Uma das características positivas do desafio deste blogue é o de "obrigar-me" a tentar passar por uma grande variedade de obras literárias, passando por aventuras transcontinentais ou marítimas, para aventuras de-capa-e-espada, para episódios anedóticos picaresco-bucólicos de animais nas serras beirãs, para episódios anedóticos agora no Portugal urbano dos meados de oitocentos, para epopeias mitológicas no tempo dos descobrimentos, para romances corteses da Eurásia barroca, para enredos sentimentais da Regeneração portuguesapara narrativas de revolução... e depois disso tudo chegamos a Kurika, curioso romance infanto-juvenil de Henrique Galvão.
Uma estória real: foto de Galvão dos "personagens principais" do livro
Kurika foi inicialmente publicado em 1944 (foi o primeiro «Romance dos Bichos do Mato» do autor, sendo seguido por Impala em 1946 e O homem e o tigre: Vagô em 1954), e é a narrativa (verídica; Galvão assim o diz no prefácio e prova-o com uma foto de colonos com uma macaca e um leão juvenil, ambos acorrentados, e a contracapa levantava a hipótese do protagonista ainda estar vivo depois do tempo da publicação do livro) de uma cria de leão que é criada por uma família de colonos brancos na Angola colonial portuguesa (como define a contracapa, uma espécie de «contrário de "Tarzan"»), e na fazenda é adoptada pelo cão dos donos (o Janota) e uma macaca (a Paulina) também tomada como animal de estimação pela família (apesar desta se manter ainda semi-selvagem, visitando frequentemente a mata próxima). Adoptado, o leão recebe o nome de Kurika (de uma palavra de uma língua local significando "leão"), e terá na macaca a principal companheira de peripécias, que não só lhe incentivará a infantilidade imatura como ainda a "agrava" de certa forma "desencaminhando-o" para rondar por aí quer pelo mundo dos homens quer pela mata (a estória começa com um Kurika do final da infância, com a narrativa da adopção a ser dada mesmo no final do I capítulo). Mas para além deste ar mais anedótico e agradável para as crianças (com episódios como o do final do III capítulo quando a macaca e Kurika rumam pela mata e acabam por encontrar uma colmeia de abelhas da qual tentam escapar levando do mel, mas acabam por levar ainda umas quantas ferroadas na fuga), temos a descrição da vida colonial das fazendas entre os brancos e os negros e uma descrição não tão idealizada (apesar de pitoresca) dessa vida.
O episódio das abelhas
Galvão mostra uma vida (natural e humana) de África só sustentada por uma ética de trabalho que não descansa, e em que só uma certa abertura do Europeu quanto a uma realidade diferente do país de origem permitia a sobrevivência (note-se porém que Galvão pouco retrata a vida humana, estando verdadeiramente interessado nos bichos do mato do subtítulo). Apesar deste valor, o livro pode ser contestável para a sensibilidade social actual devido ao não desafiar da realidade colonial e um retracto do negro como alguém que apesar de respeitado é dalguma forma visto como um Outro claro em relação ao colono (se o Português falado dos Angolanos assimilados é relativamente realista no seu estereotipado de «mininos» e afins, porém algumas ilustrações podem fazer mais impressão, principalmente pela surpresa do carácter extremo delas dado que só em alguns casos a caricatura e ilustração portuguesas chegaram a este nível de imagética darkie), embora no texto também se veja a humanização e solidarização crescente de Galvão com os Africanos que marcou o autor nos anos de 1940. Mas obviamente que naquela fase dos inícios-meados do século XX não se falava (pelo menos de forma alargada e como algo não-polémico) de direitos dos indígenas, direito ao auto-governo ou de direitos dos animais, e é inevitável que o retrato dado tenha de ser este, dada a realidade africana colonial que Galvão representa, e de certa forma para a sociedade funcionar naquele ambiente (cuja fauna Galvão, entusiasta que na década anterior escrevera sobre zoologia do império colonial português da altura, descreve em detalhe) e com aquele sistema colonial na altura, não poderia ser de outra forma. É assim que o crescimento de Kurika é também a aprendizagem de um certo estado de coisas entre os humanos, e os bichos (o livro está cheia de notas adoráveis como «Walt Disney, num dos seus maravilhosos filmes, chama "Bambi" a um veado. O bambi não é um veado nem a designação se pode aplicar a este animal, que não existe na África, à qual o termo pertence, como vocábulo da língua bantu, para denominar um pequeno antílope do grupo das chamadas "cabras do mato", e que os naturalistas distinguem chamando-lhe "Cephalophus Sylvicapra, grimmi"»). Mas também (apesar do livro não ir tão longe no rude como o similar O Apelo da Selva de Jack London) de alguns eventos trágicos como o fim que calha a Paulina à solta.
De repente estremeceram.
O bramido que certa noite enfeitiçara o Kurika rolava outra vez, dentro da messa escura do horizonte, muito longe, muito longe. E antes que os últimos ecos se tivessem perdido, outro explodiu noutra banda, mais amplo e vigoroso. E depois outro e outro.
A Paulina, à cautela, guindou-se para o ramo mais alto de uma árvore próxima. O Kurika desorientado, quis acompanhá-la: saltou, filou as unhas no tronco, mas não conseguiu elevar-se. Impotente e medroso, deixou-se estar encostado ao tronco, resmungando, agitando nervosamente a cauda e olhando em volta com olhos faiscantes. Tinha, ao mesmo tempo, medo e vontade de responder. De vez em quando levantava a cabeça o mais podia, cheirava na brisa o som que rolava, com as narinas trémulas e muito abertas — mas não se atrevia a responder.
Tornara a parecer-lhe que era a sua própria voz, a chamá-lo de longe.
Poucos minutos depois as vozes calaram-se.
A Paulina desceu com mil cuidados, esquadrinhou o horizonte e meteu-se a caminho, desta vez com destino definido, em direcção à zona mais negra, decerto de mata cerrada.
O Kurika, ainda inquieto, seguiu-a.
Já não corriam doidamente; a hora de felicidade plena tinha-se desprendido das suas almas num sopro da expiração — insensivelmente.»
Uma letra de início de capítulo ilustrada com um Africano "não-assimilado" (tradicionalista tribal) caricaturado
O verdadeiro grande momento do enredo, o primeiro grande momento do "aprendizado" de Kurika é quando (no III capítulo) ele e Paulina partem para o mato que antes só viam de longe, e o entusiasmo infantil de surpresa o mundo novo que pouco conheciam, tendo sido domesticados pela vida de fazenda, rapidamente dá lugar ao temor do desconhecido depois da noite cair: «E ficaram surpreendidos. O que se lhes mostrava era inteiramente semelhante à paisagem que tinham deixado: no céu as mesmas estrelas medrosas, na terra a mesma negrura pasmada — e os mesmos vultos, o mesmo entorpecimento de todas as coisas. Apenas o rumor das águas se tinha distanciado.De repente estremeceram.
O bramido que certa noite enfeitiçara o Kurika rolava outra vez, dentro da messa escura do horizonte, muito longe, muito longe. E antes que os últimos ecos se tivessem perdido, outro explodiu noutra banda, mais amplo e vigoroso. E depois outro e outro.
A Paulina, à cautela, guindou-se para o ramo mais alto de uma árvore próxima. O Kurika desorientado, quis acompanhá-la: saltou, filou as unhas no tronco, mas não conseguiu elevar-se. Impotente e medroso, deixou-se estar encostado ao tronco, resmungando, agitando nervosamente a cauda e olhando em volta com olhos faiscantes. Tinha, ao mesmo tempo, medo e vontade de responder. De vez em quando levantava a cabeça o mais podia, cheirava na brisa o som que rolava, com as narinas trémulas e muito abertas — mas não se atrevia a responder.
Tornara a parecer-lhe que era a sua própria voz, a chamá-lo de longe.
Poucos minutos depois as vozes calaram-se.
A Paulina desceu com mil cuidados, esquadrinhou o horizonte e meteu-se a caminho, desta vez com destino definido, em direcção à zona mais negra, decerto de mata cerrada.
O Kurika, ainda inquieto, seguiu-a.
Já não corriam doidamente; a hora de felicidade plena tinha-se desprendido das suas almas num sopro da expiração — insensivelmente.»
O enredo torna claro que, no lugar de qualquer humanismo, espírito "natural" ou "civilidade", Kurika aprende que está numa terra de gentes diferentes entre si e uma terra que apesar de aparentemente "domada" para cultivo, não deixa de ser uma terra dura de natureza indomável (da qual o jovem leão nasceu), e o seu crescimento é a tentativa de conciliar a sua "verdadeira natureza" com a domesticação que lhe é dada. Kurika está assim entre a educação dada pelo Janota (obviamente um animal doméstico) e a família colona, e a dada pela macaca (como ele um animal selvagem), que lhe apela ao "apelo da selva" (como diria Jack London) que está na sua ascendência e natureza. Esta não é assim só uma narrativa de enredo de passagens anedóticas humorísticas, mas uma discurso elaborado (bem escrita e bem desenhada, para mais) sobre a questão "inato ou adquirido" (o que marca mais, a educação/criação ou uma natureza de nascença?). O facto de cada vez que as peripécias vividas com a macaca no mato correm mal, Kurika volta a correr para ser "tratado" na fazenda, só fortalece o seu dilema, que se torna entre a nova vida de segurança e o "apelo da selva", e a atracção pelo exotismo da natureza bela do mato angolano (que de certa forma também é sofrido pelo leitor ao longo do livro). Por fim, a sua natureza (e principalmente o facto de haver «situações em que os sentimentos de um leão exigem órgãos de fêmeas»; Galvão ter-se "saído" com uma destas num livro infanto-juvenil é brilhante) leva-lhe o melhor, e ele volta à natureza, encontra fêmea e goza «pela primeira vez as honras e os travos da paternidade», e reencontrando membros da velha "família adoptiva" e o Janota três anos depois ainda lhes seria fácil reconhecê-lo, mudado que estivesse pela paternidade e a selva, pelas brincadeiras que levanta com o cão.
Luta de palancas negras numa cena do romance
Kurika foi um enorme sucesso de vendas em 1944 (em poucos meses chegava já à terceira edição), dando um novo fôlego à carreira na escrita ficcional de Galvão (que já vinha de duas décadas antes), apesar de ele deixar a escrita literária (pela ensaística e política) na década seguinte (depois de a reduzir bastante do final da década de 1940), devido ao seu comprometimento com o activismo político anti-Estado Novo a partir de 1945 (Galvão, um velho direitista republicano desde o tempo do sidonismo, antigo apoiante do salazarismo e administrador e propagandista colonial deste regime, romperia com ele após denunciar o sistema de trabalho indígena quase escravo na África portuguesa e ficar desiludido com o regime não corrigir a situação que acusou em relatório oficial em 1942-43, acabando por incentivar as campanhas presidenciais do também colonialista anti-Salazar Norton de Matos, vindo da "esquerda republicana", do oposicionista 'dentro do situacionismo' e oficial da Marinha na reserva Quintão Meireles e do também militar ex-salazarista Humberto Delgado). Galvão, nascido no Barreiro e formado na Escola Politécnica, antigo militar, revolucionário do golpe sidonista de Dezembro de 1917 e da "Revolução Nacional" de 28 de Maio de 1926, Comissário Geral organizador da Exposição Colonial Portuguesa do Porto de 1934, primeiro director da Emissora Nacional, agraciado Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo e governador de Huíla em Angola, é Angola que, a partir de 1929 lhe inspira a escrita (primeiro de relatórios coloniais, crónicas realistas e livros sobre zoologia e caçadas reais, e depois de ficção longa, contos, teatro e obras miscelânias), destacando-se ainda a faceta de jornalistas e director da revista Portugal Colonial entre 1931 e 1937 na vida deste conservador republicano que "virou" democrata de direita sem nunca deixar de ser anti-comunista e pró-colonialista (apesar de durante um encontro em Argel com representantes dos movimentos independentistas da África portuguesa se abrir à hipótese de independências se aprovadas em referendo pelas populações das colónias em guerra para independência de Portugal).
Henrique Galvão nos anos de 1930-40
Galvão soube aproveitar a sua natureza "mercurial" (palavra fina para uma certa inconstância saudável) para acompanhar vários desenvolvimentos políticos, várias produções jornalísticas, várias tendências literárias (da literatura de exploração em África à literatura de aventuras, ou à literatura mais juvenil sobre animais como aqui, na linha do sucesso do já aqui visto Romance da Raposa de A. Ribeiro ou d'Os Bichos de Miguel Torga de 1940, escritas quase sempre dentro da "literatura colonial", termo que o próprio usava) e vários movimentos científicos de análise e exploração da África que viria a amar (e amar, dentro do entendimento comum da altura, como parte do Portugal que ele concebia), até que se tornou no quixotesco "pirata" anti-salazarismo do Assalto ao Santa Maria feito por um grupo luso-espanhol de 1961, rumando ao Recife, Brasil, no fim dessa navegação em Fevereiro desse ano, entregando-se às autoridades do Brasil de Jânio Quadros, recebendo asilo político e falecendo em São Paulo a 25 de Junho de 1970 com Alzheimer.
Galvão, que tentou de forma falhada reformar e humanizar a política colonial portuguesa (por dentro) e postumamente foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade a 7 de Novembro de 1991, provavelmente ficaria chocado com a descolonização que veio 5 anos depois da sua morte (talvez mais pelo que nela se passou que pelo fim do Império) embora talvez a visse como previsível ante a pouca auto-correcção que o regime fizera nas colónias após a II Guerra Mundial, entusiasmar-se-ia com a democracia, eriçar-se-ia com a quase tomada de poder esquerdista de 1975, e ficaria chocado com a lógica do imposto da cubata (sobre aquisição de novas cabanas pelos indígenas africanos) a voltar sob a forma do IMI, e provavelmente teria muito a dizer (como sempre teve) sobre a evolução de Portugal e do espaço lusófono, mas à falta do próprio restam-nos as suas opiniões escritas antigas que hoje ainda são polémicas pela sua mistura de colonialismo, espírito liberal, preocupações humanitária e velhas visões de raça e civilização. E claro, obras para aqueles que não (nas palavras do seu prefácio a Kurika) «conseguiram deixar de ser crianças na porção de tempo que decorre entre o termo da puberdade e o degrau convencional da maioridade civil» e são «crianças de todas as idades, entre os quinze e os oitenta anos, as crianças, enfim, que a idade não consegue matar nem abandonar na alma dos homens, mesmo quando as rugas lhes sulcam as faces e os seus cabelos embranquecem – ou caem para não sofrerem o desaire de mudar de cor», como esta obra, que se pode achar em quase todas as bibliotecas (em edições mais antigas ou na da Livraria Popular Francisco Franco de 1986, consultada para este blogue), podendo encontrar-se ainda à venda nas edições livro-de-bolso a partir de 2008 na colecção África Minha da Livros Cotovia.
Kurika nas edições de 1986 e 2008
One of the positive characteristics of the challenge of this blog is the one of "forcing me" to try to pass through a big variety of literary works, passing by transcontinental or maritime adventures, to swashbuclking adventures, to picaresque-bucholic anecdotic episodes of animals in the Beiran ridges, to anecdotic episodes now in the urban Portugal of the mid-eighteen-hundreds, to mythological epics in the time of the Age of Discoveries, to courtly novels of the barroque Eurasia, to sentimental plots of the Portuguese Regeneration, to narratives of revolution... and after all that we arrive to Kurika, curious children's/young-people's novel by Henrique Galvao.
A true story: photo of Galvao of the book's "main characters"
Kurika was initially published in 1944 (it was the first «Novel of the Critters of the Backwood» of the author, being followed by Impala in 1946 and The Man and the Tiger: Vago in 1854), and it's the (truthful; Galvao so says it in the foreword and proves it with a photo of settlers with a she-monkey and a juvenile lion, both chained, and the backcover raises the hypothesis that the protagonist was still alive after the publishing of the book) narrative of a lion cub that is raised by a family of white colonists in the Portuguese colonial Angola («the backcover defines it as «the reverse of "Tarzan"»), and in the hacienda is adopted by the dog of the masters (Dandy) and a she-monkey (Paulina) also taken up as pet by the family (despite still being semi-savage, visiting frequently the nearby backwood). Adopted, the lion receives the name of Kurika (from a word of a local language meaning "lion"), and shall have in the she-monkey the main companion of mishaps, that not only shall to him incentivate his immature infantility and still shall "agravate" it in a certain way "misguiding him" for going around over there both through the world of men and the backwood. But besides this air more anecdotic and agreable for the children (with episodes like when the she-monkey and Kurika roam through the backwood and end finding a bee-hive from which they try to escape taking some honey, but end taking yet some beestings in the escape), we have the description of the colonial living of the haciendas between the whites and the blacks and a description not so idealized (despite picturesque) of that living.
The episode of the bees
Galvao shows a life (natural and human) of Africa only sustained by a work ethic that doesn't rest, and in which only a certain openness of the European about a reality different from one's country of origin permited the survival (let it be noted nevertheless that Galvao little does portray on human living, being truly interested in the critters of the backwood of the subtitle). Despite that worth, the book may be arguable for the current social sensibility due to the not challenging of the colonial reality and a portrayal of the black as someone that despite being respected is on some way seen as a clear Other in relation to the colonist (if the Portuguese spoken by the assimilated Angolans here is realitively realistic in its stereotypical of «mininos» [«buoys»] and the such, nevertheless some illustrations may cause some irking, mostly by the surprise of the extreme character of them given that only in some cases the Portuguese caricature and illustration got to this level of darkie imagery), although in the text it is also seen the growing humanization and solidarising of Galvao with the Africans that marked the author in the 1940s. But obviously that in that phase of the early-mid-20th century it was not spoken of (at least in a widened way and as somethin non-polemic) of indigenous rights, of right to self-rule or of animal rights, and it is inevitable that the portrayal given has to be this one, given the colonial african reality that Galvao presents, and in a certain way for that society to work in that environment (whose fauna Galvao, enthusiast that in the previous decade had written on the zoology of the Portuguese colonial empire of the time, describes in detail) and with that colonial sistem of the time, it could not have been another way. It is so that the growth of Kurika is also the learning of a certain state of things between humans, and the critter (the book is full of adorable notes like «Walt Disney, in one of this wonderful films, calls "Bambi" to a deer. The bambi is not a deer nor the wording itself can apply to this animal, that does not exist in Africa, to which the term belongs, as vocable of the Bantu language, for naming a little antilope of the group of the so-called "goats of the backwood", and to which the naturalists distinguish calling it "Cephalophus Sylvicapra, grimmi"»). But also (despite the book not going as far on the gritty as Jack London's similar The Call of the Wild) on some tragic events like the end that befalls Paulina in the wild.
A chapter opening initial illustrated with a caricatured "non-assimilated" (tribal tradicionalist) African
The real big moment of the plot, the first big moment of the "learning" of Kurika is when (in the III chapter) he and Paulina leave to the backwood that before they only saw from afar, and the childish enthusiasm of surprise of the new world that little they did know, having been domesticated by the hacienda life, rapidly gives in place to the dread of the unknown after the night fell-down: «And they stood surprised. What itself to them showed was entirely similar to the landscape that they had left: in the sky the same fearful stars, in the ground the same awed darkness — and the same shades, the same numbing of all things. Just the rumour of the waters itself had distanced.
Suddenly they quaked.
The bellowing that certain night bewitched Kurika rolled-up again, inside of the dark mesa of the horizon, very faraway, very faraway. And before that the last echos themselves had lost, another one exploded in another part, very ample and vigorous. And afterwards another and another.
Paulina, at caution, craned herself to the tallest branch of a nearby tree. Kurika desoriented, wanted to accompany her: jumped, scrounged the nails to the log, but was not able to elevate himself. Powerless and fearful, he left himself be leaned to the log, grumbling, agitating nervously the tail and looking around with sparkling eyes. He had, at the same time, fear and urge to answer. Once in a while he lifted up the head the most that he could, smelled in the breeze the sound that rolled-up, with the nostrils shakey and very open — he he didn't dare to answer.
It had gotten-back to seem to him that it was his own voice, calling him from afar.
Few minutes afterwards the voices shut themselves up.
Paulina came down with a thousand cares, scanned the horizon and put itself to the way, this time with defined destiny, heading to the darkest zone, certainly of shut-down bush.
Kurika, still restless, followed her.
They didn't run crazily; the hour of full happiness had itself unlocked from their souls in a blow of the breathing-out — insensibly.»
The plot sets it clear that, in place of any humanism, "natural" spirit or "civility", Kurika learns that he is in a land of folks different amongst themselves and a land that despite apparently "tamed" for farming, does not cease from being a hard land of untameable nature (out of which the young lion was born), and his growing-up is the attempt of reconciling his "true nature" with the domestication that to him is given by Dandy (obviously a domestic animal) and the colonist family, and the one given by the she-monkey (as he a wild animal), that to him appeals to the "call of the wild" (as would put it Jack London) that is in his descent and nature. This one is so not just a narrative of plotting of humoristic anecdotic passages, but an elaborate speech (well written and well drawn, to boot) over the issue of "nurture versus nature" (what marks most, the education/upbringing or a nature from birth?). The fact that each time that the mishaps lived with the she-monkey in the backwood go baddly, Kurika goes back running to be "taken care of" in the hacienda, only strengthens his dilema, that sets itself between the new life of safety and the "call of the wild", and the attraction by the exoticism of the beautiful nature of the Angolan backwood (that in a certain way is also suffered by the reader throughout the book). At last, his nature (and above all the fact that there are «situations in which the feelings of a lion demand organs of females»; Galvao having gotten away with one of these in a children's/young people's book is brilliant) takes the best of him, and he goes back to nature, finds a female and enjoys «for the first time the honors and the puffings of paternity», and re-finding members of the old "adoptive family" and Dandy three years afterwards still to them would be easy to recognize him, no matter changed that he could be by paternity and the jungle, by the play-arounds that he gets into with the dog.
Suddenly they quaked.
The bellowing that certain night bewitched Kurika rolled-up again, inside of the dark mesa of the horizon, very faraway, very faraway. And before that the last echos themselves had lost, another one exploded in another part, very ample and vigorous. And afterwards another and another.
Paulina, at caution, craned herself to the tallest branch of a nearby tree. Kurika desoriented, wanted to accompany her: jumped, scrounged the nails to the log, but was not able to elevate himself. Powerless and fearful, he left himself be leaned to the log, grumbling, agitating nervously the tail and looking around with sparkling eyes. He had, at the same time, fear and urge to answer. Once in a while he lifted up the head the most that he could, smelled in the breeze the sound that rolled-up, with the nostrils shakey and very open — he he didn't dare to answer.
It had gotten-back to seem to him that it was his own voice, calling him from afar.
Few minutes afterwards the voices shut themselves up.
Paulina came down with a thousand cares, scanned the horizon and put itself to the way, this time with defined destiny, heading to the darkest zone, certainly of shut-down bush.
Kurika, still restless, followed her.
They didn't run crazily; the hour of full happiness had itself unlocked from their souls in a blow of the breathing-out — insensibly.»
The plot sets it clear that, in place of any humanism, "natural" spirit or "civility", Kurika learns that he is in a land of folks different amongst themselves and a land that despite apparently "tamed" for farming, does not cease from being a hard land of untameable nature (out of which the young lion was born), and his growing-up is the attempt of reconciling his "true nature" with the domestication that to him is given by Dandy (obviously a domestic animal) and the colonist family, and the one given by the she-monkey (as he a wild animal), that to him appeals to the "call of the wild" (as would put it Jack London) that is in his descent and nature. This one is so not just a narrative of plotting of humoristic anecdotic passages, but an elaborate speech (well written and well drawn, to boot) over the issue of "nurture versus nature" (what marks most, the education/upbringing or a nature from birth?). The fact that each time that the mishaps lived with the she-monkey in the backwood go baddly, Kurika goes back running to be "taken care of" in the hacienda, only strengthens his dilema, that sets itself between the new life of safety and the "call of the wild", and the attraction by the exoticism of the beautiful nature of the Angolan backwood (that in a certain way is also suffered by the reader throughout the book). At last, his nature (and above all the fact that there are «situations in which the feelings of a lion demand organs of females»; Galvao having gotten away with one of these in a children's/young people's book is brilliant) takes the best of him, and he goes back to nature, finds a female and enjoys «for the first time the honors and the puffings of paternity», and re-finding members of the old "adoptive family" and Dandy three years afterwards still to them would be easy to recognize him, no matter changed that he could be by paternity and the jungle, by the play-arounds that he gets into with the dog.
Fight of sable antelopes in a scene from the novel
Kurika was an enormous best-seller in 1944 (in few months it got already to the third edition), giving a new breath to the carrier in fictional writing of Galvao (that already came from two decades before), despite of him leaving literary writing (for the essay and political one) in the following decade (afterwards of to it reducing quite from the late 1940s), due to his engagement with the anti-New State political activism starting from 1945 (Galvao, an old republican rightist from the time of sidonism, former supporter of salazarism and colonial administrator and propagandist of this regime, would bust with it after denouncing the sistem of indigenous almost slave work in Portuguese Africa and staying disapointed with the regime not correcting the situation that he accused in official report in 1942-43, ending incentivating the presidencial campaigns of the also anti-Salazar colonialist Norton de Matos, coming from the "republican left", of the opositionist 'within the situationism' and retired avy officer Quintao Meireles and of the also former-salazarist military Humberto Delgado). Galvao, born in Barreiro and graduated in the Polythecnic School, former military, revolutionary of the sidonist coup of December 1917 and of the "National Revolution" of May 28th, 1926, organizing General Commissioner of the Portuguese Colonial Exhibition of Oporto from 1934, first director of the National Broadcaster, bestowed Grand-Officer of the Military Order of Christ and governor of Huila in Angola, it is Angola that, starting from 1929 on him inspires writing (first of colonial reports, realistic columns and books on zoology and real hunts, and afterwards of long fiction, short-stories, theater and miscellaneous works), highlighting itself still the facette of journalist and head of the Portugal Colonial magazine between 1931 and 1937 in the life of this republican conservative that "turned" rightwing democrat without never ceasing of being anti-communist and pro-colonialist (despite during a meeting in Algier with representatives of the Portuguese Africa independentist movements he himself opened-up to the hypothesis of independences if approved in referenda by the populations of the colonies at war for independence from Portugal).
Henrique Galvao in the 1930s-40s
Galvao knew how to take advantage of his "mercurial" (fancy word for a certain healthy fickleness) nature for accompanying several political developments, several journalistic productions, several literary tendencies (from literature of exploration in Africa to adventure literature, or to the more young-people's literature on animals like here, in the line of the success of the already seen Romance of the She-Fox of A. Ribeiro or of The Critters of Miguel Torga from 1940; works that Galvao wrote almost always within the "colonial literature", term that he himself used) and several scientific movements of analisis and exploration of the Africa that he would come to love (and to love, within the understanding common of the time, as part of the Portugal that he conceptualised), until he became the quixotesque anti-salazarism "pirate" of the 1961 Seizing of the Santa Maria by a Portuguese-Spanish group, roaming to Recife, Brasil, at the end of that navigation in February of that year, delievering himself to the authorities of the Brazil of President Janio Quadros, receiving political asylum and passing-away in Sao Paulo on June 25th, 1970 with Alzheimer's.
Galvao, who tried in failed way to reform and humanize the Portuguese colonial policy (from the inside) and posthumously was bestowed with the Grand-Cross of the Order of Liberty at November 7th, 1991, probably would be shocked with the decolonizaion that came 5 years after his death (maybe more for what in it transpired than for the end of the Empire) although maybe to it he saw as predictable before the few self-correction that the regime had done in the colonies after the II World War, would excite itself with the democracy, would bristle himself with the leftist almost take over of 1975, and would be shocked with the logic of the cubata tax (over the acquiring of new huts by the African indigenes) returning under the form of the Municipal Tax over Realties, and probably would have much to say (as he always had) on the evolution of Portugal and of the Portuguese-speaking space, but at the lack of himself, it are left for us his old written opinions that today still are polemical for their mixture of colonialism, liberal spirit, humanitarian concerns and old views on race and civilization. And, of course, works for those that were not (in the words of his foreword to Kurika) «able to cease being children in the portion of time that transpires between the ending of puberty and the conventional degree of the civil majority» and are «children of all ages, between the fifteen and the eight-years old, the children, all in all, that age cannot kill nor abandon in the soul of men, even when the wrinkles to them furrow the cheeks and their heads whiten - or fall-down for not to suffer the setback of changing color», like this work, that can be found in almost all the Portuguese libraries (in older editions or in the one of the Livraria Popular Francisco Franco of 1986, checked for this blog), being able to be found still for sale in the pocket-book editions starting from 2008 in the Africa Minha (literally "My Africa", but a reference on the Portuguese translated title to Out of Africa) collection fromLivros Cotovia.
Kurika in the 1986 and 2008 editions
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