domingo, 22 de março de 2015

"As Pupilas do Senhor Reitor", Júlio Dinis // "The girl-Pupils of Mr. Parson, the Dean", Julio Dinis

As Pupilas do Senhor Reitor foi um livro que durante muitos anos da minha vida não me "caiu na frente". Compreensível visto que nos anos em que estava no 2.º e 3.º ciclo não fazia parte dos programas escolares, e por várias outras razões acabava por ler outros livros que não a cópia que havia em casa do tempo em que era parte dos currículos do liceu no tempo do meu pai (incluindo Os Fidalgos da Casa Mourisca do mesmo autor, que pelo título que me soava misteriosamente atractivo peguei primeiro). Assim a minha única verdadeira experiência com a narrativa era através de adaptações como a relativamente popular série de 2005 da RTP João Semana (que porém sabia antes sequer de ler o livro que era muito livremente inspirada no mesmo, sendo que apesar de manter o enredo todo intacto no geral, se centrava na mais secundária personagem do velho médico da aldeia João Semana e juntando "participações especiais" dos já referidos neste blogue Zé do Telhado e Maria da Fonte e mudando o cenário do Minho para a "velha paixão" do autor do argumento Moita Flores, o Douro Litoral). Não que tivesse qualquer antipatia pelo livro (até porque nem o conhecia) ou o autor (do qual já havia gostado antes, e cuja obra conheço agora e acho algo mais complexa do que outrora, tendo listo algumas das suas obras póstumas e afins), mas somente porque nem tinha a obrigação de o ler nem me achei alguma altura com tempo para o ler sem ter de fazer outra coisa ou ler outro livro.
Originalmente folhetinizado no Jornal do Porto em 1866 e em 1867 (ano em que o autor, de seu verdadeiro nome Joaquim Guilherme Gomes Coelho, era demonstrador e lente substituto da Escola Médico-Cirúrgica do Porto) impresso em livro (sendo o primeiro romance do autor, tendo o folhetim anteriormente escrito Uma Família de Ingleses, inspirado na família materna parte anglo-irlandesa de Dinis, e o seu único romance passado fora do espaço rural, surgindo mais tarde no ano de 1867 e sendo editado em livro com o título definitivo Uma Família Inglesa no ano seguinte, e tendo antes da publicação d'As Pupilas já 10 anos de escrita não-romanesca, por publicar ou publicada em periódicos sob vários pseudónimos, atrás de si), este livro é a narração das vidas entrelaçadas de dois "casalinhos" (para usar da terminologia aplicada aos gémeos) de irmãos que vivem numa aldeia minhota não-nomeada: Pedro e Daniel, filhos do latifundiário local José das Dornas (não um aristocrata, mas um velho camponês auto-elevado através da sua ética de trabalho ao posto deixado vago pela queda da velha aristocracia pré-liberal), e Clara e Margarida (Guida), órfãs (note-se nisto, visto que o próprio autor era órfão, tendo perdido a mãe novo, para a tuberculose) que estão à guarda do padre local (o "Senhor Reitor" do título). Daniel, depois de ser encontrado a namoriscar Guida de forma plenamente inocente pelo Reitor, é enviado pelo pai para a cidade, acabando por estudar medicina em Coimbra. Quando volta o irmão está noivo de Clara e Guida, essa de pastora havia passado a dedicar-se somente a ensinar crianças locais a ler e dar-lhes a catequese e assumira toda a linha da solteirona que "fica para tia". Para além dos "casalinhos", o reitor também é um interveniente vital na dinâmica entre estes dois pares, e quanto ao que do enredo concerne à profissão de médico de aldeia de Daniel, este vê-se apoiado pelo velho (e ligeiramente mais tradicional, ou pelo menos "habituado" à forma de ser "do costume" do campo) médico João Semana e confrontado pelo barbeiro da aldeia (lembremos que na altura na sociedade tradicional rural os barbeiros eram responsáveis pela maioria das pequenas cirurgias ademais do seu serviço natural).
O autor Júlio Dinis
Neste romance sentimental não falta uma tendência moralizante do seu autor (um médico de espírito liberal que pouco chegou a exerceu por questões de saúde e o envolvimento com a escrita profissional), isto sem sacrificar demasiado o lado amoroso ou artístico do livro, mas Júlio Dinis não perde ocasião para, por exemplo, culpar os costumes da cidade pela "corrupção" de Daniel (antes um jovem livresco fisicamente frágil que o Reitor prepara para o sacerdócio, e que volta à aldeia como um namoradeiro compulsivo e insincero). Da mesma forma (como contraponto), o ensino catequista e outro que Guida dá é algo mostrado para dar o seu exemplo de uma boa acção comunitária e algo noblesse oblige (sim, que esta expressão existe fora o uso dado pelo José Castelo-Branco, significando "nobreza obriga") embora Guida não seja propriamente nobre (embora a sua educação e o papel de "afilhada" do Reitor lhe dêem equivalência a tal papel).
Conforme o enredo vai avançando, a moralização (e respectiva crítica) de Dinis vem ao de cima principalmente em torno das "poucas-vergonhas" "ligeiras" a que se dá Daniel, primeiro logo que põe vista em Clara (ficando tentado), mas ante o aviso de Pedro de que estava já noiva dele ele afasta-se e ao invés começa a romancear com poesia a filha do tendeiro (i. e., comerciante de tipo que originalmente estava estabelecido numa tenda de mercado) local, doente com o que hoje poderíamos chamar de depressão sobre o aspecto físico. O tendeiro, usando da poesia escrita de Daniel como prova de intenções casadoiras do rapaz, tenta frustradamente convencer José das Dornas a um casamento entre o médico e a sua filha. Mas desenvolvimento mais significativo no enredo vem quando chega a noite da desfolhada, em que a moral local se suaviza e são permitidos mais alguns excessos entre os mais jovens da aldeia. É nessa noite que Daniel aborda Clara e a tenta convencer de que tem verdadeiros sentimentos por ela (obviamente que está só a voltar ao seu namoriscar incontrolável para gozo pessoal). Eles acabam por se encontrar noutra noite, e enquanto Clara tenta afastar as suas abordagens sem sucesso, aproxima-se na escuridão Pedro, que os ouve cochichar, e enquanto Clara escapa na escuridão, Pedro ameaça a espingarda o irmão, presumindo correctamente o que se passou. Quando entra para lá do muro da casa das irmãs Clara e Guida, porém Guida tomou o lugar da irmã, convencendo-o de que fora ela, e não a irmã, a ter a conversação amorosa no exterior. Guida efectivamente sacrifica a sua reputação virginal pela irmã, salvando ao mesmo tempo a vida dela e de Daniel num crime de honra que seria lavado a sangue e tiros.
No seguimento disso, o suposto encontro da catequista e professora com o médico leviano passa de boca em boca e as beatas locais decidem tirar as crianças da escola para que não sejam "infectadas" pela suposta forma de ser pecaminosa de Guida. Daniel, recebendo pelo episódio uma lição sobre a sua própria 'ex-estupidez' e apercebendo-se de que Guida não era a beata desinteressante que ele pensava e começando a amá-la novamente, decide propor-lhe casamento. Mas no primeiro momento, ela não vê aquilo como mais que um pedido de casamento por compaixão, e as palavras amorosas que Daniel lhe poderia dizer como não mais que a repetição do que ele já havia dito... à irmã dela.
(segundo uma telenovela brasileira)
Após o liberal Reitor condenar em plena rua a hipocrisia das beatas que se simulam santas quando ele próprio se assume pecador e beijar a mão a Guida, obriga a população por exemplo e vergonha pela acção passada a se reconciliar com Guida e deixar as crianças voltarem a ela. É depois disso que Daniel "faz a ligação" finalmente entre a Guida mulher admirável que começa a amar no presente e a Guida pastora que namoriscara no passado, e que, recuperando o melhor da sua essência passada e tendo aprendido a sua lição, finalmente pode concretizar todo o seu potencial, «voltando a ser o mesmo Daniel que daqui partiu». Agora sim Guida (que na verdade nunca deixou de amar e esperar por Daniel) pode aceitar o desejo de casamento actual do médico, e o enredo resolve-se numa espécie de "Sete Noivas para Sete Irmãos" (bem, duas irmãs noivas para dois irmãos neste caso).
Assim, pode-se ver que o enredo não sofre grandes "solavancos" (fora os dramas amorosos de Daniel com Luisinha e Clara) ou aventuras, antes fluindo no estilo da narrativa realista sentimental do Romantismo, daí que o livro, mais que pela narrativa relativamente simples e de simbolismos óbvios, se torne notável mais pelo estilo (embora aparentemente mais "ligeiro", Dinis é tão mestre formal da escrita escrevendo em termos das palavras e das imagens com relativa facilidade como Camilo ou Eça, embora estes menos "ligeiros" nos temas e enredos) com que é narrado, pelas realidades do Portugal rural que mostra e pela forma como o autor lhe confere o seu cunho pessoal da sua visão de médico burguês urbanita com espírito católico e liberal humanista, principalmente através do seu uso como "representação" sua do também médico, aburguesado e urbanizado Daniel, que através da sua maturação nos dá algo da evolução pessoal da visão do mundo, humanista, com uma visão "suave" 'à oitocentista' de igualdade de género (Dinis podia não ser o mítico "homem feminista", mas a mulher que ele retrata pode ser romantizada, mas é uma mulher emancipada romantizada, basta ver como Guida "põe na ordem" Daniel após a primeira tentativa de pedido de casamento), cristã liberal, patriótica e moralista do próprio autor Júlio Dinis. Assim, o romance, embora não no enredo em si, tem algo da vida e da pessoa de Júlio Dinis: em parte no retrato de Daniel (quiçá uma versão semi-idealizada de como o próprio Dinis desejava ser, e cuja passagem pelo campo paralela a altura na década de 1860 em que Dinis se mudou para Ovar e depois para a Madeira ante o agravar da sua saúde a ponto de ter de parar o exercer de medicina e virar-se para a literatura; todavia Pedro é provavelmente o homem, física e moralmente, que Dinis mais desejava ser) e também no João Semana (que tem algo da personalidade leve e com bonomia de Dinis, para além de representar a sua visão do ideal que um médico de província devia alcançar), e as próprias pupilas sendo as mulheres ideais de Dinis, o seu retrato de género invertido (tal como Clara e Guida são retratos invertidos de Pedro e Daniel, descontando a corrupção dada pela cidade a este último que só este apresenta mas da qual acaba por se libertar).
As Pupilas do Senhor Reitor foi um sucesso de vendas e de leitores enorme no seu tempo, porque correspondia aos valores (da burguesia liberal, a que pertencia Dinis e que como ele era bem optimista no progresso que ocorria na altura) do seu tempo mas ao mesmo tempo desafia a sociedade a melhorar (Dinis não perde uma oportunidade para criticar o pior do Português campestre, da maledicência e do lado "negro" do tradicionalismo), e não deixava de dar a um país que havia consumido por esta altura boa parte da sua história recente em guerras civis ou confrontos nacionais menores e até sofrido pequenas e breves intervenções estrangeiras contra a Revolução da Maria da Fonte e a revolta da Patuleia e em que a sociedade sofria um nível significativo de fome, doenças infecciosas e miséria, um retrato de um país que era imperfeito e de fraca produção agrícola, mas que sobrevivia, um país onde se conseguia viver e que ia apesar de muitas dificuldades evoluindo e estabilizando (afinal de contas estava-se mais de dez anos pelo período da chamada Regeneração a dentro).
No fundo, mais que os romances localizados, melodramáticos ou auto-irónicos e de contexto social específico (principalmente durienso-minhoto/portuense e por vezes lisboeta, de uma classe entre burguesia e povo nem demasiado urbana industrial nem demasiado rural agrícola) de Camilo Castelo Branco ou os romances muitas vezes excessivamente caricaturais (e por isso com algo de deturpação surreal do real para enfatizar a sátira) e seguindo excessivamente a lógica de decadência nacional de Eça de Queirós, os de Júlio Dinis (embora também mais focados no Norte) eram os que realmente nos davam-nos um retrato real da sociedade portuguesa da Regeneração, com a variedade do Porto, do Douro e do Minho, da burguesia e do povo, da cidade em Uma Família Inglesa e do campo na maioria das outras, do litoral e do campo, da sociedade portuguesa tradicional, da sociedade portuguesa estrangeirada e da comunidade expatriada inglesa do Douro (e ocasionalmente nos textos mais curtos póstumos, do Sul e mesmo de períodos antes do século XIX). Ele mostrava-nos uma sociedade portuguesa imperfeita (com mais realismo que Camilo e Eça, retratando pela primeira vez os verdadeiros tipos da classe baixa rural não como personagens secundários de drama literário ou como decalcares da literatura estrangeira) mas da qual valia a pena ter orgulho (crítico) de pertencer e que não era o inferno terceiro-mundista da crítica dos decadentistas, um Portugal mais próximo do que era mas também mais gostoso de ler (por ser mais próximo do que gostaria o leitor que fosse) e mais inspirador por mostrar o que poderia ser, para além de dar uma certa fé na sobrevivência e melhoria da sociedade dentro do sistema liberal e monárquico da altura e que pela reconciliação de classes (simbolizada por todos estes matrimónios inter-classistas, "finais felizes" de literatura que eram talvez a forma de Dinis "vencer" o 'final infeliz' da sua expectável morte prematura) se poderia resolver todos os problemas ocasionais. Não deixa de ser curioso ver que o optimismo moralista de Dinis se encontrasse mais em contacto com a alma portuguesa da altura quando o facto de ser uma excepção moralista algo realista na literatura portuguesa do seu tempo se deva à leitura de estrangeiros, Britânicos como Dickens, Daniel Defoe e Oliver Goldsmith (autor de O Vigário de Wakefield de 1766) através da mãe Luso-Anglo-Irlandesa. Seja como for, o sucesso desta obra permitiu notoriedade ao autor, que publicou mais três romances de estilo sentimental que podemos chamar 'romântico-realista' a partir de 1867 até 1871, e um livro de novelas (publicadas na imprensa entre 1862 e 1864 com algum sucesso, Serões da Província, em 1870).
Mas a carreira de escritor de Dinis não duraria muito, tendo ele falecido em 1871 com 31 anos sem conseguir fazer as revisões tipográficas do seu último romance Os Fidalgos da Casa Mourisca (que é assim publicado já postumamente). Isto acaba por ser a grande chave para interpretar este livro (e outros do autor): era um autor fisicamente enfraquecido que escrevia o mundo que meia-hora por dia via na rua entre a gente do campo de Ovar antes de ir escrever, que vivia as vidas que sabia que não podia viver no presente real pelas suas limitações físicas e que poderia deixar de viver de todo muito em breve. E foi assim que Júlio Dinis se tornou modelo para muitos escritores sentimentais pós-Românticos Portugueses (incluindo muitas mulheres que podiam agora escrever pelo ponto de vista das pupilas ou da morgadinha dos Canaviais), e que se tornou uma espécie de "romancista oficial" do liberalismo oitocentista português (que escrevia para educar os seus leitores para uma dada visão de sociedade e uma crença na evolução de Portugal), promovendo um futuro patriota e progressista para o país ainda muito pré-industrial em que vivia, futuro em que ele acreditava piamente mas sabia que não viveria para ver ele próprio. E por tudo isso o livro foi inspirando imitações, adaptações (só no cinema houve adaptações em 1924 do Francês Maurice Mariaud, 1935 de Leitão de Barros e 1961 feita entre Portugal e Brasil), pastiches, análises, releituras, etc. etc., em Portugal como no Brasil (onde para além do filme acima referido, inspirou mesmo telenovelas em 1971 e em 1994-5 que também passou em Portugal), que nos apresenta uma fotografia, mesmo que retocada, da sociedade portuguesa da Monarquia Liberal do século XIX, mas que apresenta muito da humanidade como sempre será em qualquer lugar do mundo e em Portugal em muita coisa nunca deixou de ser assim. Por mais crítica que possa uma pessoa ser da escrita "cor-de-rosa" de Dinis ou da sua visão política, essa força literária e ético-social da sua obra será sempre incontestada, pelo menos como mais uma referência entre várias para o olhar do mundo. Quanto ao livro, esse pode encontrar-se à venda ainda hoje em várias edições de várias editoras, em-linha em vários formatos e em basicamente todas as bibliotecas, como aliás todos os romances de Júlio Dinis e boa parte do restante da sua obra; existe ainda uma adaptação curta para crianças para uma colecção Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças que vinha com o jornal Sol em 2010, editado pela Quasi e com adaptação de Albano Martins (originalmente escrita em 1984 aparentemente), que se pode encontrar em muitas bibliotecas escolares ou municipais. Podem ainda ver o documentário da RTP sobre As Púpilas do Senhor Reitor para a série Grandes Livros aqui.


The girl-Pupils of Mr. Parson, the Dean was a book that during many years of my life did not "fall in front of me". Comprehensible seen that in the years in which I was in the segundo and terceiro ciclo of school (secondary/middle school and high school) it was not part of the school reading programs, and for several reasons I ended by having other books not the copy that there was at home from the time that is us part of the high school curricula from my father's time (including Os Fidalgos da Casa Mourisca/The Landed-gents from the Moorish House" by the same author, which for the title sounded me mysteriously attractive too and picked it up first). So my only true experience with the narrative was through adaptations like the relatively popular RTP TV series from 2005 João Semana (which though I knew before even reading the book that it was freely inspired on the former, being that despite keeping all the plot intact in the whole, it centered itself on the more supporting character of the old village doctor Joao Semana and joining "cameos" by the already mentioned in this blog Ze from the Rooftop and Maria da Fonte and changing the setting from the Minho region into the "old passion" of the script author Moita Flores, the Douro River and Oporto Coastline). Not that I had any dislike for the book (more so because I did not know it) or the author (of whom I had already liked before, and whose work I know now and think more complex than yore, having read some of his posthumous works and alike), but merely because nor had I obligation to read it nor found some time-point with time for reading it wihout having to do anything else or to read another book.
Originally serialised in the Jornal do Porto ("Oporto Newspaper") in 1866 and in 1867 (year in which the author, by his true name Joaquim Guilherme Gomes Coelho, was demonstrator and substitute lecturer from the Oporto Medical-Surgiral School) printed into a book (being the author's first novel, having the serial previously written Uma Família de Ingleses/"A Family of English-folk", inspired on the maternal part Anglo-Irish family of Dinis', and his only novel set outside the rural space, coming-up in the year of 1867 and being edited on book with the definitive title Uma Família Inglesa/An English Family in the following year, and having before the publication o' The girl-Pupils already 10 years of non-novelesque writing, unpublished or published in periodicals under several pseudonyms, behind himself), this book is the narrating of the entangled lives of two "little pairings" (to use the terminology applied to the twins) of siblings that live on an unnamed Minho village: Pedro and Daniel, sons of the local landowner Jose das Dornas ("of the Wine-tanks", not an aristocrat, but an old peasant self-elevated through his work ethics to the post left vacant by the fall of the old pre-liberal aristocracy), and Clara and Margarida (Guida), orphans (let this be noted, seing that the author himself was orphaned, having lost his mother young, to tuberculosis) who are under the keeping of the local priest (the title's "Senhor Reitor"/"Mr. Parson, the Dean"). Daniel, afterwards to have been found flirting Guida in fully innocent way by the Parson dean, is sent by his father to the city, ending-up studying medicine in Coimbra. When he comes back the brother is engaged to Clara and Guida, her from shepherd had gone to dedicate herself to teaching local children to read and give them sunday-school alone and had assumed all the line of the singleton that "is on the shelf". Beyond the "little pairings", the Parson dean is also a vital intervener in the dynamic between these two pairs, and about what from the plot concerns the profession of village doctor of Daniel's, the former sees himself by the older (and slightly more traditional, or at least "used" to the "as usual" way of being of the countryside) doctor Joao Semana and faced by the village barber (let us recall that at the time on the rural society the barbers were responsible for the majority of the small surgeries futhermore their natural service).
The author Julio Dinis
In this sentimental novel it does not lack a moralising tendency of his author (a doctor of liberal spirit who little did practice due to health reasons and the envolvement with professional writing), this without sacrificing too much th amorous or artistic side of the book, but Julio Dinis does not miss an occasion for, for example, blaming the customs from the city for the "corruption" of Daniel (before a physically fragile bookish youngman that the Parson dean prepares for priesthood, and who comes back to the village as compulsive and insincere flirter). In the same way (as counterpoint), the sunday-school teaching and other than Guida gives is something shown to give his example of a good communitarian and somewhat noblesse oblige (yes, 'cause this expressions exists outside the use given by Scott Applegate, meaning "nobility obligates") although Guida is not properly noble (although her education and role of "goddaughter" to the Parson dean give her equivalency to such role).
As the plot goes moving forth, the moralisation (and respective criticism) of Dinis' comes up to surface mainly around the "light" "low-shames" to which Daniel does throw himself into, first right away that he sets sights on Clara (getting tempted), but before the warning of Pedro that she was already engaged to him he steps away and instead starts to romance with poetry the daughter of the local tendeiro ("tented-shop-keeper", i. e., trader of the type that was originally established in market tents), sick with what we today could call of depression on looks. The tented-shop-keeper, using of the poetry written by Daniel as proof of marriageable intentions of he boy, tries to convince Jose of the Wine-tanks into a wedding between the doctor and his daughter. But development more meaningful in the plot comes when it arrives the cornhusking festival, in which the local morals softens itself and it are allowed some more excesses among the younger ones from the village. It is in that night that Daniel approaches Clara and tries to convince her that he has true feelings for her (obviously that he is only gong back to his uncontrolable flirting for personal kicks). They end up by meeting another night, and while Clara tries to draw away his approaches without success, it approaches in the dark Pedro, who hears them soughing, and while Clara escapes into the darkness, Pedro threatens by rifle his brother, presuming correctly what transpired. When he passes beyond the wall of the house of the sisters Clara and Guida, nevertheless Guida took the place of her sister, convincing him that it had been her, and not her sister, to have an amorous conversation on the outside. Guida effectively sacrifices her virginal reputation for her sister, saving at the same time her life and Daniel's in a honour killing that would be washed-down by blood and shootings.
In the follow-up to that, the supposed meet-up of the sunday-school-teacher and lay teacher with the frivolous man passes from mouth to mouth and the local church-ladies decide to take the children out of the school so that they are nt "infected" by Guida's supposed sinful way of being. Daniel, received through the episode a lesson on his own 'ex-stupidity' and realise that Guida was not the uninteresting church-lady he thought and starting to love her again, decides to propose to her. But in the first moment, she does not see that as much more than a marriage request out of compassion, and the loving words that Daniel could say to her as nothing more than the repetition of what he already had said... to her sister.
(according to a Brazilian soap opera)
Afterwards to the liberal Parson dean condemning in mid street the hypocrisy of the church-ladies that dissimulate themselves as saints when he himself does own-up as a sinner and kisses the hand to Guia, obligating the population by example and shame on his past action to reconcile itself with Guida and let the children return to her. It is after this that Daniel "makes the connection" finally between the Guida admirable woman that he starts to love in the present and the Guida shepherd that he flirted in the past, and that, recovering the best from his past essence and having learned his lesson, finally could fulfil all his potential, «going back to be the same Daniel that from here had left». Now yes Guida (who indeed had never stopped loving and waiting for Daniel) could accept the doctor's current desire of marriage, and the plot solves itself in a kind of "Seven Brides for Seven Sisters" (well, two sisters brides for two brothers in this case).
So, it can be seen that the plot does not suffer grand "bumps" (aside the amorous dramas of Daniel with Little-Luisa and Clara) or adventures, instead flowing in the style of the sentimental realist narrative of the Romanticism, hence that the book, more than for the relatively simple narrative and of obvious symbolisms, becomes remarkable more for the style (although apparently "light", Dinis is as much formal master of writing, writing in terms of the words and images with relative ease as Camilo and Essa, although these less "light" on the themes and plots) with which it is narrated, for the realities ofthe rural Portugal that it shows and for the way how the author confers to it a personal impress f his vision of urbanite bourgeois doctor with Catholic and liberal humanist spirit, mainly through its use as "representation" of his of the also doctor, bourgeoining and urbanised Daniel, who through his maturing gives us something of the personal evolution of the humanist, with a "soft" 'eighteen-hundreds-style' gender equality vision (Dinis may not be the mythical "feminist man", but the woman he portrays can be romanticised, but it is a romanticised emancipated woman, it suffices to see how Guida "puts in his place" Daniel afterwards to the first proposal attempt), liberal Christian, patriotic and moralistic vision of the author Julio Dinis himself. So, the novel although not in the plot in itself, has something of the life and the person of Julio Dinis: in part in the portrait of Daniel (perhaps a semi-idealised version of how Dinis himself wished to be, and whose passage by the countryside parallels the time-point in the 1860s decade in which Dinis moved himself to Ovar and afterwards to Madeira island facing the aggravating of his health to point of having to stop practicing medicine and turning himself to literature; nevertheless Pedro is probably the man, physically and morally, that Dinis the most did wish to be like) and also on Mister Joao Semana sir (who has something of the personality light and with gullibility of Dinis', beyond representing his vision of the ideal that a provincial country doctor should reach up to), and the pupils herselves being Dinis' ideal women, his gender reversed portrait (just like Clara and Guida are inverted portraits of Pedro and Daniel, discounting the corruption given by the city to the latter that only he presents but from which he ends up freeing himself).
As Pupilas do Sr. Reitor/"The girl-Pupils of Mr. Parson, the Dean" was a Portuguese sales and readership hit in its time, because it matched the values (of the liberal bourgeoisie, to which Dinis belonged and that like him was quite optimist on the progress that occured at said time-point) from his time but at the same time challenged the society to improve (Dinis does not miss an opportunity to criticise the worst of the countryside Portagee, of the obloquyan of the "dark" side of traditionalism"), and did not help giving a country that had consumed by this time-point good chunk of its recent history in civil wars or minor national clashes and even suffering small and brief foreign interventions against the Revolution of the Maria da Fonte (Arcada) and the Patuleia "Little Civil War" revolt and in which a society suffered a significant level of hunger, infectious diseases and misery, a portrait of a country that was imperfect and of weak agricultural production, but which survived, a country where one could live in and that despite the many difficulties was evolving and stabilising (after all it was more than ten years into the period of the so-called Regeneração/"Regeneration").
At the end of it, more than the localised, melodramatic or self-ironical novels and of specific social contex (mainly Durius-Minho/Oporto and sometimes Lisboner, from a class between bourgeoisie and folk nor too industrial urban nor too agricultural rural) of Camilo Castelo Branco or the novels many times excessively caricatural (and for that with something of garbling of the real to emphasise the satire) Essa de Queiroz's novels, the ones by Julio Dinis (although also more focused on the North) were the ones that really gave us a real portrait of the Regeneration's Portuguese society, with the variety from Oporto, from the Durius region and from the Minho region, from the bourgeoisie and the folk, of the city in An English Family and of the countryside in most of the others, of the coastline and the countryside, of the foreign-looking Portuguese society and of the English expat community from the Durius region (and occasionally in the posthumous shortest texts, from the South and even from periods before the 19th century). He showed us an imperfect Portuguese society (with more realism than Camilo and Essa, portraying for the first time the true rural lower class types not as supporting characters of literary drama or as tracing overs of foreign literature) but of which it was worth it to be (critically) proud of belonging to and that it wasn't the third-worldish hell from the critique of the decadentists, a Portugal closer to what it was but also tastier to read (due to being closer to what the reader would like it to be) and more inspiring due to showing that it could be, beyond giving a certain faith in the survival and improvement of the society within the liberal and monarchist system and that by the class reconciliation (symbolised by all these interclassist matrimonies, literature "happy endings" that were perhaps Dinis' way of "vanquishing" the 'unhappy ending' of his expected untimely death) it could be solved all these occasional problems. It does not cease being curious to see that the moralistic optimism of Dinis found itself more in contact with the time-point's Portuguese soul when the fact of him being a somewhat realistic moralistic exception in his time's Portuguese literature is owed to the reading of foreigners, British like Dickens, Daniel Defoe and Oliver Goldsmith (author of The Vicar of Wakefield from 1766) through the luso-Anglo-Irish. Be it as it were, the success of this work permited the author notoriety that published three plus novels of sentimental style that we can call 'romantic-realist' starting out from 1867 till 1871, and a book of novellas (published in the press between 1862 and 1864 with some, Serões da Província/"Late-nights from the Countryside", in 1870).
But the writer's career of Dinis would not last much, having he passed away in 1871 at 31 years-old without being able to do the typographical revisions to his last novel Os Fidalgos da Casa Mourisca ("The Landed-gents from the Moorish House", which is thus published already posthumously). This ends by being the big key to interpret this book (and others by the author): he was a physically weakened author who wrote down the the world that half and hour a day he saw in the street among the Ovar countryside people before going to write, who lived the lives that he knew that he could not live in the real present time due to his physical limitation and that he could cease living at all very soon. And it was so that Julio Dinis himself did turn role-model for many Portuguese post-Romantic sentimental writers (including many women that could now write by the point of view of the girl-pupils or the she-majorates from Canaviais), and who became a kind of "official novelist" of Portuguese eighteen-hundreds liberalism (that wrote to educate his readers to a given view of society and a belief in Portugal's evolution), promoting a patriot and progressive future for the country still very pre-industrial in which he lived, future in which he believed piously but knew that he wouldn't live to see for himself. And for all that the book went inspiring immitation, adaptations (in cinema alone there were adaptations in 1924 by the Frenchman Maurice Mariaud, 1935 by Leitao de Barros and 1961 made between Portugal and Brazil), pastiches, analyses, reinterpretings, etc. etc., in Portugal as in Brazil (where beyond the film above mentioned, inspired even soap operas in 1971 and in 1994-5 which also aired in Portugal), that introduces us a photograph, even if retouched, of the 19th century Liberal Monarchy's Portuguese society, but which presents much of mankind as always will be in any place on the world and in Portugal in much it never ceased being so. No matter how critical a person can be of Dinis' "pink-tinged" writing or of his political vision, that literary and ethnical-social strength of his work would always be undisputed, at least as one more reference among several for gazing unto the world. About the book, that can be found for sale still today in several editions of several publishers, on-line in several formats and in basically all the Portuguese libraries, as even more so all the Julio Dinis novels and good part of the remainder of his work; it exists yet a short children's adaptation for a Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças ("Portuguese Literature Classics Told to Children") that came with the Portuguese Sol ("Sun") newspaper in 2010, published by the Quasi publisher and with adaptation by Albano Martins (originally written in 1984 apparently), that can be find in many Portuguese school or municipal libraries. You can also watch the RTP TV Portuguese language documentary on As Púpilas do Senhor Reitor/"The girl-Pupils of Mr. Parson, the Dean" for the Grandes Livros ("Portuguese Great Books") here.

terça-feira, 17 de março de 2015

"A Rosa do Adro", Manuel Maria Rodrigues // "Rosa, the Churchyard's Rose", Manuel Maria Rodrigues

Um dos géneros que mais foi produzido ao longo do século XIX, tendo tido também alguns exemplos na literatura portuguesa (porém eventualmente em menor número no nosso país) foi o que os Alemães chamavam de Entwicklungsroman (ou "romance de desenvolvimento"), i.e. uma ficção em torno de um protagonista de alguma forma a formar carácter ou adquirir formação em termos de conhecimento da vida em qualquer idade, quer literalmente crescimento e amadurecimento a caminho da vida adulta (o sub-género do coming-of-age/"crescimento" anglo-saxónico), quer que passa uma forma qualquer de experiência que lhes serve como algum tipo de iniciação (o sub-género da initiation story/"estória de iniciação" anglo-saxónica), quer algum tipo de "formação/iniciação" (Bildungsroman), quer de experiência de desilusão que lhes abre os horizontes para a vida (Desillusionsroman/"romance de desilusão"), ou de experiências de crescimento no sistema educativo (Erziehungsroman/"romance educativo", similar à school story ou school novel anglo-americano). Como podem imaginar, essa "famílias" de tipos de romance seguirá aproximadamente esta estrutura: o protagonista menos maduro (ou mesmo criança ou pelo menos jovem) sofre algum problema, passa várias dificuldades que o testam e lhe desenvolvem o carácter, e por fim já iluminado (ou mesmo adulto) pode dar o seu "exemplo" para usufruto do leitor. Ainda só tratámos de 14 livros neste blogue Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics e já podemos descrever como de uma forma ou outra parte deste género (no 1.º, 2.º, 4.º, 5.º e 6.º casos, eles sendo EntwicklungsromansBildungsro-mans ou Desillusionsroman sem a parte infantil da biografia dos heróis embora com heróis jovens que amadurecem até sairem de cena) As Minas de Salomão (se pensarmos em Umbopa), A Jóia do Vice-Rei (se pensarmos em D. Lourenço de Almeida), Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, a novela título de Nitockris e O Malhadinhas e Aninhas de Aquilino Ribeiro, e agora o livro desta publicação é um 7.º exemplo do género na literatura Portuguesa. Portanto uns 20-30% das obras vistas até agora caiem sob esta categoria e este blogue ainda mal começou a sua "missão". Isto é compreensível visto que a literatura adequada para leitores infanto-juvenis frequentemente usa destas estórias de "aprendizagem" visto que tem esta literatura por vezes auto-dada a "missão" de educar os seus leitores, considerando o romance de formação/iniciação uma boa forma de associar o leitor e a lição do enredo ao fazer o enredo a lição de um herói identificado com o leitor que ele próprio está a passar por um crescimento (físico ou físico e emocional) e aprendizagem.
Muito similarmente aos romance de formação camilianos (até porque o autor do livro aqui em causa, jornalista e arqueólogo de Valença do Minho que escreveu ainda o romance Infelizes e as operetas Na Lua e Diabretes, era um leitor atento de Camilo e Júlio Dinis, o que se nota no estilo e tipo de enredos explorados), Manuel Maria Rodrigues usa do contexto socioeconómico e político do Portugal dos inícios-meados do século XIX para criar o cenário do seu romance, que é a narrativa da vida de Rosa, uma bela jovem costureira de uma aldeia muito conservadora não-nomeada a umas cinco ou seis léguas do Porto, com aquele tipo físico celto-nórdico comum em muitos Nortenhos e que vivia com a avó perto do adro-da-igreja local, a partir da altura em que deixou o seu passado de não se conhecer qualquer namoro e tratava com o mesmo trato gentil todos os rapazes da vila, sendo ainda jovem não se impressionando facilmente para se envolver de forma séria, até ter o seu "despertar" amoroso com Fernando, filho do dono de uma herdade a uma légua da igreja que estuda no Porto e está em férias escolares de volta à "terrinha". Rosa devota-se seriamente a Fernando numa relação correspondida, mas que não podem ainda consumar dada a pobreza de Rosa contrastando com a riqueza do galanteador e que largo tempo depois, após de tentativas de consumação de um noivado falhadas, tiveram de deixar "em águas de bacalhau" sem serem vistos em público ou falarem para evitarem o falatório que a relação causava. O "enredo engrossa" logo pouco depois do começo da afeição entre ambos com um residente de outra herdade, António (curiosamente um liberal naquele meio bem conservador), começa a "rondar" a Rosa e "semear-lhe" a dúvida quanto à fidelidade e honestidade dos sentimentos de Fernando. Assim se vai formando um proto-triângulo amoroso entre a aldeã e Fernando e o (por agora) somente fazedor de avisos e confidente António (um proto-triângulo que ganha um certo nível político e social, quando vemos que temos na luta pelo coração de Rosa um Miguelista e um Liberal, um rico e um pobre como ela).
Com o casal "deixar em lume brando" a relação e as férias escolares de Fernando a terminar, Rosa começava a definhar presa em casa , mesmo fisicamente (embora note Maria Rodrigues que mantendo ou até aumentando o encanto mas com maior palidez e os lábios secos e desbotados «como as pétalas de um rosa, crestada pelo sol»), de uma forma que os conterrâneos e a própria avó atribuem a alguma doença e não ao amor por Fernando (que por seu lado começava aparentemente a mostrar menos afeição e mais frieza pela enamorada, o que começava a magoá-la fortemente), e por fim Fernando partiu para o Porto. É algum tempo depois que a viúva Baronesa de F... (dada por vezes a localização do F... misterioso do seu título como sendo Fonte Arcada, a nível de curiosidade, o local de nascença da mítica Maria da Fonte, um levantamento que seria, como já dissemos na publicação anterior, de fusão liberal-miguelista) vem viver para a aldeia de Rosa, e lá a filha da Baronesa, Deolinda, conhece Rosa e esta torna-se amiga, confidente e criada da filha da baronesa viúva, daí que quando pouco depois a Baronesa se muda com a família para o Porto, Rosa acompanha Deolinda como sua criada. É em casa da Baronesa que Rosa volta a ver Fernando, enquanto convidado da casa, ficando despeitada apesar do incentivo de Deolinda e da mãe desta para que a camponesa ultrapassasse a desdita passada, que apesar das negações da jovem claramente ainda não estão ultrapassadas.
É no Porto que depois ocorre a maioria do resto do enredo, com a tensão entre Rosa e Fernando pelo seu passado, Fernando a apaixonar-se por Deolinda e ser cortejado (e o seu morgadio de herança) pela Baronesa para marido da filha, vários outros eventos dramáticos, e acima de tudo, o ocorrer da fase mais intensa do cerco da cidade do Porto durante a Guerra Civil. Depois de uma nova aproximação entre o casal e Fernando a basicamente "deixar-se de coisas" e voltar a aquecer essa 'pedra de gelo' no peito para com Rosa, o encaminhar do enredo para um aparente final feliz é frustrado pelo vitimar de Fernando por dois tiros, e embora acamado ele casou com Rosa, e é só mais tarde que ele falece, deixando para trás uma Rosa compreensivelmente destroçada e que volta a cair num grande mal-estar físico, ficando "presa" na mesma cama onde falecera o seu velho amado.
Quando o fim de Rosa veio, toda a aldeia a chorou, incluindo o muito arrependido António, que morava nesta altura com o padre local, que revelou a António um segredo sobre ele e Rosa (não o revelarei eu agora...) que causa a fuga do homem depois de admitir em carta escrita deixada para o padre que ele fora o matador de Fernando, e nunca mais ninguém o encontrou (seriam ossadas achadas 10 ou 12 anos depois realmente dele? Nunca ninguém o apurou segundo o autor). Deolinda e a Baronesa, essas ficaram-se pelo Porto, e lá "entregaram-se a Deus" entrando num convento. Obviamente, um romance deste tipo transborda de sentimentalismo, e não deixa de haver uma aprendizagem e um optimismo de "compensação" religiosa e da vida levada antes do fim. É uma narrativa sentimental com o seu lado aventureiro e psicológico, que agarra o leitor, entretém-no, aos mais comovíveis emociona-os, e apresenta um grande drama, que não deixa de ser também um livro sobre a sociedade e sobre a política, pelo menos como esta era à quase dois séculos atrás, e uma narrativa que atraiu o interesse de leitores Portugueses por vários anos (no início do século XX podia dizer-se que Portugal era dividido nos que liam A Rosa do Adro e nos que liam O Capital de Karl Marx), e que inspirou duas adaptações cinematográficas em Portugal (em 1919, actualizando-o para os tempos então recentes, e 1938).
O livro em si, pode encontrar-se em várias edições do século XX e uma já deste século da Moderna Editorial Lavores à venda (que é a que possuo), e em quase todas as bibliotecas em cópias frequentemente das edições da Porto Editora dos anos de 1970 para a Colecção Portuguesa.


One of the more produced genres throughout the 19th century, having also some samples on Portuguese literature (although eventully in minor number in our country) was what the Germans called Entwicklungsroman (or "development novel"), i.e. a fiction around a lead in some way forming character or acquiring formation in terms of life knowledge in any age, either literally growing and maturing on the pathway to adult life (the anglo-saxonic coming-of-age subgenre), either passing some sort of experience that serves one as some sort of initiation (the anglo-saxonic subgenre of the initiation story subgenre), either some kind of "formation/initiation" (Bildungsroman), either the experience of disapointment that opens them horisons on life (Desillusionsroman/"disapointment novel"), or of growing up experiences in the educational system (Erziehungsroman/"educational novel", similar to the Anglo-American school story or school novel). As you can imagine, such romance will follow aproximately this structure: the lead less mature (or even child or at least young) suffers some problem, passes by several difficulties that test one's self and develop one's character, and at last already enlightened (or even adult or elder) can give one's "example" for full-enjoyment of the reader. We still just dealt with 14 books in this Clássicos da literatura infanto-juvenil portuguesa // Portuguese children's/juvenile lit classics blog and we already can describe as on a way or another part of this genre (in the 1st, 2nd, 4th, 5th and 6th cases, them being EntwicklungsromanBildungsro-mans or Desillusionsroman without the childish part of the heroes' biography) As Minas de Salomão/"The Mines of Solomon" (if we think of Umbopa), A Jóia do Vice-Rei/"The Jewel of the Viceroy" (if we think of Don Lourensso de Almeida), Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado/"Adventures of Basilio Fernandes Enxertado", the title novella of Nitockris and O Malhadinhas/"The Little Tabbie" and Aninhas/"Little-Ana" by Aquilino Ribeiro, and now the book of this post is a 6th example of the genre on Portuguese literature. Hence some 20-30% of the works seen so far fall under this category and this blog still barely started its "mission". This is understable seen that the literature adequate to children/young-people readers frequently uses these stories of "learning" seen that it has this literature sometimes self-given "mission" of educating its readers, considering the coming-of-age/initiation novel a good way of associating the reader and the plot's lesson in making the plot out to be the lesson of a hero identified with the reader that one's self is is passing by a (physical or physical and emotional) growth and learning.
Very similarly to the camilian coming-of-age novel (more so because the author of the book here at stake, journalist and archeologist from Valenssa do Minho who wrote more so the novel Infelizes/"Unfortunate-ones" and the operettas Na Lua/"Up on the Moon" and Diabretes/"Puckish-ones", Manuel Maria Rodrigues, was an attentive reader of Camilo and Julio Diniz, what makes itself noted in the style and type of plots explored). He uses the social-economical and political context of the Portugal from the early-mid-19th century to create the scenario of his novel, which is the narrative of Rosa's life, a fair young seemstress from an unnamed very conservative village to some five or six leagues from Oporto, with that celto-nordic type common in many Portuguese Northerners and who lived with the grandmother near the local churchyard, starting from the time she left her past of not being known any dating of hers and she trated with the same gentle care all the town boys, being still young and not impressing herself easily for involving herself in serious way, until having her amorous "awakening" with Fernando, son of the owner of an estate a league away from the church who studies in Oporto and is on school holidays back to the "old country(side)". Rosa devotes herself seriously to Fernando in a reciprocated relationship, but cannot consume it yet given Rosa's poverty contrasting with the gallant charmer and who long time after, afterwards to the attempts of consummation of a failed engagement had to leave "be left in the air" without being seen in public or talking to each other for avoiding the tittle-tattle which the relation caused. The "plot thickens" a short while rightaway to the start of the affection between both with a resident from another estate, Antonio (curiously a liberal in that very much conservative milieu), started to "make the rounds" on Rosa and to "sow her" the doubt about the fidelity and honesty of Fernando's feelings. So it goes forming a proto-love tiangle between the lady-villager and Fernando and the (for now) merely maker of warnings and confidant Antonio (a proto-love triangle that earns a certain political when social level, when we see that we got in the fight for Rosa's heart a Miguelist and a Liberal, a richman and a poorman like her).
With the couple "leaving burning low" the relationship and the school holidays of Fernando finishing up, Rosa starts to dwindle-away stuck at home, even physically (althogh it notices Maria Rodrigues that keeping and even increasing the charm but with greater paleness and the lips dry and washed-out «like the petals of a rose, seared by the sun»), in a way that the countrymen and her own grandmother attribute to some disease and not to the love for Fernando (who on his hand started apparently to show less affection and more coldness for his enamored-one, what started to hurt her strongly), and at last Fernando left to Oporto. It is some time afterwards that the Baroness of F... (given sometimes the location of the mysterious F... from her title as being Fonte Arcada, on the level of trivia, the locale of birth of the mythical Maria da Fonte, an uprising that would be, as we already said on the previous post, of liberal-miguelist fusion) comes to live unto Rosa's village, and there the Baroness daughter, Deolinda, meets Rosa and the latter becomes her friend, confidant and servant to the widowed baroness' daughter, hence that when little afterwards the Baroness moves with the family to Oporto, Rosa accompanies Deolinda as her servant. It is in the baroness' house that Rosa gets to see again Fernando, as guest to the house, getting spited despite the incentive of Deolinda and her mother so that the peasant overcame the past acursing, that despite the denials on the young woman clearly are still not overcome.
It is in Oporto that it occurs the majority of the rest of the plot, with the tension between Rosa and Fernando for their past, Fernando falling in love with Deolinda and being corted (and his inheritance majorate-holding) by the Baroness for her daughter's husband, several other dramatic events, and on top of everything, the occuring of the most intense phase of the Siego of Oporto city during the Portuguese Civil War. Afterwards to a new coming together between the couple and Fernando basically "cutting the bollocks" and going back to warm up that 'ice stone' within the chest towards Rosa, the steering of the plot to an apparent happy ending is frustrated by the victimising of Fernando by two shots, and although bedridden he married Rosa, and it is only later that he passes away, leaving behind a understandably wrecked and who went back to befall into great physical unease, dwelling "hang-up" on the same bed where did passed-away her old beloved.
When Rosa's end came, all the village cried, including the very regretful Antonio who lived at this time with the local priest, who revealed to Antonio a secret on him and Rosa (I will not reveal it now...) that causes the run away of the man fterwards to admiting in written letter left for the priest that he had been the killer of Fernando, and never anyone else found him (would it be bones found 10 or 12 years afterwards really his? Never nobody did ascertain it according to the author). Deolinda and the Baroness, those sticked themselves with Oporto, and there "delivered themselves unto God" entering into a convent. Obviously, a novel of this type overflows sentimentalism, and there cannot help from being a learning and an optimism of religious "compensation" and of the life well lived before the end. It is a sentimental narrative with its adventurous and psychological side, that grabs the reader, entertained him, to the most movable it moves them, and presents a grand drama, that doesn't set aside being also a book on society and on politics, at least as they were almost two centuries ago, and a narrative that attracted the interests of the Portuguese readers for several years (in the beginning of the 20th century could be said that Portugal was divided among those who read A Rosa do Adro/"Rosa, the Churchyard Rose" and on the ones that read Das Kapital by Karl Marx), and that inspired two cinematic adaptations in Portugal (in 1919, updating it for the then current times, and 1938).
The book itself, can be found in severall editions from the 20th century and one already from this century from Moderna Editorial Lavores publisher for sale (which is the one that I possess), and in almost all the Portuguese libraries in copies frequently from the editions by Porto Editora publisher from the 1970s for the Colecção Portuguesa ("Portuguese Collection").

terça-feira, 10 de março de 2015

Livros sobre o Zé do Telhado de Eduardo de Noronha, Camilo Castelo Branco, José Manuel Castro Pinto e Augusto Pinto // Books on Cheo from the Rooftop by Eduardo de Noronha, Camilo Castelo Branco, Jose Manuel Castro Pinto and Augusto Pinto

O herói dos textos desta publicação (à direita) com o seu irmão
Esta 13.ª publicação deste blogue será a primeira a cair sobre um tema lendário mais que sobre um livro específico (um pouco como as colecções de clássicos juvenis a nível mundial tendem a incluir um volume sobre a lenda de Robin dos Bosques que é "clássico" mais pela narrativa em si que por um texto específico, apesar de haver uma versão clássica feita pelo ilustrador e escritor Estado-Unidense Howard Pyle). Aqui analisarei as três principais versões romanceadas escritas de uma lenda portuguesa de base histórica em tempos bastante célebre. José Teixeira da Silva do Lugar do Telhado perto de Penafiel e ficou conhecido sob o nome de José ou Zé do Telhado é mais célebre por ter sido uma espécie de "Robin dos Bosques Português", roubando aos ricos para dar aos pobres, e assistindo os oprimidos de qualquer forma que podia. Para esta publicação vamos consultar José do Telhado de Eduardo Noronha (1923) e sequela do mesmo autor José do Telhado em África (1924), os extractos de Memórias do Cárcere de Camilo Castelo Branco (1862) coligidos no volume José do Telhado da editora Edinter em 1990, o ensaio romanceado José do Telhado: O Robin dos Bosques Português? Vida e Aventura de José Manuel Castro Pinto (2002, com segundo volume em 2003) e a obra atípica Quem Foi José do Telhado de Augusto Pinto (2005).
Capa da edição da Edinter
Esta história verídica remonta ao meado do século XIX, quando no reinado de D. Maria II e do (Rei-Consorte, isto é Rei marido de uma Rainha reinante) D. Fernando II, quando Portugal "voltava à carga" lentamente na colonização em África apesar de continuar a debater-se internamente com confrontos entre as diversas facções políticas liberais e com os resquícios dos tradicionalistas do miguelismo. O texto, dos 5 em causa, que começa mais cedo cronologicamente, é o de Castro Pinto (que desde os anos de 1990 tem sido autor de vários livros, principalmente ensaísticos, sobre gramática e linguística portuguesa e perfis biográfico, para além do Zé do Telhado, do rebelde Miguelista Algarvio "o Remexido", do salteador e cacique autárquico Beirão João Brandão, de Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós e Bocage), que começa com o nascimento e fundo familiar do herói (apresentando a documentação do seu registo de baptismo por exemplo). Ele nasceu numa família popular comum, que sem muitos meios para o criar o confiou ao seu tio tratador de gado ovino e caprino (erradamente descrito como um Francês endinheirado por Camilo), apaixonando-se aí contra desejo do tio pela prima Ana Lentina de Campos, com a qual casará mais tarde.
Ainda solteiro participa como oficial dos Lanceiros da Rainha do quartel de Cavalaria 2 no levantamento contra a revolução de Setembro feita contra a aplicação da Carta Constitucional (uma versão da Constituição de 1822 feita pelo Rei D. Pedro IV, o D. Pedro I do Brasil, com poderes reforçados para o Rei, tentativa de agradar ao seu irmão absolutista D. Miguel) e pela restauração da Constituição de 1822 (ou aplicação de uma versão mais avançada da mesma; os defensores desta Constituição ficaram pela data deste levantamento ficaram conhecidos como Setembristas), e depois da derrota dos defensores da Carta (chamados Cartistas) e da vitória dos rivais (Setembristas), José refugiou-se em Espanha, e foi mais tarde que voltou de lá e casou, e foi já homem feito e casado que em 1846 combate o governo Cartista anticlerical e centralista que incluía o Ministro Costa Cabral com uma coligação de Setembristas, Cartistas anti-Cabral, Miguelistas, militares com ambições políticas e povo comum na chamada "Revolução da Maria da Fonte", chegando ao posto de Sargento sob as ordens do General Sá da Bandeira (que se juntara aos revoltosos), e recebe a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (mais alta condecoração ainda em vigor em Portugal) pelo papel numa expedição a Valpaços. Porém embora o governo seguinte exclua o impopular Cabral, incluía vários Cabralistas, e muito mais tarde Costa Cabral até chegaria a Primeiro-Ministro, numa altura em que o Zé do Telhado já havia caído em desgraça quer pelo regresso ao poder dos Cabralistas (que o "purgaram" das Forças Armadas) quer por dívidas de impostos acumuladas.
É este evento que provoca o começo das aventuras robin-dos-bosqueanas do herói nestes 5 livros (e nos filmes adaptados da estória deste salteador, o mudo de Rino Lupo de 1929 e o sonoro de Armando de Miranda de 1945 com sequela de 1949, ambos com o actor Virgílio Teixeira já referido na publicação sobre Nitockris), pois depois disso, José acaba por se encontrar com Custódio "o Boca-Negra" (pelos lábios e dentes escurecidos pelo fumar excessivo de tabaco), o (lendário? Histórico? Quem sabe) maior salteador do Norte de Portugal e das Beiras, e este acaba por fazer de José o seu sucessor como líder do bando, que iria aumentando e "usar" em assaltos principalmente na zona da Serra do Marão mas expandindo-se pela maioria do Minho e do Douro Litoral, que serviam tanto para sustentar as famílias dos assaltantes do bando como para uma certa redistribuição entre os desfavorecidos dos locais de actividade do bando (por vezes sendo até ex-vítimas de roubos que foram algo prejudicadas pelo "servicinho"). E, como o bando do fora-da-lei Inglês equivalente, pela forma como num ou outro episódio mais cómico das narrativas da vida e acção deste fora-da-lei Português dadas por estes 4 autores, expõem os poderosos e os fracos de espírito e de têmpera pelos seus "podres".
Fora os oponentes dos episódios específicos de um livro ou outro, Zé do Telhado tem inimigos constantes, os líderes das autoridades policiais, a família política dos Cabrais e o Zé Pequeno, um membro do seu bando que já havia pertencido ao bando do "Boca-Negra" que é desenhado como um rival do herói do primeiro momento em diante (como um possível sucessor do "Boca-Negra" "frustrado" pela escolha do recém-chegado) por Castro Pinto e ao longo de várias insinuações e episódios ao longo dos enredos dos três autores das obras aqui em questão até uma traição final. Assim o José ou Zé do Telhado representa também (quando lido politicamente, o que é provavelmente ler demais no fenómeno histórico, mas na idealização de uma ficção, leituras destas podem aplicar-se) um certo levantamento libertário contra a burocracia estatal, a autoridade policial do mesmo Estado e elementos "degradados" da própria classe baixa que não é idealizada nesta lenda (o que por exemplo o analista do populismo Chip Berlet atribuía ao populismo de direita, que segundo ele se centraria na classe média ou trabalhadora criticando "parasitas" acima e abaixo de dita classe, abaixo incluindo a parte da classe baixa não empregada e subsidiada para sobreviver), um levantamento contra impostos, burocracia, dívidas, clientelismos e afins. E, claro, a rivalidade com o Zé Pequeno não representa só isso tudo mas é uma rivalidade pessoal entre dois "homens de armas". Tudo isto num Portugal do meado do século XIX centralizado e em que havia fraca tentativa de descentralização (idealizada por Mouzinho da Silveira e o autor já estudado Alexandre Herculano), que lutava para manter um império colonial ante interesses britânicos, franceses e afins e em que se discutia o fim da escravatura.
Em todos estes cinco textos a vida deste salteador era uma sucessão de lutas, de anedotas no sentido mais episódico e menos cómico do termo (Camilo é provavelmente dos 4 o autor que mais se foca neste ângulo, visto que a sua obra é mais descritiva que de enredo constituído por cenas e personagens que dialogam), de rivalidades com poderosos ou dentro do bando e de actos de humanismo e redistribuição da parte dos salteadores, com piedade para com viúvas assaltadas e "mulheres de armas" (como narrado por Castro Pinto). É digno de nota a piedade humanista e cristã, e religiosidade intensa apresentada por José, que lhe dá um retrato quase de santo secular popular, só diferindo de muitos santos católicos nas suas origens populares (e não de nobre que "desce" até ao povo após tomar votos), as mesmas origens que lhe permitem esconder-se entre o mesmo povo e sobreviver para outro dia da forma que alguns foras-da-leis e guerrilheiros mais elitistas não conseguiram, as mesmas origens que fizeram com que caísse nas mãos da lei e fosse aprisionado (sem qualquer margem de manobra que enquanto aristocrata provavelmente teria), e as mesmas origens que o faziam entender tão bem a situação dos desfavorecidos e ser tão redistributista para com eles.
Capas de versões de cordel anteriores de selecções de Memórias do Cárcere de Camilo mais para o início do século XX
Quanto à relação com o poder político dos Cabrais, é impossível não ver aqui não só um conflito entre o salteador e eles por ele ser fora-da-lei e eles serem a dada altura da sua carreira a lei que ele quebrava, mas pela oposição política pessoal entre ambas as partes, e da mesma maneira ver no bando do José do Telhado uma continuação, na forma de bando de salteadores, do velho movimento da Maria da Fonte, e como ele provavelmente uma união da velha direita miguelista, à direita liberal anti-Cabral, à esquerda liberal, e o povo sem ideologias, e as cenas de conversação entre os salteadores (principalmente como mais literariamente expandidos na versão de Noronha, o mais completo, enquanto obra de ficção, clássico e melhor destes cinco).
Os momentos ficcionalmente mais fortes da narrativa em Noronha são o momentos relativos ao casamento do José e da sua mulher (pelo foco romântico que pode dar à narrativa essencialmente "para rapazes") e depois a queda em desgraça do bando, o confronto com o Zé Pequeno e a prisão (após julgamento que Castro Pinto aponta como duvidoso) e posterior libertação para o degredo em Angola (onde se torna um respeitável comerciante de borracha, cera e marfim em Malange, ao ponto de servir de intermediário entre Portugueses e os governantes locais, sobas, e de após a morte ter construído uma espécie de mausoléu simples que por vários anos foi local de romagem pela população indígena local, o que em certa medida ainda ocorre) do líder do bando (que não mais voltará a ver a esposa, da qual nada mais se sabe, como aponta Castro Pinto). José Manuel de Castro Pinto faz provavelmente o melhor trabalho de escrever toda a vida deste personagem histórico (ocupando-se de ainda mais da vida dele que Camilo, não só por "tratá-lo" desde o nascimento mas porque Camilo descreve a sua vida até ao momento da sua prisão e o conhecimento entre os dois homens na Cadeia da Relação, Castro Pinto até corrigindo alguns erros factuais ou simplificações do autor oitocentista), usando de toda a informação que há nos arquivos de Lisboa, do Porto e de algumas igrejas locais e mostrando fotografias inéditas e afins, e romanceando alguma da informação (não sendo tão bom ficcionista como Eduardo de Noronha ou Camilo, porém ele sabe fazer uma ficção legível e formalmente atraente) junto com páginas mais puramente ensaísticas, históricas, mas admitindo que algumas coisas poderão ser lendárias impossíveis de provar (tendendo a ser essas que são mais escritas em forma de ficção).
Capa do primeiro volume da obra de Castro Pinto
Toda a vida de José até aqui é o que é sabido com certeza, mas depois vem todo o final do livro de Augusto Pinto (o autor de uma recolha folclórica escrita em estilo ligeiro de 1997 e uma revisão do texto de As Pupilas do Senhor Reitor de Júlio Dinis já deste século), que inventa uma viagem do Zé do Telhado ao Brasil (ficção que se não é invenção pessoal de Pinto, então é algo tirado de literatura de cordel brasileira que, de forma não literal, punha o fora-da-lei Português a confrontar-se com foras-da-lei do Brasil), cheia de disparates factuais como atribuir tigres (asiáticos) e leões (africanos) ao Brasil, para além de jibóias que comem cavalo e cavaleiro juntos, e uma viagem pelo Atlântico do Brasil para África com tubarões que saltam para o casco de navios, e uma África de rajadas de vento que levam pessoas pelo ar mas não destroem mais nada em redor, Africanos que montam bois-cavalos (gnus) e frases tão estranhamente escritas não é claro se se fala de um cavalo a fazer saltos mortais ou um cavaleiro a fazer saltos mortais sobre a sela do cavalo. Sem dúvida, o livro de Pinto é o pior do lote, visto como um todo, misturando de forma pouco justificável informação histórica e ficção, de forma muito menos competente que Castro Pinto (ao contrário deste, que se foca em transmitir informação real, e introduz informação para "reconstituir" o que ele depreende das fontes ou para dramatizar lendas em torno deste personagem, pelo contrário Pinto ao mesmo tempo transmite muita informação histórica, transmitida mal sintetizada, de forma mal escrita e mal indicando fontes para ser livro de ficção proper, e mete demasiada ficção, lenda a roçar bem o fantástico e inexactidões factuais, principalmente no final do livro passada em África para ser texto de história).
O livro é ainda discutível pelo texto irrelevantemente anti-políticos da introdução, pelo foco que dá a certos factos irrelevantes (o número de vezes que o herói urinou em criança), inventando toda a uma vida heróica em África que José não teve lá (não surgindo sequer daquela forma no romancear de Eduardo de Noronha em 1924, e até lhe atribuiu uma morte em combate a um soba tirano, e depois termina com o irónico «a pouca informação que temos não nos permite afirmações seguras de como foi o fim do antigo quadrilheiro» e o «morreu numa escaramuça com os sobas; José terá caido [sic] por cima de um destes chefes negros que estava no chão já sem vida, e espetou a faca nos seus intestinos». Ou seja, dizes que não há certeza como morreu só para servir de desculpa para inventares uma morte), tendo ainda personagens femininas mais frouxas que as dos outros 5 livros (todas acabando como "donzelas em apuros" que José salva por recurso aos músculos e que "caem por ele"), apresenta um Zé do Telhado que não apresenta nenhuma da sua humanidade para com adversários negros (o que as lendas e factos históricos parecem contestar, e talvez nos diga mais sobre o senhor Pinto do que sobre o "Zé") e ainda um herói com demasiadas qualidades (roçando o super-herói por vezes). Tudo isto só enfatiza o talento de Castro Pinto como "docuficcionista" por comparação com Augusto Pinto.
Capa do livro de Augusto Pinto
Falando agora de forma mais geral, sei que alguns têm vindo a ficar surpresos pela forma como escrevo estes textos, com algo de resumo mas mais de análises de sub-textos e raízes da escrita dos autores no seu período histórico, mas a razão porque o faço é não só para não "desmanchar o prazer" de quem ainda não pode ler estas obras e não precisa de ter já revelado o enredo para si na totalidade, mas porque esses contextos são vitais para entender os livros em causa, tal como qualquer obra de arte: uma obra é produto do seu contexto que influencia o criador humano do seu texto, assim a lenda do José ou Zé do Telhado (e as suas versões escritas) existem graças ao regime liberal monárquico e os seus conflitos, os enredos de faca-e-alguidar de Camilo Castelo Branco não existiriam sem o Portugal aburguesando da Regeneração e dos confrontos políticos imediatamente anteriores, e sem os Descobrimentos Portugueses e a sua colonização Camões não teria escrito Os Lusíadas. História, sociedade, cultura, tudo isto se misturou para criar a cultura artística de um dado momento e a cultura que mais tarde terá essa cultura artística como clássica, e continuará a produzir outras obras, como filmes, BD (como se pode ver abaixo), vários livros, narrativas orais, jogos de vídeo, música (Zeca Afonso forneceu a banda-sonora para uma peça de teatro sobre o Zé do Telhado que deu origem ao album Fura-Fura) e etc.. E esse é também o caso desta estória do Zé do Telhado.
Uma prancha adaptada de Memórias do Cárcere com Camilo Castelo Branco e José do Telhado, de Fernando Santos Costa para o jornal O Crime
Destes livros, os de Castro Pinto e Augusto Pinto encontram-se ainda à venda em edições recentes com alguma facilidade, tendo sido relativos sucessos de venda desde as primeiras publicações, enquanto o livro de Noronha se encontra em várias bibliotecas municipais (principalmente em edições a partir dos anos de 1960), e a colectânea de extractos de Camilo da Edinter surge em algumas secções infanto-juvenis de algumas bibliotecas municipais, isto tudo descontando vários negócios em-linha de velhas edições de todos estes.


The hero of the texts from this post (to the right) with his brother
This 13th post of this blogue shall be the first to fall down on a legendary theme more than on a specific book (a little like the collections of young-people's classics at worldwide level tend to include a volume on the Robin Hood legend which is "classic" more for the narrative itself than for a specific text, despite there being a classical version madeby the US-American illustrator and writer Howard Pyle). Here I shall analyse the three main romanced versions written out of a historically-based Portuguese legend in times gone rather celebrated. Jose Teixeira da Silva from the Place of Telhado («Rooftop») near Penafiel city and got known under the name of Jose or Ze in Portuguese or Cheo in Hispanic Ibero-America is more celebrated for having been a kind of "Portuguese Robin hood", stealing to the rich to give to the poor, and assisting to the oppressed in any way he could. For this postwe will consult José do Telhado ("Jose from the Rooftop") by Eduardo Noronha (1923) and sequel by the same author José do Telhado em África ("Jose from the Rooftop in Africa", 1924), the extracts from Memórias do Cárcere ("Memoirs from the Gaol") by Camilo Castelo Branco (1862) collected in the volume José do Telhado ("Jose from the Rooftop") by the Edinter publisher in 1990, the romanced essay José do Telhado: O Robin dos Bosques Português? Vida e Aventura ("Jose from the Rooftop: The Portuguese Robin Hood?" Life and Adventure") by Jose Manuel Castro Pinto (2002, with second volume in 2003) and the atypical work Quem Foi José do Telhado ("Who Was Jose from the Rooftop") by Augusto Pinto (2005).
Cover of the Edinter edition
This truthful story goes back to the middle of the 19th century, when on the reign of Dona Maria II and of the (King Consort that is King husband to a reigning Queen) Don Ferdinand II, when Portugal "went back to the charge" slowly in the colonisation in Africa despite of continuing to flounder itself with confrontations between the diverse liberal political factions and with the holdovers of the traditionalists from miguelism. The text, out of the 5 at stake, that starts the earliest chronologically, is the one by Castro Pinto (who since the 1990s has been author of several books, mostly essays, on grammer and linguistics and biographical profiles, beyond the one of Jose from the Rooftop, of the Algarve Miguelist rebel "o Remexido" ("the Turn-over"), of the Beiras raider and municipal chieftain Joao Brandao, of Camilo Castelo Branco, Essa de Queiroz and Bocage), that beggins with the birth and family background of the hero (presenting the documentation of his baptismo registry for example). He was born into a common folksy family, which without many means to raise him, trusted him to his ovine and caprine cattle handler uncle (wrongly described as a moneyed Frenchman by Camilo), falling himself into love against the uncle's wish for the cousin Ana Lentina de Campos, with whim he would marry later on.
Still single he participates as officer of the Queen's Lancers from the Cavalry 2 military barracks on the uprising against the September Revolution done against the putting in place of the Constitutional Carta/"Charter" (a version of the 1822 Constitution done by King Don Pedro IV, the Don Pedro I of Brazil, with reinforced power for the King, attempt to please to his absolutist brother Don Miguel) and for the restoration of the 1822 Constitution (or putting in place of a more advanced version of the same; the defenders of this Constitution got due to the date of this uprising known as Setembristas/Septemberists), and afterwards to the defeat of the defenders of the Charter (called Cartistas/"rightwing Chartists") and to the defeat of the rivals (Septemberists), Jose took refuge into Spain, and it was later that he came back from there already grown man and married that in 1846 he fights the anticlerical and centralist Chartist government that included the Minister Costa Cabral with a coalition of Septemberists, anti-Cabral Chartists, Miguelists, military with political ambitions and common people in the so-called "Revolução da Maria da Fonte"/"Maria da Fonte Revolution", getting to the rank of Sargent under the orders of the General Sah da Bandeira (who would join himself to the revoltees),and receives the Military Order of Tower and Sword, of Value, Loyalty and Merit (the highest decoration still in force in Portugal) for the role in an expedition to Valpassos. Nevertheless although the following government excludes the unpopular Cabral, it included several Cabralistas, and much later Costa Cabral even would get to Prime Minister, in a time in which Cheo from the Rooftop already had fallen into disgrace both by the return to power of the Cabralistas (who "purged him" from the Armed Forces) and for accumlated tax debts.
It is this event that provokes the start of the robinhoodian adventures of this hero on these 5 books (and in the films adapted from the story of this raider, the silent one by the Italian Rino Lupo from 1929 and the sound one by Armando de Miranda from 1945 with 1949 sequel, both with the actor Virgilio Teixeira already mentioned in the post on Nitockris), as after that, Jose ends by meeting up with Custodio "the Black-Mouth" (for the lips and teeth darkened by the excessive smoking of tobacco), the (legendary? Historical? who knows) greatest raider from North Portugal and the Beiras regions, and he ends up by making Jose his successor as leader of the band, which he would go along increasing and "using" in heists mainly in the Marao Sierra ridge area but expanding himself through the majority of the Minho region and of the Douro and Oporto Coastline region, which served as much to support the families of the band's robbers as for a certain redistribution among the disadvantaged from the band's locales of activity (sometimes being even ex-stealing victims that were somewhat harmed by the"little job"). And, as the band of the equivalent English outlaw, by the war as in one or another more comical episode from the narratives of the life and action of this Portuguese outlaw given by these 4 authors, expose the mighty and the weak in spirit and temperir for their "rottings".
Aside the opponents of the specific episodes of a book or another, Cheo from the Rooftop has constant enemies, the leaders of the police authorities, the Cabral political families and the Little Cheo, a member of his band who had already belonged to the gang of the "Black-Mouth" that is drawn-out as a rival to the hero from the first moment onwards as the possible successor of the "Black-Mouth" "frustrated" by the picking of the newly-arrived) by Castro Pinto and throughout the several insinuations and episodes throughout the plots of the three authors of the works here at stake till a final betrayal. So Jose or Cheo from the Rooftop represents also (when read politically, what is likely overreding too much into the historical phenomenon, but in the idealisation of a fiction, reading like these may apply) a certain libertarian uprising against the state burocracy, the politicl authority of the same state and "degraded" elements of the class itself that is not idealised in this legend (what for example the analyst of populism Chip Berlet attributed to the rightwing populism, that according to him would centre itself on the middle or working class by criticising "parasites" above and beneat said class, beneath including a part of the lower class not employed and subsidised to survive), an uprising against taxes, bureaucracy, debts, client-politics and the like. It is, of course, the rivalry with the Little Cheo that represents all that but it is a personal rivalry between two "men in arms". All this in a middle 19th century Portugal centralised and in which there was a weak attempt of decentralisation (idealised by Mouzinho da Silveira and the already here studied author Alexandre Herculano), that struggled to keep a colonial empire facing the Brtish, French and alike interests and in which it was discussed the end of slavery.
In all these five texts the life of this raider was a succession of struggles, of anecdotes in the more episodic and less comical sense of the term (Camilo is probably from the 4 the author that more does focus himself on this angle, seen that his work at stake is more descriptive than of plot constituted by scenes and characters that dialogue), of rivalties with high-and-mighty or within the gang and of acts of humanism and redistribution on the part of the raiders, with pity towards the mugged widows and "battle-ax women" (as narrated by Castro Pinto). It is worthy of note the humanist and Christian piety presented by Jose, which gives him a portrait almost of popular secular saint, only difering from many Catholic saints in his folksy roots (and not of nobleman that "goes down" to the people after taking up vows), the same roots that allow him to hid himself amongst the said people and o survive for another day in way that some more elitist outlaws and guerrillas could not, the same roots that made it so that he befell into the hands of the law and were imprisoned (without any room for manoeuvre that while aristocrat probably would have), and the same roots that made him understand so well the situation of the disadvantaged and be so redistributist towards them.
Covers to previous chapbook versions of selections from Memórias do Cárcere/"Memoirs from the Gaol" by Camilo more to the beginning of the 20th century
About the relationship with the Cabrais' political power, it is impossible not to see here not only a conflict between the raider and them for him being an outlaw and them being at given time of his career the law that he broke, but for the personal political opposition between both parties, and in the same manner to see in Jose from the Rooftop's gangue a continuation, in the form of raiders gang, of the old Maria da Fonte movement, and as it probably a union of the old miguelist rightwing, to the anti-Cabral liberal rightwing, up to the liberal left, and the people without ideologies, and the scenes of conversation among the raiders (mainly as more literarilly expanded in the Noronha version, the most complete, while work of fiction, classical and best out of these five).
The fictionally strongest moments of the narrative in Noronha are the moments relating to the wedding of Jose and his wife (for the romantic focus that it can give to the narrative essentially "for boys") and afterwards the fall into disgrace of the gang, the face-off with Little Cheo and the imprisonment (afterwards to trial which Castro Pinto points as dodgy) and the posterior release unto the uprooting into Angola (where he turns into a respectable trader of rubber, wax and ivory in Malange, to the point of serving as middleman between Portuguese and the local rulers, sobas, and after his death having built for him a kind of simple mausoleum that for several years was place of pilgrimage by the local indigenous population, what to a certain extent still occurs) of the gang's leader (who no more shall go back to see his wife, of which nothing more is know, as points out Castro Pinto). Jose Manuel de Castro Pinto does probably the best work of writing down all the life of this historical character (occupying himself on more of his life than Camilo, not only for "taking care of him" since birth but because Camilo descrives his life up to the moment of his arrest and the acquaintance of the two men on the Relassão/District Court of Final Appeal Jail, Castro Pinto even correcting some factual mistakes or simplifications of the eighteen-hundreds author's), using of all the information that there is in the archives from Lisbon, from Oporto and from local churches and showing unpublished pictures and alike, and romancing some of the information (not being as good a fictionist as Eduardo de Noronha or Camilo, nevertheless he knew how to do a readable and formally attract fiction) together with more purely essay-like, historical, pages, but admiting that some things might be legendary impossible to proof (tending those ones to be more written in form of fiction).
Cover of the first volume of Castro Pinto's work
All the life of Jose up till here is what is known for sure, but afterwards comes all the ending of the book by Augusto Pinto (the author of a folkloric gathering collection written in light style from 1997 and a revision of the text to As Pupilas do Senhor Reitor/"The girl Pupils of Mister Parson the dean" by Julio Dinis already from this century), that makes up a voyage of Cheo from the Rooftop to Brazil (ficion that if it is not personal invention of Pinto, then it i something taken from Brazilian chapbook literature that, in non literal form, put the Portuguese outlaw a facing himself with Brazil's outlaws), full of factual nonsenses like attributing (Asian) tigers and (African) lions to Brazil, beyond pithons that eat up horse and horserider together, and a voyage through the Atlantic from Brazil to Africa with sharks that jump unto the hull of ships, and an Africa of wind gusts that take people through the air but destroy nothing more around, Africans who ride wildebeest (gnus) and sentences so strangely written it is not clear if it talks of a horse doing somersaults or a horserideer doing somersaults on the horse's saddle. Without doubt, Pinto's book is the worse of the lot, seen as a whole, mixing in little justifiable way historical information and fiction, on way much less competent than Castro Pinto (unlike him, who focus hmself in transmiting real information, and introduces information for "rebuilding" what he surmise from the sources or to dramatise legends around this character, on the contrary Pinto at the same time transmites much historical information, transmited baddly synthesize, in way baddly written indicating sources to be a fiction book proper, and puts in too much fiction, legend rubing well fantasy and factual incorrectnesses, mainly at the ending of the book set in Africa, to be history).
The book is still debatable for the text irrelevantly anti-politician of the introduction, for the focus that it gives to certain irrelevant facts (the number of times the hero urinated as a child), making up a whole heroic life in Africa that Jose did not have there (not appearing even in that way of romancing it of Eduardo Noronha's in 1924, and even attributed him a death in combat to a tyrant soba, and afterwards ends with the ironic «the little information that we got does not allow us secure statements like how was the end of the former highwayman» and that «he died in a skirmish with the sobas; Jose would caido [typo insead of caído, so imagine «fallén» written instead of «fallen» for comparison] on top of one of the black chiefs that was on the floor already without life, and sticked a knife in his intestines».That is, you say there is no certainty on how he died just to serve as apology for making up a death), having still female characters "limper" than the ones from the other 5 books (all ending as "damsels in distress" that Jose saves by resourt to the muscles and who "fall for him"), presents a Cheo from the Rooftop that presents no humanity towards black adversaries (what the legends and historical facts seem to contest, and maybe tells us more on mister Pinto than on "Cheo") and still a hero with too many qualities (rubbing the superhero sometimes). All this just emphasises the talent of Castro Pinto as "docuficcion-creator" by comparison with Augusto Pinto.
Cover of Augusto Pinto's book
Speaking now on more general way, I know that some have come to be surprised by the way as I write these text, with something of abstract but more of analysis of subtexts and roots of the writing of the authors on their historical period, but the reason why I do it is not only for not "spoiling the pleasure" of whom still hasn't read these works and does not need to have revealed the plot for themselves in its totality, but because those contexts are vital to understand the books at stake, like any work of art: a work is product of its context that influenced the human creator of its text, so the legend of Jose or Cheo from the Rooftop (and its written versions) exist thanks to the monarchist liberal regime and its conflicts, the cloak-and-dagger plots of Camilo Castelo Branco would not exist without the bourgeoining Portugal from the Regeneration period and from the immediately previous political confrontation, without the Portuguese Discoveries and its colonisation Camoens would not have written The Lusiads. History, society, culture, all that mixed itself to create the artistic culture of a given moment and the culture that latter shall have that artistic culture as classical, and shall continue producing other works, like films, Comics (like the one that can be seen below), several books, oral narratives, videogames, music (Zeca Afonso provided the soundtrack for the theatre play Zé do Telhado by theatre crew A Barraca/"The Shack" which gave origin to the album Fura-Fura/"Pierce-it-Pierce-through) and etc.. And that is the case of the story of Cheo from the Rooftop.
A comic page adapted from Memórias do Cárcere/"Memoirs from the Gaol" with Camilo Castelo Branco and Jose from the Rooftop, by Fernando Santos Costa for the O Crime ("The Crime") newspaper
Out of these books, the ones by Castro Pinto and Augusto Pinto find themselves still for sale on recent editions with some ease, having been relative hits since the first publications, while the Noronha bok finds itself in several municipal libraries (mainly in editions starting from the 1960s), and the collection of extracts of Camilo from Edinter comes-up in some children's/young-people's sections of some municipal libraries, all this not counting several online deals of old editions from all of these.