ia lentamente industrializando-se mais intensamente e ainda mais lentamente terciarizando-se, se ia instalando a sociedade do conforto, do lazer e do entretenimento, e assim apesar do desenvolvimento lento do resto na sociedade eram tempos de optimismo, de entretenimento, de pensamento não das escolas críticas e marxistas que ferviam o sangue ante tal literatura (fazendo excepção do período do PREC em que tais escolas tomaram conta da produção de discurso em Portugal e fizeram guerra e censura a Correia, Roussado Pinto e afins). Com a queda incontestável do poder das escolas marxistas (hoje mesmo os esquerdistas são muito mal instruídos quanto a marxismo e não conseguem distinguir uma citação de Marx de uma de Hugo Chávez ou de Chesterton) a margem de manobra da literatura do tipo da de R. Correia aumentou, embora o consumo de cultura se tenha tornado menor por limitações orçamentais das famílias, e o optimismo seja menos, mas o 'arrivismo social positivo' e espírito de trabalho e combate a dificuldades do texto ainda se coadunam com o entretenimento de uma sociedade em dificuldades, e assim dão um ideal a aspirar aos re-leitores desta literatura no pós-"tempo das vacas gordas" que redescubram os textos de Correia, e outros, hoje.
Os caubóis (para escrever cowboys à portuguesa), colonos, exploradores e cavaleiros de Raul Correia são assim o modelo de muitos heróis desses moldes que surgiriam a partir dos anos da revista O Mosquito (de 1930 a 1940) em literatura portuguesa para leitores mais jovens (ou dados a ler aventuras independentemente da idade), fossem caubóis espaciais, detectives aventureiros ou todo o tipo de heróis tão fortes como bons em livros do tipo que "dão corda" à imaginação do leitor em crescimento, ajudando-o a ir conhecendo a sua própria natureza e o mundo em seu redor. É por estas e por outras que textos como As Aventuras de Jim West e a segunda parte desta relativamente longa novela (que terá o seu tempo de a discutirmos neste blogue) ajudaram a entreter e cultivar numa certa visão não-radical mas libertária da sociedade em Portugal, e a promover a busca pelo leitor das suas próprias lutas, caminhos de exploração do mundo e a sua própria forma de aplicar esses valores individuais, liberais e comunitários, dentro do possível para a vida real.
Infelizmente, ao contrário de algumas obras de Raul Correia, esta nunca foi publicada em livro, por isso excepto consultando cópias antigas da revista O Mosquito de 1943, só vendo online algumas páginas que surgem no blogue dedicado especificamente à revista de estreia desta novela, O voo d'o Mosquito (atenção, com as imagens das páginas de texto algo fora de ordem, embora lidas todas elas consegue-se ordenar de forma algo intuitiva a sua ordem cronológica no enredo, embora ainda assim seja óbvio que alguns capítulos faltam). Que vos faça proveito. A mim fez certamente. E alguma editora bem que podia recuperar esta novela (e as ilustrações de E. T. Coelho) para uma edição para jovens deste texto.


In the 1940s Raul Correia was a notorious writer for young people in the O Mosquito ["The Mosquito"] magazine (more known for his prose and Comics script-writing, but also being enjoyed for the poetry that he published under the pseudonym of "Um Velho" ["An Old-man"] or "O Avozinho" ["The Grandaddy"] in the rubric cantinho de um velho ["little-corner of an old-man"] in O Mosquito), and after that decade, only in the 1970s he went back to have some notoriety, with the Colecção Juvenil Galo de Oiro ["Juvenile Collection Golden Rooster"] from the Portugal Press (continuation of the Galo de Ouro collection of the same publisher that joined international classics like Ben-Hur or The Three Musketeers) that gathered several adventure novellas coming from previous magazines like O Mosquito or Mundo de Aventuras ("World of Aventures", a "dissidence" of O Mosquito created by the writer and journalist Roussado Pinto) and some new novellas in the same style by younger authors "heirs" of the style of those magazines (like Jorge de Magalhães, for 20 years already notorious scholar and collector of Portuguese adventure and "popular" literature and Comics scriptwriter), and in the decade of the 1980s Correia was visible both for the collection of books of short tales As Histórias do Avozinho ("The Grandpa's Stories"), both as a kind of 'old senator' of young people's literature in Portugal, cherished by the fans, interview with some frequency and seen as the 'patronal' figure of a new 'incarnation' of O Mosquito (now mostly as a Comics magazine). Today Correia gets back to recover some visibility with his biography A Vida de Jesus ("The Life of Jesus") illustrated by Carlos Alberto Santos (like many works of Correia) being published by the Clube do Livro SIC (the book club of Portuguese private TV channel SIC) with quite a selling success.
Raul Correia
Correia despite his current 'semi-oblivion', was a prolific author, in other times very popular and with quite a literary style and that still today can be read well as a young people author (of polished style) of historical or current adventures, moreor less realistic (although fantasy comes up in his works; science fiction though he hated), in the style of the best literature of the genre in the 19th century and the first half of the 20th. Born at 11th December, 1904 in Lisbon, Raul Correia came from a family of the Rua da Prata ("Silver Street", then called Rua Nova da Rainha, "Queen's New Street"), street of folk given to trades of jeweler and bookseller comerce, having turned himself for writing by the 1930s for the Tic-Tac magazine (1931-1937) founded by the illustrator Cardoso Lopes (afterwards co-founder of the O Mosquito with Correia), when even in Portugal with the more modest dimension of his market of consumption of popular culture, it did live itself a a moment of boom and (relatively) strong vitality.
Coming from a background very Portuguese but "fed" literarily not just by the classical Portuguese literature of the Enlightenment ("scholarly" or "broadside") and of the Herculano style historical novel (that we already saw in this blog in the form of the Eurico) but also by great classical adventure literatures like Robinson CrusoeThe Last of the Mohicans and the works of Edgar Rice Burroughs (the creator of Tarzan, from who Correia translated many works for Portuguese about the 1970s). But Raul Correia didn't just follow the tradition of the classical and/or adventure novel, nor 'translated' the official ideology of the Portugal of the time into his literature, but 'translated' to the Portuguese context the liberal and social ideology that saw itself in the Anglo-Saxonic children's/juvenile adventure literature that he used as a bland answer to the oficialism of the New State regime (with the which O Mosquito had a trackrecord of frequent problems with the censorship), and was one of founding authors of a Portuguese western and of an pulp adventure literature similar but set in Portuguese territory and history, that was read and commercialized in way somewhat industrial and massified, that for better and for worse helped to westernize and americanize the Luso tastes and was a bread-earner for many a publishing house and much audiovisual in Portugal, and would serve of escapism to many a Portuguese citizen during years of greater economy scarcity or recession.
Cover of the 1st number of O Mosquito
This novella, published in O Mosquito between 27th January and 27th March(?), 1943, is the narrative of Jim West, a relatively young settler of dark hair (a variation of South-European Latin to the typical of the western literature) and clean-shaven (all that gives him a vaguely Indian air, or at least vaguely a la Prince Valiant), already married, that leaves in the 1840s with the wife Louise to Wyoming, travelling in the common (and cliche) horse wwagon caravans West. In this period, the USA had had their first military victories against the Mexicans, expanded themselves through the southwest of North America and started to expand themselves to the northwest (where Wyoming is) before the retreating of the independent fur hunters and of French, Russian and British-Canadian interests. Along the way, Jim ends up losing himself from the wife, meet the old mountain man Nath Pig (yes, Nath PIG) and together they end up seeing themselves in the trail of attacking Sioux of chief Grey Wolf. When they see themselves free again, Jim and Nath have to continue on the way of Fort Laramie (then the main settlement of the Wyoming region), to where the caravan where Louise follows through heads itself, to themselves meet again with their own and warn all of an Indian attack that to the Fort heads itself, and help in the defense from the same attack. Besides that line of the main plot, we still have a daily and work life of West and Pig trying to survive in the Wyoming of the beginning of the North-American colonization and of the ending of the fur trade economy.
The great focus of the plotting, besides of the adventurer action and of the masculine comradery of Jim and Nath, is a family one: of the love of Jim to the home and to his family, and of the attempt of returning to his spouse Louise, who is pregnant, and to constitute a new home in the place of the new settlement in the Far-west. This text is a certain apraisal of a certain posiitive and working (and with work ethic) social "arrivisme", of the families coming from an impoverished family background that with an internal colonization migration gets a socially more comfortable position and a worthy and cozy bread-earner, but not before a hard journey, and even after that never getting greater legal "favouritism-giving" or financial capacity (this is the type of philosophy that fits in the logic of the midle and working class "American Dream", but also throughout the world in the ideal of the middle class or of the lower and middle class European colonist, being able to compare itself this reality with the reality of the Portuguese settlers in Africa that maybe Correia knew even if minimally).
Jim, Louise and Nath Pig
The plot is so simultaneously a story of Jim West at trying to get back to Louise and no more separating himself from her, a story of the adventures of Jim and Nath in search of the wealth and treasures that exist in those lands and that when younger Nath explored, a story of the creation of a new home by the West family afterward of a new setting in safe land, the story of the confrontations with the natural challenges (climatic or animalesque), indigenous and from among the settler society afterwards of the setting, and at last a story of the increase of the West family (whose son would be the hero of a sequel also written by Correia and drawn by E. T. Coelho, but closer to the pure Comics, Falcão Negro, o filho de Jim West, "Black Falcon, the son of Jim West").
As it is seen, the material of Correia's narrative pales nothing by the usual fiction of this genre written by North-Americans or other European authors (mostly Spaniards, Italians, French and Germans) that "rehearsed" the western that can be read in several collections for this type of children's/juvenile or young people's audience from several decades to now, being Correia one of the first (though not t the first of all) in the western in Portugal, and that for what can be seen in the blogue Memorial do Búfalo ["Memorial of the Buffalo"] was a genre that had much creation by Portuguese-people, sometimes filling-up whole collections, with these authors oscilating between a style of more literary or classic western cinematic inspiration or inspired more in the Italian-Spanish western spaghetti (depending on the tastes of a person we can see the "heirs" of Correia in the Portuguese western as better or worse than their master, being unarguable that if in stylistics Correia had few rivals in Portuguese "popular" literature, in narration and inventivity not all the authors stay paling too much before him), some possibly prefering the more "though" and with more social and critical (and less idealization of the "Old West" approach of Roussado Pinto and other "later" authors, others prefering the adventurer-picturesque and fair West of Correia (although even the West of the latter, if it doesn't show so much class struggle, child labor or social an racial conflicts, it doesn't cease of showing that the settlers had among themsellves many bandits and conmen, and if some of the women of the plot remember the stereotypical 'porcelain flower', others like Louise are pioneer women more realistic and who survive harshly when the men are faraway, and the land is, if beautiful, mainly in the original illustrations of E. T. Coelho, hard and strange). Correia like many authors of children's/young people's adventures is criticized for "sanitizing" contexts of danger and promoting (even if unvoluntarily) politically incorrect ideologies, but the truth is that in life he was as much criticized by this as for writing narratives that did not promote the set-of-ideas of the New State but that overplayed liberty to traditionalism and nationalism. Preso por ter cão...
Either liking or not, the "set-of-ideas" (if it is not too much to read "sets-of-ideas" in this kind of works) of this work and similar ones was a vital element to the possibility of sale of them in the time in which they were sold in the mid and mid-late-20th century, in which in the late-Salazarism and later in the Marcelism and in the consumption society post-25th of April, the number of people above the poverty threshold went gradualy increasing, together with the capacity of consumption, the economy went slowly industrializing itself more intensely and even slower tertiary-sector-izing itself, itself went installing the society of comfort, of leisure and of entertainment, of thought not of the critical or marxist schools that boiled their blood before such "lower" literature" (to this lack of influence on the major public of critical/marxist schools making exception of the period of the Portuguese On-Going Revolutionary Process or Processo Revolucionário Em Curso/PREC in which said schools took over the production of speech in Portugal and made "war" and censorship to Correia, Rousado Pinto and the ilk). With the undebateable fall from power of the marxist schools (today even the leftists are very baddly instructed about marxism and cannot distinguish a quote by Marx from one by Hugo Chávez or Chesterton) the leeway of literature of the type of the one of Raul Correia increased, although the consumption of culture itself has become smaller for budgetary constraints of families, and the optimism be lesser, but the 'positive social arrivisme' and spirit of work and combat to dificulties of the text still do stay in line with the entertainment of a society in dificulties, and so, give an ideal to aspire to the re-readers in the post-"time of the fat cows" that do rediscover the texts of Correia, and others, today.
The caubóis (to writte cowboys Portuguese-style), settlers, explorers and knights of Raul Correia are so the model of many heroes of those molds that came out starting from the years of the O Mosquito magazine (from the 1930s to 1940s) in Portuguese literature for readers who are younger (or prone to read adventures regardless of the age), were they space caubóis, adventurer detectives or all kind of heroes as strong as good in books of the type that "give free rein" to the imagination of the growing reader, helping him/her to to get to know his own nature and the world around him. It's on account o these and other things that texts like The Adventures of Jim West and the second part of this relatively long novella (that shall have it's turn of us discussing it in this blog) helped to entertain and cultivate a certain non-radical but libertarian vision from society in Portugal, and to promote the search by the reader of his/her own fights, ways of exploring of the world and his/her own way of put to use those individual, liberal and communitarian values, within the possible for real life.
Unfortunetly, unlike some works of Correia, this one was never published on book, so except checking ancient copies of the O Mosquito magazine from 1943, only seeing online some pages in the Portuguese language original that appear in the blog dedicated specifically to the magazine of premiere of this novella, O voo d'o Mosquito ["The flight of the Mosquito"] (attention, with the images of pages of text somewhat out of order, although read all of them they are able to order themselves in way somewhat intuitive their chronological order in the plot, although it still be obvious that some chapters are missing). That you enjoy them. I most certainly did. And some publisher well could recover this novella (and the E. T. Coelho illustrations) for an edition for young people of this text.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

"Arco de Sant'Ana", Almeida Garrett // "Arch of Sant'Anna", Almeida Garrett

Este projecto do Clássicos da literatura infanto-juvenil Portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics por um ano tem forçado uma disciplina e esforço em linha com o que podem imaginar os leitores destas linhas. Também tem implicado uma certa flexibilidade de me levar a buscar uma variedade de obras que vão o mais de encontro aos gostos da generalidade do público alvo deste género de literatura e do tipo de literatura mais como o tipo de livros que surgem nas colecções deste tipo que surgem envolvendo maioritariamente livros não portugueses pelo mundo fora, independentemente do meu gosto pessoal e acima de tudo tentando o máximo possível adequar o estilo em que eu o escrevo e o estilo em que o autor o escreveu (para não criar demasiado destoamento entre ambos). Esta última parte exige uma abertura e curiosidade para experienciar livros desconhecidos com a curiosidade e mente aberta tradicionalmente associados às crianças e jovens (aos quais este tipo de livros se destinariam). Por vezes essa leitura é boa, outra não, mas não é sempre que um livro nos pode surpreender em plena leitura quase como se de repente nos apercebêssemos de algo quanto a ela. A mim, isso aconteceu a meio deste romance histórico de Almeida Garrett publicado em dois volumes em 1845 e 1850.
Este 17.º livro aqui analisado narra a estória de Aninhas, uma popular Portuense do reinado medieval de D. Pedro I (sim, o da Inês de Castro) que, enquanto o marido viajou para longe, anda a ser abordada para sedução pelo bispo do Porto (que é lamentado por estar naquele cargo por Aninhas e a vizinha Gertrudes desde o primeiro momento).
Aninhas ameaçada por Pêro Cão, escroque do Bispo
Naqueles tempos o detestado bispo tinha uns autênticos paços perto da Sé (Garrett faz-nos um "roteiro" da cidade desde o Arco de Sant'Ana até à Sé, divertindo-se pelo meio introduzindo anacronismos como a estátua do Porto setecentista e apontando-os instantaneamente), em torno dos quais ronda Vasco, o estudante de 19 anos que namora Gertrudes às escondidas do pai dela e reside no Porto à 5 anos estudando para cónego por desejo do tio (embora deseje daí a 5 anos partir para Salamanca para estudar para ser médico, como o tio de Gertrudes, o físico do Rei D. Pedro, D. Simão), que fala com um velho amigo, um dos guardas dos paços, Rui Vaz, que lhe confidencia que suspeita que os homens das redondezas preparam algo malvado. Enquanto isso, o estudante está dividido, entre a afeição com Gertrudes que é do "partido" patriótico (a favor do poder central do Rei) e a sua dependência da amizade e protecção do bispado (até o alazão que usa para ir visitar Gertrudes e lhe pegar o lenço deve aos patronos dos paços do bispo). Quando depois de nova passagem, a cavalo, de Vasco à porta de Gertrudes, enquanto este passa por barca para Vila Nova de Gaia, na Rua de Sant'Ana passam vários oficiais do bispado, chefiados por Pêro Cão, o desdentado e algo grotesco de ar almudeiro (cobrador de impostos na medida para cereais/líquidos do almude) do bispo. Eles rumam a uma porta e um ferreiro que com eles segue abre à força uma porta.
Esta capa põe em destaque o episódio da cavalgada de Vasco
É com a narração da acção a partir da manhã seguinte que percebemos plenamente o que se passou: Aninhas fora raptada por ordem do bispo para seu bel-prazer. Quando notícia disto se espalha, Gertrudes surge em público com a filha pequena da raptada nos braços, e gera-se um ajuntamento de pessoas impressionante, que mostra uma ira crescente que apesar de demagógica tem uma motivação justa. Começa a gerar-se uma tensão entre este motim em potência e os representantes o povo (o juiz do povo Martim Rodrigues, o temível pai de Gertrudes, e o segundo juiz do povo) que acham que o «bradar» do povo deve ser ignorado e que devem ser eles a «bradar» em representação do povo (esta «teoria constitucional» é usada por Garrett para assinalar que, na democracia constitucional, esta ideia de cedência de poder de todos por votação de alguns não estava completamente ultrapassada), mas isto foi rapidamente ultrapassado, com o povo a exigir (pela primeira vez) votos novos, exigindo bispo novo ao rei (havendo uma curiosa comparação por uns populares do D. Soleima de D. Afonso Henriques que escreveu sobre ele Herculano em Lendas e Narrativas, «bispo negro, missa branca», e o bispo do Porto «branco, e diz missa negra»). Oportunisticamente (e aproveitando que por timidez pública o putativo líder do movimento, o palavroso tribuno popular Gil Eanes, que não é o navegador por razões cronológicas óbvias, afasta a hipótese de ser a voz do movimento), o anti-populista Martim Rodrigues "mascara-se" de defensor das «virtuosas massas» (itálico do autor) e lidera a sua marcha para a sé, enquanto nela os frades e guardas dos paços se preparam para a eventual defesa dos paços das "hordas" populares.
A Porta de Sant'Ana, localização do velho arco (demolido no século XIX)
E enquanto tudo isso se passava nos paços, depois de o bispo prometer castigar Pêro Cão (como "bode expiatório") e arrancar uns vivas da multidão à sua pessoa, o tumulto parecia ter perdido o "gás" depois dos brados originais que o declararam. O povo acalmado seguiu pelas escadarias de S. Sebastião e entrou pelas portas da Sé abertas pelos funcionários do bispado, e é no interior da Sé, enquanto Eanes tentava manter os ânimos serenos, que a revolta volta a acender-se com "bocas" apelando à remoção do bispo e a morte (ou até comer vivo) do almudeiro Pêro Cão. A calma só se reinstala com o ancião arcediago de Oliveira, Paio Correia, a tomar a palavra, explicando que Aninhas havia sido detida por ordem sua por acusações graves (que afirmava esperar que fossem falsas). Entre o choque do povo, nova calma se instala, os populares saem da Sé, e só dois capítulos mais tarde é que os povos de Gaia e Porto entram em «coalisão» contra o bispo. Já Vasco (ainda se lembram dele?), reencontramo-lo em Gaia, na cabana de uma velha bruxa, e esta faz-lhe um revelação sobre raizes judaicas do jovem, que Fr. João Arrifana (seu tio) não é seu tio de sangue e que o seu pai de sangue foi o autor das desgraças da bruxa que Vasco promete vingar. E enquanto o Rei D. Pedro está prestes a entrar no Porto por Grijó, Vasco toma a liderança da conspiração e organiza os mesteirais (artesãos e profissionais liberais) do burgo contra a tirania do bispo e dos seus acólitos, dando à revolução o seu «manifesto» (palavra de Garrett).
A bruxa e Vasco
Depois de novo encontro com Gertrudes, Vasco lidera a multidão em revolução e é armado de espada pelo guarda do bispo Rui Vaz. Enquanto isso, dentro dos paços o bispo estava sozinho com «os seus maus demónios», e a raptada Aninhas que lhe causou todos aqueles problemas, todos os outros o tendo desertado.
Aninhas e o bispo agora amargamente arrependido
No exterior, o povo fazia uma espécie de senado de rua, do qual Vasco toma as rédeas e no qual mete ordem, a sessão popular prosseguindo depois nos paços do burgo, conduzindo a uma espécie de guerra civil declarada entre as duas partes do conflito, que se combate agora (embora com golpes mais certeiros que abundantes e sangrentos) a sério, vindo o lado do bispo a ceder às exigências do povo e a sair dos paços bispais e da Sé, surgindo depois el-Rei em pessoa, que ouve da bruxa uma acusação quanto ao passado do bispo (e de Vasco), e em castigo do bispo, o próprio D. Pedro (o justiceiro, recordemos-lo) açoita o bispo.
O bispo e Vasco
Tudo se conclui com um final que passa da amargura da revelação do passado e do castigo do bispo para o final feliz do casamento de Vasco e Gertrudes (com D. Pedro como padrinho, como convém a um romance promotor de uma monarquia mais popular, tal como o próprio autor Garrett o era na sua política setembrista ou liberal de esquerda, e de acordo com ficção romântica de "sopro" algo épico), a celebração da sua festa e do triunfo popular, a libertação de Aninhas e o regresso do seu marido que promete não mais viajar (Garrett espera que ele se lembre isso porque «Nem sempre há reis que nos acudam  e nem sempre são bispos velhos os que nos perseguem»). E é isto quanto baste de essencial do enredo a conhecer para poder eu agora proceder a uma análise no final do texto.
Um estranho misterioso vê Vasco a partir das bandas de Gaia
Aparentemente, o enredo gira em torno da vida medieval e das lutas sociais e dos movimentos amotinados dela, mas o enredo principal da revolta contra o bispo pela libertação de Aninhas, embora tendo força dramática e literária por si só, porém só vale pela forma como é usado para defender posições liberais do autor sobre a justiça e uma justa relação entre as classes (e um justo tratamento das classes mais populares), no qual o rei é não só o "árbitro" e "peso na balança" mas também o corrector dos problemas que surjam. À luz do que se passara durante o (já neste blogue referido) governo "cabralista" e o levantamento contra este, da política do seu tempo e do choque entre Igreja e o primeiro anticlericalismo liberal (mas simultaneamente a obra é um aviso ao levantamento influenciado pela Igreja contra o cabralismo, avisando que se o levantamento refortalecesse a Igreja depois das reformas anti-clericais liberais, este fortalecimento podia acabar por fazer da Igreja uma tirana contra a qual o povo também se insurgiria, como em outros séculos de maior poder eclesiástico), isto é descrito (num dos primeiros textos de ficção histórica de Portugal) com linguagem relativamente comum embora usando de algum linguajar erudito ou medieval (o que o Garrett narrador tende a ironizar quando acontece, principalmente quando usa de termos muito usados na ficção histórica do Romantismo, como «mister» para ofício/profissão). Essa linguagem é usada para descrever um caso de um povo frustrado que se não vir as suas exigências respondidas pode contra-atacar com violência (para horror dos Portugueses de mil-e-oitocentos, Garrett sugeria a possibilidade de um motim no seu século nos moldes do deste romance, que dá uma versão altamente ficcionada do levantamento do século XIV que surge num episódio da Crónica de D. Pedro I de Fernão Lopes. Esta hipótese tem tendido a pender sobre este país desde o século XIX, ante as elites frustrantes do país que fazem do desapontar da população o seu trabalho eterno).
Ora a tal surpresa que o livro me deu a meio é a forma como ele podia "pôr de lado" Vasco, Aninhas e a bruxa de Gaia (que é referida por Rui Vaz para Vasco ainda no final do seu primeiro encontro antes de aparecer pela primeira vez pouco antes do fim da 1.ª metade do livro, que representa o 1.º volume da impressão original), e voltar a pegar neles muito depois como se nem um instante se tivesse passado, sem dano ao enredo e à sua narração, e resolvendo e revelando novas profundidades do passado de Vasco, da situação de Aninhas e da relação entre Vasco e a velha bruxa. E todos estes desenvolvimentos trazem maior importância e "cor" ao enredo geral do livro, e maior complexidade a todas estas personagens (a Vasco que passará de alguém com lealdades divididas e família aparentemente óbvia a órfão de pais incógnitos a líder de uma revolução contra o clero que o criara e sustentara, a Aninhas que se revelará mais que uma mera popular singela e "santinha" mostrando que todo aquele "escarçeu" por causa dela tem a sua razão de ser, e à bruxa que será mais que uma velha extravagante e será revelada como tendo tido um passado e como tendo uma linhagem dignos de nota).
O autor, Almeida Garrett
De mestre é também a forma como Garrett nos leva para trás e para a frente entre a frente popular da revolta e os paços do bispo, revelando-nos as perigosas movimentações de um lado e acções defensivas do outro, e as fragilidades de ambos os lados de um processo revolucionário, mostrando os oportunistas mesmo do lado "bom" dos populares e as incoerências destes (e não só os defeitos dos seus opositores do bispado). Estando a ser torturado, o bispo terá reconhecida a ele alguma dignidade, e a sua última conversa com Vasco é digna e emocionante pela ligação que se cria entre os dois líderes de lados diferentes da "barricada", pois que apesar da sua perversão e despotismo, o bispo ainda reconhece a dignidade e beleza nos outros, reconhecendo a paixão e a lealdade quando as vê, e por isso não pode deixar de respeitar Vasco, tal como não pode deixar de ter algum respeito (mesmo que interesseiro) pelo povo que o estudante comanda na fase final e verdadeiramente intensa do levantamento.
Um exímio escritor, João Baptista Leitão de Almeida Garrett (de origem parcial franco-irlandesa), nascido no Porto mas criado em Gaia (segundo o próprio), foi autor de poemas líricos e mesmo duas epopeias, de novas versões de romances em verso tradicionais, de alguma prosa ficcional, ensaios e bastante teatro, e neste livro especificamente não deixa de mostrar muito da sua vida política, da sua experiência militar e revolucionária (foi um dos "Bravos do Mindelo" da Guerra Civil Portuguesa) e dos seus talentos em outras formas literárias (através da mise en scene das cenas descritas neste romance, lembrando o seu talento dramatúrgico, dos versos de estudante de Vasco em que o autor usa do seu talento lírico), e no fundo este livro em que a mulher (como frequentemente na literatura) é a meta e o alvo das acções dos homens, é uma mistura do romantismo amoroso do autor, do seu lado militar/revolucionário, da sua experiência de deputado (sob a capa de "políticas" trecentistas), do seu gosto literário, do seu sentido de humor, do seu amor da tradição popular e da história e (no cenário do livro, no título que lhe deu, na descrição da gente do Porto e Gaia e seus costumes e na sua pena pela destruição do velho arco do título no seu século) o seu orgulho de Portuense. Este livro (que apesar de nunca ter sido adaptado para audiovisual ou BD deu porém origem a uma ópera de 1867 do compositor Sá Noronha) pode ser lido em quase todas as bibliotecas municipais e em várias escolares e pode ainda ser comprado em edições mais ou menos recentes (incluíndo da EuropaAmérica e do Clube Amigos do Livro, que possuo e que vem com introdução de Teófilo Braga, uma mão cheia de boas ilustrações e notas do próprio autor), fora negócios de edições antigas em segunda mão nos alfarabistas e sites do costume. Quem estiver interessado pode ainda comprar por 5 Euros um exemplar em Português ou uma tradução inglesa aceitável mandando um email para omosquito_publishers@gmx.com.


This project of the Clássicos da literatura infanto-juvenil Portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics for one year has forced a discipline and effort in line with what may imagine the readers of these lines. It also has entailed a certain flexibility of taking me to search for a variety of works that go half way to meet the tastes of the generality of the target audience of this kind of literature and of the type of literature more like the type of books that come-up in the collections of this type that come-up involving mostly not Portuguese books throughout the world, independently to my personal taste and above all trying the most possible to gear the style in which I write and the style in which the author wrote (for not creating too much differing between both). This last part demands an openness and curiosity for experiencing unknown books with the curiosity and open mind traditionally associated to children and younguns (to whom these kinds of books would be destined to). Sometimes, that read is good, others it is not, but it is not always that a book can surprise us in mid read almost as if suddenly we realised something about it. To me, that happened midway throughout this historical novel by Almeida Garrett published in two volumes in 1845 and 1850.
This 17th book here analysed narrates the story of Little-Ana (not the Aquilino one), an Oporto common-folk from the medieval reign of Don Pedro I (yes, the Agnes de Castro one) that, while her husband travelled away, is in mid being approached for seduction by the bishop of Oporto (who is lamented due to being in that office by Little-Ana and her neighbour Gertrudes from the first moment).
Little-Ana threatened by Pero the Dog, henchman of the Bishop's
In those times the detested bishop had some real palacial manors of his near the see's church (Garrett does us a "sightseeing-guide" of the city out from the Arch of Sant'Ana till the See church, amusing himself through the middle introducing anachronisms like the seventeen-hundreds personified Oporto statue and pointing them out instantaneously), around which prowls Vasco, the 19 year-old student that flirts Gertrude on the sly of her father's and resides in Oporto for 5 years studying to become a canon-priest due to desire of his uncle's (although he desires in 5 years from then to leave for Salamanca to study to become a medical doctor, like Gertrudes' uncle, the physician of King Don Pedro, Don Simao), who talks with an old friend, one of the guards from the palatial manors, Rui Vaz, who makes confidence to him that he suspects that the men from the surroundings prepare something wicked. Meanwhile, the studentt is divided, between the affection towards Gertrudes who is from th patriotic "party" (in favour of the King's central power) and his dependency on the friendship and protection of the bishopric (even the sorrel that he uses to go visit Gerttrudes and pick up her handkerchief he owes to the ptrons from the bishop's palacial manor). When afterwards to a new passage, by horse, of Vasco's by Gertrudes' door, while the former passes by barge to Vila Nova de Gaia, in the Sant'Ana Street it pass by several officers from the bishopric, headed by Pero the Dog, the toothless and somewhat grotesque air of exciseman (collector of licenced excise taxes) of the bishop's. They roam to a door and a locksmith that with them follows opens by force one door.
This cover puts in highlight a episode of ride by Vasco
It is with the narration of the action starting from the next morning that we fully realise what happened: Little-Ana had been kidnapped on the bishop's order for his delight. When news of this spreads, Gertrudes appears in public with the small daughter of the abductee in her arms, and it generates itself an impressive gathering of people, that shows a growing wrath that despite demagogical has a righteous motivation. It starts to generate a tention between this potential mutiny and the spokespeople for the people (the people's judge Martim Rodrigues, the fearful father of Gertrudes, and the second people's judge) who think that the people's «whoop» should be ignored and that it must be them to «whoop» in the people's representation (this «constitutional theory» is used by Garrett to signal that, on constitutional democracy, this idea of giving in power of all by vote of some was not completely outdated), but that was rapidly overcome, with the people demanding (for the first time) new votings, demanding new bishop to the king (there being a curious comparison by some folks of Don Alfonso Henriques' Don Soleima written about by Herculano in Legends and Narratives, «black bishop, white mass», and the Oporto bishop «white, and says black mass»). Opportunistically (and taking advantage that by public shyness the movement's putative leader, the verbose people's tribune Gil Eanes, who is not the navigator for chronological reasons, casts aside the chance of being the movement's voice), the anti-populist Martim Rodrigues "masks himself" of defende of the «virtuous masses» (italics of the author's) and leads their march to the see's church, while in it the friars and guards of the palacial manors prepare themselves for the eventual defence of the palacial manors from the popular "hordes".
The Door of Sant'Ana, location of the old arch (demolished in the 19th century)
And while all this passes by in the palacial manors, afterwards to the bishop promising to punish Pero the Dog (as "scape goat") and pulling out some long lives out of the crowd for his person, the uproar seemed to have lost "bubbling" afterwards to the original whoops that declared it. The calmed people followed through the staircases of Sao Sebastiao and entered through the See church doors opened by the bishopric's officials, and it is in the See church's inside, while Eanes tried to keep the spirits serene, that the revolt goes back to reigniting with "smacktalks" appealing to the bishop's removal and the death (or even eating alive) of the exciseman Pero the Dog. The calm only reinstalls itself with the elder archdeacon from Oliveira do Douro, Paio Correia, taking the floor, explaining that Little-Ana had been detained by order of his due to serious acusations (that he stated to hope that they were false). Between the people's shock, new calm installed itself, the commoners leave the See church and only two chapters later it is that peoples from Gaia and Oporto enter in «consortium» against the bishop. Now Vasco (still remember him?), we meet him again in Gaia, n the hut of an old witch, and she makes him a revelation on the youngun's Jewish roots, that Friar Joao Arrifana (his uncle) was not his uncle by blood and that his father was the author of the disgraces of the witch whom Vasco promises to avenge. And while the King Don Pedro is about the enter Oporto through Grijoh, Vasco takes the leadership of the conspiracy and organises the the burg's craftspeople (artisans and liberal professionals) against the tyranny of the bishop and his acolytes, giving to the revolution its «manifesto» (Garrett's word).
The witch and Vasco
Afterwards to new meeting with Gertrudes, Vasco leads the crowd in revolution and is armed of sword by the bishop's guard Rui Vaz. Meanwhile, inside the palacial manors the bishop was alone with «his worst demons», and the kidnapped Little-An who cause him all those problems, all other having deserted him.
Little-Ana and the bishop now bitterly rueful
On the outside, te people did a kind of street senate, of which Vasco took the reins and which he puts in order, the popular session going forth afterwards in the burg's palacil manors, driving to a kind of civil war declared between the two parts of the conflict, that fights itself now (although with blows more surefire than abundant and bloody) for real, coming the bishop's side to give in to the demands of the people andto exit the bishoply palacial manors and the See church, coming-up afterwards ye-King in person, who hears from the witch an accusation about the bishop's (and Vasco's) past, and in punishment of the bishop, Don Pedro himself (the justice-dispenser, let us recall he is called thus) flogs the bishop.
The bishop and Vasco
All concludes itself with an ending that passes from the bitterness of the revelation of the past and of the bishop's punishment tothe happy ending of the marriage of Vasco and Gertrudes (with Don Pedro as bestman, as it befits a novel promotor of a more popular monarchy, as the author himself Garrett was such in his septemberist or left liberal politics, and in agreement with romanttic fiction of somewhat epic "whiff"), the celebration of their party and of the popular triumph, the liberation of Little-Ana and the deturn of her husband who promises never more to travel away (Garrett expects that he remembers that because (Not always are there kings who come to aid us  and not always are they old bishops the ones who chase us»). And it is this as much suffices of essential of the plot to know for I now to proceed to an analysis in the text's ending.
A mysterious stranger sees Vasco laving from the parts of Gaia
Apparently, the plot goes around the medieval life and the social struggls and mutineed movements of it, but the main plot of the revolt against the bishop for Little-na's liberation, although having dramaticand literary force by itself, yet it is only worth it for the way how it is used to defend liberal positions of the author on justice and a just relation between the classes (and a just treatment of th more folksy classes), in which the king is not only the "arbiter" and "weight thrown in the scales" but also the righter of the problems that come up. In light of what had passed by during the (already in this blog mentioned) "cabralist" government and the uprising against it, of the politics of its time and the clash between Church and the first liberal anticlericalism (but simultaneously the work is a warning to the uprising influenced by the Church against cabralism,warning that if the uprising stregthened the Church after the anti-clerical liberal reforms, this strengthening could end up by making the Church a tyrant against which the people also would set itself against as well, as in other centuries of greater eclesiastical power), this is described (in one of Portugal's first texts of historical fiction) with relatively common language although using of some scholarly or medieval parlance (what the Garrett narrator tends to be ironic about when it happens, mainly when he uses of terms very used in the historical fiction of Romanticism, like «mister» for trade/profession). That language is used for describing a case of a people frustrated that if it does not see its demands answered it may counterattack with violence (to the horror of the Portuguese from eighteen-hundred, Garrett hints the possibility of a mutiny in his century in the molds of this novel, which gives a highly fictionalised version off the 14th century uprising that comes up on an episode of Fernao LopesCrónica de D. Pedro I/"Chronicle of Don Pedro I". This hypothesis has tended to hang over this country since the 19th century, in face of the frustrating elites of the country that do of disapointing the population their eternal job).
Well the said surprise that the book gave me half way through is the way as it could "put aside"O Vasco, Little-Ana and the Witch from Gaia (who is refered to by Rui Vaz at Vasco still at the end of their first meeting before appearing for the first time little before the end of the first half of the book, that represents the 1st volume of the original print), and going back to pick them up much after as if not even a while had passed by, without damage to the plot and to its narration, and sorting out and revealing new depths to Vasco's past, to Little-Ana's situation and to the relation between Vasco and the old witche. And all these developments bring greater importance and "colour" to the book's general plot, and greater complexity to all the characters (to Vasco who shall pass from someone with divided loyalties and family apparently orphaned by parents to leader of a revolution against the clergy that raised and supported him, the Little-Ana that reveals herself more than a mere homespun and "saintly" commoner showing that all that "blue-murder screaming" because of her had reason in being, and the witch would be more than an old extravagant woman and will be revealed as having been a past and as having a lineage worthy of honor).
The author, Almeida Garrett
A master stroke is also the way as Garrett takes us back and forth between the revolt's popular front and the bishop's palacial manors, revealing us the dangerous drive-charges of one side and defensive actions of the other, and the frailties of both the sides of this revolutionary process, showing the opportunists even on the commoners' "good" side" and the incoherences of the former (and not only the flaws of their bishopric opponents). While being tortured, the bishop will have recognise in him some dignity, and his last conversation wih Vasco is worthy and emotional for the connection that it is created between the two leaders from the different sides of the "barricade", as despite his perversion and despotism, the bishop still recognises the dignity and beauty in the others, recognising the passion and the loyalty when he sees them, and for that cannot help respecting Vasco, such as he cannot help having some respect (even if self-interestedly) for the people that the student commands in the final and truly intense phase of the uprising.
An eximious writer, Joao Baptista Leitao de Almeida Garrett (of partial French-Irish ancestry), born in Oporto but raised in Gaia (according to himself), was author to lyrical poems and even two epic poems, of new versions of traditional romantic ballads, of some fictional prose, essays and quite some theatre, and in this book specifically does not hold-up showingmuch of his political life, of his military and revolutionary experience (he was one of the "Braves" of the "Mindelo Landing" from the Portuguese Civil War) and of his talents in many literary forms (through the mise en scene of the scenes described in this novel, recalling his dramaturgical talent, the student verses of Vasco in which the author uses of his lyrical talent), and at the end of it this book in which the woman (as frequent in literature) is the aim and the target to the actions of men, is a mixture of the amorous romanticism of the author's, of his military/revolutionary side, of his MP experience (under the cover of thirteen-hundreds "politics"), of his literary taste, of his sense of humour, of his love for the popular tradition and the history of the country and (in the book's setting, in the title that he gave it, in the description of the folk from Oporto and Gsaia and their customs and in his pity for the destruction of the title's old arch in his century) his pride of Oporto man. This book (which despite never having been adapted into audiovisual media gave origin though to an 1867 opera by composer Sah Noronha) can be read in almost all the Portuguese municipal libraries and several school ones and can further yet be bought in more or less recent editions (including from the EuropaAmérica publisher and from the Clube Amigos do Livro book-sales club, which I posess and comes with introduction by Portuguese writer/scholar/presidentTeofilo Braga, a handful of good illustrations and notes by the author himself), aside deals on second hand old editions in the antique-book-sellers and usual sites. Who is interested can further yet buy for 5 Euros (about 5,7 US Dollars) an exemplary in Portuguese or an acceptble English translation by sending an email to omosquito_publishers@gmx.com.