quinta-feira, 19 de novembro de 2015

"Aventuras de Dona Redonda", Virgínia de Castro e Almeida // "Adventures of Lady Round", Virginia de Castro e Almeida

O livro da publicação anterior (como insinuei em partes da resenha anterior, teve uma continuação), publicada logo no ano seguinte, 1943. Tendo sido logo publicada no ano seguinte, é surpreendente por um aspecto: a influência de um racialismo à nacional-socialismo pareceu desaparecer de todo. A Zipriti foi completamente redesenhada nas ilustrações (agora de outro autor mas de traço similar), parecendo agora nem ser mulata de todo (passando por assim dizer de caricatura de negra a boneca Emília d'O Sítio do Picapau Amarelo), Bonda desapareceu de todo não sendo sequer referido (Dick e Franz também não surgem, mas são insinuados em referências aos eventos do livro anterior nuns comentários de gente de fora da "gente" da personagem-título quando esta é pela primeira vez referida neste livro) e não surge qualquer racismo subentendido (a única figura subtextualmente estrangeira é Iria, a protagonista, que pode bem ser outra refugiada da II Guerra Mundial mas isto nem é aprofundado nem ela é apresentada negativamente). A actriz São José Lapa, que numa propriedade que lhe pertence na Margem Sul fez algumas representações ao ar livre de uma adaptação sua do 2.º dos dois livros da Dona Redonda, descreve que Virgínia de Castro e Almeida terá escrito este livro numa fase de ruptura com o Estado Novo; embora tal posição seja talvez um exagero (ainda vemos aqui uma certa crença na autoridade incontestável de quem "sabe mandar", no caso Dona Redonda), é verdade que surge um certo anarquismo filosófico, na forma como Dona Redonda organiza a sua comunidade à margem da sociedade, ignorando as críticas da "boa sociedade", adoptando várias crianças de várias etnias e raças (aqui Zipriti passando definitivamente da criatura quase sobrenatural do 1.º livro a uma incontestável criança apesar de continuar a ser um poço de sarilhos) e D. Redonda (como o livro em geral) humilham os aristocratas e as suas convenções (curiosamente aqui o racismo sendo passado para os ridículos opositores aristocráticos, que consideram bizarro Dona Redonda adoptar uma criança mulata), e que neste 2.º livro a aproximação da autora ao nazismo estava totalmente posta de lado.
O enredo deste livro, novamente não começa com a personagem-título, mas chega até ela, literalmente, envolvendo a viagem de uma criança até ela: desta vez é Iria, uma jovem que vivia numa pousada possuída por uma tal de Dona Catapulta no topo de um alto chamado Toutiço (i.e., topo de cabeça ou cocuruto), e uma manhã bem cedo ela sai da pousada e vai pelo caminho até encontrar um rapaz chamado Bruno e o seu cavalo Caracol. Os dois juntos encontram, depois de percorrerem casas com jardins tortos e um grupo de novos-ricos de manias bizarras, o Chico do primeiro livro, que os leva a casa da Dona Redonda. Depois disso há um enredo hilariante e errante envolvendo o casamento do Mostrengo, o dragão que serve a Dona Redonda desde o primeiro livro, obras na casa da Dona Redonda, novas adições à "gente" dela, o conflito com os aristocratas (que acabam tendo de ceder à aceitação dos valores da "gente" e humilhados vendo a linhagem verdadeiramente "sangue azul" da personagem-título que desprezavam), o encolher de Dona Redonda para ir visitar um formigueiro (talvez o momento mais anárquico e eventualmente anti-autoritário do livro, com uma crítica de uma organização social hierarquizada inflexível e a paródia de D. Redonda a ser confundida com uma deusa e uma loucura de destruição do formigueiro e 'distribuição de porrada' pela formigas de uma Redonda pelos cabelos com a estupidez das formigas é confundida pelas mesmas com uma dança divina; mas esta crítica continua a ser uma crítica de base religiosa e moralista mais que liberal ou laboral) mais viagens no tempo para ensinar história (agora grega antiga) e moral tradicional, e também para Chico, Iria e Bruno verem uma Dona Redonda mais nova no século XVIII num vestido com rabo postiço, e creio que a primeira aparição de um macaco no nariz na literatura portuguesa (num episódio de mijar a rir em que a incapacidade de remover um macaco do nariz que se prende na cara da criada dos aristocratas do enredo e da desistência dela de o tirar provoca o desmaio da patroa. Faz sentido no contexto). Como o livro anterior, este é um livro da tradição nonsense e por isso uma descrição de enredo a fundo é um pouco desnecessária no sentido em que o enredo é episódico, com vários fios e respectivas meadas e não um todo unido todo para um fim, o que não afecta porém a comicidade e valor de entretenimento deste livro em nada.
Virgínia de Castro e Almeida morreria em 1945, não se sabendo se o não surgimento doutro qualquer livro sobre esta personagem deveu-se ao não desejo de não escrever mais deles (ou mais livro nenhum) até morrer com 70 anos (não chegando ao aniversário a 24 de Novembro), ou se a morte a impediu de começar um novo (tem-se porém certeza que não tinha já começados apontamentos para nenhum livro novo da série). Mas felizmente que temos os dois livros desta série que temos, presentes em muitas bibliotecas municipais e escolares (como o livro anterior, principalmente na edição do início da década de 1990), com a Clássica Editora ainda vendendo este clássico do seu espólio escrito pela sua antiga directora, várias cópias pessoais encontrando-se à venda em sítios como o OLX.pt e o Coisas.com, e ainda as versões para download na Luso Livros.

A capa da edição dos anos '90 da Clássica Editora e a capa "modernizada" para a versão da Luso Livros


The book from the previous post (as I insinuated on parts of the previous write-up, had a continuation), published right-away on the following year, 1943. Having been published in the following year, it is surprising on one aspect: the influence of a racialism national socialism-style seemed to disappear at all. Ms. Zipriti was completely redrawn in the illustrations (nowby another author but of similar stroke), seeming now not even to be mulatta at all (passing so to speak from black-female's caricature to Doll Emilia from Yellow Woodpecker Ranch-farm). Bonda disaappeared at all not even being referred to (Dick and Franz also do not come-up, but are insinuated in references to the events from the previous book in some commentaries from folk from outside the title character's "folk" when she is for the first time referred on this book) and it does not come up any understated racism (the only subtextually foreign character is Iria, the lead, that may well be another World War II refugee but shuch is not deepened nor is she presented negatively). The Portuguese actress Sao Jose Lapa, who in an estate that belonged to her on the Tagus South Bank did some outdoors performances from an adaptation of hers of the 2nd of the two Lady Round books, describes that Virginia de Castro e Almeida would have written this book in a period of breakup with the Portuguese New State, although such position maybe would be an exageration (we still see here a certain belief on the undeniable authority of who "knows how to boss-around", in the case Lady Round), it is true that it comes up a certain philosophical anarchism, in the way how Lady Round organises her community at society's edges, ignoring the criticisms of the "good society", adopting several children from several ethnicities and races (here Zipriti passing definitely from the almost supernatural creature from the 1st book to an undisputed child despite cointinuing to be a paragon of troubles) and LY. Round (as the book in general) humiliate the aristocrats and their conventions (curiously here the racism being passed unto the ridiculous aristocratic opponents, who consider bizarre Lady Round adopting a mulatta child), and that on this 2nd book the author's rapprochement to nazism was totally set aside.
The plot of this book, again does not start with the title character, but gets to her, literally, involving the trip from a child up to her: this time it is Iria, a youngun that lived on a hostel possessed by one Lady Catapult at the top of a height called Mazard (i.e., head's top or head-dome), and one morning quite early she leaves the hostel and goes along the way till finding a boy called Bruno and his horse Curl. The two of them together find, after going through houses with crooked gardens and a group of nouveaux riches of bizarre manners, to Chico from the first book, who takes them to Lady Round's house. After that there is a hillarious and wandering plot involving the marriage of the Caliban, the dragon that serves to Lady Round since the first book, construction-works at Lady Round's house, new additions to her "folk", the conflict with the aristocrats (who end up having to give in tothe acceptance of the values of the "folk" and humiliated seeing the truly "blue blood" lineage of the title character that they despise), the shrinking of Lady Round to go visit an anthill (maybe the most anarchical and eventually antiauthoritarian moment from the book, with a criticism of an inflexible ranked social organisation and the parody of LY. Round being confused with a goddess and a madness of destruction of the anthil and 'distribution of whooping' among the ants by a Round up to the tips of her hair with the stupidity of the ants confused by the latter with a divine dance; but this critique continues being a critique of religious and moralist basis more than liberal or lib-labourite) plus time travel to teach history (now ancient Greek) and traditional morals, and also for Chico, Iria and Bruno to see a younger Lady Round in the 18th century in a dress with a pannier butt, and I believe so that the first appearance by a nose booger in Portuguese literature (in an episode to piss one's self in which the inability of removing a nose nooger that gets stuck on the face of the maid of the aristocrats of the plot and of her giving up on taking it out provokes the fainting of the lady-boss. It makes sense in context). Like the previous book, this is a book from the nonsense tradition and for that a description of plot in depth is a little unnecesary in the sense that the plot is episodic, with several threads and respective skeins and not a whole united all to one end, what doesn't affect though the comicalness and entertainment value of this book in anything.
Virginia de Castro e Almeida would die in 1945, not being known if the not appearing of any other book on this character owed itself to the none desire of writing more of them (or any other book) up till dying at 70 (not getting to her November 24th birthday), or if the death prevented her of starting again (it is had though certainty that she didn't have already started notes for any new book of the series). But fortunately that we got the two books of the series that we got, present in many Portuguese municipal and school libraries (like the previous book, mainly in the early 1990s edition, with the Clássica Editora publisher still selling this classic from its spoilage written by its former lady-director, several personal copies pessoais finding themselves for sale in sites like the OLX.pt and the Coisas.com, and yet the versions for download at Luso Livros.

A cover from the '90s edition by the Clássica Editora publisher and the "modernised" cover for the Luso Livros version

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