As Pupilas do Senhor Reitor foi um livro que durante muitos anos da minha vida não me "caiu na frente". Compreensível visto que nos anos em que estava no 2.º e 3.º ciclo não fazia parte dos programas escolares, e por várias outras razões acabava por ler outros livros que não a cópia que havia em casa do tempo em que era parte dos currículos do liceu no tempo do meu pai (incluindo Os Fidalgos da Casa Mourisca do mesmo autor, que pelo título que me soava misteriosamente atractivo peguei primeiro). Assim a minha única verdadeira experiência com a narrativa era através de adaptações como a relativamente popular série de 2005 da RTP João Semana (que porém sabia antes sequer de ler o livro que era muito livremente inspirada no mesmo, sendo que apesar de manter o enredo todo intacto no geral, se centrava na mais secundária personagem do velho médico da aldeia João Semana e juntando "participações especiais" dos já referidos neste blogue Zé do Telhado e Maria da Fonte e mudando o cenário do Minho para a "velha paixão" do autor do argumento Moita Flores, o Douro Litoral). Não que tivesse qualquer antipatia pelo livro (até porque nem o conhecia) ou o autor (do qual já havia gostado antes, e cuja obra conheço agora e acho algo mais complexa do que outrora, tendo listo algumas das suas obras póstumas e afins), mas somente porque nem tinha a obrigação de o ler nem me achei alguma altura com tempo para o ler sem ter de fazer outra coisa ou ler outro livro.
Originalmente folhetinizado no Jornal do Porto em 1866 e em 1867 (ano em que o autor, de seu verdadeiro nome Joaquim Guilherme Gomes Coelho, era demonstrador e lente substituto da Escola Médico-Cirúrgica do Porto) impresso em livro (sendo o primeiro romance do autor, tendo o folhetim anteriormente escrito Uma Família de Ingleses, inspirado na família materna parte anglo-irlandesa de Dinis, e o seu único romance passado fora do espaço rural, surgindo mais tarde no ano de 1867 e sendo editado em livro com o título definitivo Uma Família Inglesa no ano seguinte, e tendo antes da publicação d'As Pupilas já 10 anos de escrita não-romanesca, por publicar ou publicada em periódicos sob vários pseudónimos, atrás de si), este livro é a narração das vidas entrelaçadas de dois "casalinhos" (para usar da terminologia aplicada aos gémeos) de irmãos que vivem numa aldeia minhota não-nomeada: Pedro e Daniel, filhos do latifundiário local José das Dornas (não um aristocrata, mas um velho camponês auto-elevado através da sua ética de trabalho ao posto deixado vago pela queda da velha aristocracia pré-liberal), e Clara e Margarida (Guida), órfãs (note-se nisto, visto que o próprio autor era órfão, tendo perdido a mãe novo, para a tuberculose) que estão à guarda do padre local (o "Senhor Reitor" do título). Daniel, depois de ser encontrado a namoriscar Guida de forma plenamente inocente pelo Reitor, é enviado pelo pai para a cidade, acabando por estudar medicina em Coimbra. Quando volta o irmão está noivo de Clara e Guida, essa de pastora havia passado a dedicar-se somente a ensinar crianças locais a ler e dar-lhes a catequese e assumira toda a linha da solteirona que "fica para tia". Para além dos "casalinhos", o reitor também é um interveniente vital na dinâmica entre estes dois pares, e quanto ao que do enredo concerne à profissão de médico de aldeia de Daniel, este vê-se apoiado pelo velho (e ligeiramente mais tradicional, ou pelo menos "habituado" à forma de ser "do costume" do campo) médico João Semana e confrontado pelo barbeiro da aldeia (lembremos que na altura na sociedade tradicional rural os barbeiros eram responsáveis pela maioria das pequenas cirurgias ademais do seu serviço natural).
O autor Júlio Dinis
Neste romance sentimental não falta uma tendência moralizante do seu autor (um médico de espírito liberal que pouco chegou a exerceu por questões de saúde e o envolvimento com a escrita profissional), isto sem sacrificar demasiado o lado amoroso ou artístico do livro, mas Júlio Dinis não perde ocasião para, por exemplo, culpar os costumes da cidade pela "corrupção" de Daniel (antes um jovem livresco fisicamente frágil que o Reitor prepara para o sacerdócio, e que volta à aldeia como um namoradeiro compulsivo e insincero). Da mesma forma (como contraponto), o ensino catequista e outro que Guida dá é algo mostrado para dar o seu exemplo de uma boa acção comunitária e algo noblesse oblige (sim, que esta expressão existe fora o uso dado pelo José Castelo-Branco, significando "nobreza obriga") embora Guida não seja propriamente nobre (embora a sua educação e o papel de "afilhada" do Reitor lhe dêem equivalência a tal papel).
Conforme o enredo vai avançando, a moralização (e respectiva crítica) de Dinis vem ao de cima principalmente em torno das "poucas-vergonhas" "ligeiras" a que se dá Daniel, primeiro logo que põe vista em Clara (ficando tentado), mas ante o aviso de Pedro de que estava já noiva dele ele afasta-se e ao invés começa a romancear com poesia a filha do tendeiro (i. e., comerciante de tipo que originalmente estava estabelecido numa tenda de mercado) local, doente com o que hoje poderíamos chamar de depressão sobre o aspecto físico. O tendeiro, usando da poesia escrita de Daniel como prova de intenções casadoiras do rapaz, tenta frustradamente convencer José das Dornas a um casamento entre o médico e a sua filha. Mas desenvolvimento mais significativo no enredo vem quando chega a noite da desfolhada, em que a moral local se suaviza e são permitidos mais alguns excessos entre os mais jovens da aldeia. É nessa noite que Daniel aborda Clara e a tenta convencer de que tem verdadeiros sentimentos por ela (obviamente que está só a voltar ao seu namoriscar incontrolável para gozo pessoal). Eles acabam por se encontrar noutra noite, e enquanto Clara tenta afastar as suas abordagens sem sucesso, aproxima-se na escuridão Pedro, que os ouve cochichar, e enquanto Clara escapa na escuridão, Pedro ameaça a espingarda o irmão, presumindo correctamente o que se passou. Quando entra para lá do muro da casa das irmãs Clara e Guida, porém Guida tomou o lugar da irmã, convencendo-o de que fora ela, e não a irmã, a ter a conversação amorosa no exterior. Guida efectivamente sacrifica a sua reputação virginal pela irmã, salvando ao mesmo tempo a vida dela e de Daniel num crime de honra que seria lavado a sangue e tiros.
No seguimento disso, o suposto encontro da catequista e professora com o médico leviano passa de boca em boca e as beatas locais decidem tirar as crianças da escola para que não sejam "infectadas" pela suposta forma de ser pecaminosa de Guida. Daniel, recebendo pelo episódio uma lição sobre a sua própria 'ex-estupidez' e apercebendo-se de que Guida não era a beata desinteressante que ele pensava e começando a amá-la novamente, decide propor-lhe casamento. Mas no primeiro momento, ela não vê aquilo como mais que um pedido de casamento por compaixão, e as palavras amorosas que Daniel lhe poderia dizer como não mais que a repetição do que ele já havia dito... à irmã dela.
Conforme o enredo vai avançando, a moralização (e respectiva crítica) de Dinis vem ao de cima principalmente em torno das "poucas-vergonhas" "ligeiras" a que se dá Daniel, primeiro logo que põe vista em Clara (ficando tentado), mas ante o aviso de Pedro de que estava já noiva dele ele afasta-se e ao invés começa a romancear com poesia a filha do tendeiro (i. e., comerciante de tipo que originalmente estava estabelecido numa tenda de mercado) local, doente com o que hoje poderíamos chamar de depressão sobre o aspecto físico. O tendeiro, usando da poesia escrita de Daniel como prova de intenções casadoiras do rapaz, tenta frustradamente convencer José das Dornas a um casamento entre o médico e a sua filha. Mas desenvolvimento mais significativo no enredo vem quando chega a noite da desfolhada, em que a moral local se suaviza e são permitidos mais alguns excessos entre os mais jovens da aldeia. É nessa noite que Daniel aborda Clara e a tenta convencer de que tem verdadeiros sentimentos por ela (obviamente que está só a voltar ao seu namoriscar incontrolável para gozo pessoal). Eles acabam por se encontrar noutra noite, e enquanto Clara tenta afastar as suas abordagens sem sucesso, aproxima-se na escuridão Pedro, que os ouve cochichar, e enquanto Clara escapa na escuridão, Pedro ameaça a espingarda o irmão, presumindo correctamente o que se passou. Quando entra para lá do muro da casa das irmãs Clara e Guida, porém Guida tomou o lugar da irmã, convencendo-o de que fora ela, e não a irmã, a ter a conversação amorosa no exterior. Guida efectivamente sacrifica a sua reputação virginal pela irmã, salvando ao mesmo tempo a vida dela e de Daniel num crime de honra que seria lavado a sangue e tiros.
No seguimento disso, o suposto encontro da catequista e professora com o médico leviano passa de boca em boca e as beatas locais decidem tirar as crianças da escola para que não sejam "infectadas" pela suposta forma de ser pecaminosa de Guida. Daniel, recebendo pelo episódio uma lição sobre a sua própria 'ex-estupidez' e apercebendo-se de que Guida não era a beata desinteressante que ele pensava e começando a amá-la novamente, decide propor-lhe casamento. Mas no primeiro momento, ela não vê aquilo como mais que um pedido de casamento por compaixão, e as palavras amorosas que Daniel lhe poderia dizer como não mais que a repetição do que ele já havia dito... à irmã dela.
(segundo uma telenovela brasileira)
Após o liberal Reitor condenar em plena rua a hipocrisia das beatas que se simulam santas quando ele próprio se assume pecador e beijar a mão a Guida, obriga a população por exemplo e vergonha pela acção passada a se reconciliar com Guida e deixar as crianças voltarem a ela. É depois disso que Daniel "faz a ligação" finalmente entre a Guida mulher admirável que começa a amar no presente e a Guida pastora que namoriscara no passado, e que, recuperando o melhor da sua essência passada e tendo aprendido a sua lição, finalmente pode concretizar todo o seu potencial, «voltando a ser o mesmo Daniel que daqui partiu». Agora sim Guida (que na verdade nunca deixou de amar e esperar por Daniel) pode aceitar o desejo de casamento actual do médico, e o enredo resolve-se numa espécie de "Sete Noivas para Sete Irmãos" (bem, duas irmãs noivas para dois irmãos neste caso).Assim, pode-se ver que o enredo não sofre grandes "solavancos" (fora os dramas amorosos de Daniel com Luisinha e Clara) ou aventuras, antes fluindo no estilo da narrativa realista sentimental do Romantismo, daí que o livro, mais que pela narrativa relativamente simples e de simbolismos óbvios, se torne notável mais pelo estilo (embora aparentemente mais "ligeiro", Dinis é tão mestre formal da escrita escrevendo em termos das palavras e das imagens com relativa facilidade como Camilo ou Eça, embora estes menos "ligeiros" nos temas e enredos) com que é narrado, pelas realidades do Portugal rural que mostra e pela forma como o autor lhe confere o seu cunho pessoal da sua visão de médico burguês urbanita com espírito católico e liberal humanista, principalmente através do seu uso como "representação" sua do também médico, aburguesado e urbanizado Daniel, que através da sua maturação nos dá algo da evolução pessoal da visão do mundo, humanista, com uma visão "suave" 'à oitocentista' de igualdade de género (Dinis podia não ser o mítico "homem feminista", mas a mulher que ele retrata pode ser romantizada, mas é uma mulher emancipada romantizada, basta ver como Guida "põe na ordem" Daniel após a primeira tentativa de pedido de casamento), cristã liberal, patriótica e moralista do próprio autor Júlio Dinis. Assim, o romance, embora não no enredo em si, tem algo da vida e da pessoa de Júlio Dinis: em parte no retrato de Daniel (quiçá uma versão semi-idealizada de como o próprio Dinis desejava ser, e cuja passagem pelo campo paralela a altura na década de 1860 em que Dinis se mudou para Ovar e depois para a Madeira ante o agravar da sua saúde a ponto de ter de parar o exercer de medicina e virar-se para a literatura; todavia Pedro é provavelmente o homem, física e moralmente, que Dinis mais desejava ser) e também no João Semana (que tem algo da personalidade leve e com bonomia de Dinis, para além de representar a sua visão do ideal que um médico de província devia alcançar), e as próprias pupilas sendo as mulheres ideais de Dinis, o seu retrato de género invertido (tal como Clara e Guida são retratos invertidos de Pedro e Daniel, descontando a corrupção dada pela cidade a este último que só este apresenta mas da qual acaba por se libertar).
As Pupilas do Senhor Reitor foi um sucesso de vendas e de leitores enorme no seu tempo, porque correspondia aos valores (da burguesia liberal, a que pertencia Dinis e que como ele era bem optimista no progresso que ocorria na altura) do seu tempo mas ao mesmo tempo desafia a sociedade a melhorar (Dinis não perde uma oportunidade para criticar o pior do Português campestre, da maledicência e do lado "negro" do tradicionalismo), e não deixava de dar a um país que havia consumido por esta altura boa parte da sua história recente em guerras civis ou confrontos nacionais menores e até sofrido pequenas e breves intervenções estrangeiras contra a Revolução da Maria da Fonte e a revolta da Patuleia e em que a sociedade sofria um nível significativo de fome, doenças infecciosas e miséria, um retrato de um país que era imperfeito e de fraca produção agrícola, mas que sobrevivia, um país onde se conseguia viver e que ia apesar de muitas dificuldades evoluindo e estabilizando (afinal de contas estava-se mais de dez anos pelo período da chamada Regeneração a dentro).
No fundo, mais que os romances localizados, melodramáticos ou auto-irónicos e de contexto social específico (principalmente durienso-minhoto/portuense e por vezes lisboeta, de uma classe entre burguesia e povo nem demasiado urbana industrial nem demasiado rural agrícola) de Camilo Castelo Branco ou os romances muitas vezes excessivamente caricaturais (e por isso com algo de deturpação surreal do real para enfatizar a sátira) e seguindo excessivamente a lógica de decadência nacional de Eça de Queirós, os de Júlio Dinis (embora também mais focados no Norte) eram os que realmente nos davam-nos um retrato real da sociedade portuguesa da Regeneração, com a variedade do Porto, do Douro e do Minho, da burguesia e do povo, da cidade em Uma Família Inglesa e do campo na maioria das outras, do litoral e do campo, da sociedade portuguesa tradicional, da sociedade portuguesa estrangeirada e da comunidade expatriada inglesa do Douro (e ocasionalmente nos textos mais curtos póstumos, do Sul e mesmo de períodos antes do século XIX). Ele mostrava-nos uma sociedade portuguesa imperfeita (com mais realismo que Camilo e Eça, retratando pela primeira vez os verdadeiros tipos da classe baixa rural não como personagens secundários de drama literário ou como decalcares da literatura estrangeira) mas da qual valia a pena ter orgulho (crítico) de pertencer e que não era o inferno terceiro-mundista da crítica dos decadentistas, um Portugal mais próximo do que era mas também mais gostoso de ler (por ser mais próximo do que gostaria o leitor que fosse) e mais inspirador por mostrar o que poderia ser, para além de dar uma certa fé na sobrevivência e melhoria da sociedade dentro do sistema liberal e monárquico da altura e que pela reconciliação de classes (simbolizada por todos estes matrimónios inter-classistas, "finais felizes" de literatura que eram talvez a forma de Dinis "vencer" o 'final infeliz' da sua expectável morte prematura) se poderia resolver todos os problemas ocasionais. Não deixa de ser curioso ver que o optimismo moralista de Dinis se encontrasse mais em contacto com a alma portuguesa da altura quando o facto de ser uma excepção moralista algo realista na literatura portuguesa do seu tempo se deva à leitura de estrangeiros, Britânicos como Dickens, Daniel Defoe e Oliver Goldsmith (autor de O Vigário de Wakefield de 1766) através da mãe Luso-Anglo-Irlandesa. Seja como for, o sucesso desta obra permitiu notoriedade ao autor, que publicou mais três romances de estilo sentimental que podemos chamar 'romântico-realista' a partir de 1867 até 1871, e um livro de novelas (publicadas na imprensa entre 1862 e 1864 com algum sucesso, Serões da Província, em 1870).
Mas a carreira de escritor de Dinis não duraria muito, tendo ele falecido em 1871 com 31 anos sem conseguir fazer as revisões tipográficas do seu último romance Os Fidalgos da Casa Mourisca (que é assim publicado já postumamente). Isto acaba por ser a grande chave para interpretar este livro (e outros do autor): era um autor fisicamente enfraquecido que escrevia o mundo que meia-hora por dia via na rua entre a gente do campo de Ovar antes de ir escrever, que vivia as vidas que sabia que não podia viver no presente real pelas suas limitações físicas e que poderia deixar de viver de todo muito em breve. E foi assim que Júlio Dinis se tornou modelo para muitos escritores sentimentais pós-Românticos Portugueses (incluindo muitas mulheres que podiam agora escrever pelo ponto de vista das pupilas ou da morgadinha dos Canaviais), e que se tornou uma espécie de "romancista oficial" do liberalismo oitocentista português (que escrevia para educar os seus leitores para uma dada visão de sociedade e uma crença na evolução de Portugal), promovendo um futuro patriota e progressista para o país ainda muito pré-industrial em que vivia, futuro em que ele acreditava piamente mas sabia que não viveria para ver ele próprio. E por tudo isso o livro foi inspirando imitações, adaptações (só no cinema houve adaptações em 1924 do Francês Maurice Mariaud, 1935 de Leitão de Barros e 1961 feita entre Portugal e Brasil), pastiches, análises, releituras, etc. etc., em Portugal como no Brasil (onde para além do filme acima referido, inspirou mesmo telenovelas em 1971 e em 1994-5 que também passou em Portugal), que nos apresenta uma fotografia, mesmo que retocada, da sociedade portuguesa da Monarquia Liberal do século XIX, mas que apresenta muito da humanidade como sempre será em qualquer lugar do mundo e em Portugal em muita coisa nunca deixou de ser assim. Por mais crítica que possa uma pessoa ser da escrita "cor-de-rosa" de Dinis ou da sua visão política, essa força literária e ético-social da sua obra será sempre incontestada, pelo menos como mais uma referência entre várias para o olhar do mundo. Quanto ao livro, esse pode encontrar-se à venda ainda hoje em várias edições de várias editoras, em-linha em vários formatos e em basicamente todas as bibliotecas, como aliás todos os romances de Júlio Dinis e boa parte do restante da sua obra; existe ainda uma adaptação curta para crianças para uma colecção Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças que vinha com o jornal Sol em 2010, editado pela Quasi e com adaptação de Albano Martins (originalmente escrita em 1984 aparentemente), que se pode encontrar em muitas bibliotecas escolares ou municipais. Podem ainda ver o documentário da RTP sobre As Púpilas do Senhor Reitor para a série Grandes Livros aqui.
The girl-Pupils of Mr. Parson, the Dean was a book that during many years of my life did not "fall in front of me". Comprehensible seen that in the years in which I was in the segundo and terceiro ciclo of school (secondary/middle school and high school) it was not part of the school reading programs, and for several reasons I ended by having other books not the copy that there was at home from the time that is us part of the high school curricula from my father's time (including Os Fidalgos da Casa Mourisca/The Landed-gents from the Moorish House" by the same author, which for the title sounded me mysteriously attractive too and picked it up first). So my only true experience with the narrative was through adaptations like the relatively popular RTP TV series from 2005 João Semana (which though I knew before even reading the book that it was freely inspired on the former, being that despite keeping all the plot intact in the whole, it centered itself on the more supporting character of the old village doctor Joao Semana and joining "cameos" by the already mentioned in this blog Ze from the Rooftop and Maria da Fonte and changing the setting from the Minho region into the "old passion" of the script author Moita Flores, the Douro River and Oporto Coastline). Not that I had any dislike for the book (more so because I did not know it) or the author (of whom I had already liked before, and whose work I know now and think more complex than yore, having read some of his posthumous works and alike), but merely because nor had I obligation to read it nor found some time-point with time for reading it wihout having to do anything else or to read another book.
Originally serialised in the Jornal do Porto ("Oporto Newspaper") in 1866 and in 1867 (year in which the author, by his true name Joaquim Guilherme Gomes Coelho, was demonstrator and substitute lecturer from the Oporto Medical-Surgiral School) printed into a book (being the author's first novel, having the serial previously written Uma Família de Ingleses/"A Family of English-folk", inspired on the maternal part Anglo-Irish family of Dinis', and his only novel set outside the rural space, coming-up in the year of 1867 and being edited on book with the definitive title Uma Família Inglesa/An English Family in the following year, and having before the publication o' The girl-Pupils already 10 years of non-novelesque writing, unpublished or published in periodicals under several pseudonyms, behind himself), this book is the narrating of the entangled lives of two "little pairings" (to use the terminology applied to the twins) of siblings that live on an unnamed Minho village: Pedro and Daniel, sons of the local landowner Jose das Dornas ("of the Wine-tanks", not an aristocrat, but an old peasant self-elevated through his work ethics to the post left vacant by the fall of the old pre-liberal aristocracy), and Clara and Margarida (Guida), orphans (let this be noted, seing that the author himself was orphaned, having lost his mother young, to tuberculosis) who are under the keeping of the local priest (the title's "Senhor Reitor"/"Mr. Parson, the Dean"). Daniel, afterwards to have been found flirting Guida in fully innocent way by the Parson dean, is sent by his father to the city, ending-up studying medicine in Coimbra. When he comes back the brother is engaged to Clara and Guida, her from shepherd had gone to dedicate herself to teaching local children to read and give them sunday-school alone and had assumed all the line of the singleton that "is on the shelf". Beyond the "little pairings", the Parson dean is also a vital intervener in the dynamic between these two pairs, and about what from the plot concerns the profession of village doctor of Daniel's, the former sees himself by the older (and slightly more traditional, or at least "used" to the "as usual" way of being of the countryside) doctor Joao Semana and faced by the village barber (let us recall that at the time on the rural society the barbers were responsible for the majority of the small surgeries futhermore their natural service).
In this sentimental novel it does not lack a moralising tendency of his author (a doctor of liberal spirit who little did practice due to health reasons and the envolvement with professional writing), this without sacrificing too much th amorous or artistic side of the book, but Julio Dinis does not miss an occasion for, for example, blaming the customs from the city for the "corruption" of Daniel (before a physically fragile bookish youngman that the Parson dean prepares for priesthood, and who comes back to the village as compulsive and insincere flirter). In the same way (as counterpoint), the sunday-school teaching and other than Guida gives is something shown to give his example of a good communitarian and somewhat noblesse oblige (yes, 'cause this expressions exists outside the use given by Scott Applegate, meaning "nobility obligates") although Guida is not properly noble (although her education and role of "goddaughter" to the Parson dean give her equivalency to such role).
As the plot goes moving forth, the moralisation (and respective criticism) of Dinis' comes up to surface mainly around the "light" "low-shames" to which Daniel does throw himself into, first right away that he sets sights on Clara (getting tempted), but before the warning of Pedro that she was already engaged to him he steps away and instead starts to romance with poetry the daughter of the local tendeiro ("tented-shop-keeper", i. e., trader of the type that was originally established in market tents), sick with what we today could call of depression on looks. The tented-shop-keeper, using of the poetry written by Daniel as proof of marriageable intentions of he boy, tries to convince Jose of the Wine-tanks into a wedding between the doctor and his daughter. But development more meaningful in the plot comes when it arrives the cornhusking festival, in which the local morals softens itself and it are allowed some more excesses among the younger ones from the village. It is in that night that Daniel approaches Clara and tries to convince her that he has true feelings for her (obviously that he is only gong back to his uncontrolable flirting for personal kicks). They end up by meeting another night, and while Clara tries to draw away his approaches without success, it approaches in the dark Pedro, who hears them soughing, and while Clara escapes into the darkness, Pedro threatens by rifle his brother, presuming correctly what transpired. When he passes beyond the wall of the house of the sisters Clara and Guida, nevertheless Guida took the place of her sister, convincing him that it had been her, and not her sister, to have an amorous conversation on the outside. Guida effectively sacrifices her virginal reputation for her sister, saving at the same time her life and Daniel's in a honour killing that would be washed-down by blood and shootings.
In the follow-up to that, the supposed meet-up of the sunday-school-teacher and lay teacher with the frivolous man passes from mouth to mouth and the local church-ladies decide to take the children out of the school so that they are nt "infected" by Guida's supposed sinful way of being. Daniel, received through the episode a lesson on his own 'ex-stupidity' and realise that Guida was not the uninteresting church-lady he thought and starting to love her again, decides to propose to her. But in the first moment, she does not see that as much more than a marriage request out of compassion, and the loving words that Daniel could say to her as nothing more than the repetition of what he already had said... to her sister.
(according to a Brazilian soap opera)
Afterwards to the liberal Parson dean condemning in mid street the hypocrisy of the church-ladies that dissimulate themselves as saints when he himself does own-up as a sinner and kisses the hand to Guia, obligating the population by example and shame on his past action to reconcile itself with Guida and let the children return to her. It is after this that Daniel "makes the connection" finally between the Guida admirable woman that he starts to love in the present and the Guida shepherd that he flirted in the past, and that, recovering the best from his past essence and having learned his lesson, finally could fulfil all his potential, «going back to be the same Daniel that from here had left». Now yes Guida (who indeed had never stopped loving and waiting for Daniel) could accept the doctor's current desire of marriage, and the plot solves itself in a kind of "Seven Brides for Seven Sisters" (well, two sisters brides for two brothers in this case).So, it can be seen that the plot does not suffer grand "bumps" (aside the amorous dramas of Daniel with Little-Luisa and Clara) or adventures, instead flowing in the style of the sentimental realist narrative of the Romanticism, hence that the book, more than for the relatively simple narrative and of obvious symbolisms, becomes remarkable more for the style (although apparently "light", Dinis is as much formal master of writing, writing in terms of the words and images with relative ease as Camilo and Essa, although these less "light" on the themes and plots) with which it is narrated, for the realities ofthe rural Portugal that it shows and for the way how the author confers to it a personal impress f his vision of urbanite bourgeois doctor with Catholic and liberal humanist spirit, mainly through its use as "representation" of his of the also doctor, bourgeoining and urbanised Daniel, who through his maturing gives us something of the personal evolution of the humanist, with a "soft" 'eighteen-hundreds-style' gender equality vision (Dinis may not be the mythical "feminist man", but the woman he portrays can be romanticised, but it is a romanticised emancipated woman, it suffices to see how Guida "puts in his place" Daniel afterwards to the first proposal attempt), liberal Christian, patriotic and moralistic vision of the author Julio Dinis himself. So, the novel although not in the plot in itself, has something of the life and the person of Julio Dinis: in part in the portrait of Daniel (perhaps a semi-idealised version of how Dinis himself wished to be, and whose passage by the countryside parallels the time-point in the 1860s decade in which Dinis moved himself to Ovar and afterwards to Madeira island facing the aggravating of his health to point of having to stop practicing medicine and turning himself to literature; nevertheless Pedro is probably the man, physically and morally, that Dinis the most did wish to be like) and also on Mister Joao Semana sir (who has something of the personality light and with gullibility of Dinis', beyond representing his vision of the ideal that a provincial country doctor should reach up to), and the pupils herselves being Dinis' ideal women, his gender reversed portrait (just like Clara and Guida are inverted portraits of Pedro and Daniel, discounting the corruption given by the city to the latter that only he presents but from which he ends up freeing himself).
As Pupilas do Sr. Reitor/"The girl-Pupils of Mr. Parson, the Dean" was a Portuguese sales and readership hit in its time, because it matched the values (of the liberal bourgeoisie, to which Dinis belonged and that like him was quite optimist on the progress that occured at said time-point) from his time but at the same time challenged the society to improve (Dinis does not miss an opportunity to criticise the worst of the countryside Portagee, of the obloquyan of the "dark" side of traditionalism"), and did not help giving a country that had consumed by this time-point good chunk of its recent history in civil wars or minor national clashes and even suffering small and brief foreign interventions against the Revolution of the Maria da Fonte (Arcada) and the Patuleia "Little Civil War" revolt and in which a society suffered a significant level of hunger, infectious diseases and misery, a portrait of a country that was imperfect and of weak agricultural production, but which survived, a country where one could live in and that despite the many difficulties was evolving and stabilising (after all it was more than ten years into the period of the so-called Regeneração/"Regeneration").
At the end of it, more than the localised, melodramatic or self-ironical novels and of specific social contex (mainly Durius-Minho/Oporto and sometimes Lisboner, from a class between bourgeoisie and folk nor too industrial urban nor too agricultural rural) of Camilo Castelo Branco or the novels many times excessively caricatural (and for that with something of garbling of the real to emphasise the satire) Essa de Queiroz's novels, the ones by Julio Dinis (although also more focused on the North) were the ones that really gave us a real portrait of the Regeneration's Portuguese society, with the variety from Oporto, from the Durius region and from the Minho region, from the bourgeoisie and the folk, of the city in An English Family and of the countryside in most of the others, of the coastline and the countryside, of the foreign-looking Portuguese society and of the English expat community from the Durius region (and occasionally in the posthumous shortest texts, from the South and even from periods before the 19th century). He showed us an imperfect Portuguese society (with more realism than Camilo and Essa, portraying for the first time the true rural lower class types not as supporting characters of literary drama or as tracing overs of foreign literature) but of which it was worth it to be (critically) proud of belonging to and that it wasn't the third-worldish hell from the critique of the decadentists, a Portugal closer to what it was but also tastier to read (due to being closer to what the reader would like it to be) and more inspiring due to showing that it could be, beyond giving a certain faith in the survival and improvement of the society within the liberal and monarchist system and that by the class reconciliation (symbolised by all these interclassist matrimonies, literature "happy endings" that were perhaps Dinis' way of "vanquishing" the 'unhappy ending' of his expected untimely death) it could be solved all these occasional problems. It does not cease being curious to see that the moralistic optimism of Dinis found itself more in contact with the time-point's Portuguese soul when the fact of him being a somewhat realistic moralistic exception in his time's Portuguese literature is owed to the reading of foreigners, British like Dickens, Daniel Defoe and Oliver Goldsmith (author of The Vicar of Wakefield from 1766) through the luso-Anglo-Irish. Be it as it were, the success of this work permited the author notoriety that published three plus novels of sentimental style that we can call 'romantic-realist' starting out from 1867 till 1871, and a book of novellas (published in the press between 1862 and 1864 with some, Serões da Província/"Late-nights from the Countryside", in 1870).
But the writer's career of Dinis would not last much, having he passed away in 1871 at 31 years-old without being able to do the typographical revisions to his last novel Os Fidalgos da Casa Mourisca ("The Landed-gents from the Moorish House", which is thus published already posthumously). This ends by being the big key to interpret this book (and others by the author): he was a physically weakened author who wrote down the the world that half and hour a day he saw in the street among the Ovar countryside people before going to write, who lived the lives that he knew that he could not live in the real present time due to his physical limitation and that he could cease living at all very soon. And it was so that Julio Dinis himself did turn role-model for many Portuguese post-Romantic sentimental writers (including many women that could now write by the point of view of the girl-pupils or the she-majorates from Canaviais), and who became a kind of "official novelist" of Portuguese eighteen-hundreds liberalism (that wrote to educate his readers to a given view of society and a belief in Portugal's evolution), promoting a patriot and progressive future for the country still very pre-industrial in which he lived, future in which he believed piously but knew that he wouldn't live to see for himself. And for all that the book went inspiring immitation, adaptations (in cinema alone there were adaptations in 1924 by the Frenchman Maurice Mariaud, 1935 by Leitao de Barros and 1961 made between Portugal and Brazil), pastiches, analyses, reinterpretings, etc. etc., in Portugal as in Brazil (where beyond the film above mentioned, inspired even soap operas in 1971 and in 1994-5 which also aired in Portugal), that introduces us a photograph, even if retouched, of the 19th century Liberal Monarchy's Portuguese society, but which presents much of mankind as always will be in any place on the world and in Portugal in much it never ceased being so. No matter how critical a person can be of Dinis' "pink-tinged" writing or of his political vision, that literary and ethnical-social strength of his work would always be undisputed, at least as one more reference among several for gazing unto the world. About the book, that can be found for sale still today in several editions of several publishers, on-line in several formats and in basically all the Portuguese libraries, as even more so all the Julio Dinis novels and good part of the remainder of his work; it exists yet a short children's adaptation for a Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças ("Portuguese Literature Classics Told to Children") that came with the Portuguese Sol ("Sun") newspaper in 2010, published by the Quasi publisher and with adaptation by Albano Martins (originally written in 1984 apparently), that can be find in many Portuguese school or municipal libraries. You can also watch the RTP TV Portuguese language documentary on As Púpilas do Senhor Reitor/"The girl-Pupils of Mr. Parson, the Dean" for the Grandes Livros ("Portuguese Great Books") here.