Há daqueles livros que pela capa a gente não pegaria neles, e este segundo volume de Romances Marítimos (trato deste volume isoladamente porque os dois volumes de Romances Marítimos são colectâneas póstumas de textos independentes entre si fora pelo estilo e temática "marítimos" comuns, daí que creia que o livro bem pudesse ser intitulado Romances Marítimos: Episódios duma viagem, Cenas da escravatura, Viagens aos pólos, Quadros marítimos, Dois anos de viagem, Ignoto Deo) do hoje quase totalmente esquecido Francisco Maria Bordalo é um deles, tendo uma daquelas capas "respeitáveis" com o título somente, emoldurado num contorno rectangular e pouco mais (e as páginas com o título já dentro da capa, antes da primeira página com o título do primeiro texto pouco mais têm, sendo igualmente tão elegantes como algo vazias). Mas quem ultrapassar esta seca primeira impressão, na verdade achará aqui um tipo de literatura que não tendemos a esperar de autores Portugueses (principalmente da época deste autor, o meado do século XIX): uma aventura marítima que não deve muito (falando qualitativamente) ao Norte-Americano Herman Melville (de Moby Dick) que escrevera poucos anos antes das primeiras obras de Maria Bordalo. Quem tivesse o mínimo conhecimento de marketing (mesmo no século XIX) poria na capa deste tipo de livros lobos do mar, jovens aventureiros bem-parecidos, ilhas, mar, nativos (ou nativas...) visitados, animais marítimos, "comboios" de escravos, etc. (no estilo relativamente simples das capas dos romances de aventuras vitorianos de W. H. G. Kingston, que já agora viveu parte da juventude no "nosso" Porto), não esta... "mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma".
Este livro dá aos leitores um conjunto de reportagens ficcionadas relatando viagens do autor e alguns relatos semi-ficcionados de eventos marítimos na história marítima portuguesa. Nos seus quatro curtos capítulos, "Episódios duma Viagem" relata uma viagem de 1840, em que indo de Portugal, Maria Bordalo chegava às bandas do abrasador sol do Equador, estando a distância de vista da Ilha de São Tomé quando começa o relato do primeiro "romance" do livro. O barco vai a caminho de Luanda. O mar parece quase um espelho (de tão claro que está). A tripulação, sofre de gáveas, papa-figos (lepra no fígado) e joanetes e bocejava, e os oficiais conversavam entre si sem muita emoção, numa atmosfera abafada. Eis quando é vista nas águas uma garrafa com uma mensagem, que alguns marinheiros e o capitão tiram das águas para a sua barca e no navio abrem (toda esta cena segundo o autor o impressionou muito quando ocorreu). Já de noite, o capitão desata a mensagem e lê-la. É do segundo piloto Carlos António Pedroso da galera Amazona. A Amazona era um navio que 9 anos antes tinha tombado os mastros da proa sobre a vela grande, que tombou sobre a vela mezena, enquanto o barco começava a meter água. O piloto autor da mensagem tinha ido beber para o camarote, e quando acordou já era o dia seguinte e viu-se sozinho num navio vazio com tubarões nadando em torno. A carta terminava a pedir que quem achasse a carta que rezasse por ele e os seus pecados.
Estes factos deixaram a tripulação do barco enojada, visto que as notícias de 9 anos antes diziam que toda a tripulação do Amazona tinha-se salvo para bordo de um navio inglês, e obviamente que a hipótese de um abandono voluntário de um tripulante os irritou completamente. Mas quando chegam a Luanda, os factos da resolução do evento resolvem-se de uma forma relativamente cómica: Maria Bordalo e os restantes tripulantes encontram lá, vivo, Carlos, quando o capitão do navio em que seguia o escritor ia denunciar às autoridades o abandono de um membro da tripulação do Amazona no naufrágio de 9 anos antes. Ele narra como depois de enviar a mensagem, enquanto rezava no convés, quando um onda galgou a popa do navio e o bateu contra a bitácula do navio e ele ficou instintivamente agarrado a ela, olhou para o horizonte e viu reflectido na água o navio inglês com os seus companheiros a aproximar-se, salvando-o a tempo e levando-o de volta a Lisboa, onde casa e de onde parte para Luanda e se torna negreiro (pouco tempo depois, o autor vê-lo-ia preso por esta actividade; na altura a escravatura ainda era legal em Portugal mas devido à pressão dos nossos aliados Britânicos, que haviam por esta altura já há muito abolido a escravatura nos seus territórios, a pouco e pouco ia sendo uma actividade cada vez mais pressionada).
O tema da escravatura dá uma certa complexidade ao texto hoje: Maria Bordalo mostra a escravatura como algo que existe mas não louva como algo natural nem como algo que "tem" de acontecer aos "povos inferiores" de África (ou como mero subproduto de uma "civilização"), e embora não comentando de forma muito condenadora a actividade de Carlos, porém a forma como ele acaba (embora seja um facto e não invenção do autor) só prova que talvez ele deve-se ter-se ficado em Lisboa com a mulher em vez de se armar em esclavagista. Este aparente "progressismo" de Maria Bordalo quanto a questões humanistas e sociais reforçasse com um episódio da viagem entre Luanda e Ambriz, em que um mulato mestre de lancha é preso acusado de roubar a faca de um negreiro (o facto curioso de ser um mestiço a confrontar-se com um negreiro dá que pensar) e é condenado a chibatadas pelo governador local sem investigação, mas após um combate do navio com um navio inglês, a inocência do acusado é provada por Maria Bordalo e um amigo. No texto seguinte, Maria Bordalo voltará a abordar a questão da raça, também com uma posição relativamente "avançada" para a época (um pouco mais relativista do que usual na altura, ou mesmo hoje). No fundo, Maria Bordalo aceita a diversidade do mundo que conhecia relativamente bem das suas viagens, e via a escravatura e confrontos raciais como lamentáveis consequências da forma como o mundo era e dos encontros nem sempre pacíficos entre as raças diversas do mundo, compreendendo a causa dos povos que sofriam sob opressões, e tendo simpatias pelo estatuto por vezes paradoxal dos vários tipos de mestiços pelo mundo fora.
Com o 3.º texto, "Quadros Marítimos", passamos de textos autobiográficos na primeira pessoa para narrativas do tipo de ensaio romanceado, em que, depois de 1 capítulo introdutório explicando o objectivo do texto que se seguirá, Maria Bordalo descreve em 4 capítulos um caso histórico de naufrágio português quinhentista ou seiscentista por capítulo (segundo creio, todos estes casos foram tirados da setecentista História Trágico-Marítima de Bernardo Gomes de Brito), em que o autor mostra não só um conhecimento da história e das suas fontes, mas também o mesmo conhecimento da realidade da navegação que mostra nos outros textos plenamente autobiográficos, que só poderia vir de alguém com a experiência de marinha militar e mercante e de navegação (como militar e como jornalista) que Maria Bordalo tinha (e que foi a causa das viagens que deram origem aos dois textos anteriores). Esta vivência transmite tanta vivacidade aos "romances marítimos" históricos (como este "romance" e o último do livro, "Ignoto Deo", sobre um episódio marítimo em torno do envio da irmã de D. Afonso V, a Infanta D. Leonor, para a Alemanha para casar com o Imperador Frederico III do Sacro Império Romano-Germânico) de Maria Bordalo como aos seus mais autobiográficos.
Para verem o que teria em mente para uma capa "de jeito" para o livro de Maria Bordalo contraponha-se esta capa oitocentista de Nas Montanhas Rochosas do Britânico W. H. G. Kingston
Para os poucos (mesmo poucos) que nunca deixaram Maria Bordalo cair no esquecimento (para isso ajudou por exemplo a republicação de algumas das suas obras curtas no seio da comemoração da Expo '98, como quase todo o tipo de material em torno de mar e navegação na literatura portuguesa nessa altura), a sua escrita intensa e aventureira, elementar (ou não envolvesse os elementos da água, do vento e outros associados à navegação marítima), nunca deixou de exercer uma força sobre eles, tendo estes textos publicados em 1880 postumamente e coleccionando obras publicadas na imprensa pelo autor (um jornalista que tinha um passado na Marinha Portuguesa que remontava aos 12 anos, quando entrou na classe de aspirantes da Marinha, com 13 anos navegando duas vezes Lisboa-Açores, formando-se da Academia da Marinha aos 16, passando nos anos seguintes pelo posto de guarda-marinha efectivo, e membro da comissão que buscou os restos da esquadra lusa aprisionada nas águas do Tejo pelo almirante Roussin em 1834) umas três ou quatro décadas antes, tendo o autor falecido já em 1861 (com 40 anos), não chegando a ver o esquecimento em que a sua obra relativamente popular no seu tempo cairia pela viragem do século, vá-se lá saber porquê.Este livro dá aos leitores um conjunto de reportagens ficcionadas relatando viagens do autor e alguns relatos semi-ficcionados de eventos marítimos na história marítima portuguesa. Nos seus quatro curtos capítulos, "Episódios duma Viagem" relata uma viagem de 1840, em que indo de Portugal, Maria Bordalo chegava às bandas do abrasador sol do Equador, estando a distância de vista da Ilha de São Tomé quando começa o relato do primeiro "romance" do livro. O barco vai a caminho de Luanda. O mar parece quase um espelho (de tão claro que está). A tripulação, sofre de gáveas, papa-figos (lepra no fígado) e joanetes e bocejava, e os oficiais conversavam entre si sem muita emoção, numa atmosfera abafada. Eis quando é vista nas águas uma garrafa com uma mensagem, que alguns marinheiros e o capitão tiram das águas para a sua barca e no navio abrem (toda esta cena segundo o autor o impressionou muito quando ocorreu). Já de noite, o capitão desata a mensagem e lê-la. É do segundo piloto Carlos António Pedroso da galera Amazona. A Amazona era um navio que 9 anos antes tinha tombado os mastros da proa sobre a vela grande, que tombou sobre a vela mezena, enquanto o barco começava a meter água. O piloto autor da mensagem tinha ido beber para o camarote, e quando acordou já era o dia seguinte e viu-se sozinho num navio vazio com tubarões nadando em torno. A carta terminava a pedir que quem achasse a carta que rezasse por ele e os seus pecados.
Estes factos deixaram a tripulação do barco enojada, visto que as notícias de 9 anos antes diziam que toda a tripulação do Amazona tinha-se salvo para bordo de um navio inglês, e obviamente que a hipótese de um abandono voluntário de um tripulante os irritou completamente. Mas quando chegam a Luanda, os factos da resolução do evento resolvem-se de uma forma relativamente cómica: Maria Bordalo e os restantes tripulantes encontram lá, vivo, Carlos, quando o capitão do navio em que seguia o escritor ia denunciar às autoridades o abandono de um membro da tripulação do Amazona no naufrágio de 9 anos antes. Ele narra como depois de enviar a mensagem, enquanto rezava no convés, quando um onda galgou a popa do navio e o bateu contra a bitácula do navio e ele ficou instintivamente agarrado a ela, olhou para o horizonte e viu reflectido na água o navio inglês com os seus companheiros a aproximar-se, salvando-o a tempo e levando-o de volta a Lisboa, onde casa e de onde parte para Luanda e se torna negreiro (pouco tempo depois, o autor vê-lo-ia preso por esta actividade; na altura a escravatura ainda era legal em Portugal mas devido à pressão dos nossos aliados Britânicos, que haviam por esta altura já há muito abolido a escravatura nos seus territórios, a pouco e pouco ia sendo uma actividade cada vez mais pressionada).
O tema da escravatura dá uma certa complexidade ao texto hoje: Maria Bordalo mostra a escravatura como algo que existe mas não louva como algo natural nem como algo que "tem" de acontecer aos "povos inferiores" de África (ou como mero subproduto de uma "civilização"), e embora não comentando de forma muito condenadora a actividade de Carlos, porém a forma como ele acaba (embora seja um facto e não invenção do autor) só prova que talvez ele deve-se ter-se ficado em Lisboa com a mulher em vez de se armar em esclavagista. Este aparente "progressismo" de Maria Bordalo quanto a questões humanistas e sociais reforçasse com um episódio da viagem entre Luanda e Ambriz, em que um mulato mestre de lancha é preso acusado de roubar a faca de um negreiro (o facto curioso de ser um mestiço a confrontar-se com um negreiro dá que pensar) e é condenado a chibatadas pelo governador local sem investigação, mas após um combate do navio com um navio inglês, a inocência do acusado é provada por Maria Bordalo e um amigo. No texto seguinte, Maria Bordalo voltará a abordar a questão da raça, também com uma posição relativamente "avançada" para a época (um pouco mais relativista do que usual na altura, ou mesmo hoje). No fundo, Maria Bordalo aceita a diversidade do mundo que conhecia relativamente bem das suas viagens, e via a escravatura e confrontos raciais como lamentáveis consequências da forma como o mundo era e dos encontros nem sempre pacíficos entre as raças diversas do mundo, compreendendo a causa dos povos que sofriam sob opressões, e tendo simpatias pelo estatuto por vezes paradoxal dos vários tipos de mestiços pelo mundo fora.
A explosão de uma fragata noutro romance marítimo de F. Maria Bordalo, Sansão na Vingança!
O texto seguinte do livro, também com 4 curtos capítulos, é "Cenas da Escravatura", que também dá muito que pensar quanto a raça e história do racismo com o seu relato real de uma viagem do autor ao Brasil em 1844. O relato feito da instituição esclavagista no Brasil é muito curioso pelo que nos relata sobre muitos pormenores raramente discutidos da história e realidade da escravatura no Brasil: temos estórias de mestiços de pele negra que eram donos de escravos que eram mestiços de pele branca, de brancos não-escravos cujo sistema de exploração de trabalho pelos seus patrões não eram muito diferentes dos que sofriam os escravos negros, e outros factos avulsos curiosos e interessantes de ler pelo formalismo da escrita e pela dramatização da escrita romanceada (para além de pelo que contam). A escravatura é assim mostrada como uma instituição que apesar de centrada maioritariamente na exploração de uma raça, como um sistema essencialmente de exploração económica, feito a pensar no lucro, e com consequências principalmente económicas (embora também humanas) mais que sociais ou inter-raciais.Com o 3.º texto, "Quadros Marítimos", passamos de textos autobiográficos na primeira pessoa para narrativas do tipo de ensaio romanceado, em que, depois de 1 capítulo introdutório explicando o objectivo do texto que se seguirá, Maria Bordalo descreve em 4 capítulos um caso histórico de naufrágio português quinhentista ou seiscentista por capítulo (segundo creio, todos estes casos foram tirados da setecentista História Trágico-Marítima de Bernardo Gomes de Brito), em que o autor mostra não só um conhecimento da história e das suas fontes, mas também o mesmo conhecimento da realidade da navegação que mostra nos outros textos plenamente autobiográficos, que só poderia vir de alguém com a experiência de marinha militar e mercante e de navegação (como militar e como jornalista) que Maria Bordalo tinha (e que foi a causa das viagens que deram origem aos dois textos anteriores). Esta vivência transmite tanta vivacidade aos "romances marítimos" históricos (como este "romance" e o último do livro, "Ignoto Deo", sobre um episódio marítimo em torno do envio da irmã de D. Afonso V, a Infanta D. Leonor, para a Alemanha para casar com o Imperador Frederico III do Sacro Império Romano-Germânico) de Maria Bordalo como aos seus mais autobiográficos.
Quadro do casamento de Frederico III e D. Leonor
Como todos os textos sobre aventuras entre a natureza que sejam autênticos e não soem falso, os "romances" deste livro são textos ligados aos ciclos da natureza, de vida, de morte, de matar, de sobreviver, de trabalhar, de constituir família até, de partir e de voltar, e não há relato que mais enfatize isto neste livro do que os mais longos dos "romances" (novamente autobiográficos), "Viagens aos Polos" (com 4 capítulos e 51 páginas) e "Dous Annos de Viagem" ou mais correntemente "Dois Anos de Viagem" (com 8 capítulos e 75 páginas). O primeiro, descreve a viagem do autor de Lisboa ao Porto, ao Mar do Norte, para norte até ao Polo Norte, indo depois através das costas da América do Norte, do Oceano Pacífico, do Extremo Oriente, de Timor, do Taiti, através da Oceânia até perto da América do Sul, passando pela costa do Polo Sul/Antártida, e daí pela Nova Zelândia, através do Oceano Índico até à costa africana, circum-navegando esse continente até às Canárias e finalmente de volta a Lisboa. O último dos dois descreve uma viagem de Lisboa para a ilha da Madeira, e daí para a América do Sul, passando por Brasil, Uruguai e Argentina, fazendo o «torna-viagem» até à ilha do Faial, de onde navega de volta a Lisboa. São relatos repletos do quotidiano dos marinheiros, as suas superstições, da descrição da natureza e dos meios humanos visitados, dando quer a ideia atraente do mundo vivo conhecido pelo viajante quer a ideia do perigo e da morte que pendem sobre ele.
Uma sessão real em África segundo a revista Archivo Pittoresco, para a qual colaborava Maria Bordalo
As estórias e histórias deste (volume 2 de) Romances Marítimos é um pouco como a história do género humano, de uma espécie ante uma natureza que lhe é superior e que busca conseguir o triunfo, ultrapassar-se e espalhar-se pelo mundo para buscar terras melhores além do horizonte. Apesar das semelhanças (de escrita e de biografia) entre Maria Bordalo e outros autores Portugueses de aventuras marítimas como José Nunes da Mata (outro injustamente esquecido que a seu tempo analisaremos neste blogue), há uma diferença significativa entre a visão de Maria Bordalo e desses outros autores: é que Francisco Maria Bordalo apresenta o mar não tanto como ou perigo puro ou um simples habitat com um conjunto de seres que o habitam, mas antes como um fundo contra o qual se combatem os dramas dos humanos que navegam e os dramas do confronto entre esses humanos e a natureza e nações que se lhes esbarram no caminho. E assim muitos dos heróis destes "romances" acabam por vir a acabar não muito diferente do bispo D. Garcia de Menezes de Évora e Guarda que «miseravelmente veio a acabar n'uma cisterna do castello de Palmela».
E no fim de cada um destes "romances", se alguns conseguem finais relativamente felizes, outros acabam pouco longe de acabararem miseravelmente numa cisterna de castelo, por entre prisões em penas justificadas, sofrendo na escravatura ou perto disso, morrendo a caminho de algum lugar, morrendo no regresso à pátria, conseguindo cumprir os seus caminhos mas sofrendo para os cumprir, perdendo alguém próximo pelo caminho, sofrendo da vida difícil do navegante, sofrendo com a dureza da hierarquia dos navios, etc.. Embora a maioria das narrativas deste livro tenham finais não dramáticos e a maioria das suas viagens se concluam com sucesso, a sombra de problemas sociais que ocorrem em terra e de tragédias que ocorrem no mar nunca estão muito longe no texto e na mente do autor, que bem merece ser resgatado do esquecimento como um clássico da literatura de Portugal. Quanto a este livro, ele pode ser encontrado em PDF no Internet Archive, para além de em bibliotecas mais "centrais" e recheadas (que devem ser poucas para além da Biblioteca Nacional de Lisboa).
There are those books that by the cover us folks would not pick them up, and this second volume of Maritime Novels (I deal with this volume in isolation because the two volumes of Maritime Novels are posthumous collections of texts independent amongst themselves aside for the common "maritime" style and themes, hence that I believe that the book could well be titled Romances Marítimos: Episódios duma viagem, Cenas da escravatura, Viagens aos pólos, Quadros marítimos, Dois anos de viagem, Ignoto Deo, "Maritime Novels: Episodes of a Travel, Scenes of Slavery, Travels to the Poles, Two Years of Travel, Maritime Tableaux, Ignoto Deo") by the today almost totally forgotten Francisco Maria Bordalo is one of them , having one of those "respectable covers" with the title alone, framed in a rectangular outline and little more (and the pages with the title already inside the cover, before the first page with the title to the first text, little more that it does it have, being equally as elegant as somewhat empty). But those who overcomes this dry first impression, in truth shall find here a type of literature that we do not tend to expect from Portuguese authors (mainly from thge author's time, the middle of the 19th century): a maritime that does not owe much (qualitatively speaking) to the North-American Herman Melville (of Moby Dick fame) who wrote few years before the first works by Maria Bordalo. Who would have the minimum knowledge of marketing (even in the 19th cenury) would put on the cover these type of books sea wolvse, young good-looking adventurers, islands, visited natives (or native women...), maritime animals, slave "convoys", etc. (in the relatively simple style of the covers of the victorian adventure novels by W. H. G. Kingston, who by the way lived part of his youth in Portugal's Oporto), not this... "one hand full of nothing and another empty".
To see what I would have in mind for a cover for Maria Bordalo's book that would be "any good" let it be counterpointed this eighteen-hundreds cover to In the Rocky Mountains by the Briton W. H. G. Kingston
For the few (really a few) that never let Maria Bordalo fall into oblivion (for that helped for example the reposting of some of his short worksin the midst of the World Expo '98, as almost all the kind of material on the sea and navigation in the Portuguese literature up to that time-point), his intense and adventurous, elemental (or were it not involved with the elements of water, of wind and other associated to the maritime navigation writing), never cease exercising some pull-force on them, having these texts published posthumously publisedh in 1880 and collecting works published in the press by the author (a journalist hat had a past in the Portuguese Navy that went back to being twelve years-old, when he entered into the Navy midshipmen clas, at 13 years-old navigating twice Lisbon-Azores, graduating himself from the Portuguese Navy Academy at 16, passing the remaining years by th navy-ensign in effect post, and member of the commission that fetched the remains of the luso fleet squadron imprisoned in the Tagus water by the admiral Roussin in 1834) some three or four decades before, having the author passed-away already in 1861 (at 40 years-old), not getting to see the oblivion in which his work relatively popular in his time would fall by the turn of the century, lord knows why.
This book gives to the readers an ensemble of fictionalised reportings reporting travels of the author's and some semi-fictionalised reports of maritime events in Portuguese maritime history. In his four short chapters, "Episódios duma Viagem" ("Episodes of a Travel") reports an 1840 travel, in which going from Portugal, Maria Bordalo arrived to the parts of the blazing Equator sun, being at sighting distance of the Island of Sao Tomeh when it starts the report of the book's first "novel". The book goes on the way to Luanda. The sea seems almost a mirror (so clear that it is). The crew, suffers from crow's chest, liver-leaper and bunions and it yawned, and the officers talked amongst themselves without much emotion, in a stuffy atmosphere. Here is when it is seen on the waters a bottle with a message, that some sailors and the captain remove out od the waters into their barge and in the ship open up (all the scene according to the author impressed him much when it occured). Already by night, the captain unties the message and reads it. It is from the second pilot Carlos António Pedroso from the galley Amazona. The Amazona was a ship that 9 years before had tumbled down its prow masts over the mainsail, which tumbled over the larboard topsail, while the boat started to let water in. The pliot author to the message had gone to drink to his booth, and when he woke up it was already the following day and saw himself alone on an empty ship with sharks swimming around. The letter ended by asking that whoever found the letter prayed for him and his sins.
These facts left the crew of the ship sickened, seen that the news from 9 years before said that the whole crew of the Amazona had saved itself to board an English ship, and obviously that the hypothesis of a voluntary crewman abandonment annoyed them completely. But when they arrived to Luanda, the facts on the event's resolution sort themselves in relatively comical form: Maria Bordalo and the remaining crewmen find there, alive, Carlos, when the captain of the ship where it followed the writer went to denounce to the authorities the abandonment of a crewman of the Amazona in the shipwrecking of 9 years before. He narrates how afterwards to sending the message, while he prayed on the deck, when a wave overflowed climbing the ship's stern and beat him against the ship's steering wheel's logand he got instinctively grabbed unto it, gazed unto the horizon and saw reflected on the water an English ship with his companions approaching themselves, saving him on time and taking him back to Lisbon, where he marries and from where he leaves to Luanda and becomes slaver (little time after, the author would see him arrested for this activity; at the time slavery was still legal in Portugal but due to the pressure of our British allies, that had by this time-point already for a while abolished slavery in their territories, little by little it went being an activity each time more pressured).
The theme of slavery gives a certain complexity to the text today: Maria Bordalo shows slavery as something that exists but does not praise as something natural nor something that "has" to happen to the "inferior people" of Africa (or as mere byproduct of a "civilisation"), and although not commenting in too codemning a way Carlos' activity, yet the way hiw he ends (although it be a fact and not the author's making-up) only proves that maybe he should have sticked himself to Lisbon with his woman instead of propping himself up into a slaver. This apparent "progressivism" of Maria Bordalo about humanist and social issues reinforces itself with an episode of the travel between Luanda and Ambriz, in which a mulatto raft master mariner is arrested accused of stealing a slaver's knife(the curious fact of being a halfbreed facing off with a slaver gives one something to think on) and he is condemned to lashings by the local governor without investigation, but afterwards to a combat by ship with an English ship, the accused's innocence is proven by Maria Bordalo and a friend. In the following text, Maria Bordalo will go back again to approach the issue of race, also with a relatively "advanced" position for th period (a little more relativist than the usual at the time or even today). At the bottom of it, Maria Bordalo accepts the world diversity that he knew relatively well from his travels, and sw the slavery and racial clashes as regretable consequences of the way as the world was and of the encounters not always peaceful among the world's diverse races, understanding the causes of the peoples that suffered under oppressions, and having sympathies for the status sometimes paradoxical of the several types of halfbreeds throughout the world.
A frigate explosion on another maritime novel by F. Maria Bordalo, Sansão na Vingança! ("Samson on the Vendetta!")
The book's following text, also with 3 short chapters, is"Cenas da Escravatura" ("Scenes of Slavery"), which also gives a lot to think about race and the history of racism with its real portrait of a travel of the author's to Brazil in 1844. The report done on the slaver institution in Brazil is very much curious for what it reportsus on many rarely discussed details of the history and reality of the slavery from Brazil: we got stories of halfbreeds of black skin that were owners of slaves that were halfbreeds of white skin, of non-slave whites whose system of labour exploitation by their bosses were not much different of the ones suffered the black slaves, and other miscellaneous facts curious and interesting to read for the writing's formalism and for the dramatisation of the romanticised writing (beyond the what they are worth for). Slavery is so shown as institution that despite centered overwhelmingly on the exploitation of one race, as a system essentially of economical exploitation, done thinking on the profit, and with mainly economical consequences (although also human) more that social or interracial.
With the 3rd text, "Quadros Marítimos" ("Maritime Tableaux"), we pass from first person autobiograpical texts unto narratives of the rommanticised essay type, in which afterwards to 1 introductory chapter explaining the objective of the text that shall follow, Maria Bordalo describes in 4 chapters a historical case of Portuguese fifteen-hundredth or seventeen-hundredth shipwrecking a chapter (according to my belief, all these cases were taken out from the seventeen-hundredth História Trágico-Marítima/"Tragic-Maritime History"/"The Tragic of the Sea" by Bernardo Gomes de Brito), in which the author shows not just a knowledge of history and of its sources, but also the same knowledge of the reality of navigation that he shows in the other fully autobiographical texts, that only could have come from someone with the experience of military and merchant navy and of navigation (as military-man and as journalist) that Maria Bordalo had (and which was the cause of the travels that gave origin to the two previous texts). This livingness transmites so much vivacity to the historical "maritime novels" (like this "novel" and the last one from the book, "Ignoto Deo", on a maritime episode around the sending of King Don Alfonso V's sister Dona Eleanor, for Germany to marry with the Emperor Frederick III of the Holy Roman Empire) by Maria Bordalo as to his more biographical ones.
Like all the texts on adventures among nature that be authentic and do not sound false, the "novels" from this book are texts conncted to the cycles of nature, of life, of death, of killing, of surviving, of working of starting a family even, of leaving and of coming back, and there is no report that more emphasises this on this book than the longest of the "novels" (once again autobiographical), "Viagens aos Polos" ("Travels to the Poles", with 4 chapters and 51 pages) and "Dous Annos de Viagem" or more currently "Dois Anos de Viagens" ("Two Years of Travel" or "Twain Years of Travel" with 8 chapters and 75 páginas). The first, describes the author's travel from Lisbon to Oporto, to the North Sea, northwards till the North Pole, going through the shores from North America, from the Pacific Ocean, from the Fra East, from Timor, from Tahiti, through Oceania till near South America, passing by the shore of the North Pole/Antartida, and from there till New Zaland, through the Indian Ocean till the African coast, circumnavigating that continent till the Canary islands and finally going back to Lisbon. The last two describe a travel from Lisbon to Madeira island and from there to South America, passing by Brazil, Uruguay and Argentina, doing the «back-again-trip» till the Faial island, from where he sails back to Lisbon. It are reports filled of the daily-life of the sailors, of their superstitions, of the descrition of nature and of the visited human milieux, giving out both an attractive idea of the lived-in world known by the traveller and a clue on the danger and the death that pend over the traveller's self.
A sessão real ("royal session", local equivalent to a pow wow) in Africa according to the Archivo Pittoresco ("Picturesque Archive") magazine, for which collaborated Maria Bordalo
The stories and histories of this (volume 2 of) Maritime Novels is a little like the story of the humankind, of a species in face of a nature that is to itself superior and that searches to get its triumph, overcome itself and spread itself across the world for fetching better lands beyond the horison. Despite the similarities (of writing and of biography) between Maria Bordalo and other Portuguese authors of maritime adventures like Jose Nunes da Mata (another unfairly forgotten one that on its due time we shall analyse on this blog), there is a significant difference between the vision of Maria Bordalo and of those other authors: it is that Maria Bordalo presents the sea or not so much as either danger or a simple habitat for a set of beings that inhabit it, but instead as the background against which it are fought the dramas of the humans that sail and the dramas of the confrontation of those humans and the nature and nations that to them do bump before their path. And so many of the heroes of these "novels" end by coming to end not very differently from the bishop Don Garcia de Menezes from Ehvora and Guarda that «miserably came to end ō̆n a cistern of the castē̆l of Palmela».
And at the end of each one of these "novels", if some can get relatively happy endings, others end little far-off from ending miserably on a cistern of castle, between prisons on justifiable penalties, suffering in slavery or close to that, dying on the way to some place, dying returning to the fatherland, getting to fulfil their paths but suffering to fulfil them, losing someone close along the way, suffering from the hard life of the boating, suffering with the harshness of the hierarchy of the ships, etc.. Although the majority of the narratives of this book have not dramatic endings and the majority of their travels conclude themselves with success, the shadow of social problems that occur at land and of tragedies that occur at sea never are too faraway on the text and in the mind of the author, that well deserves to be rescued from oblivion as a classics of Portugal's literature. About this book, it can be found on PDF at the Internet Archive, besides on more "central" and well-stocked libraries (which must be few beyond the Lisbon National Library).